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Política
Os 60 anos do golpe militar: Ditadura Militar nunca mais! Durou vinte e um anos, de 1964 a 1985. Um dos seus componentes foi a repressão às pessoas que agiam, ou simplesmente pensavam diferente do imposto pelo Regime. Esses subversivos – termo amplamente usado naquela época – não raro eram presos, torturados, alguns até banidos do País. Vigorava a lei da mordaça.
Por Sérgio Souza* 30/03/2024
A reação manifestou-se na música, na literatura, no teatro e no jornalismo. O Juca Chaves adorava satirizar os presidentes. Em alguns dos seus shows, ele mandava um recado à sua esposa: “Se eu não chegar aí em casa até a meia-noite, é porque eu fui preso.” Leia também: Outros destaques em Via Fanzine
Preliminares
Essa história de tentar dar um golpe militar, sob o pretexto de “evitar que o comunismo venha para o nosso país” foi amplamente utilizada por Bolsonaro e seus asseclas, e continua ainda reverberando nos meios de extrema direita. Dizem até que o comunismo já tomou conta do Brasil. Quanta falta de noção!
No entanto, vale salientar que essa desculpa é velha. Getúlio Vargas já havia lançado mão dela. E o mesmo aconteceu, por ocasião do golpe militar de 1964.
Muita gente teme o comunismo, embora não saiba muito bem o que é. Acham que comunista é capeta e acabou.
E quem era o maior beneficiário dessa luta contra os vermelhos? Lógico, os Estados Unidos. Por quê? Esse país, como sabemos, estava em Guerra Fria com a Rússia (União Soviética), onde nasceu o comunismo. Então, falar mal desse regime ou falar mal da Rússia, tudo era interessante ao país do Tio Sam. O próprio governo norte-americano não economizava em propagandas contrárias à Rússia, fosse em livros, jornais, revistas, fosse em produções cinematográficas. (A internet, como mídia, ainda não existia.) Pretendiam formar uma opinião pública mundial contra a URSS. E conseguiram bastante.
Brasil, anos 60, cenário político
Jânio Quadros, o presidente legitimamente eleito, renunciou-se. Assumiu o seu lugar (isso, em 1961), o vice, João Goulart, o Jango. Este não era propriamente um comunista, mas tinha, como uma de suas bandeiras, promover a Reforma Agrária. E, como sempre, políticas que atendem aos menos favorecidos não agradam aos abastados. Colocaram então na cabeça do povo que o Jango era comunista e, portanto, deveria ser deposto, para o bem do Brasil. Sem entrar em detalhes, foi isso que aconteceu, dando início ao período conhecido como Ditadura Militar.
A Ditadura Militar
Durou vinte e um anos, de 1964 a 1985. Um dos seus componentes foi a repressão às pessoas que agiam, ou simplesmente pensavam diferente do imposto pelo Regime. Esses subversivos – termo amplamente usado naquela época – não raro eram presos, torturados, alguns até banidos do País. Vigorava a lei da mordaça.
Ainda durante esse Regime, eu fazia faculdade. Um dia, apareceu lá um moço, até miúdo, porém de voz alta, forte, retumbante... Falou que era de outra cidade e que estava se transferindo para lá. Permaneceu ali por um mês e desapareceu. Depois, ficamos sabendo: era tenente do Exército, e ficou ali durante aquele tempo, a mando dos seus superiores, para ver se não estávamos tramando alguma coisa contra o governo ou, pelo menos, falando mal dele. Curioso: se existia tanta preocupação em saber se havia alguém falando mal deles, é porque eles se achavam dignos dessas maledicências, ou davam motivos a elas.
Eu tinha uma vizinha e colega, moça culta, inteligente, lia tudo quanto era livro. Ela, classe média, danou a fazer reuniões de caráter “subversivo” com uns riquinhos. Apesar de a Ditadura ter punido também celebridades, os riquinhos, naquele caso, não foram incomodados, porém a moça sim. Foi presa pelo DOPS, torturada. Ficou três meses na mão desses algozes. Nada oficial, no entanto, comentou-se que os torturadores fizeram tudo quando foi covardia com a menina, inclusive, introduzindo cabo de vassoura em seu órgão genital. Detalhe: o irmão dela era tenente do Exército. Não fez absolutamente nada. Seu silêncio o mantinha em seu cargo, e ele continuaria fiel ao regime opressor.
O que era o DOPS? Era O Departamento de Ordem Política e Social, criado em 30 de dezembro de 1924. Foi um órgão do governo brasileiro utilizado principalmente durante o Estado Novo (governo Vargas) e mais tarde na Ditadura Militar. Qualquer bobeada que o cidadão desse, corria o sério risco de ser pego pelo DOPS. E as consequências, você já sabe.
Cena de “Opinião”
A reação dos intelectuais
A reação manifestou-se na música, na literatura, no teatro e no jornalismo. O Juca Chaves adorava satirizar os presidentes. Em alguns dos seus shows, ele mandava um recado à sua esposa: “Se eu não chegar aí em casa até a meia-noite, é porque eu fui preso.” (E às vezes era mesmo.) Vamos lembrar uma pergunta que ele fazia ao seu público: “Como se avalia o tamanho de um burro? Resposta: mede-se da cabeça aos pés.” Usou o duplo sentido: “mede-se”, lembrando Médici, o presidente que estava no poder naquele mais duro momento: nos “Anos de Chumbo”.
Eu estava assistindo pela TV ao Festival da Canção, de 1968. Quando o Vandré entrou cantando Pra não dizer que não falei de flores (“... Há soldados armados, amados ou não/Quase todos perdidos de armas na mão...”), eu falei: esse homem é corajoso demais. Estava nascendo um hino de resistência. O mesmo aconteceu com Apesar de você, de Chico Buarque, também um hino. Aliás, o Chico abarrotou a praça com canções “subversivas”. A maior graça era quando o Chico, ou algum outro compositor, cutucavam o governo de uma forma indireta. Nós, jovens, entendíamos tudo. Hoje, a maior parte do que o jovem escuta não exige raciocínio. As letras, em sua maior parte, são feitas de modo grotesco, em linguagem direta. Viraram apenas um produto comercial.
Existia o Departamento de Censura. Músicas, livros, peças teatrais, programas de televisão tinham de passar pelo seu crivo. Podiam liberar ou censurar, parcial ou totalmente uma obra.
O Caetano e o Gil foram exilados. Daria muito o que falar. Contudo, não podemos omitir a figura do Zé Kéti. Ele compôs a música Opinião (“Podem me prender/podem me bater/Que eu não mudo de opinião...”) Esta música inspirou o Show Opinião. Foi dirigido por Augusto Boal, produzido pelo Teatro de Arena e por integrantes do Centro Popular de Cultura da UNE - instituição que veio a ser colocada na ilegalidade pelo regime militar. Esse espetáculo, assim como o Teatro de Arena, também se tornaram símbolos da resistência à Ditadura Militar.
Várias peças teatrais de caráter revolucionário foram apresentadas, por exemplo, Liberdade, liberdade, de Millôr Fernandes e Flávio Rangel, Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come, de Vianinha e Gullar. Mas vamos falar de Roda Viva (peça teatral e música de Chico Buarque). Vejamos o que diz Paula Gonçalves, em seu artigo O Teatro como forma de resistência à ditadura (https://www.esquerdadiario.com.br/O-Teatro-como-forma-de-resistencia-a-ditadura):“Em 1968, a peça “Roda viva”, de Chico Buarque, foi brutalmente censurada. O Comando de Caça aos Comunistas invadiu o teatro onde a peça era encenada, em São Paulo. Espancaram atores, destruíram o cenário e obrigaram os atores Marília Pêra e Rodrigo Santiago a passarem por uma espécie de corredor polonês na rua, nus.”ConclusãoPessoalmente, posiciono-me contra qualquer tipo de ditadura. Portanto, espero que os nossos irmãos brasileiros procurem se informar cada vez mais, a fim de não apoiarem políticos ou regimes ditatoriais, que acabarão tolhendo a nossa liberdade. Viva o Brasil! Viva a democracia!
* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.
- Imagens: Divulgação.
Leia também: Outros destaques em Via Fanzine
- Produção: Pepe Chaves |
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