Futebol:
Morre o eterno craque português Eusébio
O ex-futebolista era conhecido
simplesmente como Eusébio
e é considerado um dos melhores de
sempre. Tinha 71 anos.*
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Eusébio serviu à
Seleção Nacional de Futebol que foi recebida com festa em Lisboa,
após eliminar o
Brasil e conquistar o terceiro lugar da Copa de 1966, na Inglaterra.
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O antigo jogador do Benfica, Eusébio da Silva Ferreira, de
71 anos, morreu na madrugada de hoje em Lisboa, pelas 4h30, vítima de
paragem cardiorrespiratória.
Eusébio já vinha dando sinais de saúde debilitada, tendo
estado internado em junho de 2012 no Hospital da Luz, devido ao acidente
vascular cerebral que sofreu na Polônia, quando estava em Poznan a
acompanhar a seleção nacional, durante o Campeonato da Europa de
futebol, e se sentiu mal.
Eusébio da Silva Ferreira nasceu a 25 de janeiro de 1942 em
Lourenço Marques (atual Maputo), em Moçambique. Era casado e pai de duas
filhas.
De o "Os
Brasileiros Futebol Clube" ao Benfica
O Benfica sagrou-se campeão europeu ainda sem Eusébio, mas
foi o "Pantera Negra" que consolidou o estatuto do clube em plena década
de 1960 e brilhou no terceiro lugar da seleção portuguesa no Mundial de
futebol de 1966.
O "Pantera Negra", alcunha que lhe foi atribuída pelo
jornalista inglês Desmond Hackett, em alusão ao seu estilo felino a
jogar, é uma figura incontornável do futebol e tem um estatuto que quase
faz dele uma marca registrada.
O futebol nos pés de Eusébio começou ainda menino, quando
aos 15 anos jogava no "Os Brasileiros Futebol Clube", em Moçambique.
Foi uma passagem curta na vida de Eusébio, que depois de
não passar nos testes para o Desportivo de Lourenço Marques, filial do
Benfica no seu país de origem, representou o Sporting de Lourenço
Marques, onde se começou a distinguir.
As notícias que chegavam à "metrópole" davam conta das
qualidades do jogador e o brasileiro Bauer "aconselhou" Eusébio a Bella
Guttman, alertando o treinador para as qualidades daquele miúdo.
A década de 1960 estava a despontar e Benfica e Sporting
envolveram-se numa disputa pelos serviços do "Pantera Negra": as
"águias" comprometeram-se com a mãe de Eusébio, D. Elisa, e o Sporting
com o clube.
O processo demorou a clarificar-se e Eusébio, que chegou a
Lisboa em dezembro de 1960 com o nome de código Ruth - tal a cobiça
entre os "rivais" -, apenas viria a estrear-se pelo Benfica em maio de
1961.
Estreia na seleção
em 1961
Foi o princípio de tudo: uma carreira ímpar, com sucessos,
prestígio, lesões, notoriedade e um nome que se transformou numa
verdadeira marca, fosse ao serviço do Benfica ou da seleção, com a qual
se estrearia em 8 de outubro de 1961.
No Benfica - acabado de se sagrar campeão europeu -,
Eusébio assumiu papel fundamental no último ano do treinador húngaro. As
"águias" tinham acabado de alcançar o seu primeiro título europeu e já
todos os consagrados (José Águas, Germano, Mário Coluna ou José Augusto)
comentavam sobre quem sairia da equipa que derrotara o FC Barcelona
(3-2) na final para Eusébio entrar. A rifa saiu a Santana.
O reinado do argentino Alfredo di Stefano (Real Madrid), um
dos ídolos do próprio Eusébio, estava perto do fim e uma nova estrela
surgia nos relvados, rivalizando com jogadores como Pelé, Puskas, Bobby
Charlton ou Beckenbauer, e mais tarde, Johan Cruyff.
Explosão ou velocidade eram características normais em
Eusébio, mas sob a sua chancela fica a excelência do remate: de qualquer
ângulo, forte, colocado, em sucessivas imagens de corpo dobrado prestes
a afligir os guarda-redes contrários.
Na final da Taça dos Campeões Europeus de 1962, o Real
Madrid até esteve a vencer por 2-0, mas na noite dos pontapés de longe -
mais de metade dos golos resultaram de remates de fora de área - Eusébio
brilhou, pese embora o "hat-trick" de Puskas.
A fama estava a caminho e o "Pantera Negra" fez não só
parte de um Benfica qual águia imperial na década de 1960 - cinco finais
dos Campeões Europeus, duas ganhas e três perdidas -, mas de uma seleção
"gigante" no Mundial de 1966, em Inglaterra.
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Jogo entre o Santos e o Benfica: Matine, Pelé, Jorge Calado
e
Eusébio posam para a posteridade.
Leva Portugal ao
terceiro lugar no Campeonato do Mundo
Na estreia de Portugal em campeonatos do Mundo, Eusébio foi
um dos grandes responsáveis pelo terceiro lugar, ganhando o troféu
destinado ao melhor marcador (nove golos) e sendo considerado por muitos
o melhor futebolista da competição.
Na memória de todos ficaram os quartos de final com a
Coreia do Norte, com Portugal a perder por 3-0 aos 25 minutos, naquele
que Eusébio define como "o melhor jogo com a camisola da seleção e um
dos melhores" da sua vida.
"Sempre acreditei e disse ao Simões que íamos ganhar. Falei
com o Coluna para aguentar a defesa e não sofrermos mais golos".
A partir dos 27 minutos, Eusébio arrancou para uma das
melhores exibições individuais da história do futebol: virou o resultado
com quatro golos (4-3) e José Augusto ainda fez o quinto para Portugal.
Do primeiro Mundial de Portugal também permanece a imagem
de Eusébio a chorar, depois de perder a meia-final frente à seleção da
casa, a Inglaterra (2-1), numa carreira pela equipa das "quinas" em que
disputou 64 jogos e marcou 41 golos.
Onze vezes campeão
nacional
Com o Benfica, o "King", nome que também passou a ser dado
a Eusébio após a Puma ter criado umas botas de homenagem ao jogador, foi
11 vezes campeão nacional, ganhou cinco Taças de Portugal e foi campeão
europeu (1961/62).
Até há pouco tempo, e antes do surgimento de jogadores como
Luís Figo ou Cristiano Ronaldo (outros nomes grandes de tempos mais
recentes), o currículo de Eusébio não tinha rival à altura entre os
jogadores portugueses.
O "Pantera Negra" foi sete vezes o melhor marcador do
campeonato português (1963/4, 1964/5, 1965/6, 1966/7, 1967/8, 1969/70 e
1972/73), duas vezes o melhor marcador europeu (1967/8 e 1972/73) e uma
vez eleito melhor futebolista Europeu.
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Eusébio e o ditador português Salazar.
Salazar impede
transferência
Na fase final da carreira passou por outros clubes (Rhode
Island, Boston, Monterrey, Beira-Mar, Toronto Metros, Las Vegas, New
Jersey Americans e União Tomar), mas a possibilidade de emigrar em pleno
auge foi "vetada" no final da década de 1960.
O Inter de Milão cobiçava-o e rezam as crónicas que
oferecia três milhões de dólares (então cerca de 450.000 euros), mas o
negócio nunca se chegaria a realizar: uns dizem que a Itália fechara as
fronteiras a jogadores estrangeiros, outros que Salazar impediu a
transferência.
Além dos golos e jogadas de gênio, a carreira de Eusébio
foi também marcada pelos sacrifícios impostos pelas várias lesões
sofridas, que o levaram sete vezes à sala de operações para intervenções
cirúrgicas aos joelhos, seis das quais ao esquerdo.
Eusébio é um nome de referência no Benfica e era o
"embaixador" da seleção portuguesa, mas a sua importância e imediatismo
extravasou o mundo desportivo, tornando-o num autêntico símbolo.
Recebeu várias distinções nacionais e estrangeiras ao longo
da vida, entre elas os colares de Mérito Desportivo (1981) e de Honra ao
Mérito Desportivo (1990), além da "Águia de Ouro", o mais alto galardão
do Benfica, em 1982.
Do desporto às artes, viu a sua imagem inspirar cronistas,
realizadores, bandas de música, escultores ou outros criativos.
Uma banda desenhada - "Eusébio, o Pantera Negra" (de
Eugênio Silva) -, uma mini-série, da autoria de Manuel Arouca, uma
estátua no Estádio da Luz e uma réplica em Boston, o nome de um avião da
TAP e o nome de uma lontra no oceanário são exemplos.
Eusébio também se "transformou" em boneco no já extinto
programa humorístico televisivo "Contrainformação", onde tinha o nome de
Deusébio.
O antigo jogador tem também o nome em ruas de várias
localidades, na galeria da fama em Manchester, em Inglaterra, ou as
pegadas no cimento da calçada da fama do Estádio do Maracanã, no Rio de
Janeiro, em iniciativas que prolongam no tempo um futebolista de
exceção.
Eusébio: números
de uma carreira impressionante
Os futebolistas não se medem aos palmos, mas aos números. E
os de Eusébio são extraordinários. Sobretudo se pensarmos no massacre a
que foi sujeito (seis operações ao joelho esquerdo, uma ao direito)
durante a carreira.
A história de Eusébio confunde-se com a do Benfica dos anos
60 e 70: 11 títulos de campeão nacional, 1 Taça dos Campeões Europeus,
quatro Taças de Portugal; e 596 golos em 557 jogos (entre 1961 e 1975).
Pelos encarnados, o "Pantera Negra" foi sete vezes o melhor marcador do
campeonato, duas vezes o maior goleador da Europa, vencendo, ainda, a
emblemática Bola de Ouro (1965).
Por Portugal, o avançado marcou 41 golos em 64 jogos, nove
deles no Mundial de 1966 de Inglaterra, que a seleção nacional terminou
em 3.º lugar. Pelé, nesse torneio, fez apenas um golo.
No total, Eusébio fez 733 golos em 745 jogos pelos clubes
que passou (além de SLB, jogou no Sporting Lourenço Marques, Oceaneers,
Boston Minutemen, Monterrey, Beira-Mar, Toronto Metros, Las Vegas
Quicksilvers, New Jersey Americans, União de Tomar) e seleção nacional.
*
Informações de Rita Moura/Lusa e Pedro Candeias/Expresso (Portugal).
05/01/2014
-
Imagens: Arquivo Expresso (Portugal).
Extra:
Entrevista de Eusébio ao jornal Expresso (Portugal). |