Cosmonautas

Gagarin, o pioneiro da Astronáutica:

Ele nos contou que a Terra é azul

O histórico voo espacial do cosmonauta russo Yuri Gagarin e suas implicações

nos projetos de viagens espaciais tripuladas que ainda estavam por vir.

Após o feito, Gagarin foi recebido no Brasil pelo presidente Jânio Quadros.

Por Pepe Chaves*

Para ASTROvia

Primeiro homem a sair da Terra, Gagarin foi notícia também na imprensa brasileira da época.

Soltando às amarras

Até alguns anos atrás, tudo estava quieto lá em cima. Não havia satélites, lançamentos de foguetes, estação orbital e nem lixo espacial. Mas, alguns homens, com seus  pés presos à Terra, sonhavam em navegar no espaço, deixando para trás o seu planeta natal, elevando os seus pés até os astros conhecidos do nosso sistema solar. E um dia, alguém conseguiu deixar a Terra para trás. Depois de experiências diversas, com lançamentos de materiais e até animais à orbita terrestre, finalmente chegara o dia em que o primeiro homem extrapolou a atmosfera e contou para os demais sobre o que viu lá de cima.

O antigo sonho de se soltar das amarras gravitacionais terrestres e buscar as paragens da Lua e outros planetas próximos, somente esboçaria sua realidade a partir da década de 1950. O “sólido” combustível para tais conquistas, vinha da política: a disputa entre os modelos de estado capitalista e socialista. Essa disputa ganharia peso e ação, sabidamente, na transição da década de 1950 para a de 1960.

E foi naqueles meados de século 20 que a competição tecnológica, também chamada de “Guerra Fria”, foi firmada silenciosamente entre as duas maiores nações da Terra. De um lado, os capitalistas Estados Unidos da América (EUA) e do outro, a socialista União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). E o principal produto gerado por esse rolo-compressor tecnológico desaguaria nos mares da corrida espacial. Ou seja, em vez de se ameaçar com bombas e armamentos arrasadores, aquelas potentes nações pareciam ter acertado uma disputa em comum: a de quem consegue chegar mais longe.

A União Soviética largou na frente, sob a mão-de-ferro de seu mandatário Nikita Kruschev, que deu “asas” ao gênio do engenheiro soviético Sergei Korolev, permitindo realizações espaciais inéditas e invejáveis. Alto funcionário da Agência Espacial  Soviética, Korolev foi o responsável pelo pontapé inicial na largada para a corrida espacial, ao lançar o primeiro satélite artificial da história, o Spunitik.

Porém, Sergei Korolev se tornaria uma personalidade mundial e entraria definitivamente para o reservado rol da Astronáutica, quando conseguiu colocar em órbita, no ano de 1961, um ser humano: o piloto e cosmonauta russo Yuri Alekseyevich Gagarin.

O físico, astrônomo e consultor em astronáutica para o jornal Via Fanzine, professor Márcio Mandes, nos contou que, “Nessa mesma época, os EUA desenvolviam dois projetos paralelos, com objetivos semelhantes. Eles se sentiam motivados pela ameaça dos mísseis ICBM e pelo feito pioneiro de Gagarin. A Agência Espacial Americana (Nasa), criada em 1958, investia em seu pioneiro Projeto Mercury, enquanto a Força Aérea Americana (USAF) desenvolvia o Dyna Soar, uma espécie de ‘bisavô’ dos atuais ônibus espaciais”.

A cápsula Mercury, da Nasa, que transportaria apenas um astronauta em seu interior, era extremamente mais simples, constituindo-se em um satélite cônico. O seu único ocupante seria lançado por um foguete que, na verdade, se tratava de um míssil balístico de curto alcance, modificado. Após ser lançado, o artefato retornaria à Terra, preso a um paraquedas que deveria se abrir sobre uma determinada região do oceano.

Para o professor Márcio Mendes, “Provavelmente, a disputa entre os dois projetos acabou acarretando atrasos na definição do Programa Espacial Americano na época. Algo semelhante ocorre nos dias de hoje envolvendo o Projeto Constellation [de retomada às viagens espaciais tripuladas], projetos privados e o relatório Augustine, que deve proporcionar ao presidente Obama as diretrizes a serem seguidas nessa área”.

Gagarin virou estátua na Rússia.

E assim se iniciou a Guerra Fria

Os soviéticos, esplendidamente, deram início ao seu bem definido Programa Espacial, inaugurado com o voo orbital de Gagarin, em 12 de abril de 1961. Por sua vez, os norte-americanos responderam com o tímido voo sub-orbital da cápsula Mercury, com uma duração de apenas 15 minutos.

Os feitos foram comparados entre si e diante ao feito de Gagarin, o líder soviético Kruschev se referiu à experiência da Nasa com algum desdém, ao apelidá-la de “salto de uma pulga”. Diplomaticamente, manifestando-se através de um telegrama, o presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, na mesma data em que foi divulgado o feito, saudou o povo soviético e os seus engenheiros, pela ousadia de elevar um homem à órbita terrestre, e resgatá-lo com segurança.

No entanto, o sarcasmo expresso por Kruschev diante à experiência de viagem sub-orbital dos norte-americanos se tornou a centelha que acendeu o barril de pólvora da corrida espacial tripulada. “Tais fatos, levaram o presidente Kennedy a se pronunciar publicamente, conclamando a Nação ao desempenho de tarefas que culminariam com a chegada de um homem à Lua, até o final da década de 1960. Mas não o fez, sem antes usar a diplomacia e polidamente reconhecer a conquista soviética através de um memorável e histórico telegrama enviado ao chefe de Estado Nikita Kruschev”, nos conta o professor Márcio Mendes.

Falando ainda sobre o telegrama de Kennedy a Kruschev, que se tornou o estopim da corrida espacial, observou o professor Mendes, “Considero [o telegrama - veja abaixo] uma raridade da Astronáutica e, de certa forma, o seu conteúdo professa uma realidade longínqua para a época em que foi escrito. Na verdade, algo inimaginável para aquela época da guerra fria. Lendo-o hoje, dentro de nossa realidade, me parece bem mais certeiro”. Conforme coloca o professor Mendes, vale lembrar que, atualmente, as duas grandes potências espaciais trabalham juntas em um projeto comum: o da estação Espacial Internacional (ISS).

Telegrama de Kennedy, de 12/04/1961, em tradução do autor: ‘O povo dos Estados Unidos saúda o povo da União Soviética pela satisfação do lançamento do primeiro homem numa viagem espacial. Nos congratulamos com todos os cientistas e engenheiros soviéticos que tornaram este feito possível. E o meu sincero desejo é que as viagens espaciais continuem e que nossas nações possam trabalhar juntas para a obtenção de grandes benefícios para todos’ .

John F. Kennedy – presidente EUA.

‘A Terra é azul’, disse o cosmonauta

Yuri Alekseyevich Gagarin, nasceu em 09 de março de 1934 e se tornou o primeiro homem a deixar a gravidade terrestre para trás e comprovar com seus próprios olhos que a Terra é azul. Esta foi a notícia enviada por ele a todo o mundo, ainda da órbita terrestre. Sua visão privilegiada pôde contemplar a totalidade da esfera terrestre de forma magnífica e ímpar, até então. A paisagem de desolação e beleza que ele narrou, viria a ser comprovada por outros viajantes espaciais, pouco tempo depois. A Terra era mesmo azul, conforme ele falou e isso, todo o restante da humanidade também constatou, através de imagens diversas que passaram a surgir, após sua histórica viagem.

Casado, pai de dois filhos, Gagarin nasceu em Gzhatsk, província de Smolensk, na Rússia. Até ser selecionado como o primeiro homem a ir ao espaço, Gagarin percorreu um longo caminho nas forças armadas de seu país. Ele iniciou sua carreira na Força Aérea Soviética, como piloto de MiG-15. Graças às suas vocações, em 1960, foi selecionado para compor um seleto grupo de cosmonautas que desempenhariam missões espaciais. Dois anos depois de  sua primordial viagem espacial, realizada em 12 de abril de 1961, ele foi nomeado comandante do grupo de cosmonautas.

Yuri Gagarin se tornou uma personalidade mundial e, até então, o maior produto para os anúncios do regime socialista que já abocanhara grande parte do leste europeu. Com efeito, a viagem espacial de Gagarin tornou-se uma ameaça ao modelo capitalista, impingindo o poder e a criatividade científica do então robusto bloco socialista. Tanto, que o feito soviético mereceu uma resposta à altura por parte dos EUA, que vieram posteriormente a ser o primeiro país a colocar - durante cinco oportunidades seguidas - seres humanos sobre a superfície lunar.

Após o histórico voo espacial de Gagarin, uma nova era surgiu no campo da exploração espacial, sobretudo, para as viagens espaciais tripuladas, que tomariam força nos anos seguintes e se encerrariam com a missão lunar Apollo 17, em 1972. O desenvolvimento tecnológico foi evidente para ambos os blocos. Toda uma indústria nasceu em torno das viagens espaciais, gerando equipamentos, instrumentos e novos recursos, através de tecnologias impensáveis para aqueles primórdios da Astronáutica.

No Brasil, Gagarin foi condecorado com a maior honraria nacional

e recebeu o beijo da jovem Sonja Gracie, da alta sociedade carioca.

A visita de Gagarin ao Brasil

Em 1961, pouco depois da viagem de Gagarin ao espaço, o Brasil era um país democrata, governado pelo presidente civil Jânio Quadros. Ele costumava fazer a direita dura tremer, por causa de seus “namoros” com o comunismo, que assolava o leste europeu e que, acreditava-se, poderia também atingir às nações da América do Sul. E num desses flertes, em 03 de agosto de 1961, o cosmonauta Yuri Gagarin visitou o Brasil, sendo recebido por Jânio Quadros.

O cosmonauta chegou ao recém inaugurado Aeroporto de Brasília e depois voou até o Aeroporto do Galeão, na Guanabara (hoje, cidade do Rio de Janeiro), na época, capital do Brasil. O presidente Jânio Quadros condecorou o cosmonauta russo com a “Ordem do Cruzeiro do Sul”, a mais alta honraria nacional. Durante o encontro, o cosmonauta entregou ao governante brasileiro uma mensagem do líder soviético Nikita Kruchev, como uma tentativa de reaproximação diplomática entre os países.

Numa revista brasileira da época, que cobriu a visita de Gagarin ao país, em texto assinado por Luiz Carlos Barreto, observa o fato de Gagarin ter dificuldades em formar suas impressões do nosso povo e do nosso país, decerto, por causa do alvoroço em sua recepção.

Descreve Barreto que, “(...) chegando à Casa das Pedras, do industrial Drault Ernanny, Gagarin recebeu as boas vindas da senhorita Sonja Gracie, que representava simbolicamente toda juventude brasileira. Sonja, quebrando todos os sérios protocolos, mostrou sua admiração pelo herói com um beijo fraternal em seu rosto. Em Moscou Gina Lollobrigida havia feito a mesma coisa e, na cidade de Londres, uma inglesinha rompera os cordões de isolamento para consegui-lo. Yuri Gagarin sabe muito bem que todos esses beijos significam a melhor demonstração de ternura e entusiasmo que seu feito pioneiro no espaço despertou em todos os quatro cantos do planeta. E mostra que realmente ele tinha toda a razão quando afirmou que o melhor foi sua volta à Terra”.

Gagarin, o pioneiro da Astronáutica, faleceu em 1968, não assistindo, portanto, à chegada do homem na Lua. Ele foi vitimado por um acidente aéreo, enquanto realizava treinamentos num caça MiG, do governo soviético.

* Pepe Chaves é editor do diário digital Via Fanzine (Brasil).

- Colaboraram: J. Ildefonso P. de Souza (SP) e Márcio R. Mendes (SP).

- Fotos: Revistas 'O Cruzeiro' e 'Fatos e Fotos'/Arquivo de Márcio R. Mendes/Arquivo VF.

- Produção: Pepe Chaves

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Ucrânia:

Morre o cosmonauta Pavel Popovitch

Um dos heróis dos voos tripulados, ele teve experiência com OVNIs.

Por Pepe Chaves*

Para ASTROvia

Pavel Popovich, nos primórdios dos voos tripulados.

Foi anunciada na Ucrânia, no final desse mês de setembro, a morte de um dos ícones dos voos tripulados, o cosmonauta Pavel Popovich. Seu falecimento se deu aos 79 anos, faltando apenas cinco dias para completar 80 anos.

Junto com Andrian Nikolayev, este ucraniano participou da primeira equipe de cosmonautas soviéticos. Ele realizou o primeiro vôo a bordo das naves Vostok 3 (Nikolayev) e Vostok 4 (Popovich), em agosto de 1962, nos primórdios das viagens espaciais. Ele também voou a bordo da Soyuz 14 em 1974.

Pavel Popovich foi o 4º cosmonauta na história dos voos espaciais tripulados. Ele também foi uma pessoa importante na história da ufologia soviética e muito contribuiu para a investigação OVNI naqueles tempos sombrios da censura soviética, que procurava sufocar a ideologia ufológica. Na época, "OVNI" se tornou um assunto proibido para a investigação não autorizada (naturalmente, pelo complexo militar-industrial soviético e a academia que estudava os OVNIs em segredo, no âmbito dos programas secretos).

Falando conosco por e-mail, o pesquisador Paul Stonehill, declarou que, “Popovich era uma pessoa generosa e corajosa. Ele também testemunhou um OVNI, durante um voo sobre o Oceano Atlântico. Philip Mantle e eu estamos a trabalhar em um artigo sobre Popovich e a pós-ufologia soviética, suas revelações sobre avistamentos de OVNIs (e OSNIs), e toda a sua contribuição para o estudo deste fenômeno”.

Stonehill afirma que o artigo em parceria com Mantle sobre as experiências ufológicas de Pavel Popovitch será concluído em breve.

* Pepe Chaves é editor do diário digital Via Fanzine (Brasil).

- Com informações de Paul Stonehill.

- Foto: Arquivo VF.

- Colaborou: J. Ildefonso P. de Souza (SP).

- Produção: Pepe Chaves

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