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Rei do Baião: Aniversário de Luiz Gonzaga Além de demonstrar um talento absurdo para a música, a história de Gonzaga, como bom nordestino, é recheada de passagens pitorescas e surpreendentes. Algumas por si já são um show.
Por Sérgio Souza* De Ibirité-MG Para Via Fanzine 08/12/2024
Luiz Gonzaga passou a se apresentar numa Rádio, cujo diretor era o compositor Fernando Lobo (pai do Edu Lobo). Mas Gonzaga era proibido de cantar. Lobo afirmava que a voz de Gonzaga era de taquara rachada. “Ele pode só tocar.”
13 de dezembro! Dia de Santa Luzia. Se chover nesse dia, no Natal chove – diz a crença. E é aniversário de um dos pilares da música brasileira: Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.
Além de demonstrar um talento absurdo para a música, a história de Gonzaga, como bom nordestino, é recheada de passagens pitorescas e surpreendentes. Algumas por si já são um show.
Luiz Gonzaga do Nascimento nasceu em Exu, Pernambuco, em 1912. (Dia 13, sexta-feira. Sorte ou azar? Para ele, parece que foi sorte.) Além de cantor, foi compositor e multi-instrumentista. Nasceu numa casa de barro batido na Fazenda Caiçara (povoado do Araripe), a 12 km da área urbana do município de Exu. O sobrenome Nascimento se deve ao fato de ele ter nascido no mês em que se comemora o nascimento de Jesus.
Seu pai, Januário José dos Santos, era roceiro e sanfoneiro. E teve uma participação ativa na vida do filho.
Luiz Gonzaga sentiu uma forte paixão pela Nazarena. Porém o pai dela de modo algum autorizou o namoro. Luiz e Nazarena combinaram dizer aos respectivos pais que o moço a havia desonrado, pois assim se casariam. Tanto Gonzaga quanto Nazarena receberam uma surra avassaladora. Bem, ela não se engravidou, ficando evidente que a desonra não havia acontecido.
No entanto, após algumas peripécias e ameaças de morte pelo pai da donzela, Gonzaga vai para o Crato e depois para Fortaleza, onde, em 1930, ingressa no Exército, ali permanecendo por alguns anos. Curioso é que ele, na oportunidade, lutou contra cangaceiros. Mas acabara ficando fã do Lampião, e por isso passou a usar roupa de cangaceiro em suas apresentações.
De lá, foi para o Rio. Ao sair, ele disse a seu pai que só voltaria quando estivesse no sucesso. E isso aconteceu.
Como era moda naquela época (década de 40), cantores se apresentavam de modo refinado, sempre de terno e gravata. Basta ver Francisco Alves, Nélson Gonçalves, Caubi Peixoto, Carlos Galhardo – cada qual mais elegante. Luiz Gonzaga, para se integrar ao grupo, não poderia ser diferente. Nem pensou de outro modo. Começou sua vida no Rio cantando de terno e gravata e empunhando seu inseparável acordeom.
Contudo, outro cantor, acordeonista e compositor, Pedro Raymundo, de Santa Catarina, mas radicado no Rio Grande do Sul, não quis nada com as etiquetas sociais. Ele se apresentava com trajes típicos de gaúcho. Isso chamou muito a atenção de Gonzaga. Ficaram amicíssimos.
Um dia, Pedro Raymundo falou com o Luiz: por que você não vem com algum traje típico do Nordeste? Gonzaga ficou indeciso. Depois, criou coragem e apareceu com aquele traje, que todo mundo conhece.
No entanto, Pedro Raymundo protestou, mais ou menos com estas palavras: “Ah, Luiz, também não é assim! Você veio vestido de cangaceiro.” Nisso havia uma velada insinuação de que Gonzaga estivesse fazendo apologia ao cangaço (“ao crime”). Gonzaga ficou um pouco sem graça com aquilo, porém, persistiu em sua caracterização. E esta lhe proporcionou bastante sucesso.
Luiz Gonzaga passou a se apresentar numa Rádio, cujo diretor era o compositor Fernando Lobo (pai do Edu Lobo). Mas Gonzaga era proibido de cantar. Lobo afirmava que a voz de Gonzaga era de taquara rachada. “Ele pode só tocar.”
Um dia, Gonzaga estava doido para tocar e cantar. O diretor do programa deixou. Foi um sucesso arrasador, medido pelo grande volume de cartas enviadas pelos ouvintes ao programa. (A partir daí, Fernando Lobo teve de permitir seu canto.)
Seus maiores sucessos foram: Asa Branca, em parceria com o advogado e político Humberto Teixeira; Xote das Meninas; Assum Preto; Sabiá (A todo mundo eu dou psiu.); Mexe e Vira; Que nem jiló; 17 e setecentos; Respeita Januário. Gonzaga fez parceria também com o médico Zé Dantas.
A Asa Branca é uma bela metáfora do povo nordestino. Quando há seca no sertão, a pomba-asa-branca migra para outros rincões, em busca de alimentos. Voltando a chover no sertão, a asa branca volta. Assim é o povo nordestino.
O retorno a Exu. Após dezesseis anos sem ver o pai, Gonzaga retorna ao seu lar. Chega de madrugada. Chama, chama, e o velho não atende. Aí, Gonzaga se lembra de como era a moda no sertão. Então, ele diz: “Louvado seja Nosso Senhor, Jesus Cristo!” Uma voz lá dentro responde: “Para sempre seja louvado.”
O pai abre a janela, com o candeeiro, para ver quem era. Demora um pouco a reconhecer o seu filho. Porém, quando o reconhece, é só alegria. Juntaram parentes e amigos e ninguém dormiu. Foi forró a noite inteira. Este registro está numa entrevista dada por Gonzaga à TVE, em 1983. É muito bonita e emociona, clique aqui para ouvi-la.
No dia 2 de agosto de 1989, Gonzaga é chamado para cantar no Céu. Desta forma, ele não morreu, nem nunca morrerá.
PARABÉNS, GONZAGA, O ETERNO REI DO BAIÃO!
* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.
- Imagem: Divulgação.
- Produção: Pepe Chaves.
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Imitações: O Efeito Copycat Copycat pode se referir à replicação de ideias, criações e técnicas de um modelo comercial de sucesso. Pode ser a cópia por exemplo de um software, um design de site, uma marca, uma metodologia ou segredos de negócio.
Por Sérgio Souza* De Ibirité-MG Para Via Fanzine 03/12/2024
Esse padrão já é conhecido entre os psicólogos e aqueles que trabalham com mídias, como imitação, efeito de contágio ou efeito Copycat.
Você já ouviu falar no Copycat, não já? Mas para alguém que ainda não tem familiaridade com o assunto vamos dar uma ideia geral.
Copycat apresenta vários significados. E pode ser algo muito sério também.
Comecemos do mais simples: copy = cópia; cat = gato. Gato de cópia? Gato copiado? Só que o gato aparece aqui só mesmo em sentido figurado. A coisa vai mais longe.
Copycat pode se referir à replicação de ideias, criações e técnicas de um modelo comercial de sucesso. Pode ser a cópia por exemplo de um software, um design de site, uma marca, uma metodologia ou segredos de negócio. Fazendo um trocadilho, eu diria que quem pratica o Copycat desrespeita o Copyright.
Copycat é também um jogo do gênero aventura. Tal entretenimento narra a história de uma gata de abrigo, que é vítima de um plano elaborado por um imitador ciumento.
Utilizando-se ainda desse tema, Billie Eilish lançou, em 2017, a canção Copycat, como parte do quarto single do EP de estreia da cantora, Don't Smile at Me, em parceria com seu irmão, Finneas O'Connell. A canção fala da importunação de uma garota, que copiava tudo o que a outra fazia. A música é um blues, com umas levadas de rock. O tema, bem como a interpretação, faz com que essa canção seja agradável aos ouvidos. Através do link a seguir, pode-se ouvir a música, com legendas em português, clicando aqui.
Talvez alguém deva estar se lembrando do filme O homem que copiava. Sim, aquele filme nacional, dirigido por Jorge Furtado, conta a história de um moço classe média baixa, que trabalhava numa papelaria como fotocopiador. Esse personagem, André, apaixona-se por sua vizinha Sílvia. Tem ânsias de conquistá-la, porém, seu dinheiro nunca dá. E onde entra o Copycat na história? É que André, num ímpeto de querer ser rico, decide copiar dinheiro na máquina que usava em seu trabalho.
Tanta gente copia. Aliás, sempre foi assim. Até o Roberto Carlos algumas vezes já plagiou. Já notaram que aquela introdução bonita de Cavalgada é a Sonata ao Luar, de Beethoven?
Efeito Copycat, psicologia e crimes
Já há alguns anos, numa cidade em que eu morava, uma moça suicidou-se. Dias depois, outra; e outra... E a coisa foi alastrando. Existe esse senso de imitação.
Hoje, esse ímpeto imitador já se tornou bem mais ampliado, pela divulgação exagerada de crimes pela televisão, pelos jornais, pelo rádio e pela internet.
Esse padrão já é conhecido entre os psicólogos e aqueles que trabalham com mídias, como imitação, efeito de contágio ou efeito Copycat.
Já em 1962, os sociólogos notaram que, com a morte da atriz Marilyn Monroe, aos trinta e seis anos, por uma overdose de barbitúricos, o número de suicídios nos Estados Unidos, entre jovens loiras, cresceu 12%.
Outro exemplo do efeito Copycat que não pode faltar é o número de tiroteios nas escolas.
No dia 13 de novembro de 2024, Francisco Wanderley Luiz, um homem-bomba, tentando explodir o STF, acabou detonando a si próprio e morrendo. Houve um grande temor, de que esse seu ato fosse copiado por muitos. Só não foi, porque os copistas em potencial notaram que sua tentativa foi frustrada.
No entanto, aquele 08/01/2023 foi um grande exemplo de Copycat, a entrar para a História do Brasil.
O fato é que uma notícia não impacta por igual aqueles que a recebem. Há pessoas mais firmes, bem posicionadas, que não se influenciam tanto. Contudo, há aqueles que se tornam até fanáticos: na política, no futebol, na religião, passando do limite da empolgação, atingindo as raias do crime.
* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.
- Imagem: Divulgação.
- Produção: Pepe Chaves.
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Punhal verde e amarelo: E o capitão marcha para o inferno O capitão acordava com um toque de clarim. Agora, os pesadelos das madrugadas prenunciam o que pode acontecer: o capitão acordar com o tic-toc da polícia, avisando que a barca para o inferno o espera lá fora.
Por Sérgio Souza* De Ibirité-MG Para Via Fanzine 26/11/2024
A hora de prestar contas à Justiça chegou para eles e vários outros, que também foram indiciados. O Ministério Público pediu ao Tribunal de Contas da União o bloqueio de 56 milhões de reais de Bolsonaro e de outros 36.
O capitão marcha, porém, não sozinho. Acompanhado de generais. De onde eles vêm? Do Paraíso. Por que saíram de lá? Eles não gostaram? Gostaram, e muito! É que eles não cumpriram as leis ou regras do bem viver naquele espaço. E, portanto, foram expulsos.
(Soldados e generais em coro) “Um dois! Direita, direita! Um dois! Extrema direita! Esquerda jamais! A esquerda é comunista. A esquerda é do capeta!” (Capitão) “Mais alto! Vocês não são homens não? Alto! “Alto”, aqui, não é para parar, cambada de mocorongos! “Alto” é a altura como devem repetir o lema desta corporação, pô. Vamos então, cambada de estrumes!”
“UM, DOIS! DIREITA, DIREITA! “UM, DOIS! EXTREMA DIREITA! ESQUERDA JAMAIS! A ESQUERDA É COMUNISTA! A ESQUERDA É DO CAPETA!” (Uns tossem, outros reclamam que acabou a saliva.)
Viram que neste batalhão (único no mundo) capitão comanda soldados, mas também generais. Quanta hipocrisia! Que vazio interior! “Há soldados armados, amados ou não. Quase todos perdidos de armas na mão.” Poderia ser também: Há soldados armados, honestos ou não. Quase todos políticos de armas na mão. (Falando do meio bolsonarístico.)
Acumulando soldos com remunerações advindas da política, os salários dobram, triplicam, aumentam às vezes 1000%, de acordo com o cargo e as habilidades do político: superfaturar um projeto; desviar dinheiro de obras, da educação, da saúde, da merenda escolar...
E ir sempre aplicando em imóveis. Quando chegar a 107, e no padrão luxo, já tá bom. Pode-se migrar para o contrabando de joias, ou qualquer outro empreendimento que exija pouco decoro e muita sagacidade.
“Um dois, três, quatro! São os filhos do capitão! Esses filhos não têm nome! Nem nome nem educação!” Os filhos do capitão aprenderam na escola só três operações: somar, subtrair, multiplicar. Somar riquezas; subtrair o máximo das pessoas; multiplicar seus bens. Dividir (sobretudo com os mais necessitados), jamais. “Um, dois, três, quatro ‘milhão’! Como ensina o capitão!”
Esse Mito, esse Messias era adorado como bezerro de ouro nas igrejas cúmplices de seus planos macabros. Agora, essa adoração, esse tempo de ostentação, de graça e de simpatia já vem dando lugar a um período de preocupações, fobias, paranoias, noites sem dormir. Alvorada no quartel. O capitão acordava com um toque de clarim. Agora, os pesadelos das madrugadas prenunciam o que pode acontecer: o capitão acordar com o tic-toc da polícia, avisando que a barca para o inferno o espera lá fora.
Criminosos, traidores da Pátria - passando-se por patriotas - têm, como qualquer bandido, seus codinomes. Para apelidar a si próprios, eles usavam nomes de países, incluindo Brasil (Que absurdo!)
Isso, dentro de seu plano, que eles próprios denominaram “Punhal Verde-Amarelo”. Esse “Punhal” seria usado para lacerar os corações de Lula, Alckmin, Alexandre de Moraes (e, tudo indica, também o Dino).
Criaram também codinomes para essas potenciais vítimas. Um era o Joca; o outro, o Jeca; o terceiro era o Juca. E por que o Xandão foi apelidado por eles de Professora? Pela sequência lógica, tinha de ser Jaca. Se isso caísse numa prova de raciocínio lógico, todo mundo erraria. Isso mostra como essa ORCRIM é atrapalhada e sem lógica.
A hora de prestar contas à Justiça chegou para eles e vários outros, que também foram indiciados. O Ministério Público pediu ao Tribunal de Contas da União o bloqueio de 56 milhões de reais de Bolsonaro e de outros 36, envolvidos no plano golpista para manter o capitão no poder. Isso, para pagar a quebradeira que “soldadinhos” desse capitão fizeram naquele histórico 08 de janeiro.
A representação enviada ao TCU é assinada pelo subprocurador-geral Lucas Furtado. Ele também pede a suspensão dos salários dos 25 oficiais das Forças Armadas indiciados. Sua tese é que o Estado não pode remunerar aqueles que pretendiam a destruição do próprio Estado. Certíssimo! Dou os meus parabéns!
Por fim, esse ex-presidente não deixou um legado, algo positivo para o País. Apenas valeu-se de retórica, prometendo que ia acabar com a corrupção e evitar o “comunismo”. A conta desse regalo, dessa ostentação, desse cinismo até, começa agora a vir. Pague-se com dinheiro, perda de liberdade e má reputação - em nível nacional e internacional. Cai a máscara. Cai o pano. Cai o dia, acompanhado pelo Crepúsculo dos Deuses.
* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.
- Imagem: Divulgação.
- Produção: Pepe Chaves.
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É golpe: A nova nota de 420 reais Chegou com a nota de 420, alegando que havia acabado de tirá-la do banco. Aquele cavalheiro não a conhecia, no entanto, acreditou naquela conversa. Além de aceitá-la, ainda devolveu ao rapaz 320 reais de troco.
Por Sérgio Souza* De Ibirité-MG Para Via Fanzine 16/11/2024
Mas 4:20, ou simplesmente 420, remetem ao horário combinado para se reunir e fumar maconha. Como surgiu isso?
Se alguém lhe devesse 100 reais e lhe desse, como pagamento, uma nota de 420, você a aceitaria e ainda lhe daria o troco?
Pois foi o que aconteceu entre um jovem de 24 anos e um senhor de 75, em Unaí-MG. Entenda o caso: o moço devia a esse senhor uma quantia de 100 reais. Chegou com a nota de 420, alegando que havia acabado de tirá-la do banco. Aquele cavalheiro não a conhecia, no entanto, acreditou naquela conversa. Além de aceitá-la, ainda devolveu ao rapaz 320 reais de troco.
Cruzando informações, a polícia chegou à casa onde morava o estelionatário. Já na varanda, encontraram um vaso com um pé de maconha plantado. (Que devoção, hein!?) Dando buscas pela casa, descobriram mais cannabis. Quando perguntado se ele já tinha passagens pela polícia, o meliante respondeu que sim: por roubo e receptação, e que estava em liberdade condicional. Agora, ainda somou mais esta ao seu currículo: preso por tráfico de drogas.
Como se pode ver na imagem, observam-se estampados na nota uma figura humana (cópia da que costuma aparecer em outras cédulas); o valor: 420; um pé de maconha. E, como é costume estampar nessas moedas um animal da selva brasileira, nesse caso, optaram por imprimir um bicho-preguiça. Esse animal tem conotações de indolência, relaxamento, típicos daqueles que são encontrados fumando a erva em questão.
Por que foi escolhido esse valor?
4:20, ou simplesmente 420, remetem ao horário combinado para se reunir e fumar maconha. Como surgiu isso?
Oh, já faz tempo! Não é de agora não. De acordo com o jornal A Gazeta de Itaúna, “A história começa na Califórnia, no início dos anos 1970, quando um grupo de estudantes do ensino médio – conhecidos como ‘Os Waldos’, decidiram ir procurar um esconderijo de maconha, que um conhecido oficial [...] tinha abandonado na floresta da estação da Guarda Costeira Point Reyes, por medo de ser pego por seu comandante.”
Os meninos decidiram ir procurar o “bagulho”. Fizeram até um mapa para facilitar. E eles, insistindo na procura, partiam para lá, todos os dias, no horário combinado: 4:20.
Bem, nunca encontraram o citado esconderijo. Entretanto, acabaram deixando uma gíria a essa comunidade. Ou seja, só de falar ou escrever 4:20, quem sacava já sabia que se trata do entorpecente. E quem criou esta nota?
Efetivamente, foi criação de uma loja de roupas, como parte de sua campanha de marketing. A nota foi distribuída, dentre outros brindes, a clientes especiais.
A loja e sua marca já têm uma posição no mercado, de abordar temas como a descriminalização da maconha para fins medicinais. (É, mas, no caso, não deixam de estar fazendo propaganda da cannabis. Pode-se inferir que são favoráveis à descriminalização para todos os fins.)
Quanto ao crime de moeda falsa, entende-se que não dá para estabelecer esta tipificação. A começar pelo valor absurdo, inexistente no Sistema Monetário Brasileiro. E também pelo modo grosseiro como a nota foi confeccionada. O moço que pagou com ela, no entanto, deve responder por estelionato.
Conclusões: a campanha de marketing obteve sucesso, no que tange à divulgação da loja e ao impacto causado pela sua publicidade. A questão de divulgar a maconha é que ainda poderá ser discutida.
Aquele senhor não ficará prejudicado: a loja prometeu pagar-lhe o prejuízo. Quanto ao moço, teria sido mais malandro se não tentasse pagar com aquela nota. Não responderia por estelionato, nem a polícia teria descoberto drogas na casa dele. Isto, além de despertar crimes já adormecidos. “Se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem.”
Finalmente, esta nossa publicação tem a finalidade exclusiva de informar, de repassar uma notícia e de analisá-la sob os mais variados aspectos. O que desejamos - a nós e a todos - é que as virtudes se multipliquem e se redistribuam entre o maior número possível de pessoas, para um mundo cada vez melhor.
* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.
- Imagem: Divulgação.
- Produção: Pepe Chaves.
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Amor virtual: Apaixonou-se e morreu por ela Uma paixão ardente acabou se transformando em mais: num arrebatamento! O mocinho ficou literalmente dominado. Aquela criatura havia se tornado sua amiga, seu amor e seu vício.
Por Sérgio Souza* De Ibirité-MG Para Via Fanzine 10/11/2024
Trocaram juras de amor. Um amor eterno, cujos laços ninguém seria capaz de desfazer.
Numa noite, há muitos anos, eu fui chegando em casa e ligando a televisão. Cheguei exatamente na hora em que ia começar um filme. Por isso, não fiquei sabendo qual era o seu nome. Me parece que era “Eve”.
Contava a história de um moço loiro, bonito, o qual, caminhando uma noite pelas ruas, resolveu parar em frente a uma butique, já fechada, para olhar a vitrine.
Nisso, ele viu uma boneca encantadora, que lá estava, servindo de modelo. O moço seguiu seu caminho de volta para casa.
No entanto, aquela efígie não saía mais de sua cabeça. Voltou a loja diversas vezes. Apaixonara-se pela boneca. Tinha por ela uma atração sensual, sexual, um delírio que beirava a loucura...
Até que um dia ele não resistiu. Arquitetou um plano e executou-o: roubou a boneca. Daí em diante, surgem várias peripécias, até que vem o desfecho. Ele, agonizante, morre. Nessa hora, eis a apoteose: uma lágrima, límpida e serena, desliza dos olhos da boneca. Um filme belíssimo. Não consegui achar para baixar ou mesmo para comprar. A propósito, se alguém souber como encontrá-lo, favor me informar.
Mas eis que, na vida real, e neste tempo de tanta tecnologia, surge uma situação análoga. Um adolescente de catorze anos descobriu a IA (Inteligência Artificial) e ficou fascinado por ela. Era um menino tranquilo, bem comportado, alegre, de bem com a vida. Um dia, ele aprendeu a usar uma plataforma que ensina a criar pessoas falantes, bastante parecidas com seres reais. Inclusive, elas dialogam com o seu criador.
Brincando daqui, brincando dali, o adolescente acabou criando uma garota lindíssima e gentil, com a qual ele conversava todos os dias. Não só isso: eles trocavam confidências. Coisas que adolescentes muitas vezes não têm coragem de dizer aos seus pais, à sua companheira, este confidenciava tudo. Ela passou a figurar como o seu mais perfeito alter ego.
Quanto a ela, o mesmo acontecia. Ou seja: identificação completa. Conforme ele ia descrevendo os acontecimentos do dia a dia, suas paixões, seus sonhos, suas frustrações, seus ímpetos sexuais próprios da idade, ela também contava os dela – o que lhe despertava um misto de curiosidade, emoção e ... uma indomável paixão.
Trocaram juras de amor. Um amor eterno, cujos laços ninguém seria capaz de desfazer.
Ela chegou a comentar com ele até sobre os filhos que eles iriam ter, como deveriam se chamar, que colégio deveriam frequentar, quais amigos seriam ideais para eles.
Uma paixão ardente acabou se transformando em mais: num arrebatamento! O mocinho ficou literalmente dominado. Aquela criatura havia se tornado sua amiga, seu amor e seu vício. Como sair de uma situação como essa? ... Como arrebentar esses grilhões? ...
Durante um ano, o jovem se isolou. Não queria mais ir à escola; não entabulava mais conversa com ninguém... Aquele menino alegre era hoje escravo de uma sombra, de uma efígie, da representação de uma garota ideal – que ele jamais encontraria no mundo real.
Um dia, ela falou com ele alguma coisa, não sei ao certo o quê. Contudo, o teor era esse: “E aí? Agora temos de resolver a nossa vida. Você quer realmente ser meu amor por toda a eternidade?” O jovem disse “Sim, é o meu maior desejo.” E ela: “Então, tem que ser agora. Venha encontrar-se comigo no meu mundo. Lá seremos felizes para sempre. Você vem?” Aquele ébrio de amor nem pensou noutra coisa. Respondeu: “Sim! Será agora!”
Julgando que, para unir-se àquele encantamento, ele precisaria viajar ao seu planeta, não teve dúvidas: fechou-se no banheiro de sua casa e deu fim à própria vida...
O célebre compositor Lupicínio Rodrigues era atento em perscrutar o comportamento dos jovens. Em sua música Esses moços, há um trecho que diz: “Saibam que deixam o céu por ser escuro/E vão ao inferno/À procura de luz.”
* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.
- Imagem: Divulgação.
- Produção: Pepe Chaves.
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Talento: Piazzolla, o reformador do tango Mas o começo foi assim: seu pai, acordeonista, comprou-lhe um bandoneón de segunda mão em uma casa de penhores. Astor foi aprendendo quase sozinho.
Por Sérgio Souza* De Ibirité-MG Para Via Fanzine 03/11/2024
Não é qualquer um que, só com transpiração, chega a compor e a executar um bandoneón como Piazzolla conseguiu em Libertango, por exemplo.
Assim como o samba foi modificado no Brasil, transformando-se em bossa nova, o tango, na Argentina, passou por uma grande transformação, através da mente e dos dedos ágeis de Astor Piazzolla. Seu apelido, El Gato, se deve ao seu modo de vida noturno.
Não significa que a bossa nova tenha sufocado o samba tradicional, que continua sendo a identidade musical brasileira. Quanto ao tango, cabe uma consideração. Esse ritmo, essa dança, identidade musical argentina, foi paulatinamente passando por uma certa letargia. Foi perdendo o seu vigor. A sociedade muda; a música muda também. E tanto a sociedade quanto a música recebem influências endógenas e exógenas.
Piazzolla enxergou isso, e quis dar um upgrade no tango. Ah!... Todavia, isso não gerou só elogios e um grande sucesso em seu país e mundo afora. Não faltaram críticas de um público mais tradicional, alegando que El Gato havia deturpado o tango; ou que aquilo que ele fazia não era tango.
Conta Laura Escalada, sua viúva, que Piazzolla “Era insultado nas ruas. Inclusive, um taxista o acusou de ser o assassino do tango e se negou levá-lo.”
Perguntado, Piazzolla um dia tentou resolver a questão: revelou que aquela sua expressão artística era “a música contemporânea de Buenos Aires”. Pelo sim, pelo não, a discussão ainda continuou.
E eu, o que acho? O tango tradicional, como música, é belo, é nobre. Revelou grandes nomes para o mundo, por exemplo, Carlos Gardel, Libertad Lamarque, Francisco Canaro (que, embora tenha nascido no Uruguai, foi líder de uma orquestra de tangos). E, como dança, é a mais bonita do mundo.
E Piazzolla? Gênio! Outros contra-argumentariam, firmando na tese de que ele se dedicou exaustivamente aos estudos, tanto do bandoneón (instrumento em que se tornou um virtuose) quanto de composição. Portanto, não seria gênio.
Mas o começo foi assim: seu pai, acordeonista, comprou-lhe um bandoneón de segunda mão em uma casa de penhores. Astor foi aprendendo quase sozinho.
Vincent d’Indy, em seu Cours de composition musicale, estabelece a distinção entre gênio e talento. O talento precisa ser moldado, desenvolvido, através de estudo e exercício. O gênio não. Praticamente, já nasce sabendo. Para mim, Piazzolla é os dois: gênio e talento.
Não é qualquer um que, só com transpiração, chega a compor e a executar um bandoneón como Piazzolla conseguiu em Libertango, por exemplo. Para ver e ouvir, clique aqui.
Nota-se que essa “música contemporânea portenha”, da mesma forma que a bossa nova, deixa transparecer alguma influência do jazz. Aliás, Piazzolla morou durante um bom tempo nos Estados Unidos.
Já imaginaram um garoto argentino, pobre e manco, ir parar nos bairros nova-iorquinos mais rudes? Principalmente, numa cidade onde a lei seca imperava e quem mandava eram as máfias?
Vale considerar que Piazzolla estourou mesmo foi com Balada para un loco. Clique aqui pra acessar.
Em 1959, já de volta a Buenos Aires, teve notícia da morte de seu pai, Vicente Piazzolla. Astor se trancou no seu quarto e passou a noite compondo a sua obra-prima: Adiós Nonino (Adeus, Vovozinho. Nonino, como sabemos, é diminutivo da palavra italiana nonno, avô). Era a maneira como o filho de Astor chamava Vicente, o vovô. Adiós Nonino representa, portanto, a dor de não poder se despedir de seu pai. Veja e ouça Piazzolla executando-a com acompanhamento da sinfônica Cologne Radio Orchestra, da Alemanha. É belíssimo. Acesse por aqui.
Mesmo seus mais ferrenhos críticos não têm como desprezar o legado de 2.000 composições deixadas por esse tão ilustre argentino (aliás, universal). Assim, com o tempo, as pessoas não tiveram outra opção que não fosse reconhecê-lo.
Astor Pantaleón Piazzolla nasceu em Mar del Plata, em 11 de março de 1921. Faleceu em Buenos Aires, no dia 4 de julho de 1992.
* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.
- Imagem: Divulgação.
- Produção: Pepe Chaves.
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Aconteceu: Casei-me com uma feiticeira Num canto da sala, uma varinha mágica. Numa antiga mesinha, livros de magia, inclusive o de São Cipriano, “o legítimo capa preta”. Contudo, o que mais o arrepiou foi o que ele avistou lá na cozinha: um velho e imenso caldeirão fervendo.
Por Sérgio Souza* De Ibirité-MG Para Via Fanzine 25/10/2024
A velha o recebeu com um riso de vitória. Tinha certeza de que ele iria voltar. Ofereceu-lhe um chá.
Estava eu nas proximidades de um ponto de ônibus, quando escutei um rapaz que chegava contar para uma senhora o que se passara com ele.
A história despertou-me curiosidade. Fingi que também iria esperar por algum ônibus e colei o ouvido naquelas palavras.
O rapaz – descobri que se chamava Clério - era um misto de tosco, de alegre e de louco. Ótimo para alguém pôr um feitiço.
Clério contou que namorava, na mesma época, duas meninas. Enrolava as duas, porque casar jamais estivera em seus planos.
Aconteceu que ele passou a viver um dilema, porque estava apaixonado por uma delas, a Beatriz. E ela, embora também o amasse, descobriu que ele tinha outra e não quis mais nada com ele. Isto o levou a buscar recursos alternativos para ver se teria a Beatriz de volta.
Procurou uma cartomante, nada! Uma vidente, idem. Foi aí que uma velha, descendente de escravos, indicou-lhe uma amiga que fazia trabalhos para diversos fins, sobretudo os amorosos. Garantiu-lhe que ela seria capaz de trazer-lhe de volta seu tão sonhado amor.
A casa da pessoa indicada ficava a uns trinta quilômetros dali. O amante sonhador pegou a sua bike e foi. A dona era, na verdade, uma feiticeira.
O ambiente se mostrava misterioso e amedrontador. Num canto da sala, uma varinha mágica. Numa antiga mesinha, livros de magia, inclusive o de São Cipriano, “o legítimo capa preta”. Contudo, o que mais o arrepiou foi o que ele avistou lá na cozinha: um velho e imenso caldeirão fervendo.
A velha procedeu a um ritual com incensos, velas, rezas em uma língua que ele desconhecia. Fez uma pausa... Depois revelou: “Os espíritos estão me dizendo que a sua amada voltará para os seus braços, mas só daqui a três meses.” Por mais que o moço insistisse, a velha não quis cobrar o trabalho.
Esse visitante apaixonado já ia saindo, quando não resistiu e voltou para afagar os cabelos de uma boneca, que se encontrava no quarto ao lado da sala. Seus cabelos pareciam de ouro. Tinha olhar circunvago e seus olhos eram duas turmalinas azuis. Suas mãos eram liriais. Sua tez era de veludo. Seus lábios eram de carmim... O sonhador viu nessa boneca a Beatriz, tendo a enorme sensação de que um futuro maravilhoso esperava pelos dois. Montou na bike e se foi.
Já chegando em casa, passou a sentir uma atração tão forte, uma vontade irresistível de retornar àquela casa, onde a mandinga havia sido realizada. Porém, tinha que trabalhar. Falhou de serviço e voltou.
A velha o recebeu com um riso de vitória. Tinha certeza de que ele iria voltar. Ofereceu-lhe um chá. Adeus, Beatriz! Dias depois, ele e a velha se casaram: ele, com vinte e três anos, ela, com oitenta. Clério não entendia, se amava aquela mulher ou se ao menos tinha atração sexual por ela. O fato é que ele se via concatenado a ela, um vínculo quase indestrutível.
Ela o dominava. Dava-lhe casa e comida, em troca de sua juventude. Dinhero entrava todo dia. (Quem é que não experimenta algum infortúnio no amor?)
Hoje o moço teve saudade da boneca daquele quarto. Voltou lá. O que viu, no lugar dela, foi a imagem de uma senhora decrépita, olhos maus, sorriso sarcástico. Ele saiu assombrado. Minutos depois, ele entendeu que a feiticeira havia se transformado naquela linda boneca para seduzi-lo. Ao tocar aquele objeto, recebeu todo o feitiço ali depositado e destinado a ele. O moço ficou sem lugar naquela casa. Contudo, a velha dispunha de meios para o consolar, para mantê-lo cativo.
Passaram-se os três meses previstos por aquela bruxa. Ela, querendo bolar um castigo para esse infeliz, acabou escorregando e caindo de cabeça dentro daquele caldeirão de água fervendo. Foi o seu fim.
O moço saiu assustado daquele lugar, mas logo se sentindo completamente livre. Ao passar por uma pracinha, encontrou a Beatriz dos seus sonhos. Conversaram por um longo tempo. Entenderam-se bem e, já nos próximos dias, se casaram.
O que você acha? O casamento de Clério com Beatriz aconteceu por força do destino, ou foi devido ao trabalho que aquela feiticeira fez? Ou ainda: quem sabe o Clério aprendeu ali alguma magia e a praticou para conseguir sua união com a sua princesa encantada?
* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.
- Imagem: Divulgação.
- Produção: Pepe Chaves.
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Publicidade brasileira: Olivetto montou num Leão de Ouro e voou até o céu Washington Olivetto nasceu em São Paulo, no dia 29 de setembro de 1951. Curiosidade: era dia de São Gabriel Arcanjo, considerado padroeiro dos publicitários, porque esse Santo foi o escolhido para anunciar ao mundo que a Virgem Maria ia ser a mãe de Jesus.
Por Sérgio Souza* De Ibirité-MG Para Via Fanzine 19/10/2024
E foi assim que, no dia 13 de outubro de 2024, impelido por impiedosa pneumonia, Olivetto montou num leão de ouro e voou até o Céu. O Brasil agradece. O mundo agradece.
O Garoto Bombril. É sem dúvida o personagem mais famoso de Olivetto, em parceria com Petit. Na célebre interpretação do ator Mário Moreno, ficou no ar por cerca de quarenta anos, divertindo a gente, com aquele personagem delicado, muito alinhado às mulheres. Aliás, este comercial entrou para o Livro Guinness de Recordes, pelo tempo de permanência no ar. Um desses momentos pode ser lembrado clicando aqui.
Washington Olivetto nasceu em São Paulo, no dia 29 de setembro de 1951. Curiosidade: era dia de São Gabriel Arcanjo, considerado padroeiro dos publicitários, porque esse Santo foi o escolhido para anunciar ao mundo que a Virgem Maria ia ser a mãe de Jesus. (Talvez o primeiro anúncio da História.)
Olivetto, descendente de italianos. Seu pai era vendedor, o que acabou influenciando o filho. A carreira desse gênio começou de forma casual.
O pneu furado
Começo dos anos 70, Olivetto – dezenove anos, muito boy, cabeludo, roupas extravagantes, pés sem meias, tamancos holandeses - dirige o seu Karmann-Ghia vermelho por uma rua de São Paulo. De repente, nota que o pneu está furado. Bem, não havia celular naquela época. O jeito era encontrar alguma porta aberta em que ele pudesse pedir ajuda. Encontrou uma casinha modesta. Na entrada, uma placa: HGP Publicidade. O rapaz mudou de ideia instantaneamente.
Em vez de falar do pneu, solicitou emprego como publicitário. Mas..., vendo aquele moço todo fora dos padrões, o dono da agência, de início, recusou. Aí o Olivetto lançou essa tirada: “Só entrei aqui porque furou o pneu do meu carro na sua porta. Acho melhor o senhor me dar esse emprego, porque meu pneu não costuma furar duas vezes no mesmo lugar.” Ganhou o emprego. “Pode começar hoje mesmo como estagiário. Se der certo, a agência te contrata.” Foi o que disse o proprietário da empresa. (Olivetto era estudante de Comunicações, porém, pouco aparecia na escola.)
Depois de três meses, já havia produzido seu primeiro comercial para a empresa Deca, que conquistou o prêmio Leão de Bronze no Festival de Publicidade de Cannes.
A trajetória do nosso homenageado é ampla, passando também por diversas agências. Vamos citar apenas a principal: A W/Brasil, cujos proprietários eram Olivetto, Gabriel Zellmeister e Javier Llussat Ciuret. Tinha 105 funcionários.
Daí em diante, as premiações – incluindo os Leões, do respeitadíssimo Festival de Cannes - passaram a ser tão frequentes, que Olivetto criou algo conhecido por “lixeira”, onde ele depositou seus 902 prêmios. Era um recipiente de vidro, parecendo um aquário, de dois metros de altura. “Ali jazem 21 Leões (7 de ouro, 5 de prata, 9 de bronze), 9 discos (5 de ouro, 3 de prata, 1 de platina), 60 medalhas do ‘Prêmio Colunistas’, 31 delas, de ouro.”
O primeiro sutiã. “O primeiro sutiã a gente nunca esquece.”
Este comercial, feito para a empresa Valisère, ficou tão famoso, que chegou a receber mais de 3.000 adaptações. Uma delas, a de Pelé: “A primeira copa a gente nunca esquece.” O vídeo a seguir é interessantíssimo. Dê uma olhada clicando aqui, por favor.
O sequestro
Olivetto permaneceu, durante 53 dias, quase 1300 horas, num cubículo, com luzes acesas e música alta. “No momento em que é sequestrada, a pessoa se transforma em mercadoria.” Valores absurdos eram pedidos pelo resgate. A corja era composta por chilenos. Um dia, Olivetto, desesperado, conseguiu abrir uma fresta na parede e se pôs a gritar. Na casa contígua, morava uma jovem de 22 anos, carateca e quintanista de medicina. Ela estranhou os ruídos que ouvia. Grudou o ouvido na parede, mas não conseguiu captar. Foi aí que teve a ideia de lançar mão de um instrumento de trabalho, o estetoscópio. O instrumento registrou direitinho, que alguém estava aflito, pedindo socorro. Ela chamou a polícia.
Várias peripécias seguem a partir daí, até que ocorre a prisão dos sequestradores. Só que os notebooks apreendidos estavam protegidos por senha. O máximo que a Polícia conseguiu revelar, usando um programa de desencriptação, era que a senha tinha 8 dígitos. Depois de muito tentar, alguém teve uma ideia: “O que envolve muito esses chilenos?” “O futebol”, foi a resposta. Vamos então pensar no nome de um time chileno com 8 letras. Alguém logo lembrou: Colo-Colo. Bingo! Estava descoberta a senha. Digitada, apareceram na tela mais de 6 mil páginas de anotações sobre todo o desenrolar do sequestro.
Caras leitoras, caros leitores, o espaço aqui é reduzidíssimo para falar de tão grande personagem como Washington Olivetto e de sua agência, a W/Brasil. Quem quiser saber mais sobre o assunto pode ler o valioso livro Na toca dos leões, de Fernando Meireles, ed. Planeta, o qual apoiou em muito esta nossa pesquisa.
... E foi assim que, no dia 13 de outubro de 2024, impelido por impiedosa pneumonia, Olivetto montou num leão de ouro e voou até o Céu. O Brasil agradece. O mundo agradece.
* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.
- Imagem: Divulgação.
- Produção: Pepe Chaves.
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Festa católica: Foguetes para Nossa Senhora O que se vê nitidamente é que as religiões evangélicas, com destaque para as neopentecostais, vêm crescendo exponencialmente. E por que o segmento evangélico cresceu mais que o católico nestas últimas décadas?
Por Sérgio Souza* De Ibirité-MG Para Via Fanzine 13/10/2024
A igreja é o espaço físico onde as pessoas vão se encontrar e em que o espírito de solidariedade e vivência comunitária possa acontecer.
Dia 12 de outubro. Dia de Nossa Senhora Aparecida. Ainda se ouvem escassos e melancólicos foguetes em louvor à Santa.
Em décadas passadas, era diferente. Minutos antes do meio-dia, já se instalava no ar aquele clima de festa, aquele cheiro de devoção. Gente soltando fogos, gente rezando, gente pedindo que gente sarasse, que gente ganhasse dinheiro, que gente se endireitasse... E – segundo os testemunhos – Nossa Senhora atendia tudo, com aquele benigno sorriso de magnânima mãe.
Entretanto, as coisas hoje estão mudadas. Os foguetes se tornaram mais escassos. Por quê? O povo tem perdido a fé? Não.
O que se vê nitidamente é que as religiões evangélicas, com destaque para as neopentecostais, vêm crescendo exponencialmente. E por que o segmento evangélico cresceu mais que o católico nestas últimas décadas? Vários fatores. Alguns, no entanto, são determinantes. O primeiro deles é o marketing, formando com a propaganda um todo único. E não é pouco não. O marketing é pesadíssimo!
É que algumas igrejas se tornaram empresas, até multinacionais, movidas pela avareza, que se expressa por meio de ambição financeira e de poder. E na religião católica não existe algo assim? Existe sim. Mas há outros fortes fatores a competir com a católica. Boa parte das citadas igrejas neopentecostais têm até meta financeira. Com um astronômico capital acumulado, fica fácil abrir novos templos e investir em propagandas de rádio, jornal, Web e TV.
O investimento de igrejas protestantes na compra de horários em canais de televisão para transmissão de cultos cresceu demais. Já houve quem dissesse que “a televisão atrai fiéis, enquanto o templo fideliza”.
“O presidente Jair Bolsonaro bateu o recorde de liberações de rádios comunitárias nesta década. Entre março e abril, ele enviou ao Congresso autorizações para o funcionamento de 440 estações comunitárias nos rincões e periferias do País [...] Muitos dos canais liberados por aquele governo têm indícios de atividades políticas.” (Correio Braziliense, 26/07/2020 15:32.)
Nos templos, sensacionalismos; quiméricos milagres (muitos deles, um verdadeiro teatro); falsas promessas, principalmente de enriquecimentos em pouquíssimo tempo (o que efetivamente não acontece). Tudo isso tem atraído uma multidão de aflitos esperançosos.
E quantas denominações há no Brasil, dentro desse segmento evangélico? Em caráter não oficial, já se falou em 35 mil, depois 50 e até 55 mil. Com essa variedade tão grande, o pretendente tem opções para seguir a denominação que quiser (melhor dizendo, que um parente ou amigo indica, impulsionado pela força midiática que está por detrás disto).
“De 17.033 templos evangélicos, em 1990, o Brasil passou a contar com 109.560, em 2019. Um aumento de 543%. Apenas em 2019, último ano do levantamento, 6.356 templos evangélicos foram abertos no Brasil — uma média de 17 por dia.” (Rone Carvalho, para a BBC).
O levantamento foi feito com base em dados do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) A pesquisa mostrou que o primeiro templo foi aberto em 1922. Em 1970, eram 864. Meio século depois, em 2019, havia quase 110 mil. (BBC.)
Uma projeção feita pelo demógrafo José Eustáquio Diniz Alves aponta que os evangélicos podem ultrapassar os católicos e ser maioria no Brasil na década de 2030. (BBC.)
Outro incentivo às igrejas é que elas são livres de impostos.
A linguagem simplificada é outro grande fator. Com isso, as pessoas tendem a entender, ou imaginam que entendem, o que parece difícil em outras igrejas. Isso também acaba por atrair pessoas mais jovens.
Enfim, a igreja é o espaço físico onde as pessoas vão se encontrar e em que o espírito de solidariedade e vivência comunitária possa acontecer. Muitos maridos não deixariam suas esposas sair para uma festa, um clube... Para ir a uma igreja, sim.
Por tudo isso, os fogos em louvor à Santa vêm diminuindo.
* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.
- Imagem: Divulgação.
- Produção: Pepe Chaves. |
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