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 Radiotelescópio

 

Teleios:

Objeto estranho é descoberto no espaço

Chamado de Teleios, se trata de um enigmático remanescente de uma Supernova, perfeitamente esférico. A compreensão de Teleios apresenta desafios significativos.

 

Por José Ildefonso*

De Taubaté-SP

Para Via Fanzine

19/05/2025

 

A origem mais provável para Teleios aponta para um remanescente de supernova (SNR), a vasta nuvem de material ejetado após a explosão cataclísmica de uma estrela.

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Recentemente descoberto através de potentes radiotelescópios, o objeto espacial catalogado como G305.4–2.2, carinhosamente apelidado de Teleios – termo grego para "perfeito" – intriga a comunidade astronômica. Sua notabilidade reside em dois aspectos principais: a forma esfericamente impecável, uma raridade entre os remanescentes de supernova galácticos, e a sua tênue luminosidade restrita ao espectro de ondas de rádio.

 

A origem mais provável para Teleios aponta para um remanescente de supernova (SNR), a vasta nuvem de material ejetado após a explosão cataclísmica de uma estrela. As evidências convergem para a hipótese de uma supernova do Tipo Ia, um evento estelar de grande brilho que ocorre quando uma anã branca, componente de um sistema binário, acumula massa de sua companheira até ultrapassar um limite crítico, culminando em uma explosão termonuclear.

 

Contudo, a quase perfeita esfericidade de Teleios desafia os modelos convencionais. A maioria dos remanescentes de supernova exibe irregularidades em sua forma, influenciadas pelas heterogeneidades do meio interestelar circundante e, em estágios iniciais, pelas assimetrias inerentes à própria explosão.

 

A simetria notável de Teleios sugere duas possibilidades intrigantes: ou o objeto se expande em uma região espacial excepcionalmente homogênea e rarefeita, minimizando as perturbações externas, ou estamos observando-o de uma perspectiva frontal que atenua os efeitos de campos magnéticos ambientais que tipicamente induzem assimetrias bilaterais.

 

Outro enigma intrigante reside na ausência de emissão de raios X detectável em Teleios. Os modelos teóricos para a evolução de supernovas do Tipo Ia preveem a emissão de radiação X em seus remanescentes. A detecção exclusiva em ondas de rádio levanta questionamentos sobre a natureza da explosão original.

 

Uma hipótese aventada é que Teleios possa ser o resquício de uma supernova do Tipo Iax, uma variante de menor energia que pode não destruir completamente a anã branca, deixando para trás uma "estrela zumbi". No entanto, essa interpretação exigiria que Teleios estivesse significativamente mais próximo do que as estimativas de distância atuais sugerem.

 

As estimativas de distância para Teleios, baseadas em estudos de hidrogênio neutro (HI) e na relação entre brilho superficial e diâmetro (Σ–D), apresentam duas possibilidades distintas: aproximadamente 2,2 quiloparsecs (kpc) ou cerca de 7,7 kpc. Essas distâncias implicam em tamanhos físicos de cerca de 14 parsecs (pc) e 48 pc, respectivamente. Curiosamente, ambas as dimensões são consistentes com o tamanho de cavidades varridas pelo vento estelar da estrela progenitora antes de sua explosão.

 

A idade estimada de Teleios também varia consideravelmente dependendo da distância adotada. Para a distância menor (2,2 kpc), Teleios poderia ter menos de 1.000 anos, indicando um estágio evolutivo inicial, conhecido como fase de Sedov jovem. Já para a distância maior (7,7 kpc), a idade poderia ultrapassar os 10.000 anos, inserindo Teleios em uma fase mais tardia de expansão, denominada fase de Sedov tardia ou de concha impulsionada pela pressão.

 

A intrigante falta de emissão de raios X reacendeu o debate sobre a possibilidade de Teleios abrigar uma anã branca remanescente, um cenário típico de supernovas do Tipo Iax. Embora um candidato a anã branca tenha sido identificado próximo ao centro de Teleios em dados do satélite GAIA DR3, a distância inferida a partir de sua paralaxe não se alinha com as outras estimativas de distância para o remanescente, tornando a associação direta incerta.

 

Em suma, a compreensão de Teleios apresenta desafios significativos, principalmente na tentativa de conciliar sua forma esférica quase perfeita, o baixo brilho superficial e a ausência de emissão de raios X com os modelos teóricos de remanescentes de supernova.

 

Embora o cenário de uma supernova do Tipo Ia permaneça o mais provável, as peculiaridades observadas em Teleios demandam explicações mais aprofundadas. Para desvendar os mistérios deste objeto celeste enigmático, futuras observações multi-frequência com alta resolução são cruciais.

 

A obtenção de dados mais precisos sobre a velocidade de expansão de Teleios será fundamental para refinar as estimativas de distância e idade, lançando luz sobre a história evolutiva desta "perfeita" relíquia cósmica.

 

* José Ildefonso é articulista, cronista e colaborador de Via Fanzine.

 

- Imagem: Criação do autor, utilizando IA.

 

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