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Sistema Solar

Encélado:

Elementos precisos para a vida biológica

Descoberta reforça a noção de que a lua de Saturno Encélado é um dos ambientes mais promissores para buscar vida extraterrestre no nosso Sistema Solar. Foram identificados compostos como aromáticos, aldeídos, ésteres, éteres e alquenos, além de indícios de compostos com nitrogênio-oxigênio.

Por José Ildefonso*

De Taubaté-SP

Para Via Fanzine

05/10/2025

Um retrato da superfície de Encélado tomado pela sonda Cassini da Agência Espacial Europeia (ESA).

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Um estudo publicado na revista Nature Astronomy relata que uma reanálise dos dados coletados pela sonda Cassini (entre 2005 e 2015) em plumas de gelo lançadas pela lua de Saturno Encélado revela evidências ainda mais fortes de química orgânica complexa nessa lua gelada.

Pontos principais

Os pesquisadores focaram em grãos de gelo recém-expelidos nos gêiseres de Encélado, em vez dos grãos mais envelhecidos encontrados no anel “E” de Saturno, o que permitiu detectar moléculas orgânicas que antes ficavam “mascaradas” pelo ruído ou por água agrupada.

Foram identificados compostos como aromáticos, aldeídos, ésteres, éteres e alquenos, além de indícios de compostos com nitrogênio-oxigênio.

Essas moléculas orgânicas confirmam que muitos dos constituintes químicos observados no anel “E” originam-se do interior de Encélado, não são meramente produtos de “envelhecimento espacial” das partículas de gelo.

Já haviam sido detectados hidrogênio, sais e fosfatos em Encélado, de modo que agora foram identificados cinco dos seis elementos essenciais para a vida (Carbono, Hidrogênio, Nitrogênio, Oxigênio, Fósforo, Enxofre) e o elemento que ainda “falta” é o enxofre.

As moléculas encontradas são produzidas por vias abiônticas (não biológicas), mas muitas delas servem como precursores químicos úteis para sistemas biológicos. Além disso, a assinatura desses compostos é compatível com a presença de sistemas hidrotermais (como no fundo de oceanos terrestres) atuando no interior de Encélado.

Se Encélado tiver regiões hidrotermais ativas, isso reforça seu potencial como local propício à vida, já que ambientes semelhantes na Terra (ventos hidrotermais submarinos) abrigam ecossistemas que não dependem de luz solar.

Os autores dizem que mesmo o fato de não encontrarmos vida em um local com condições favoráveis seria uma descoberta importante, pois levantaria questões sobre por que a vida “não emergiu” ali, apesar de haver os ingredientes certos.

Imagem feita pela sonda Cassini mostra gêiseres ativos na superfície de Encélado.

Análise e impressões

Essa descoberta reforça a noção de que Encélado é um dos ambientes mais promissores para buscar vida extraterrestre no nosso Sistema Solar.

A técnica de focar em grãos “frescos” (menos alterados pelo ambiente espacial) parece ser uma abordagem muito valiosa para revelar moléculas que estavam “escondidas” nos dados anteriores.

A presença de moléculas orgânicas complexas não prova que exista vida, mas demonstra que muitos dos blocos químicos necessários podem estar presentes.

A falta ainda da detecção do enxofre é curiosa, pois o enxofre é importante em muitas vias metabólicas terrestres. Talvez, futuras missões possam descobrir vestígios dele.

Se missões futuras chegarem a perfurar o gelo de Encélado, estudar diretamente seu oceano ou amostrar plumas com instrumentos mais sensíveis, poderíamos confirmar, ou descartar, a hipótese de vida.

Mesmo não encontrando vida lá, aprender por que ela não surgiu (se os ingredientes estão presentes) pode nos ensinar mais sobre os limites da vida e os fatores que a tornam possível.

- Clique aqui para ler o artigo científico.

* José Ildefonso é articulista, cronista e colaborador de Via Fanzine.

- Imagens: ESA/divulgação..