Colômbia:
Líder indígena é covardemente assassinado
A guerra que você vê na tevê não é a que
sofremos na carne.
Por Tejido de Comunicación
– ACIN
De Bogotá/Colômbia
Para
Via
Fanzine
14/08/2012
Tradução: Pepe
Chaves
O líder espiritual
indígena Lisandro Tenório (assinalado) foi covardemente assassinato em
sua casa.
A comunidade
indígena Nasa cobra investigação e punição por parte das autoridades
colombianas.
Os covardes são os
jogos de guerra
Por esses dias, quando as comunidades e as pessoas cansadas
do abuso e mentiras novamente levantam-se contra a injustiça e a
crueldade para simplesmente exigir respeito, o medo de se manifestar nas
ações dos inimigos da vida não mostra misericórdia para com os pobres,
com o sábio, o digno.
Lisandro Tenório era um nativo da aldeia Potrerito -
Toribio, terra sagrada de Cerro Maior, na Colômbia. Sábio, conselheiro e
guia do povo Nasa, foi assassinado no último domingo à noite por dois
homens armados, que chegaram na sua casa, na aldeia de El Pílamo, em
Lopez Adentro, Caloto, Cauca.
O líder Lisandro havia chegado do rio, estava realizando um
ritual de limpeza espiritual para um aldeão, estava se comunicando com
espíritos que, certamente, teriam anunciado a sua retirada desse mundo.
Ele chegou à sua casa às 3h, almoçou e se preparava para
sair para visitar o Santander de Quilichao, local em que se comprometeu
a harmonizar um doente, deixando ali, as plantas prontas e frescas
(mistura de ervas) para a terapia.
"Vi que dois homens vieram do lado da cozinha, chegando
pelo pátio lateral, onde meu pai estava. Disseram que o mataria porque
estavam ali a trabalho e imediatamente atiraram na cabeça dele. Eu vi,
quando meu pai caiu com as mãos estendidas no chão e as duas pessoas
saíram correndo", disse, entre lágrimas, Maria Delia, filha da vítima.
Para o povo Nasa, os Wala (curandeiros) são os guias, que
abrem caminhos, protegem, aconselham e orientam. Eles são responsáveis
por manter o equilíbrio e a harmonia com o espírito da Mãe Natureza e
nós somos seus filhos. Os Wala são aqueles que interpretam os sinais
(manifestações físicas da natureza) e as mensagens transmitidas pelos
espíritos.
O assassinato de um sábio Wala é um desafio covarde à
dignidade e à vida. É um ato insano contra um indefeso cidadão, impondo
a força das armas sobre a sabedoria e a consciência. É um claro ato de
incapacidade e covardia.
Assim como o líder Lisandro, seu filho Gerardo, que é
também um Wala, está sendo ameaçado já por vários meses. "Pelos
guerrilheiros e o exército. Nós fomos ameaçados pelos dois, nos disseram
que iam matar os bruxos que não estavam colaborando. Os militantes
costumam vir aqui nos pedindo rituais para protegê-los do perigo. Eu
sempre os digo que, o perigo que eles temem é própria má decisão que
eles tomam. Esse não é o caminho, somente quando reconsiderarem e
decidirem a aceitar a orientação do conselho da comunidade, eu estarei
esperando aqui para ajudá-los. Eu sei que não gostam disso, e têm saído
muito chateados com minha posição”, afirmou o líder Gerardo.
“Faz dois anos que meu pai e eu fomos proibidos pela
guerrilha de entrar no Toribio. Nós sempre temos velado pela guarda dos
indígenas a partir do campo espiritual, por isso nos ameaçaram. No
entanto, continuamos orientando as comunidades, autoridades, guardas e
os líderes, porque essa é a missão que nos foi confiada pela Mãe
Natureza. Então, eles mataram o meu pai e, provavelmente, irão me matar
também. Mas, como o meu pai dizia, o dia em que a Mãe Natureza nos
chamar para um encontro, os espíritos serão a única defesa que terão os
Wala, além da folha sagrada de coca e as plantas em Yaja”, declarou o
novo líder.
Lisandro Tenorio iniciou seu trabalho na década de 1970,
quando começou a moldar o CRIC e os conselhos indígenas, que no
princípio também foi muito difícil. Atualmente, os índios são usados
pelos partidos políticos tradicionais e orientados para votar somente
em candidatos liberais ou conservadores.
O líder Lisandro foi um dos primeiros governadores do
conselho de Toribio, começou como delegado, com o apoio e a orientação
de Cristóbal Secue, seu irmão, também líder neste território. Era
conhecido por sua responsabilidade e compromissos, por esta razão, ele
foi reconhecido como o principal guardião cívico em um congresso
realizado em Toribio no ano 1981. Depois de passar pelo município,
manteve-se na comunidade de Potrerito, onde atuou como conselheiro para
as autoridades e como Wala, guia espiritual do povo Nasa.
"Sena Wèt We`t Finzewà, é a nossa missão enquanto
Wala, isso significa defender o território, proteger a vida, manter a
harmonia, para servir os necessitados e, especialmente, orientar as
crianças. Essa era a missão que meu pai cumpria junto aos necessitados
e, certamente, defendeu também a vida daqueles que o levaram embora.
Fiquei muito triste por meu pai ter partido dessa maneira. Mas sabíamos
que um dos dois estava para ir, porque há quatro meses as ameaças já
eram muito fortes e nos sentimos sem saída. Eu fui acompanhar a
comunidade num encontro em Maria Piendamo, enquanto meu pai ficou
encarregado de cuidar da terra”, disse Gerardo.
Ele prosseguiu, afirmando: “Ao retornar de Maria Piendamó,
o reflexo de um raio do lado esquerdo indicou que meu pai já havia
deixado o nosso mundo. Quando cheguei a nossa casa, vi o seu sangue se
misturando com a Mãe Terra. Harmonizei o seu corpo e espírito com um
ritual especial de limpeza para apaziguar os espíritos que ficaram
inconsoláveis e abrir caminho para o retorno do meu pai ao seio da Mãe
Terra. Nós somos partes da Mãe Terra e o corpo é a nossa oferta, por
isso, temos que ir limpos”, disse.
Nosso território se desarmoniza, quando assassinam o nosso
povo ou quando explodem a Mãe Terra. Mas a força e a consciência do povo
Nasa permitem a continuidade da defesa por toda a vida. Aqueles que
cometeram o assassinato do líder Lisandro Major, não causaram dano
somente à sua família, mas também a todo o povo Nasa. Exigimos
investigação e a punição aos assassinos do nosso guia espiritual. Junto
com a morte, vem a destruição da Mãe Terra, causando a desapropriação
dos povos indígenas, camponeses e afros, o que sempre beneficia as
grandes corporações.
Os grupos estão armados, mas desarmados de razões, pois
suas ações não têm méritos ou justificativas. Seus instrumentos são as
ameaças, acusações e mortes. O medo que sentem da verdade e da
consciência, expressas em seus atos de crueldade, mata o sábio, estupra
mulheres, violenta as crianças. Que covardes são esses atores da guerra.
Para os povos indígenas - e entre estes, os Nasa -, a morte
é simplesmente uma mudança para a área espiritual da vida, onde
continuaremos a trabalhar, incansavelmente, pela nossa comunidade.
Por isso, esperamos que o líder Lisandro se reencontre com
a Mãe Terra, no local plano da comunidade de Lopez Dentro, perto dos
campos de cana, para manter-se vigilante e atento às ações promovidas
por empresários e grupos armados contra a vida comunitária. Assim como o
líder Lisandro, as comunidades estarão vigilantes e atentas, sem se
cansar ou se render. E sempre exigindo o devido respeito às pessoas
dignas.
- Foto: Divulgação.
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