Estado do Rio de
Janeiro:
Violações se proliferam em obra de Eike
Batista*
Após afetar
agricultores e pescadores, o grupo EBX, responsável pela construção
do Complexo do Açu,
ao norte fluminense, fere os direitos de seus operários.
Por Marcos Antonio Pedlowski*
De
Campos de Goytacazes-RJ
Representantes do
Sindicato da Construção Civil e do MTE conversam com operários.
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Apesar da polêmica em torno da construção do chamado
Complexo Portuário- Industrial do Porto do Açu, localizado no município
de São João da Barra, norte fluminense, ter se concentrado até o momento
nas violações dos direitos de centenas de agricultores familiares e
pescadores que estão sendo sumariamente expulsos de suas terras, agora
começam a surgir evidências de que outros problemas graves estão
ocorrendo também dentro do canteiro de obras.
Na área trabalhista, os primeiros sinais de uma falsa
propalada eficiência do processo de construção do megaempreendimento de
propriedade do Grupo EBX, do bilionário Eike Batista, surgiram em
fevereiro de 2011. Na época, os operários contratados pelo Consórcio
ARG-Civilport entraram em greve e fecharam as estradas de acesso aos
canteiros de obras pelo menos em duas ocasiões.
As reclamações dos trabalhadores percorriam desde a falta
de pagamento do adicional de periculosidade, passando pela falta de
seguro de vida, até chegar aos problemas causados pela superlotação dos
alojamentos em que eles foram colocados.
Mesmo com compromissos firmados pelo consórcio
ARG-Civilport, os operários voltaram a entrar em greve em fevereiro de
2012 devido ao alto número de acidentes de trabalho, e também pela falta
de cumprimento dos acordos firmados no tocante ao valor dos salários e
ao pagamento das chamadas “horas in itinere”, que são um valor pago
pelos custos arcados pelos trabalhadores para viajar aos seus locais de
moradia e retornar aos seus postos de trabalho.
Terceirizações
Como resposta a estas duas greves, a LLX e a OSX,
subsidiárias do Grupo EBX, encarregadas da construção de diferentes
componentes do Complexo do Açu, passaram parte significativa dos
trabalhos realizados pelo consórcio ARG-Civilport para a empresa
espanhola Acciona.
A Acciona, por sua vez, terceirizou a maior parte destes
serviços e contratou outras empresas menores, entre elas a Hispabras
Engenharia Civil e Ambiental, cuja sede fica em Goiânia (GO). No
entanto, se a mudança visava acabar com os conflitos trabalhistas, as
evidências que surgem por meio de relatos publicados na imprensa
regional demonstram que o efeito foi o oposto. Tanto que ao longo dos
meses de novembro e dezembro, uma série de novas denúncias começaram a
ser apuradas pelo Ministério do Trabalho, envolvendo justamente
trabalhadores contratados pela Hispabras.
De acordo com o que foi divulgado na imprensa local, além
dos costumeiros problemas de superlotação dos alojamentos, os fiscais do
trabalho começaram a verificar também a ausência de fornecimento de água
potável, quebra de compromissos sobre valores de salários, não pagamento
de horas extras e tempo de permanência exagerado dentro do canteiro de
obras sem que os trabalhadores pudessem retornar para seus locais de
origem em períodos de folga. Esta situação tornou-se particularmente
aguda para trabalhadores que foram trazidos da região nordeste com
promessas de ótimas condições de salário e acomodação.
Contexto “sombrio”
Um aspecto bastante peculiar que dificulta a capacidade de
articulação dos trabalhadores envolvidos na construção do Complexo do
Açu para lutar pelo cumprimento de seus direitos é o seu relativo
isolamento em relação à população local. Por um lado, o acesso ao
canteiro de obras é fortemente controlado pelo Grupo EBX, o que
dificulta o acesso de organizações como o Comitê Popular pela
Erradicação do Trabalho Escravo Degradante do Norte Fluminense, que há
anos tem realizado um trabalho de combate às violações dos direitos de
trabalhadores migrantes que antes vinham para a região norte fluminense
atuar no corte da cana.
Além disso, os locais que são usados como alojamento também
têm o seu acesso fortemente controlado. Para completar este quadro
sombrio, os trabalhadores que decidem questionar o descumprimento dos
acordos feitos no momento da contratação são ameaçados de demissão
imediata e de retorno para seus locais de origem sem o cumprimento de
seus direitos trabalhistas. A situação em que se encontram os
trabalhadores envolvidos na construção do Complexo do Açu não chega a
surpreender aqueles que vêm acompanhando a execução de megaprojetos de
infraestrutura vinculados ao Programa de Aceleração do Crescimento do
governo federal. Entretanto, ainda que no caso do Complexo do Açu não
tenham ocorridos conflitos tão violentos como os que ocorreram nas
hidrelétricas do Jirau e Santo Antônio em Rondônia, fica evidente a
repetição do mesmo tipo de estratégia para elevar o nível de exploração
dos trabalhadores, que são submetidos a péssimas condições de habitação
e alimentação.
De resto, fica evidente que o discurso de estilo arrojado e
moderno voltado para a economia globalizada, com que o Sr. Eike Batista
se apresenta para vender seus projetos, não resiste a uma análise mínima
das condições a que os trabalhadores que os executam estão diariamente
submetidos.
*Marcos Antonio Pedlowski é Professor
Associado do Laboratório de Estudos do Espaço Antrópico da Uenf, PhD em
Planejamento Regional pela Virginia Polytechnic Institute and State
University.
- Publicado originalmente em
Brasil de Fato, 28/12/2012.
Pub. VF em 1º/01/2013
- Foto: Carlos
Grevi.
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