Paraíba
Pedra do Ingá: Quebra-cabeça no interior paraibano O mistério que resiste às especulações em torno da sua existência e de sua rica simbologia.
Por J.A. FONSECA* De Itaúna-MG setembro/2014
Detalhe das gravuras na Pedra do Ingá .Leia também outros trabalhos de J.A. Fonseca: Cidades e povos perdidos do Brasil
Há uma teimosa resistência por parte dos pesquisadores arqueológicos em aceitar que as Américas nada têm de mais antigo, isto é, ligado a povos primitivos, e que tudo o que ali pode ser visto está relacionado a emigração de gente oriunda da Ásia e da Europa, especialmente. No Brasil então as resistências são bem maiores e toda a pesquisa leva em consideração somente as condições em que os silvícolas foram encontrados e os relaciona a todo o cabedal arqueológico que aqui pode ser visto, de norte a sul do país, apesar das diferenças marcantes nos registros rupestres encontrados por toda a parte e da sofisticação que muitos destes apresentam.
As provas que se afloram em diversos lugares mostram que há algo mais a ser buscado, além de explicações convencionais e incompatíveis em muitos casos, e possuem elementos marcantes que não permitem a elucidação da questão pelas teses que os estudiosos apresentam, mas mesmo assim permanecem intocadas e sujeitas a opiniões dogmáticas que se negam em ver o relato mudo destes monumentos especiais.
Neste sentido, queremos dar destaque à questão da pedra do Ingá, gigantesco monumento arqueológico perdido no sertão paraibano e que guarda uma verdadeira página habilmente escrita em caracteres desconhecidos e ainda não decifrados pelos estudiosos.
Este antigo registro pétreo em terras brasileiras, dada a sua elevada sofisticação tanto na feitura do mesmo quanto ao que pode relatar seus inúmeros signos incrustados em meia cana, ou seja, ao seu conteúdo, mereceria uma atenção maior das autoridades e dos estudiosos, no sentido de preservá-la para estudos mais aprofundados e pesquisas em torno da mesma, para analisar possíveis elementos residuais que poderiam estar a ela relacionados.
É perceptível para todos os que deste monumental artefato pétreo se aproximam que sua “escrita” não poderia ter sido produzida por mãos desabilitadas e mentes receosas e limitadas, e que sua feitura teria exigido critérios importantes para o seu planejamento e realização. Temos, em território brasileiro, exemplos suficientes de registros produzidos por homens primitivos, moradores de cavernas, caçadores-coletores e de caracteres limitados que pintavam animais, pessoas e elementos simples, relacionados à sua vida cotidiana ou apenas marcações aleatórias em cores variadas, mas em que nada se assemelham ao que podemos ver na pedra do Ingá.
Reprodução do painel completo dos signos do Ingá e sua simbologia misteriosa.
Esta se mostra como um conjunto coeso e, nada ali, se apresenta de forma aleatória ou posicionada equivocadamente, mas, ao contrário e apesar de não termos de seus caracteres a decifração, pode-se ver sem esforço que estes se relacionam uns com os outros em harmonia e parecem mesmo comunicarem-se, como ocorre no caso de uma escrita ideográfica.
Se quisermos concordar que registros como estes tenham sido feitos por indígenas como os que aqui foram encontrados ou homens primitivos, teremos que admitir que esses indivíduos teriam um excepcional dom artístico e que teriam, obrigatoriamente, que se diferenciarem-se dos demais outros que faziam pinturas mais simplórias em grutas, cavernas e abrigos em diversas regiões do país. Além disto, teriam de ter um conhecimento aprofundado de figuras simbólicas de caráter ideográfico e uma capacidade de ajustá-las de forma a constituírem ideias, harmonia e coesão, como acontece numa escrita regular. Pode-se até mesmo dizer que os signos misteriosos de Ingá não se tratam de uma escrita, nem mesmo ideográfica, mas também não se pode afirmar, com tranquilidade, que se tratem de garatujas aleatórias sem maior expressividade e sem conteúdo.
Nossa percepção terá de se voltar para outro questionamento. Que povos teriam sido esses que teriam vivido nesta região e desaparecido bruscamente sem deixar outros vestígios? Não podemos explicar. Porém, o registro de algo especialmente relevante está incrustado neste grande monólito em pleno sertão brasileiro, sofrendo de incompreensões por parte dos pesquisadores, do descaso dos governantes e dos ataques de pessoas despreparadas que nada podem ver ali, senão apenas uma curiosidade de menor importância.
Nós que ali estivemos e pudemos ver suas inscrições de perto, filmá-las e fotografá-las por inteiro, temos em mente que se este monumento pétreo antiquíssimo estivesse localizado na Europa ou na Ásia, a atenção dos pesquisadores estaria bem mais voltada para o mesmo e a sua avaliação histórica sofreria mudanças radicais quanto a estrutura de suas figuras e ao seu significado. Neste artigo queremos dar destaque a este pormenor e mostrar que suas figuras, letras ou caracteres ideográficos foram concebidos por mentes com discernimento e direção específica, com a finalidade de produzir e registrar informações, mesmo que ainda não tenhamos deles uma compreensão já deduzida. O fato de não as compreendermos e de estarem isoladas numa região desértica e inóspita não pode conduzir-nos a pensar que se trata de algo irrelevante. Seu conteúdo, seus signos e a forma como estes foram gravados gritam alto aos nossos ouvidos que foram feitos por pessoas que manuseavam conhecimentos técnicos e possuíam algum tipo de cultura.
Muitos autores se ocuparam da pedra do Ingá e eu mesmo já a abordei em artigos publicados neste portal citando a opinião de muitos deles. Porém, dentre estes o que mais se aprofundou no seu conteúdo ideográfico e ousou exprimir-se de forma objetiva foi o insigne pesquisador Gabrielle Baraldi e nós vamos aqui reportar aos seus estudos e abordar a semelhança que existe nos signos do Ingá e os apontados por este estudioso, além de mostrar também outros signos que deles se aproximam em aparência. Dentre estes damos destaque a alguns símbolos que se assemelham aos caracteres “rongo-rongo” ainda não traduzidos da ilha de Páscoa e também com a escrita de Karkemich, da terra dos povos hititas, conforme tabelas anexas ao texto e elaboradas por este autor.
Comparativo dos signos do Ingá com a escrita “rongo-rongo” (ilha de Páscoa) e de Karkemich linguagem hitita (Anatólia).
Apesar de não estarmos inteiramente convictos em relação à abordagem feita por Baraldi pensamos que foi este pesquisador apenas quem examinou o seu conteúdo com maior presteza e acuidade e temos que dar o respectivo valor a um trabalho como este, uma vez que sua tese se deu consolidada em pesquisas sérias e comparações eficientes junto de experiências já vastamente vividas no Brasil e no exterior.
É uma pena que estudos como estes não venham ser considerados nas pesquisas feitas em torno de um excepcional monumento como este do Ingá, preferindo a maioria perderem-se em especulações acadêmicas pouco consistentes ou que não podem dar o suporte necessário a um entendimento mais condigno com o que este expõe, sua rica simbologia e ao provável conteúdo histórico que o mesmo desafiadoramente apresenta.
Gabrielle D’Annunzio Baraldi diz te traduzido a pedra do Ingá e que ela possui 497 sinais insculpidos em seu vasto maciço pétreo. Disse ainda o pesquisador que ela encontra-se em posição invertida e para conhecer a forma correta de seus caracteres estes teriam de ser lidos na posição desvirada em relação ao estado em que se acham neste momento. E disse mais: que sua leitura deverá ser feita da direita para a esquerda e de cima para baixo, além de que se tratam de língua hitita e que esses povos desaparecidos teriam vivido no Brasil. Baraldi afirma que os povos Hititas floresceram na Anatólia (Turquia) por volta do ano de 2500 a.C., alcançando grande progresso na sua civilização. Disse ainda que a pedra do Ingá é uma prova contundente de que esses povos ou protohititas americanos viveram no Brasil e que as inscrições deste gigantesco monumento histórico são de sua autoria e teriam sido produzidos por volta de 1374 e 1322 a.C.
As figuras encontram-se invertidas conforme a leitura feita por G. Baraldi e indicam que em qualquer posição que a queiramos ver mostra a presença de signos desconhecidos, não deixando duvidas de que esta rica simbologia da “escrita” da pedra do Ingá é muito sofisticada e não pode tratar-me apenas de gravações esparsas feitas por mãos humanas inábeis e sem uma condução inteligente e planejada.
A imagem dos caracteres na posição normal e ao lado na posição invertida, com destaques em alguns deles. Abaixo uma síntese da tradução feita por Baraldi.
Neste conjunto ele dá a seguinte tradução: “tatá tatá ara raba ara na ara ana juba pitanga ami tuúba tatuúba araá guaá assá ytá pyssã juba pitanga”, que significa “desta maneira a montanha agitada está de pé e solta fogo na parte superior de dia amarelo avermelhado. À noite fica apagado e não solta fogo amarelo avermelhado.”
Neste conjunto: “cuara ara assá pyssã ara ti me reme guatá guatara jará mia jará taba yee ura”, que significa “covas e buracos se formam ao redor de pessoas e animais com chamas que iluminam a escuridão da noite.”
Neste conjunto, invertido ao lado, conforme interpretação de Baraldi temos a tradução abaixo para o signo de maior proporção.
“Me pé ygara ygaguassu cuá guá jaguaretê na suassuarama raba na ara ay xaiuá suá tu juba pitanga au atá tatá ro ay xai ata tatá assaba pina”, que segundo ele se resume no seguinte: “a erupção começou a esquentar e aumentar de intensidade sobre os barcos e navios do império. Os homens soltam as amarras para salvá-los, mas a lava cai sobre eles incendiando-os e afundando-os.”
A tradução dos signos do Ingá que foi feita por Baraldi foi concluída por intermédio do Dicionário Tupi-Português de Luiz Caldas Tibiriçá e de uma tábua de inscrições hititas e seus significados catalogados pelo pesquisador francês Emannuel Laroche e pelos hititólogos Meriggi (italiano) e Guterbock, de nacionalidade alemã. Para ele a língua tupi no Brasil é fundamentalmente hitita e afirma ter encontrado símbolos na tábua de Laroche que provam isto. Segundo mostra, o símbolo nº 163 desta tábua tem a pronúncia tupi ‘mu-já’ que significa ‘raça’ e ‘nação’, e que a de nº 199 tem a pronúncia de ‘jassy’, que significa ‘lua’, ‘mês’.
De forma simplificada, o contexto da abordagem feita pelo insigne pesquisador G. Baraldi pode ser assim compreendido, considerando-se o conteúdo do Dicionário de Hieróglifos Amero-Hititas do livro “Os Hititas Americanos” do autor referenciado. Assim, por exemplo, destacamos alguns pequenos trechos dentre os signos analisados e traduzidos por Baraldi que, a nosso ver, precisariam ser melhor reconsiderados pelos historiadores e pesquisadores em arqueologia. Damos, sucintamente alguns exemplos dos estudos feitos por Baraldi:
Apesar de ter sido severamente contestado por estudiosos e por não termos formado em definitivo nossa posição sobre a tradução destes signos feitos por Baraldi, mantemos os seus estudos em elevada consideração, uma vez que nenhum dos seus contestadores apresentaram um posicionamento mais condigno sobre o tema, senão que se tratam de signos desconhecidos ou que tenham sido feitos por grupos indígenas da região.
Ocorre que suas inscrições foram trabalhadas de forma especial em gneis duríssimo e este pormenor não deixa de desafiar a capacidade das avaliações que são feitas pelos estudiosos, mesmo que estes queriam que seus signos tenham sido cavados rudimentarmente na rocha por homens primitivos sem nenhuma técnica específica (equipamentos adequados) ou inteligência discriminativa que possibilitasse este trabalho. É também difícil de aceitar esta hipótese quando nos encontramos diante deste magnífico monumento e nos espantamos com a qualidade excepcional do trabalho apresentado.
Para aceitarmos a tese de sua feitura por povos nativos, teríamos de admitir que estes teriam levado muito tempo para a sua conclusão e que tal processo poderia ter passado por mãos diferentes e por mais de uma geração. Tal fato ocasionaria certamente a descontinuidade ou a impossibilidade da manutenção de traçados homogêneos, o que não podemos detectar quando a observamos. Além disto, poderia haver processos diferentes na sua feitura e cortes não muito precisos em alguns casos, por atuação de mãos e pensamentos diferenciados entre si. Contrariamente a isto, temos a impressão de que seus ‘escritos’ foram todos feitos num determinado momento e na sua totalidade. Há muita coesão em suas figuras justapostas e nada existe que possa indicar variações individuais comumente encontradas em trabalhos executados por grupos de pessoas.
O que dizer então? Seu conjunto desafia o estudioso, pois se mostra como algo fortemente conciso e de difícil explicação, além de que, se trata de um monumento histórico raramente visto no interior do Brasil.
Podem-se contestar os estudos aprofundados e as conclusões que dela tiraram o pesquisador Baraldi e dizer-se que suas inscrições se tratam mesmo de trabalho executado por povos primitivos, mas não se pode provar como estes teriam sido feitos por esses seus supostos autores. Por outro lado, não se pode, no momento, afirmar também que ela teria sido produzida por povos avançados ou que se trate de uma escrita, apesar de seu conteúdo conduzir para algo deste porte e fica aí o impasse. Este, por sua vez, não pode ser resolvido com explicações simples que muitas vezes surgem nem mesmo por meio de algumas hipóteses extravagantes que também por vezes aparecem. O certo é que uma análise mais aprofundada neste colossal monólito paraibano e na região onde ele se encontra, poderia, quem sabe, conduzir os pesquisadores para um entendimento mais próximo da realidade que está por trás deste antigo mistério brasileiro. Quando o encaramos apenas de forma dogmática muitas questões surgem e não podem ser respondidas, conduzindo-nos a pensar que sua existência ali passa a ser algo incômodo demais para ser aceito sem, no entanto, favorecer a confirmação das teses que em torno dela se formaram por causa da sua estranheza.
Outro detalhe de um trecho da “escrita” do enigmático painel do Ingá.
E se decidirmos mesmo por incluí-las no contexto das inscrições rupestres comuns, encontradas em muitos lugares, então estaremos de fato fechando os olhos para o óbvio que sua realidade apresenta e tal atitude vem impedir que a venhamos tornar compreendida algum dia, em sua totalidade ou em parte. Com um pouco de boa vontade fica patente diante de nossos olhos que sua presença complica em muito a nossa perspectiva histórica sobre os povos que habitaram esta região e que comprovado fica que estes não reuniam sequer as mínimas condições para executarem um “trabalho” de tamanha beleza e complexidade.
O fato de não compreendermos ainda o significado de seus signos multivariados insculpidos com grande presteza não pode simplesmente eliminá-la do contexto dos estudos e da busca de explicações fundadas na solidez de pesquisas consistentes e apoiadas no avanço da tecnologia. O que não se pode compreender, concluímos, é pretender retirá-la deste contexto de estudos mais acurados, atribuindo-lhe somente conotações simplórias e inconsistentes diante do próprio cenário mostrado pela mesma, o que faria agigantar-se ainda mais o seu mistério e o distanciamento entre a lógica de sua existência, o contexto histórico em que ela foi encontrada e o seu conteúdo inexplicável e notoriamente perturbador.
Por outro lado, o simples fato de se dizer que se trata de um monumento lítico de autoria de povos primitivos que habitaram o Brasil não pode dar por encerrada a questão em relação ao seu conteúdo, levando, tal assertiva, ao descontentamento de quantos tomam conhecimento de sua existência pela insuficiência de explicações condizentes e pelo surgimento de inúmeras outras questões que passam a exigir uma resposta mais condigna com a sua grandiosidade e mistério.
* J.A. Fonseca é economista, aposentado, espiritualista, conferencista, pesquisador e escritor, e tem-se aprofundado no estudo da arqueologia brasileira e realizado incursões em diversas regiões do Brasil com o intuito de melhor compreender seus mistérios milenares. É articulista do jornal eletrônico Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br) e membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA. E-mail: jafonseca1@hotmail.com.
- Fotografias e ilustrações: J. A. Fonseca.
Apêndice: Pedra do Ingá - Paraíba: Desvendado o mistério da Pedra do Ingá* Pesquisador Gabriele Baraldi garante que a Pedra de Ingá confirma a presença dos hititas no Brasil e vê relato de guerra nas inscrições rupestres.
Pedra do Ingá, gravação em pedra com tecnologia desconhecida.
Uma tábua de ideogramas hititas e um dicionário Tupi-português
Pronto, o pesquisador Gabriele D´Annunzio Baraldi um italiano de 52 anos de idade de 25 de Brasil, garante que isso foi suficiente para traduzir a Pedra de Ingá, com seus 497 sinais esculpidos ao longo de um paredão com 24 metros de comprimento, três de altura e mais três de largura.
Conhecida em meio mundo pela forma singular, a beleza e os mistérios de suas inscrições, a Pedra de Ingá recebeu a primeira visita de Baraldi em 1988. O que ele anunciou, na ocasião (Nº 111, d´A Carta), foi algo, sem dúvida, surpreendente: o bloco inteiro, conforme entendia havia rolado, em algum tempo de um passado distante, deixando os sinais de cabeça para baixo e dificultando, em função disso, a decodificação.
Á Pedra de Ingá é uma evidência irrefutável de que os hititas, ou proto-hititas americanos, viveram neste Continente - assegura Baraldi, para quem não é improvável a hipótese de o chamado Novo Mundo vir a ser mais antigo do que o Velho.
O que teria virado a Pedra? Uma forte enxurrada, admite ele. Mas as surpresas não acabam aí. O pesquisador Italiano, naturalizado Brasileiro, se diz certo de que o bloco rochoso já foi duas vezes maior na época em que servia como fachada de um monumento colossal: "Uma figura humana de monarca, com chapéu, sentado ao trono, tendo dois leões (ou onças) aos pés ".
As inscrições vistas atualmente, afirma Baraldi, são mais recentes e datam provavelmente, de 1374 e 1322, antes de Cristo. Os hititas, tal como são conhecidos, floresceram na Anatólia (hoje Turquia) por volta de 2500 a.C. e alcançaram progressos como a fundição do ferro, encerrando a Idade de Bronze (proeza que tem contestação no campo da Arqueologia).
Baraldi sustenta que a Pedra de Ingá pode explicar a ainda misteriosa origem dessa civilização que, no caso, teria procedido da América, numa corrente inversa ao fluxo de ocupação do continente historicamente admitido.
Gabriele Baraldi.
Referência
Para estimar a data das inscrições da Pedra de Ingá (1374/1332 a.C.) ele toma como referência "dados biográficos segundo os quais Mursilis I I, numa guerra de seis anos destruiu o poderio da Terra de Arzawa", termo por ele também entendido como "Araxá-uá" e traduzido como "Trono do Planalto".
Baraldi revela-se convicto de que pesquisas mais aprofundadas podem levar á localização desse trono nos arredores de Ingá, "pois, este é o único lugar do mundo a possuir o maior documento hitita gravado em pedra", afirmou.
Na Mesopotâmia, explica, só foram encontrados, com tal base lingüística, carimbos e selos. Para ele, a forma correta de leitura das inscrições da Pedra de Ingá é da direita para a esquerda e de cima para baixo - com o bloco "desvirado".
Uma linha vertical, que atravessa metade das inscrições e na qual, em 1977, o professor egípcio Fathi Seha (especialista em Ergonomia da Universidade de Quebec, Canadá) viu semelhança com um mapa do Rio Nilo, e, segundo Baraldi "uma lança simbólica de sacrifício de animais". Esta lança atravessa o dorso de um bezerro, um boi e um cavalo, com silhuetas ainda perfeitamente visíveis, bem como o perfil de um sacerdote, ou pajé, barbudo, com cabeça e chapéu - sustenta.
Detalhe da Pedra do Ingá mostrando diversos símbolos impressos em um tempo do passado e por povos ainda não identificados.
Baraldi ainda afirma que tal figura "termina num desenho de cabeça de felino, encimado, por sua vez, pelo perfil de cabeça de cavalo, coincidindo a parte traseira dos animais com o arco e a dimensão da cabeça e chapéu do sacerdote”.
Tradução
O dicionário Tupi/Português, de que se utilizou para interpretar e dar fonemas ás inscrições da Pedra do Ingá, foi o do sertanista Luiz Caldas Tibiriçá. Também fez uso de uma tábua de correspondência contendo inscrições hititas e seus significados, conforme catalogações do francês Emannuel Laroche e dos hititólogos italiano Meriggi e o alemão Guterbock. Nessa tábua, cada símbolo hitita é identificado por um número.
Baraldi diz que seguiu o método de tradução aconselhado por Laroche, cujo trabalho, ao lado da ação de outros cientistas "resultou numa obra prima de indiscutível valor cultural, com o alcance de 95% sobre valores fonéticos de uma língua, até então, totalmente desconhecida".
Para a identificação dos símbolos hititas, Laroche havia percorrido o caminho mais difícil entre as duas opções de que dispunha: 1) poderia recorrer a uma escrita bilíngüe (peças arqueológicas cuneiformes, ou egípcias, escritas em duas línguas); 2) poderia postular que uma das línguas é conhecida, transformando um problema duplo em um simples.
Este segundo método havia permitido a diversos pesquisadores a tradução do grego de Chipre (por G. Smith), do turco de Orkon (Thomsen), fenício de Byblos (Dhorme), e semítico de Ugarit (por Bauer, Dhorme e Virollaud). "Se o postulado é justo, a decifração revela-se rapidamente, mas sendo falso, tudo pára, a exemplo do que ocorreu com Jensen que procurava o armênio atrás dos hieróglifos hititas e viu todos os seus anos de esforços perdidos", conforme lembra Baraldi.
E, citando Laroche, ele resume: “Cinqüenta anos de tentativas e conjecturas conduzem à evidência de que os hieróglifos hititas são uma criação hitita e qualquer esforço que permita induzir as homofonias a seleção dos valores fonéticos é bem-vinda". Em seguida, Baraldi conclui que "o apelo do Dr. Laroche foi ouvido no Brasil, em fevereiro de 1989, com afinação Tupi".
Agora ele está convencido de que há, em Ingá, símbolos como o 163, da tábua hitita de Laroche, que tem a pronúncia tupi de Mu-Já e o significado, em Português, de “parentes”, “raça e nação”. Da mesma forma, o símbolo 199 é Jassy em Tupi e “mês” ou “lua”, em Português.
Juntando todos os símbolos de Ingá e o que tem como seus significados, Baraldi, que bacharelou-se na Argentina em Letras e Filosofia, mas não possui formação acadêmica em Arqueologia ou Antropologia, assegura que a pedra paraibana tem mensagens soltas com a seguinte decodificação: "Existe uma briga de fronteira, que é o rio piscoso. A briga é entre reinos parentes próximos. O rei invasor pede aos guerreiros que façam um círculo ao redor dele, portanto decidido a tudo. O outro rei procura a negociação, lembrando o parentesco e as tradições da (pátria) mãe de origem".
Professor Baraldi e a Pedra do Ingá.
Em outro ponto, a tradução, ainda segundo Baraldi, é a seguinte "Ao raiar do Sol, na primeira claridade, o guia toca a trombeta de guerra entre parentes próximos. Seja o que for, não há mais remédio, por isso o escriba levanta uma prece a Tupã, que levará consigo os mortos de costume, aqui e agora".
Mitos
Baraldi afirma não ter dúvidas de que o Tupi "é uma língua hitita". Garante, além disso, que a Pedra do Ingá derruba outro mito dos hititólogos da Mesopotâmia. Estes últimos sempre acreditaram que todos os registros em hieróglifos hititas diziam respeito unicamente a assuntos sagrados.
E ele cita mais três narrativas que, na Pedra, contrariariam tal hipótese. Eis a primeira: "O Senhor foi pescar no rio, havia muitas rãs, mas estava acontecendo alguma coisa estranha que lhe causou a atenção. Foi tranqüilizado por parentes que ostentavam símbolos nobres. Enquanto lhes dirigia a palavra uma nuvem branca descia pelo rio, O Senhor perguntou ao pajé (ou sacerdote) o que era essa estranha nuvem branca. Também intrigado, o pajé foi investigar e, finalmente, estava abraçado aos ramos de um igarapé em estado de composição".
Segunda narrativa "No interior da propriedade do Senhor, sob sua supervisão, enquanto o resto da população estava cuidando dos seus afazeres, um incidente de grandes proporções com fogo na usina de fazer bebida queimou tudo, casas vila, templo, com a rapidez de uma flecha, numa fogueira de enorme claridade".
Terceira narrativa "A população trabalhou muito para o pajé, para festejar o Senhor do Amuleto. Toda a bebida foi transformada em licor e colocada sobre um estrado, junto com a comida, destacando-se o peixe-coelho".
Contestações
A tradução de Gabriel D´Annunzio Baraldi vem tendo contestações imediatas. A arqueóloga carioca Maria Beltrão disse ao jornal, Estado de São Paulo, que é muito pouco provável que os hieróglifos de Ingá sejam de outra civilização. Ela atribui as gravações da pedra, onde já fez estudos, a povos primitivos locais. O antropólogo da Universidade de São Paulo, Antonio Porro, especialista em pré-história indígena, concorda com a arqueóloga.
Em João Pessoa, a teoria de que a Pedra de Ingá foi virada de ponta-cabeça por uma enxurrada surpreendeu o professor Jacques Ramondot, ex-diretor da Aliança Francesa e um pesquisador do assunto "Seria preciso algo mais forte do que um terremoto para virar a Pedra", ironizou.
Menos à vontade para falar do tema, outro pesquisador, Balduíno Lélis amigo pessoal de Baraldi, não aceita, sequer, a presença dos hititas no Continente, povo que não tinha tradição naval e nem, portanto, meios para grandes travessias.
De resto, a teoria de que a Pedra do Ingá esteja de cabeça para baixo inverte símbolos já identificados como figuras humanas, pássaros, répteis e plantas, todos em posições corretas.
Mas Baraldi não desanima. Ele próprio defende a necessidade "de um trabalho mais profissional e de maior envergadura, a cargo de estudiosos e eruditos na matéria". Em busca de tais pesquisadores, ele já bateu, até aqui sem resposta, à porta da Embaixada da Turquia, país que, ao seu ver, "dispõe dos melhores hititólogos do mundo".
Gabriele D´Annunzio Baraldi
por ele mesmo
- Texto extraído da revista “A Carta”, datada de 03 a 10 de Fevereiro 1990 - Ano IV nº 170.
- Colaborou: Anna Baraldi Holst (SC).
- Leia entrevista de Gabriele Baraldi, concedida a Pablo Vilarrubia Mauso.
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Matéria composta com exclusividade para Via Fanzine©.
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