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Rita Shimada

 

Fatos e números:

O Ciclo da Violência

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 35% das mulheres já sofreram violência física e/ou sexual, violência de parceiros íntimos ou violência sexual de não-parceiros íntimos durante suas vidas.

 

Por Rita Shimada Coelho*

De São Paulo-SP

Para Via Fanzine

1º/11/2020

 

 

O que muita gente não sabe é que o assassinato de mulheres é o último estágio de um ciclo de violência. O penúltimo são as agressões físicas.

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Se você acredita - seja homem ou mulher - que o tema Violência Doméstica é o novo "mimimi" da mulherada que quer "chamar a atenção", este artigo não é pra você.

 

Se você acha que o tema Violência Doméstica é mais uma invenção   das "feminases" (termo depreciativo para feministas), este artigo também não é pra você.

 

Os números das estatísticas não mentem e denunciam: as mulheres estão sendo exterminadas:

 

- Em abril de 2020, durante a pandemia, os casos de violência contra a mulher aumentaram 44,9%.

 

- O Brasil é o quinto país no ranking mundial de mortes violentas de mulheres.

 

- Três em cada cinco mulheres já sofreram violência em relacionamentos.

 

- De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 35% das mulheres já sofreram violência física e/ou sexual, violência de parceiros íntimos ou violência sexual de não-parceiros íntimos durante suas vidas.

 

A lista de dados, estatísticas, seja por cidade, estado, país ou em âmbito mundial é absurda: se trata de um verdadeiro extermínio contra a mulher.

 

O que muita gente não sabe é que o assassinato de mulheres é o último estágio de um ciclo de violência. O penúltimo são as agressões físicas. Para que chegue ao feminicídio, um longo processo de violência que perdura há anos já está ocorrendo. E em muitos casos, a mulher não se dá conta de que está dentro deste ciclo. Não é apenas desinformação: é a ausência de medidas socioeducativas para que a mulher possa detectar quando está de fato vivendo um ciclo de violência. Estas medidas, poderiam ser oferecidas em meio ao atendimento ginecológico, por exemplo, já que dentro do ciclo de violência está a violência moral e sexual.

 

A violência que é investida contra a mulher, não está no comportamento dela, nem em sua personalidade, embora ambos possam apontar - tanto no homem quanto na mulher - a incompatibilidade no relacionamento. Esta violência está dentro do homem e por diversas razões que exigem análise, acaba desencadeada contra a mulher.

 

Os resultados das análises não são justificativas para que homens agridam e assassinem mulheres, haja vista que, muitas mulheres sofreram ao longo da vida algum tipo de violência idêntica a que muitos homens já sofreram – inclusive, no seio familiar - e não agridem e assassinam homens.

 

A essência da mulher é maternal em todos os aspectos: ela acredita, confia, ela quer proteger, quer suprir, ela quer apoiar, quer motivar, ser amparo entre tantas outras virtudes femininas e o reflexo disto, pouquíssimas pessoas sabem, está nesta impressão que se tem de que ela deseja ser essencial, única e, isto se deve pelo seu esforço em sê-lo. A essência feminina muitas vezes é um véu que a impede de enxergar que a violência está acontecendo.

 

Quando o ciclo se inicia, não é imperceptível: aquela palavra arrogante, agressiva, mal-educada, chula, usada entre os diálogos não é apenas o princípio de incompatibilidade na relação, nem sinal de que acabou o respeito. Daí por diante, progressiva e sutilmente, vão se avançando os estágios do ciclo...

 

Neste momento em que há uma facilidade em utilizar termos depreciativos ou chulos, ocorre no inconsciente masculino uma segurança prazerosa... Como um vício, ele irá buscar mais desta sensação, e então, as palavras usadas nos diálogos se alteram até tornar-se depreciativas. Neste momento, o ciclo já está concretizado!

 

Conhecer todas as fases dentro do ciclo de violência seria um modo eficaz de evitar que chegue ao ponto da violência física ou do feminicídio, não fosse o homem, assim como um psicopata, dar um salto na mudança de seus comportamentos...

 

Quando a mulher se dá conta da violência psicológica, ela já está sofrendo a sexual, a patrimonial, intelectual e moral. Durante a progressão de todos estes estágios, impulsionada por sua natureza, ela criou em sua mente justificativas para o comportamento de seu parceiro. Ela acredita que ele está com problemas no trabalho, que se sente pressionado, que há muita carga sobre ele, que está apenas cansado, que está infeliz ,que está insatisfeito com ela... Insatisfeito com ela: ele sempre, em todos os estágios irá atribuir a ela a culpa por nada dar certo, pela infelicidade dele, por ele agir como age. A essência feminina é constituída de muita compreensão, paciência e tolerância com o homem: ela sempre irá acreditar que aquele comportamento tóxico é passageiro e continuará com o parceiro. Ao mesmo tempo, esta é a condição apropriada para que o ciclo se mantenha e evolua.

 

A mulher subjugada a esta situação desperta prazer ao homem, através da manipulação para a necessidade de reafirmar sua masculinidade e sua virilidade. A mulher crê que pode ajudar, que o homem irá mudar, que é só uma fase, mas, eles nunca mudam... Em um novo relacionamento, poderão aparentar serem tudo o que não foram para suas “ex”, até que surja um gatilho que desencadeie o antigo comportamento.

 

Ainda assim, se no meio deste processo a mulher se der conta do que ocorre e tentar sair desta situação, o homem irá dar um salto no processo, radicalizando seu comportamento. Descobrir-se no meio do ciclo da violência pode desencadear dois comportamentos no agressor:

 

- Ou ele se sentirá "descoberto", "pego" em suas reais intenções e abandonará fisicamente a mulher, não cortando qualquer tipo de vínculo que possa manter...

 

- Ou dará um salto no ciclo violento, partindo para a agressão física e o feminicídio.

 

Um defensor público disse a uma vítima: "- Dificilmente conseguiremos enquadrar seu ex marido na Lei Maria da Penha, porque, para o juiz, vocês são estranhos e ele não os conhece, não sabe como tudo procedeu... Não há provas físicas que comprovem a violência e não há como obter provas de violência psicológica...".

 

A mulher que tenta sair do ciclo de violência antes que ocorra as agressões físicas se vê desprotegida... A grande maioria dos profissionais que lidam com o atendimento a mulher não possuem aptidão, com exceção dos profissionais das Delegacias da Mulher.

 

A Justiça exige uma série de papéis, laudos, documentos que comprovem os outros tipos de violência, sendo, a condição de saúde e psicológica da mulher insuficientes. Os relatos, mesmo sempre tão ricos em detalhes que são bem convincentes, desde a depreciação a privação de liberdade, não são o bastante para que a mulher consiga uma medida protetiva ou o amparo da Lei Maria da Penha. Apenas a agressão física e o feminicídio são provas irrefutáveis da existência de violência. Toda privação a que se submeteu, toda humilhação, toda deficiência e limitação resultante, todos os anos subjugadas não são o bastante...

 

Algo que sempre faz parte dos relatos das vítimas de Violência Doméstica é a dificuldade - quase que colossal - de se libertar do agressor e conseguir segurança e amparo financeiro suficientes para que possam recomeçar suas vidas... Mulheres que viveram anos confinadas em seus relacionamentos, sem se desenvolver, sem profissão ou formação... Mulheres que acabaram debilitadas seja por agressão, seja por contaminação HIV ou outras doenças... Mulheres que perderam tudo e não tem para onde ir nem como se sustentar... Muitos agressores as perseguem, inconformados por serem rejeitados, sentindo-se "as vítimas", feridos em seus Egos e na masculinidade por perderem "seu saco de pancada", lembrando que, pancada nem sempre é física.

 

Vale lembrar que, é sim difícil sair deste ciclo porque, quando uma mulher decide reagir para quebrar o ciclo de violência, ela não apenas está enfrentando seu agressor: ela está enfrentando um sistema machista e do patriarcado que perdura há séculos! Cada vítima que enfrenta esta situação, então, é  mais que uma mulher que tenta alcançar uma vida plena e digna: é alguém que está mudando o rumo das mulheres na Sociedade Humana.

 

Se até aqui você desconfia ou se deu conta que está vivendo um ciclo de violência, há grupos que podem te auxiliar a ver com melhor clareza sua situação, como de Solange Pires Revorêdo, criadora do Grupo de Apoio à Mulher (GRAM), que há doze anos libertou-se do ciclo, vivendo todas as fases da violência. Após libertar-se e poder, enfim, recomeçar sua vida, suas histórias tem inspirado várias mulheres que são assistidas através de seu grupo. Através de seu trabalho, várias outras mulheres tem se libertado e alcançado a superação.

 

Nestes grupos, você recebe todo esclarecimento necessário, além de assistência psicológica e jurídica. Em caso de emergência, ligue 180 que é a Central de Ajuda a Mulher.

 

- Imagens: Reprodução.

 

- Extra:

   Entre em contato com o Grupo de Apoio à Mulher (GRAM).

 

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