Ficção Científica Um conto espacial:O visitante e o exploradorO objeto foi batizado de ’Oumuamua, nome havaiano para “batedor”, pois era exatamente isso: um precursor, uma provocação cósmica a nos lembrar da nossa ignorância. Décadas antes, Arthur C. Clarke havia descrito algo semelhante em sua obra Encontro com Rama.
Por José Ildefonso* De Taubaté-SP Para Via Fanzine 11/06/2025
Por alguém que prefere pensar com o cérebro, não com o reflexo condicionado. Leia também: Últimos destaques de Via Fanzine
Em 2017, a humanidade, com telescópios cada vez mais refinados e um senso de maravilha teimosamente intacto, observou algo que desafiava explicações simples – e é sempre assim que a ciência avança. O objeto foi batizado de ’Oumuamua, nome havaiano para “batedor”, pois era exatamente isso: um precursor, uma provocação cósmica a nos lembrar da nossa ignorância.
Longo, fino e girando sem pressa, ele parecia um cigarro cósmico. Certamente, alguns cientistas devem ter se perguntado se o universo não estava zombando de nossos próprios vícios. ’Oumuamua não se comportava como um asteroide comum; sua aceleração desafiava todas as explicações convencionais.
Sussurros sobre naves alienígenas surgiram, mas sabemos como é: nenhum cientista em busca de financiamento arriscaria a carreira por algo tão "não científico". É mais fácil chamar de "fenômeno natural inexplicado". Mais seguro.
Seja como for, a humanidade seguiu em frente. Fazemos isso com grande competência, mesmo que com arrogância.
Décadas antes, Arthur C. Clarke havia descrito algo semelhante em sua obra Encontro com Rama. Um cilindro gigante, vindo de fora do Sistema Solar, silencioso e monumental, uma obra de engenharia que fazia as pirâmides parecerem castelos de areia. Clarke sabia o que muitos ignoram: grandes eventos não vêm com legendas. Eles simplesmente acontecem, e cabe a nós decidirmos como reagir.
Dez anos depois, em 2027, algo mais apareceu. Desta vez, a ciência não teve como se esconder atrás de palavras suaves. Era outro objeto interestelar. Mas, ao contrário de ’Oumuamua, este não podia ser descartado como uma pedra estranha. Era um cilindro perfeito, 50 quilômetros de comprimento, girando para gerar gravidade artificial. Um monumento à precisão – algo que a natureza raramente entrega sem uma ajuda inteligente.
Foi batizado de Rama II, porque às vezes é preciso admitir quando a ficção supera a realidade. Ele desacelerou ao entrar no Sistema Solar, ajustando sua trajetória com a paciência de quem sabe exatamente o que está fazendo. Isso, claro, deixou os humanos desconfortáveis. Visitantes que sabem para onde estão indo são muito mais assustadores do que aqueles que apenas passam.
Na nave científica Persephone, a Dra. Hana El-Adami – brilhante, teimosa e conhecida por não tolerar tolos – examinava os dados transmitidos pelas sondas enviadas para investigar Rama II. Hana tinha uma regra simples: "Se algo parece estúpido, geralmente é, e se parece impossível, provavelmente não é. Então, continue olhando."
Foi assim que ela viu algo que mais ninguém notou. Em uma transmissão de alta resolução, havia marcas geométricas na superfície do cilindro. Não eram aleatórias. Eram um padrão. Um padrão que ela reconhecia.
"Isso não pode ser…" murmurou, ampliando a imagem. As leituras de ’Oumuamua, revistas com mais atenção, mostraram algo semelhante. Não reflexos, como muitos afirmaram na época, mas sinais. Deliberados. Calculados.
De repente, tudo se encaixou. ’Oumuamua não era um mensageiro solitário. Era uma vanguarda, talvez uma mensagem codificada para os atentos. E Rama II? Não era apenas um visitante. Era uma convocação.
Enquanto o mundo debatia o significado de tudo aquilo – e, como sempre, as pessoas discutiam mais do que investigavam –, algo aconteceu. A Persephone perdeu contato com a Terra. Antes do silêncio total, uma última transmissão chegou.
A voz de Hana era calma. Talvez até satisfeita. "Não eram dois objetos. É um plano, uma sequência. Algo que começou antes mesmo de nossa existência. E agora, nós somos o próximo passo. Pensem nisso, se tiverem coragem." E então, nada.
Lá fora, no vazio do espaço, Rama II girava, paciente como só os imortais podem ser. Em algum lugar distante, outro visitante se preparava para cruzar as estrelas. Eles não estavam com pressa. Afinal, o tempo sempre favorece os bem preparados.
* José Ildefonso é articulista, cronista e colaborador de Via Fanzine.
- Com informações da Nasa.
- Imagem: Nasa / Divulgação.
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