Novas
Quando o céu grita luz: O milagre duplo das novas do sul Estas novas foram tão intensas que não precisavam de telescópios para serem vistas. Bastava o céu limpo, olhos atentos e o desejo de testemunhar o improvável.
Por José Ildefonso* De Taubaté-SP Para Via Fanzine 04/07/2025
Por alguém que prefere pensar com o cérebro, não com o reflexo condicionado. Leia também: Últimos destaques de Via Fanzine
Há momentos em que o céu fala, desta vez, ele gritou em luz.
Na vastidão escura do firmamento austral, em junho de 2025, o universo nos presenteou com um espetáculo que beira o impossível: duas novas brilhantes explodiram quase simultaneamente, visíveis a olho nu, iluminando a noite e nossa imaginação. Não era um alinhamento de planetas, nem um eclipse anunciado com antecedência. Era algo mais raro. Mais selvagem. Mais vivo.
Primeiro foi V462 Lupi, que surgiu em 12 de junho na constelação de Lupus, como uma centelha inesperada no tecido do céu. Logo depois, quase como uma resposta cósmica, V572 Velorum irrompeu em 25 de junho. Duas explosões termonucleares em anãs brancas, distantes, mas imensas, reacenderam estrelas adormecidas e revelaram a pulsação dramática do universo. Não se tratava da morte de estrelas como nas supernovas, mas de um renascimento explosivo — uma dança de destruição e sobrevivência.
Estas novas foram tão intensas que não precisavam de telescópios para serem vistas. Bastava o céu limpo, olhos atentos e o desejo de testemunhar o improvável.
Em dois mil anos de registros astronômicos, não há paralelo documentado para esse tipo de evento: duas novas brilhantes, tão próximas no tempo e no céu, visíveis simultaneamente. Uma ocorrência que teria feito astrólogos da Antiguidade tremerem diante dos deuses e impérios refletirem sobre seus destinos. Mas hoje, com olhos guiados pela Ciência e pela poesia da curiosidade, olhamos para cima e reconhecemos: somos parte de um universo ainda mais surpreendente do que ousamos sonhar.
“O universo não está apenas lá fora; ele acontece agora, diante de nós, e dentro de nós.”
A Ciência nos conta que essas Novas são como respirações violentas de estrelas antigas, que colapsaram mas ainda persistem — sobreviventes do tempo, do vazio e da gravidade. Em cada explosão, material é expelido a velocidades estonteantes, reacendendo o brilho e marcando o céu como quem diz: “Ainda estou aqui.”
Que lição melhor para nós, seres humanos, do que essa? Mesmo depois de um colapso, é possível brilhar de novo. Mesmo após eras de silêncio, é possível reacender e ser visto. Estas novas nos lembram que há beleza na reconstrução, que há força no invisível, e que às vezes, os momentos mais grandiosos surgem no aparente vazio.
Se você estiver no Hemisfério Sul, longe das luzes das cidades, olhe para as constelações de Lupus e Velorum próximas à Via Láctea do sul. Deixe que seus olhos se acostumem à escuridão. E então veja: não uma, mas duas provas de que o cosmos ainda nos reserva milagres.
Use aplicativos como o Stellarium para encontrar essas maravilhas. E mais que isso: use sua imaginação. Porque observar o céu é lembrar que fazemos parte de algo muito maior, misterioso e profundamente belo.
- Para um olhar visual e envolvente sobre o fenômeno, recomendo assistir ao vídeo explicativo neste link: Explosão de Nova Dupla no Hemisfério Sul. Ele traz detalhes visuais incríveis e ajuda a entender o quanto este evento é histórico.
O céu falou.
Duas novas responderam. E nós, aqui embaixo, aprendemos a ouvir com os olhos e alma.
* José Ildefonso é articulista, cronista e colaborador de Via Fanzine.
- Com informações da Nasa.
- Imagem: Nasa / Divulgação.
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