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 Saúde

 

 

Saúde Pública em Itaúna:

Edital decreta o ‘caos médico’ em Itaúna

Hospital em que o escritor João Guimarães Rosa atendeu como

médico vive momentos de caos e atrasos na folha de pagamento.

 

Por Pepe Chaves

Para Via Fanzine

BH-26/01/2012

 

Um câncer chamado descaso

 

Em Itaúna não é novidade que os hospitais e postos de saúde estejam literalmente doentes, alguns de seus setores já se encontram em estado terminal e outros engessados.

 

Lembro que a saúde já foi motivo de orgulho histórico para os itaunenses. Graças aos insistentes esforços de um médico, Augusto Gonçalves, o município foi emancipado de Pará de Minas, em 16 setembro de 1901. Este médico, por sinal, empresta o seu nome à nossa Praça da Matriz.

 

No início do século passado, um dos filhos mais ilustres de Itaúna, o bem sucedido empresário Manoel Gonçalves de Souza Moreira, deixou em testamento praticamente toda a sua fortuna para a construção e consolidação do hospital local.

 

Após construído, nesse mesmo hospital um outro competente médico que, mais tarde se tornaria um dos mais famosos escritores brasileiros, também prestou os seus valiosos serviços, João Guimarães Rosa que, posteriormente, fixaria residência na vizinha Itaguara.

 

Parece que os grandes homens sempre estiveram velando, de maneira desprendida pela saúde itaunense. Ao contrário do que vemos hoje onde mercenários travestidos de empresários ou médicos “investem na saúde local” em benefício próprio. Ou quando os opositores destes, caem no marasmo da péssima gestão e são acusados na Justiça até mesmo de desvios em verbas de conta da saúde.

 

Itaúna está sendo cortada por uma faca de dois gumes e do mal.

 

No passado, sem herdeiros diretos, Manoel Gonçalves convenceu a sua esposa Dona Cota (que aceitou plenamente) e doou a riqueza acumulada por toda a sua vida para a fundação da Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira. Foi uma doação vultuosa, das maiores heranças do estado de Minas Gerais na sua época que, dizem, posteriormente, teria sido dilapidada aos poucos em benefício de determinadas pessoas na cidade.

 

Nos dias de hoje, apesar de Itaúna se encontrar no seleto grupo de 19 cidades, dentre as 853 de Minas Gerais que possuem uma faculdade de medicina, o provedor daquela Casa, contabilista Edno José de Oliveira queixou-se recentemente da falta de dinheiro para fazer o pagamento do funcionalismo em dezembro passado.

 

Estive com Edno em Itaúna e ele contou inúmeros detalhes acerca das dificuldades para gerir o hospital e a situação complicada que aquela Casa passa faz alguns anos. O hospital tem sofrido com atrasos no repasse de verbas e poucas colaborações vindas do meio político local, já que beneméritos não existem mais.

 

Por outro lado, temos lá a Universidade de Itaúna, que utiliza o nosso hospital para manter os alunos de sua Faculdade de Medicina em estágio, mas não vemos nenhum retorno digno dessa “parceria” ou serviço prestado à instituição privada. O fato de tal instituição de ensino superior dirigida pelo “inoxidável” Faiçal David Freire Chequer ter construído um galpão de alvenaria nas instalações do hospital foi apenas uma ínfima colaboração às reais necessidades de manutenção do hospital local. Sua colaboração com a Casa não deveria parar nessa mera construção.

 

Entretanto, se somos das poucas cidades que temos uma universidade com cursos na área de saúde, assumimos também a lamentável ou se preferir, horrenda, 729ª colocação no ranking mineiro da saúde, de acordo com o Índice FIRJAN de Desenvolvimento dos Municípios. Isso, numa cidade em existe uma universidade que forma médicos e dentistas.

 

Decreto do caos

 

As explicações para absurdos tão dantescos são muitas, mas aqui vamos dar foco apenas ao título desse artigo. O Concurso que a Prefeitura de Itaúna está prestes a realizar é a personificação de uma declaração oficial do caos na saúde local.

 

A empresa Rumo Certo Serviços e Assessoria Ltda, que organiza o concurso, divulgou em seu site o número de inscritos para os todos cargos, como pode ser observado clicando aqui.

 

Numa cidade que já teve o legendário Dr. Augusto Gonçalves que atendia pacientes a cavalo, o benemérito Manoel Gonçalves que deu tudo de si ao hospital e até o imortal escritor Guimarães Rosa atendendo de médico, das 17 vagas oferecidas para cargos de Médico em Itaúna, apenas 14 candidatos se inscreveram. Menos de um candidato por vaga! E o motivo é óbvio: precárias estruturas de trabalho e míseros R$ 2.092,00 mensais de salário, oferecidos pelo edital.

 

É importante lembrar que a mensalidade média paga por um aluno de medicina em Minas Gerais atualmente é de R$ 3.729,19, segundo levantamento realizado no site www.escolasmedicas.com.br.

 

À luz desses dados fica a pergunta: como uma cidade pretende melhorar a saúde fazendo concurso para contratar médicos, se o salário oferecido pela prefeitura está tão aquém do mercado, e tão abaixo do próprio curso de formação de um profissional da área?

 

A prefeitura precisa se redimir dessa terrível falha, reabrindo o prazo de inscrição do concurso e promovendo uma revisão urgente do piso salarial dos médicos. Está evidente que a cidade continuará mantendo menor número de médicos disponíveis do que deveria.

 

Sem isso, fica ratificado o atestado de óbito da saúde pública municipal, o decreto do caos dessa conturbada administração municipal com a assinatura de Eugênio Pinto.

 

Como dizia Renato Russo, “é o descaso que condena”, e completo: que destoa completamente da realidade histórica da saúde pública municipal. Com as figuras nulas que temos hoje frente à política e a saúde pública - salvo honrosas e desprendidas exceções - estamos caminhando para a falência total do nosso precário sistema de saúde.

 

Tudo isso se torna injustificável se observado o momento financeiro atual do município, que registra atualmente a maior renda per capita de sua história. Tendo ainda o atual prefeito para administrar, uma receita quase quatro vezes superior a do seu antecessor.

 

Dinheiro não nos falta. O que falta é saber administrá-lo bem. O que falta é vontade política e desprendimento por parte de nossos agentes públicos. Determinadas autoridades deveriam esquecer um pouco os seus negócios particulares e se doarem mais ao coletivo.

 

Era assim que agiam os grandes homens do passado, tão escassos nestes tempos atuais.

 

* Pepe Chaves é editor do diário digital Via Fanzine e da Rede VF.

 

- Ilustração: Arquivo VF.

 

 

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