O módulo da Apollo
11 circunda a Lua, enquanto a Terra é vista ao fundo.
Três homens e uma
história
É difícil encontrar o
ponto de partida; o início de toda a história. Talvez esteja em homens
sonhadores que mesmo entre as atrocidades da Segunda Grande Guerra,
viram outras utilidades para os veículos que carregavam a morte.
Repentinamente, a Lua não pareceu mais ser um alvo inatingível. Talvez,
esteja muito aquém, quando se manipulou o enxofre que, misturado a
outros produtos químicos, liberava uma quantidade razoável de energia...
Ou talvez esteja mesmo, no primeiro ser humano, que nas pradarias do
antigo continente Africano, olhando os céus, perguntou-se o que seriam
aqueles distantes pontos de luz. É uma longa história.
Talvez seja razoável
começar pelos homens diretamente envolvidos. Afinal, estamos comemorando
as quatro décadas do feito destes homens que, apoiados em um verdadeiro
exército de colaboradores, puderam marcar a presença humana na Lua. Esta
é a estória de Neil Armstrong, Edwin Aldrin e Michael Collins.
Pode-se discutir a
escolha e, talvez, não sejam os melhores embaixadores de nosso planeta;
mas, o fato, é que ousaram partir e caminhar em um outro corpo celeste.
Vamos então recordar ou conhecer um pouco sobre esses representantes da
nossa espécie.
A jornalista italiana Oriana Fallaci
(falecida em 2006) escreveu diversos
artigos sobre os pilotos de provas, que
mais tarde se tornariam astronautas.
Anos de Néon
Já naquela época, Las
Vegas era a cidade do néon, contrastando com estradas poeirentas da
Califórnia, no final da década de 50. Nas planícies extensas, no Vale do
Antílope, está dos maiores complexos aeronáuticos dos Estados Unidos. O
local é uma espécie de “Meca” dos melhores pilotos do país.
No Vale do Antílope,
Neil Armstrong e Michel Collins foram aceitos para compor o seleto
quadro de pilotos de provas das melhores e mais avançadas aeronaves já
produzidas. Na época, não lhes passava pela cabeça viajar ao espaço,
muito menos à superfície da Lua.
O início do programa
espacial tripulado esbarrou com inúmeros problemas, dentre os quais, a
busca pelos perfis corretos e dispostos a encarar o desafio de sair de
sua atmosfera, para ir além. Foi inevitável que buscassem os pilotos de
prova da Base de Edwards e também da Marinha.
Os nomes Neil
Armstrong, Edwin Aldrin e Michel Collins têm lugar garantido na história
humana. Toda a mídia da época contribuiu para criar uma imagem de
“semi-deuses” aos astronautas, graças aos seus feitos. Mas pouca coisa
sobre a formação profissional e pessoal de um astronauta era tornada
público. Contudo, a jornalista italiana Oriana Fallaci (falecida em
2006), teve o privilégio de conviver e escrever muito sobre os antigos
pilotos de provas, posteriormente “transformados” em astronautas. De
forma nada convencional, a jornalista traça perfis mais realistas desses
homens.
Os três tripulantes da
Apollo 11 estavam com exatos 39 anos quando se aventuraram nesta jornada
à Lua.
Neil Armstrong
Ao pé da letra,
Armstrong traduz-se “braço forte”; mas, segundo Oriana, Neil seria um
sujeito tímido e de poucas palavras. Em três anos de abordagens
conseguiu muito pouco de Neil, comentando que costuma ruborizar-se
facilmente nos bate-papos, o que o enfurece e chega a tornar-se
grosseiro.
Niel não tem nenhuma
fantasia, dificilmente se interessa por qualquer coisa, exceto voar e
entender as máquinas de vôo. Ainda segundo Oriana, nunca leu um romance,
nunca foi a um concerto, nunca admirou um quadro, nunca teve prazer com
qualquer coisa a não ser com uma hélice ou um reator. Segue dizendo que
nunca teve um minuto de cordialidade dele, de calor humano, exceto se
pronunciasse as palavras Mercury, Gemini, Apollo, LEM (sigla para Módulo
Lunar).
Em seu formulário, no
item “a que religião pertence?”, consta a resposta: nenhuma. Pessoas que
o conhecem bem, dizem que qualificá-lo como ateu não é o ideal, e sim um
agnóstico. Outros chegaram a dizer que Neil é o único dos astronautas
que não acredita em Deus por um simples motivo: Deus não é um avião!
Tendo participado em 68
missões na Coreia, a guerra para Neil, resumiu-se em análises das
performances de seus voos; na experiência de aplicar novas técnicas de
voo e a eficácia das mesmas. Incapaz de abalar-se com os resultados de
conflitos bélicos, a guerra da Coreia transformou-se em um laboratório
para refinamentos em técnicas de voar e conhecer a fundo a máquina de
voo.
Mais tarde, o piloto do
avião-foguete X-15, Joe Walker, definiu-o como “o melhor piloto de X-15
que já existiu”. Era extremamente preciso e de uma calma invejável.
Durante o pouso do módulo lunar, teve a frieza em retardar o pouso,
desviando para um sítio mais adequado, o que lhes deixou, ao final, com
apenas 20 segundos de combustível.
Na ocasião do vôo da
Apollo 11, o Chefe de Relações Públicas da Nasa chegou a comentar: “Não
espero frases memoráveis de Neil ou de Buzz (referindo-se à Aldrin)
ao desembarcarem. São dois pedaços de gelo envolvidos pela sua
capacidade técnica”.
Oriana conclui que a
escolha não foi equivocada, afinal, na Lua ainda não se vai com o
romantismo ou com a doçura das fantasias. É preciso usar o Life
Suport System, a matemática, os computadores, toda uma Ciência
apurada, além da destreza de saber voar.
Edwin Aldrin
O perfil de Edwin
Aldrin (apelidado Buzz) não é muito diferente. Encarou a viagem à Lua
como uma conquista tecnológica. Aldrin dificilmente sorri (mesmo em
situações onde este é o objetivo almejado), porém, é educado e gentil.
Casado com a atriz Joan Archer, Aldrin é um tanto ufanista e não esconde
a idéia de que seu feito teve algum desígnio divino.
É coronel da aviação e
formado em West Point. Teve participação na Guerra da Coreia, executando
66 missões bem sucedidas. Quando surgiu-lhe a oportunidade de participar
da Apollo 11, Aldrin treinou duramente para a missão, quase como uma
máquina, diziam; com o propósito de não falhar.
Michael Collins
Michael Collins veio de
uma família de militares, com generais, inclusive, segundo Oriana, era o
mais simpático e mais acessível dos três. Também formado em West Point,
trata-se de pessoa agradável, cuja imagem não fazem jus ao seu modo de
ser e, dificilmente, o caracteriza como um militar. Talvez, o único mais
“romântico” do trio, Collins foi justamente o único que não desceria à
superfície lunar. Sua função seria a de permanecer em órbita lunar,
comandando o Modulo de Serviço e de Comando.
Collins participou com
John Young de um vôo do Programa Gemini, afastando-se logo em seguida do
Programa Espacial para uma cirurgia delicada numa saliência da medula
espinhal, que poderia condená-lo à paralisia. Curou-se e conseguiu
voltar ao Programa, sendo escolhido para compor a tripulação da Apollo
11. Ainda segundo Oriana, ele é o único que conhece o significado da
palavra humildade.
Estes foram nossos
representantes e embaixadores em outro mundo, que comemoram seu feito
pela 40ª oportunidade, nesse mês de Julho de 2009.
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*
Márcio Mendes
é físico, professor em Dois Córregos/SP, astrônomo amador
membro da
REA
(Rede Astronômica Observacional) e consultor de Astronomia para
Via Fanzine.
- Fotos:
Nasa/divulgação.
- Leia outros artigos
exclusivos do autor:
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- Produção:
Pepe Chaves.
Do Vale do Antílope ao solo lunar
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