Diretos e deveres
dos índios brasileiros:
O último dia do Índio de João Peret e seu
discurso
Indigenista falecido em março de 2011
abordou a atual situação dos
povos indígenas brasileiros na 'Semana do
Índio' de 2010 e VF registrou.
Por
Pepe Chaves*
De Belo Horizonte-MG
Para
Via Fanzine
João e sua neta Anninha Peret.
O Dia do Índio, comemorado no Brasil em 19 de abril,
sempre mereceu pouco destaque na mídia. Em praticamente todos os estados
do país, tribos indígenas ainda lutam pelos seus direitos e o acesso à
terra e muitas das vezes são mostradas quando promovem ações atrozes em
prol de seus interesses.
E a
cultura indígena brasileira se tornou mais pobre, ao perder em
17/03/2011, um de seus grandes defensores, o indigenista, jornalista
carioca e colaborador de Via
Fanzine, João Américo Peret.
Apaixonado pela
cultura indígena, Peret trabalhou por décadas na antiga Fundação
Nacional do Índio (Funai) e, ao
longo de sua vida, participou de várias missões indigenistas na região
Norte do Brasil.
Na data comemorativa ao Índio em 2010, ele, que era um dos últimos grandes indigenistas
brasileiros, participou de um bate-papo na Academia Pan Americana de Letras e Artes, no Rio de Janeiro. Estiveram presentes
acreanos, prefeitos, deputados, empresários, um descendente do marechal Rondon,
além de seus confrades e confreiras.
Falando exclusivamente com
Via Fanzine naquela ocasião, Peret disse que
aconteceu algo inesperado na produção do evento, “A palestrante, que veio da Universidade do
Acre, não chegou. Como era ‘Dia do Índio’, sobrou pra mim. Na ‘contação
de estórias’ falei sobre a obra de Rondon, que criou o Serviço de
Proteção ao Índio (SPI)”, contou.
Hoje o SPI foi substituído pela Funai. O indigenista,
ainda nos disse que, “Falei também da transformação do órgão já cheio de vícios cinquenta
anos depois. Na transformação deste em Funai, e na corrupção galopante
que se instalou no órgão”, declarou, queixando-se da política
destinada pelo governo federal ao índio brasileiro.
Naquele que seria o
seu último pronunciamento em público, João
Peret também abordou o preconceito orquestrado pelas
autoridades, poder econômico, missões religiosas e ONGs, “...que
preferem manter os índios na clandestinidade, como se fossem coitadinhos
saídos das cavernas. Isso, fazem para se locupletarem com suas terras,
exploração das florestas, dos minerais preciosos. Além disso, alguns
ex-presidentes da Funai, espertalhões, criaram ONGs para administrar os
minérios, ouro, diamantes que, de direito pertencem aos ‘pobres
índios ricos’”, desabafou.
O indigenista também comentou sobre o auxílio e a instrução
dos indígenas brasileiros, “Ao deixarmos a Funai criamos uns 'pró-Índios' para ensinar os
índios que tinham mais direitos do que deveres como brasileiros. E para
isso, deveriam se profissionalizar e lutar pelos seus direitos. Hoje,
uns 10% da população têm títulos universitários, pós-graduação em áreas
científicas e vivem a bordo de aviões supersônicos, buscando apoio no
exterior e discutindo seus direitos na ONU”, denunciou.
Em seu último discurso, quando o presidente Lula ainda era
o titular da Presidência, João Peret lembrou que o presidente da Funai
declarou que iria contratar pelo menos dois mil funcionários para
trabalhar nos Postos da Funai, no entanto, “Poucos dias depois o
presidente Lula baixou um decreto extinguindo todos os Postos, Ajuda e
algumas Delegarias da Funai. E os Postos Indígenas são a mola mestre da
instituição; é a presença do Governo Federal nas aldeias indígenas. Foi
o ‘golpe de misericórdia’ no moribundo. Espatifou a colmeia e as abelhas
ficaram sem rumo, sem defesa, entregues a sanha dos famigerados. E o
pior para o país, muitas aldeias ficam nas fronteiras... ”.
Este foi o desabafo de um indigenista aos 84 anos de vida,
sendo 20 deles dedicados ao SPI, partilhando voluntariamente auxílios
diversos aos nativos brasileiros. Finalizando, Peret acrescentou, “Passei grande
parte
de meu tampo aprendendo com eles a ser lógico e feliz. Agora, como
cantou Nara Leão na música de Chico Buarque, eu fico na janela "vendo a
banda passar...’".
* Pepe
Chaves é editor do jornal Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br).
- Foto: Arquivo VF.
- Tópicos associados:
Entrevista exclusiva com João Américo Peret
Morre o indigenista João Américo Peret
- Produção:
Pepe
Chaves.
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Mato Grosso:
Índios surdos trocam experiência*
Eles também conheceram a cidade de
Dourados.
Amarildo é surdo e se comunica na escola
por meio de quatro linguagens diferentes.
IMAGEM ILUSTRATIVA
A Escola Municipal Tengatuí Marangatu, na Aldeia Jaguapiru,
fez quinta-feira (01/07) um trabalho para inclusão social de dois alunos
portadores de deficiência auditiva. Em parceria com a Secretaria
Municipal de Educação, os alunos visitaram o centro comercial de
Dourados e conheceram os funcionários do comércio, também deficientes
auditivos.
"O objetivo é incluí-los socialmente e dar oportunidade
para que eles conheçam aqueles que têm as mesmas dificuldades e com isso
trocar experiências", explica o professor de recursos multifuncionais da
escola, Aurélio da Silva Alencar.
Os alunos passaram pelas principais avenidas do município
para conhecer semáforos, faixa de pedestre e demais sinalizações do
trânsito, além de atribuir sinais de comunicação às lojas e produtos.
"Assim como na nossa linguagem, todas as coisas têm um nome e
significado, na linguagem de sinais. É isto que viemos fazer, ensinar os
nomes dos estabelecimentos comerciais na Libras", comenta o professor.
A coordenadora do núcleo de área de libras da Secretaria
Municipal de Educação, Leila Alencar, considerou a atividade produtiva,
principalmente por ser um laboratório para os alunos. "Esta aula prática
é muito boa, pois eles não decoram o nome das coisas e sim aprendem. E o
contato com pessoas com a mesma deficiência inseridas no mercado de
trabalho é interessante porque os motiva ainda mais", garante.
Leila explica que inicialmente os alunos índios relutavam
em aprender uma nova forma de se comunicar. "Eles ficavam isolados, até
mesmo da família. Era normal resistirem a novas perspectivas. Agora têm
até a possibilidade de trabalharem. São novos horizontes", avalia.
A experiência foi motivadora para Rosy Kelly Correia
Freitas, 29, aluna da 7ª série do ensino fundamental. Por conta da
visita, ela se sentiu empolgada em trabalhar. "Agora eu quero
trabalhar", afirmou.
Aurélio disse que é uma surpresa para ele a posição de Rosy.
"Ela dizia que queria apenas cuidar dos afazeres domésticos e agora que
conheceu outras realidades mudou de ideia. Viu que também pode
trabalhar", surpreende-se o professor.
Rosy descreve como era sua comunicação com a família antes
de aprender a linguagem de sinais. "Não sabia nada, descrevia tudo com
gestos, murmurava com meus familiares. Era difícil eles me
compreenderem. Agora até os ouvintes sabem um pouco de sinais. Fica mais
fácil a comunicação", conta.
O aluno Cleiton Geovan de Souza, 15, estudante da 6ª série
do ensino fundamental, conta que durante um passeio rápido de carro
aprendeu que quando o semáforo de pedestre estiver vermelho ele deve
esperar para atravessar a rua. Quando estiver verde, mesmo assim deve
olhar com atenção antes de cruzar a rua. "Ainda aprendi o sinal da
catedral, de bancos e de lojas, foi muito bom. Esta experiência eu vou
guardar na memória. Conheci até o shopping".
No total, nove índios estudam com auxílio de intérpretes.
Na Rede Municipal de Ensino de Dourados são 22 intérpretes e 24 alunos
portadores de deficiência auditiva. Eles estudam no período regular com
ajuda destes auxiliares e no contraturno têm aula específica de Língua
Brasileira de Sinais (Libras).
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Informações da Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Dourados/MS.
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Foto:
http://deficienciavisualsp.blogspot.com
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Colaborou: Paulo César da Silva Gonçalves
(http://www.psisurdos.blogspot.com/).
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Cuiabá:
Raoni
é doutor honoris causa pela UFMT
Cacique Kaiapó recebe honraria e se diz
emocionado.
Por
Pepe Chaves*
de Contagem-MG
Para
Via Fanzine
Cacique Raoni
Txucarramãe
O cacique dos Kaiapó, Raoni Txucarramãe foi nomeado doutor
honoris causa pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). A
outorga foi feita no dia 11/01, pela reitora Maria Lúcia Cavalli Neder,
em Sessão Especial do Conselho Universitário, em comemoração aos 38 anos
da instituição.
O indigenista carioca João Américo Peret, que percorreu por
durante vários anos as selvas amazônicas, falou com exclusividade
conosco sobre Raoni Txucarramãe Rop ni Metuktire, nome que significa
“pequena onça” em Kaiapó.
“Eu tive o privilégio de conviver com Raoni desde sua
juventude. Quando eu o conheci ele deveria ter uns 16 ou 17 anos e era
um guerreiro valente, como uma onça. Tornou-se Cacique, Conselheiro,
Pajé da sua Tribo, e agora é Dr. Honoris Causa pela UFMT”, afirmou
Peret.
Peret lembrou que, em 1954, Raoni vivia em “estado
primitivo”, isolado na floresta. Armado com arco e flecha ou tacape,
fazia guerra contra os invasores brancos e índios inimigos.
“Raoni foi contatado pelos irmãos Villas Boas, assimilou
o processo civilizatório e superou os seus mestres, viajando em aviões
supersônicos. Conheceu vários países, e seus governantes: reis, rainhas,
presidentes e até o Papa”, disse Peret.
Apesar de viajar por diversas terras, Raoni voltou para sua
aldeia, de onde só sai para dar “pito” nos governantes brasileiros,
quanto sente infringidos os direitos dos índios e os cuidados
dispensados ao meio ambiente. Raoni se tornou um ícone de sabedoria e
exemplo para povos indígenas e de outras raças.
Doutor Honoris Causa
O cacique Kaiapó compareceu à cerimônia de sua diplomação
portando o cocar e o colar que o distinguem entre os indígenas, como o
“grande guerreiro, grande cacique”. Saiu levando o epitochi e o diploma,
entregues pela academia em reconhecimento e gratidão por sua atuação em
defesa de uma causa importante ou de um trabalho humanitário. No caso
dele, pela incansável luta em defesa da floresta e de seus povos, por
mais de 30 anos.
A reitora Maria Lúcia da UFMT lembrou que a concessão de
títulos de Doutor Honoris Causa já é uma tradição da instituição; uma
honraria indicada pela comunidade e aprovada pelo Consuni. Raoni foi
aprovado por unanimidade e agora faz parte do grupo que inclui o bispo
Dom Pedro Casaldáliga, o poeta Manoel de Barros, o escritor Ricardo
Guilherme Dick e o professor Michael Friedrich Otte.
Raoni Txucarramãe que é considerado uma das figuras mais
emblemática da história dos povos indígenas do Brasil. A indicação de
outorga do título foi feita pelo então reitor da UFMT Paulo Speller.
Para a relatora do processo, professora Kátia Morosov
Alonso, o título oferecido ao líder indígena, “Reporta à criação da
UFMT, em 1970, resgatando o sentido de Universidade da Selva, não só por
estar localizada no marco zero da Cuiabá-Santarém, mas por sua atuação
no ensino, pesquisa e extensão, levando em conta os saberes da cultura
dos povos da Amazônia”.
Um índio brasileiro
pelo mundo
Heitor Kaiowá afirma que, “O chefe Kaiapó, Raoni
representa, atualmente, a luta pelo meio ambiente, ecologia e pela
convivência na diversidade e o direito à vida. Em suas andanças pelo
mundo, sempre foi a figura destemida quando falava, firme e sem receios,
sobre a difícil tarefa da preservação, manutenção e ampliação dos
direitos dos povos indígenas”.
Kaiowá também lembra que Raoni, levou a causa dos índios
brasileiros a outras plagas do mundo. “De sua terra de origem, em
Mato Grosso, levou a mensagem dos povos indígenas e da floresta às
esferas nacional e internacional, chamando a atenção da sociedade e das
autoridades governamentais para questões ligadas ao ambiente, à
diversidade humana e zoobotânica, ao respeito entre as pessoas e entre
as diferentes nações”, afirmou.
Ao homenagear Raoni, a UFMT também
presta
uma simbólica homenagem a todas as lideranças das etnias
presentes no Estado de Mato Grosso: Apiaká, Arara, Aweti, Bakairi,
Bororo, Cinta Larga, Enawene-nwê, Guató, Hahaintsú, Ikpeng, Irantxe,
Juruna, Kalapalo, Kamayurá, Ktitaulú, Kayabi, Kayapó, Kreen-akarôre,
Kuikuro, Matipu, Mehináko, Metuktire, Munduruku, Mynky, Nafukuá,
Nambilwara, Naravute, Panará, Pareci, Parintin, Rikbaktsa, Suyá, Tpayuna,
Tapirapé, Terna, Trumai, Umutina, Waurá, Xavante, Yawalapiti, Zoró e
Chiquitano.
Após a cerimônia, Raoni declarou que, “Estou muito
honrado e muito emocionado com o título de nossa Universidade aqui de
Mato Grosso. Comecei minha grande luta e ainda hoje continuo a lutar em
defesa e em nome de todos nós, representantes do Brasil inteiro, pois
nós, grandes lideranças, queremos ver o resultado do trabalho de cada um
que é responsável pelas florestas, terras e rios”.
* Pepe
Chaves é editor do jornal Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br).
- Com informações de João Américo Peret, Heitor Kaiowá e do Instituto
Indígena Maiwu (MT).
- Foto:
Divulgação.
- Produção:
Pepe
Chaves.
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