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São Paulo:

A história da Senhora Aparecida das Águas

Uma imagem de terracota ‘aparecida nas águas’ viria influenciar a fé e a cultura católica, tornando-se sua padroeira nacional. Conheça a história dos pescadores que resgataram a imagem. O dia 12 de outubro é dedicado à Senhora de Aparecida.

 

 

Por Pepe Chaves*

Para Via Fanzine

DO ARQUIVO 2009

 

A rara imagem original da Senhora Aparecida, que atualmente se encontra sob a guarda do maior santuário religioso do mundo, que leva o seu nome.

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Enquanto o mundo experimentaria os fenômenos marianos de Lourdes (França) em 1858 e de Fátima (Portugal), somente em 1917, do outro lado do Atlântico, a Nossa Senhora Aparecida surgia em terras brasileiras no ano de 1717. Contudo, esta ocorrência, em realidade, não pode ser vista como um fenômeno de natureza mariana (aparições de Maria, mãe de Jesus), vez que não houve a presença de uma Senhora, como nos casos marianos, mas tratando então de uma imagem feminina modelada em argila, que teria sido encontrada ao acaso.

 

Os desígnios de “Aparecida” (a imagem surgida em um rio) remontam o Brasil escravagista. Segundo relatos históricos, a ocorrência se deu em meados do ano de 1717, quando do aparecimento de uma imagem de terracota (argila) retirada de um rio que, posteriormente, passou a ser cultuada por milhões de fiéis católicos, vindo a se tornar a santa “padroeira” do Brasil.

 

O acontecimento foi de grande impacto na religiosidade e na cultura brasileiras daquela época e, sobretudo, posteriormente, pois que, mesmo se tratando de uma desconhecida imagem modelada em terracota, teria sido encontrada casualmente sob as águas de um rio. Assim, a imagem foi adotada pela Igreja Católica da época e, como uma espécie de talismã de adoração, se tornou símbolo de amparo ao sofrido povo brasileiro.

 

A fé cega em Nossa Senhora Aparecida atravessou todas as latitudes do imenso país, vindo a santa de argila, a cair numa simpatia popular praticamente unânime àquela época, quando a Igreja Católica ainda possuía um séquito mais carismático e fervoroso que na atualidade, porém, evidentemente, de menor quantidade. No entanto, ressalta-se que ainda nos dias atuais, a Senhora Aparecida goza da simpatia e devoção da maior parte do povo brasileiro, especialmente os católicos. Numa manifestação unânime e tradicional, geralmente, se faz no dia da santa, 12 de outubro, quando as 12h, uma vasta queima de fogos de artifício em praticamente todas as cidades do país.

 

APARECIDA DAS ÁGUAS - A história de Aparecida teve inicio no longínquo ano de 1717, com uma viagem do Conde de Assumar, D. Pedro de Almeida e Portugal, à época, governador das províncias de São Paulo e Minas Gerais. O Conde estaria de passagem pela Vila de Guaratinguetá, interior paulista, com destino à Villa Rica, atual município de Ouro Preto, Minas Gerais.

 

Para bem alimentar a autoridade viajante quando de sua passagem na região, a Câmara de Guaratinguetá contratou os pescadores Domingos Garcia, Filipe Pedroso e João Alves para buscarem peixes no Rio Paraíba. Assim, os três pescadores desceram aquele rio farto e piscoso. Após algum tempo, a pescaria se fazia infrutífera, até que chegaram ao Porto Itaguaçu.

 

Naquele local, João Alves, ao lançar sua rede nas águas, recolheu o corpo de uma imagem de argila, que afirmaram se tratar de Nossa Senhora da Conceição, porém a peça faltava a cabeça. Mas, ao lançar novamente a rede, o pescador apanhou a cabeça faltante dessa mesma imagem. Narra a história que, após encontrarem a imagem, a pesca logrou êxito e os peixes caíram em abundância nas redes daqueles pescadores paulistas.

 

Eles retornaram com a imagem, juntaram as duas peças em apenas uma e difundiram aquela história entre o povo, chamando a atenção da Igreja Católica para o achado. Durante 15 anos seguidos, a imagem que ficou conhecida como sendo de Nossa Senhora “Aparecida” (assim denominada por ser a ‘Aparecida das Águas’) permaneceu sob a guarda da família do pescador Felipe Pedroso, que a levou para casa, onde a vizinhança criou o costume se reunir para rezar em torno da peça. Percebendo o interesse da população pelo achado e observando a força mítica de Aparecida, a Igreja Católica romana mais uma vez abraçou um caso popular, enquadrando-o em seus “dogmas de fé” e estabeleceu sua versão para a natureza da “santa imagem” de Aparecida - no caso, uma manifestação de Maria, mãe de Jesus.

 

Na época, a propagação do achado e seus pretensos milagres de cura repercutiram em terras distantes e vieram acentuar a fidelidade dos súditos católicos espalhados pelo mundo. A imagem e o caso que a envolve foram reconhecidos pelo Vaticano como fenômenos de natureza divina, porém, a igreja coloca o caso como "dogma de fé" particular dos fiéis cristãos - ou seja, a igreja deixa aos critérios de cada fiel, o livre entendimento do dito fenômeno católico.

 

DEVOÇÃO À IMAGEM - E de forma constante, a história continuou se propagando por outras plagas, passando a atrair o interesse crescente de mais e mais pessoas, com isso, a devoção foi se elevando em meio às graças alcançadas por aqueles fiéis que rezavam diante à imagem aparecida. Desta forma, ainda naquela época, quando havia parcos e lentos meios de comunicação, a fama dos poderes de Nossa Senhora Aparecida foi rompendo fronteiras nacionais e alcançando outros continentes, após ter se espalhando por todas as regiões do Brasil.

 

A história dita que, em 1734, o Vigário de Guaratinguetá construiu uma capela no alto do Morro dos Coqueiros, que no dia 26 de julho de 1745 foi aberta à visitação pública. Mas, a cada ano, ao se consagrar a santa, assustadoramente, a quantidade de fiéis aumentava, extravasando a capacidade da pequena capela. E assim, para atender a essa demanda, um século depois, em 1834 foi iniciada a construção de uma igreja maior - a atual Basílica Velha.

 

O local do achado, então uma pequena vila, ganhou o nome de “Aparecida do Norte”. Sua comunidade recebeu no ano de 1894, um grupo de padres e irmãos católicos da Congregação dos Missionários Redentoristas. Eles foram devidamente treinados para atender aos romeiros que “acorriam-se aos pés da Virgem Maria para rezar com a Senhora ‘Aparecida’ das águas”, conforme narra o Santuário Nacional.

 

Em 08 de setembro de 1904, a imagem chamada pela igreja de ‘Nossa Senhora da Conceição Aparecida’ foi coroada, solenemente, pelo bispo católico Dom José Camargo Barros e no dia 29 de abril de 1908, aquela igreja recebeu o título de Basílica Menor.

 

Basílica de Aparecida do Norte - Santuário Nacional

 

PADROEIRA DO BRASIL - No dia 17 de dezembro de 1928, a vila que se formara ao redor da igreja no alto do Morro dos Coqueiros tornou-se oficialmente município autônomo de Aparecida do Norte. Em 1929, por determinação do Papa Pio XI, a Nossa Senhora foi proclamada como “Rainha do Brasil e sua padroeira oficial”.

 

E com o passar do tempo, a primeira Basílica tornou-se novamente pequena por conta da expansão dos fiéis e por iniciativa dos missionários redentoristas e dos bispos católicos, teve início em 11 de novembro de 1955, a construção de uma outra igreja, a atual Basílica Nova. Quando da visita do papa João Paulo II ao Brasil, em 1980, a mesma foi consagrada pela santidade clerical e recebeu o título de “Basílica Menor”. Em 1984, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) declarou oficialmente a Basílica de Aparecida como Santuário Nacional e "maior Santuário Mariano do mundo".

 

Com o passar dos tempos, Aparecida do Norte tornou-se um município autônomo e numa espécie de "Meca" do catolicismo brasileiro, abrigando também, uma verdadeira zona mercantilista, montada em torno da Santa. São comercializadas mercadorias variadas, fartamente adquiridas pelos fiéis, tais como, imagens da santa Aparecida em todos os tamanhos, objetos de adoração e utensílios temáticos. O forte comércio em Aparecida do Norte vem potencializar o turismo e a economia de toda aquela região. Muito depois do achado, a imagem ganhou um manto com a bandeira do Brasil e uma coroa dourada.

 

O estranho surgimento da imagem de Aparecida, pescada em dois lances de rede, sugere aos seus pesquisadores, diversas hipóteses, incluindo àquela que – como crê a Igreja Católica - alguma forma de inteligência consciente ou “santa” estaria submersa no rio, repassando aos pescadores aquele objeto de arte dividido em duas partes. Esta seria uma espécie de contato através de um sinal: o envio aos homens de uma imagem de argila, que mais tarde seria cultuada de forma a acentuar e “sofisticar” a fé das pessoas daquele tempo, como também em um futuro distante. Mais que um simples objeto artístico, aquela imagem estaria destinada a se tornar um objeto de culto, de fé pessoal e ícone catalisador dos anseios e sofrimentos de praticamente toda uma nação.

 

SANTA NEGRA - Cabe registrar que, durante o processo secular de difusão da Nossa Senhora Aparecida, surgiu um leque de distorções da realidade, além de determinadas mitificações ocorridas de maneira natural ou cultural. Dentre elas, encontra-se a sugestão de que a cor da pele da Senhora Aparecida – a ‘santa brasileira’ - fosse vista como da raça negra, criando assim, o que seria a primeira santa da cútis escura na Igreja Católica.

 

No entanto, devemos lembrar que esta afirmação, tão propagada e absorvida de maneira errônea pela maioria da sociedade brasileira, se faz por meio de uma aparição não física (diferentemente das alegadas aparições marianas), mas sim, através de constatação do aspecto de uma imagem modelada em barro.

 

Em verdade, a cor escura da pele da santa retratada na imagem, trata-se de efeito natural da própria matéria usada para se esculpir aquela estátua, tanto que as vestes da imagem são da mesma cor da pele. Portanto, nunca se teve notícia que existiu em vida, uma Senhora "aparecida" semelhante à imagem e, muito menos ainda, sabe-se qual seria a cor de sua pele. É necessário acrescentar, portanto, que a ideia de Aparecida ser uma “santa negra” se propagou popularmente, pelo fato de a imagem apresentar pigmentação escura e pelas fortes influências da cultura afro na religiosidade brasileira.

 

'DOGMAS DE FÉ' - As aparições marianas, assim como a crença na Nossa Senhora Aparecida, são classificadas pela Igreja Católica como sendo “dogmas de fé”, ou seja, nestes casos, a igreja não impõe estas supostas ocorrências como fatos reais que devam ser seguidos por seus fiéis, mas os deixam livres para crerem ou não em alegados fenômenos de suposta natureza desconhecida.

 

Desta forma a igreja pode fortalecer seu arsenal santificador, sem ter que exigir qualquer coerência de seu séquito e, por outro lado, não necessita também de prestar contas ao mundo científico acerca de tais fenômenos, já que os mesmos consistiriam em "dogmas de fé".

 

* Pepe Chaves é editor do jornal eletrônico Via Fanzine e da ZINESFERA.

 

- Com informações do Santuário Nacional de Aparecida.

 

- Imagens: Santuário Nacional -Aparecida do Norte-SP.

 

 - Para ler mais sobre Aparições Marianas:

   As aparições da Senhora de Lourdes/França

   A 'Santa' da Gruta de Lourdes em Itaúna-MG     

 

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- Produção: Pepe Chaves.

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