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Crônicas

 

Caso verídico:

Um fantasma na Companhia Itaunense

Vigia noturno presenciou cena insólita e acordou seu superior

no meio da noite afirmando que havia um fantasma na empresa.

 

Por Pepe Chaves*

De Belo Horizonte-MG

Para Via Fanzine

08/02/2017

 

Hoje praticamente em desuso no mundo, o aparelho de Telex já prestou

importantes serviços no campo das comunicações internacionais.

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Esta crônica é baseada em fatos reais, inclusive os nomes das pessoas citadas, mas pode ter perdido alguns detalhes, apagados pelo tempo na minha memória. Em meados da década de 1980 eu trabalhei no escritório da Companhia Industrial Itaunense, empresa tradicional na tecelagem e aciaria em Itaúna, no Centro Oeste de Minas Gerais. A companhia viria à falência pouco mais de uma década depois de minha passagem por lá.

 

Naquela ocasião eu trabalhei no setor de Compras e além de operar máquinas de escrever, eletrônicas e convencionais, também operava um aparelho de Telex, bastante usado por mim na época para confirmar compras substanciais da empresa. Hoje em dia poucos sabem, mas o Telex já foi um importante meio de comunicação nas duas últimas décadas do século 20, quando não havia ainda a internet e os e-mails.

 

Em suma, o aparelho de Telex consistia-se numa espécie de máquina escrever eletrônica ligada a uma linha telefônica, na qual o usuário digitava as mensagens que eram enviadas de um escritório para um outro que a recebia em seu aparelho. Digitando o Telex, você poderia conversar em tempo real com uma pessoa de qualquer outra cidade do mundo. No seu terminal, através de uma bobina de papel da largura do A4 (que teria o seu comprimento de acordo com o tamanho de cada mensagem) saia uma via original onde sua digitação era impressa em preto e a do seu correspondente em vermelho. Este original vinha junto com um papel carbono e outra via amarela que era a cópia do original. Além disso, toda a comunicação era codificada em uma pequena fita através de furos, a qual poderia ser arquivada garantindo assim a autenticação das mensagens.

 

Até hoje usado em alguns poucos países, o sistema de Telex prestou grandes serviços, sobretudo, no campo das negociações comerciais, contatos internacionais, exportações e etc. Mas começou a entrar em queda quando surgiram os aparelhos de Fax no final da década de 1980 e depois a Internet na década de 1990 no Brasil. As comunicações e documentações por e-mail se tornaram mais baratas, rápidas e práticas.

 

Sem dúvida, o Telex foi o embrião para a tecnologia das mensagens que hoje trocamos em tempo real em aplicativos como o whatsapp, o messenger do Facebook e tantos outros do gênero.

 

Além da cópia em duas vias o aparelho de Telex também tinha uma perfuratriz que emitia uma fita em código.

Assim, a mesma mensagem poderia ser repassada inúmeras vezes a outros endereços sem precisar digitá-la

novamente. Esta fita era também uma garantia de autenticidade do recebimento da mensagem.

 

E creio que teria sido numa noite do já distante ano de 1986, quando o senhor Elpídio, serviços gerais, conhecido colaborador da empresa estava trabalhando como vigia noturno no enorme escritório central da Companhia Industrial Itaunense, situado na rua Godofredo Gonçalves, centro de Itaúna. Como vigia, ele pernoitava no escritório central, por onde costumava percorrer por todas as salas vazias do primeiro e segundo andar.

 

Naquela noite o silêncio era grande na vasta repartição ora deserta já que, durante o dia, abrigava muitas dezenas de barulhentos profissionais. Por volta de duas horas da manhã ele se encontrava no andar de cima quando ouviu um barulho na parte de baixo do escritório. Cuidadoso e desarmado, desceu devagar as escadas indo em direção ao discreto barulho. Ao chegar no hall de entrada do escritório notou que o tic-tac vinha da antessala da senhorita Vanessa D'Angelo, secretária do gerente administrativo, o saudoso Dr. Délcio Drumond.

 

Pelo tipo coordenado das batidas Elpídio teve certeza que havia alguém na antessala, provavelmente tentando arrombar a fechadura da porta do gerente administrativo. Temendo ser um homem armado, ele então foi se aproximando da antessala bem devagar e se preparou para o embate com um bandido quando adentrou rapidamente e acendeu a luz. Para sua surpresa e pavor, não havia ninguém ali. O que ele viu foi uma máquina de escrever funcionando sozinha, o que para ele, significava que havia um fantasma invisível ali sentado usando o aparelho.

 

Muito assustado e completamente arrepiado, ele voltou correndo para o andar de cima e imediatamente ligou para o gerente administrativo Délcio Drumond, acordando-o no meio da noite e informando que havia uma “alma de outro mundo” usando uma das máquinas de escrever do escritório. Também assustado e um tanto sem entender a notícia, Délcio deixou sua casa à pressas no meio da madrugada e correu até o escritório, onde encontrou um Elpídio acuado e muito assustado com o que dizia ter presenciado ali.

 

Délcio logo pediu a Elpídio para levá-lo até a tal máquina que escrevia sozinha. Chegando lá era o aparelho de Telex. Délcio então explicou a Elpídio que não havia fantasma algum, o aparelho de Telex funcionava automaticamente e estava recebendo uma mensagem quando ele o viu digitando sozinho. Na verdade, era uma pessoa que digitava do outro lado da linha e era normal que o aparelho receptor escrevesse sozinho quando recebia uma mensagem. Nesse caso, aquela era uma mensagem não de outro mundo, mas de outro país, cujo fuso-horário não coincidia com o nosso.

 

Só assim Elpídio pôde respirar então aliviado da adrenalina que o sufocou naquela noite ao saber que não havia vivenciado outra experiência paranormal. A primeira foi quando - ele me garantiu - um disco voador sobrevoou rasante sobre sua cabeça, nas imediações da Barragem do Benfica, em Itaúna. Na ocasião ele se encontrava sozinho pedalando sua bicicleta e teve que abandoná-la para se esconder rapidamente na mata, até a coisa sumir de vez. Mas essa é uma outra história.

 

* Dedico esta lembrança ao estimado Sr. Elpídio e todos os amigos e ex-colegas da Companhia Industrial Itaunense.

 

* Pepe Chaves é editor da ZINESFERA e do diário digital Via Fanzine.

 

- Fotos: Divulgação.

 

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