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 artigos

 

 

Denúncias e fatos:

Discurso da imoralidade

Dirceu é um homem de negócios que gosta de ser chamado de ministro e mantém

uma espécie de gabinete em hotel de Brasília por onde transitam figurões como ministros,

senadores, deputados, presidentes de estatais e magnatas da chamada elite capitalista.

 

 Por Maria Lúcia Victor Barbosa*

De Londrina-PR

20/11/2011

 

Não é à-toa que a classe dirigente petista odeia a liberdade de pensamento que inclui a imprensa livre, aquela que dá azia em Lula da Silva. Incomoda aos outrora defensores da ética o escancaramento da corrupção dos companheiros e de seus sócios em falcatruas, ou seja, da base aliada.

 

Exemplos de imprensa “inconveniente” não têm faltado, a ponto de se pensar que o Brasil está sendo governado por um sindicato do crime onde larápios do povo se esparramam pelos Três Poderes, refestelados na impunidade que lhe é facultada por não serem “pessoas comuns”.

 

Recorde-se, para citar um exemplo, a reportagem da Veja (31/08/2011) que trata de um dos mentores do PT, o ex-ministro, deputado cassado, chefe da quadrilha do mensalão (como a ele se referiu um Procurador-Geral da República), homem de duas caras, José Dirceu.

 

Segundo a Veja, Dirceu é um homem de negócios que gosta de ser chamado de ministro e mantém uma espécie de gabinete em hotel de Brasília por onde transitam figurões como ministros, senadores, deputados, presidentes de estatais e magnatas da chamada elite capitalista. Todos devidamente fotografados pela revista para que não reste dúvida sobre os bons relacionamentos de José Dirceu junto à classe A da economia e da política.

 

A romaria vai em busca da influência que Dirceu ainda mantém no Congresso, no Judiciário, nas estatais, nos bancos públicos, nos fundos de pensão, na telefonia, nas empreiteiras, nos bancos particulares. Dirceu é, pois, um “cardeal” da seita PT e seus “amigos” nacionais e internacionais contam com o sigilo da confissão e o charme do mistério que envolve os “interesses”. Portanto, Dirceu continua íntimo dos que ele chama no pior sentido de “elites”. Afinal, é “consultor de empresas”, entre outras, as do setor do petróleo e gás.

 

No seu partido José Dirceu exerce enorme fascínio. Se não ultrapassa Lula da Silva, pelo menos é a segunda estrela fulgurante a ser seguida e adorada. E como tal que fez sucesso no 2º Congresso da Juventude do PT realizado recentemente.

 

No evento Dirceu proferiu o discurso da imoralidade criticando a “luta moralista contra a corrupção”. Ele se referia aos movimentos espontâneos, que das redes sociais acorrem às ruas e às denúncias da imprensa não cooptada pelo governo petista.

 

O poderoso homem do PT fez bonito para a juventude dourada petista, devidamente doutrinada para crer que moral é coisa de burguês. Algo que não deixa de soar delicioso porque abre as comportas da roubalheira oficial aos companheiros. Não importa se o povo é lesado pela conduta criminosa dos ministros que têm caído sob o peso de documentos, fotos, depoimentos.

 

Antigamente o PT dizia ser o defensor dos pobres e oprimidos, que são os mais prejudicados pelos ministros corruptos de Lula/ Rousseff, incluindo Carlos Lupi, do Trabalho, que se agarra vergonhosamente ao cargo. Um péssimo exemplo para a juventude, mas, como ensinou a presidente no discurso do cinismo: “passado é passado”.

 

Não podia faltar também da parte do misto de lobista e guru do PT o discurso contra as elites. Aquelas que sustentam as campanhas petistas e que devem lhe dar, assim como a muitos companheiros, lucros nada desprezíveis. E os jovens petistas, deslumbrados, agraciaram o ídolo com uma camiseta onde se lia: “Contra o golpe das elites – Inocente”.

 

O golpe das elites, teoria da conspiração forjada por Dirceu produz aquela excitação aos que se julgam superiores por conhecer certos segredos inacessíveis ao vulgo, aquele prazer de denegrir quem se deseja atingir. Desse modo são forjados mitos que prevalecem como verdades inquestionáveis por mais idiotas que sejam. Ou, então, vingam-se recalques contra os melhores, pois a inveja é sentimento intrínseco ao ser humano. Exemplo: os Estados Unidos são o grande Satã Branco. Os judeus matam criancinhas em seus rituais e querem dominar o mundo. O holocausto não existiu.

 

No seu discurso da imoralidade Dirceu não podia deixar de mencionar o PSDB. Estranha obsessão contra um partido que, com exceção de alguns de seus políticos nunca foi oposição ao PT. Mas, contra o PSDB Dirceu foi moralista ao sentenciar: “Quando dizem que tem de responsabilizar o ministro e o partido por problemas no ministério, então, tem que se responsabilizar o PSDB, o Geraldo Alckmin e o José Serra pelo escândalo das emendas (?) em São Paulo”. Nessa toada tem que se responsabilizar Lula e seu partido pelos inúmeros escândalos de corrupção de seus ministros. O mesmo serve para Rousseff se não fizer uma faxina de verdade.

 

Lembre-se, porém, Dirceu, que dentro de todo ser humano existe a capacidade de diferenciar o bem e o mal, independente da época e da sociedade. Por isso, até o mais cínico e hipócrita dos ministros de Lula repassados a Rousseff oculta seus atos corruptos ou trata de mentir sobre eles porque sabe que pode ser jugado, não pela burguesia moralista, mas pela opinião pública.

 

* Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.

mlucia@sercomtel.com.br

www.maluvibar.blogspot.com

 

- Leia outros artigos de Maria Lucia Victor Barbosa:

   http://www.viafanzine.jor.br/site_vf/pag/1/artigos2.htm

  http://www.viafanzine.jor.br/site_vf/pag/1/artigos.htm

 

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Belo Horizonte:

Prefeitura e BH Trans acertam na escolha do modelo BTR

é fundamental que exista um transporte suplementar integrado ao BRT, com o mesmo conforto,

para fazer a integração das linhas com as várias regiões que não são atendidas pelo BRT ainda.  

 

 

* José Aparecido Ribeiro

De Belo Horizonte-MG

Para Via Fanzine

 

A Prefeitura dá um importante passo para a melhoria do transporte coletivo da Capital. Não é o ideal ainda, pois o que a população clama é por um sistema de metrô eficiente que ligue as várias regiões da Cidade. Contudo, o BRT já pode ser considerado um avanço, já que o custo de implantação cabe no orçamento da PBH. O sistema funciona bem em várias cidades do mundo com destaque para Seoul, que tem o modelo mais eficiente e avançado, Bogotá, que é inspirado no modelo de Curitiba, Santiago e Cidade do México, que são conhecidos como “Bus metrô” e são bastante eficientes.

 

O modelo escolhido pela BH Trans considerou o clima da cidade e só por isso, já podemos considerar uma grande vitória para os usuários (ar condicionado e exaustão). Quem precisa deixar o carro em casa para usar o transporte leva em conta principalmente o conforto, detalhe que os ônibus convencionais não contemplam e por isso não são usados por quem deveria (proprietários de veículos e motos). Outro detalhe importantíssimo é que o IPK,  índice que mede o custo do KM rodado não foi alterado, já que uma composição terá o mesmo custo de dois ônibus convencionais, (600 mil reais aproximadamente) carregando a mesma quantidade de passageiros, sem alterar a tarifa.

 

Para que funcione em sua plenitude, atendendo ao público que precisa mudar de hábito, substituindo o transporte privado pelo coletivo a Prefeitura terá que pensar em espaços para estacionamentos de modo que os usuários possam deixar os carros em locais estratégico próximos ás estações, com segurança e a baixo custo, pela manhã, retornando à tarde e incentivando assim o uso do BRT. É importante também uma campanha que reative a carona solidária, em sistema de rodízio, como foi feita na crise do petróleo da década de 70.  São medidas relativamente simples cujo o impacto pode ajudar para que o BRT cumpra a sua tarefa de tirar carros da rua.

 

Além disso é fundamental que exista um transporte suplementar integrado ao BRT, com o mesmo conforto, para fazer a integração das linhas com as várias regiões que não são atendidas pelo BRT ainda.   A sugestão é que se crie o micro-ônibus executivos pára atender a região da Savassi, Funcionários, Lourdes, Santo Agostinho, Barro Preto, Região Hospitalar e Belvedere, locais com grande concentração de escritórios e onde o transito está cada vez mais complicado. Por hora, a Prefeitura e a BH Trans merecem nosso aplauso pela escolha do modelo do BRT e por buscar alternativas criativas até que o metrô saia do papel para resolver definitivamente o caos do transito e do transporte coletivo da Capital.

 

* José Aparecido Ribeiro é especialista em transito, transporte e assuntos urbanos e membro da ONG SOS Mobilidade Urbana.

 

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Rio:

Um dia que mudou a história

Marginais sentiam-se protegidos e pouco propensos a agir fora de seu hábitat protetor.

 

Por Nelson F. Düring*

 

As imagens de centenas de combatentes batendo em retirada da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, irromperam nas telas dos noticiários desta quinta-feira. São os membros de um grupamento criminoso que finalmente emerge das sombras. Nunca quantificados e tratados sob um manto de mistério e complacência, a visão destes grupos configura a de um verdadeiro exército irregular, pois não são organizados como tal.

 

Sempre contaram com a falta de disposição das autoridades de autorizar a subida das forças policiais e tropas e tinham a certeza de que essa ação implicaria em um novo curso nas ações.

 

Os marginais sentiam-se protegidos e pouco propensos a agir fora de seu hábitat protetor e a introduzirem novas formas de combate.

 

Observar aquelas centenas de jovens correndo descalços e sem camisa, mas carregando seu fuzil FAL ou AR-15, disparou o alarme. Um alerta muito além de uma simples ação policial ou de criminosos procurando refúgio. No Iraque, foram necessários dezenas de milhares de soldados e de forças especiais para conseguirem finalmente dominar Bagdá.

 

A grande certeza é de que nem os membros deste exército conheciam sua força e número. Ontem, o Brasil conheceu, e tenho a convicção de que é um dia que mudou a história.

 

A ironia é que parte das favelas se iniciou com combatentes das campanhas de Canudos. E, como Canudos, quantas campanhas serão necessárias?

 

* Nelson F. Düring é editor-chefe do portal Defesanet.

 

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Crime confesso na internet:

'Estuprar está na moda'

“Todos somos iguais perante a lei, mas não perante os encarregados de fazê-las cumprir”.

(Stanisław Jerzy Lec)

 

Por Hiram Reis e Silva*

De Porto Alegre-RS

Para Via Fanzine

 

Imagem ilustrativa

 

Publico, chocado, alguns comentários sobre o bárbaro crime perpetrado por filhos de poderosos membros da sociedade que só foi trazido à mídia graças à rivalidade existente entre a TV RECORD e RBS. O poder econômico, mais uma vez, tenta amordaçar a mídia e deixar impunes os criminosos. O delinquente não está absolutamente arrependido do crime cometido e se vangloria, pela internet, dizendo que “estuprar está na moda”, e confiando, que graças ao poder econômico da família, ele ficará impune.

 

Veja os links abaixo: 

http://www.youtube.com/watch?v=NN9RIyu8_yo 

http://www.youtube.com/watch?v=_x7gbfNEsys&feature=related

 

- Domingo Espetacular Denuncia:

Filho de Diretor da RBS Por Envolvimento Em Caso de Estupro

 

Rádio de Verdade - 4 de julho de 2010

 

“O Domingo Espetacular, da Rede Record, denunciou hoje um caso que está sendo abafado há mais de 40 dias em Florianópolis (Santa Catarina). Trata-se de um caso de estupro de uma menina de 14 anos. Entre os envolvidos está S.O.S., filho de um diretor da RBS, cuja TV é afiliada da Rede Globo de Televisão.

 

Outro dos três envolvidos é B.M., filho de um importante delegado da capital catarinense.

 

A família é uma das mais conhecidas e ricas do Sul do país e tem feito de tudo para abafar o escândalo. É curioso como um delegado de polícia civil é corporativista, a ponto de colocar em xeque a versão da vítima e a configuração de um estupro. A vítima de 14 anos afirma que caiu no famoso golpe do ‘boa noite, cinderela’.

 

Seja por rivalidade nacional em produção de conteúdo com a Globo, ou seja, por interesse jornalístico de um caso que está escandalizando a cidade de Florianópolis, o fato é que o Domingo Espetacular vem fazendo justiça ao nome que tem. Um golaço!”

 

http://radiodeverdade.com/blog/2010/07/04/domingo-espetacular-denuncia-filho-de-diretor-da-rbs-por-envolvimento-em-caso-de-estupro/

 

- Adolescente Confessa Estupro Pela Internet

 

Do R7, com Rede Record - Jovem de 14 anos afirmou ter estuprado adolescente de 13 anos

publicado em 05/07/2010

 

“A troca de mensagens em um site de relacionamento da internet entre dois adolescentes trouxe à tona o estupro de uma menina de 13 anos, em Florianópolis, Santa Catarina. O crime aconteceu há 40 dias, mas a confissão do jovem de 14 anos, suspeito de ser um dos estupradores, foi o estopim para a história se espalhar pela cidade.

  

O jovem, que confirmou o estupro pela internet, é filho de Sérgio Sirotsky, diretor da RBS (Rede Brasil Sul de Comunicação), que controla jornais, rádios e as emissoras de tevê afiliadas da Rede Globo em Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Além dele, outros dois adolescentes, um filho de um delegado da cidade e outro não identificado também teriam participado do estupro.

 

A reportagem da Rede Record entrou em contato com a assessoria da RBS, mas foi informada de que Sirotsky não vai se pronunciar sobre o assunto.

 

Em depoimento à polícia, a menor estuprada disse que foi ao apartamento do filho de Sirotsky no início da noite. No local, ela e dois adolescentes começaram a beber. A jovem confirmou que bebeu vodka e que depois não se lembra de mais nada. Ela suspeita que os amigos colocaram algum sonífero em sua bebida. O estupro teria acontecido no quarto do jovem com a menina inconsciente.

 

As investigações foram encerradas na semana passada e encaminhadas à Justiça. A delegada que cuidou do caso preferiu não fazer declarações.

 

O criminalista Marcos Soares disse que a pena para este tipo de delito cometido por adolescente é elevada.

 

- Não é uma pena, mas uma medida sócio-educativa, que deverá ser uma internação de no máximo três anos.

 

Os diálogos

 

Na conversa com o amigo pela internet, além de confirmar a agressão, o filho de Sirotsky ainda faz ameaças. Perguntado pelo colega se ‘estuprar está na moda’, o adolescente usa uma expressão vulgar e dá a entender que faz isso com quem quiser.

 

Durante a conversa, ele é questionado se não tem medo de ser preso. Certo da impunidade, o filho de Sirotsky diz: ‘tu tá zoando’, ou seja, faz pouco caso da Justiça Brasileira”.

 

* Hiram Reis e Silva é coronel de Engenharia, professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA), acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB) e presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS).

Seu site é www.amazoniaenossaselva.com.br.

Contato: hiramrs@terra.com.br

 

- Leia também:  Mães denunciam estupro, enquanto mídia se cala

 

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Bolívia:

Opúsculo de bons princípios

Não fosse a valentia das comunidades indígenas bolivianas, que sofreram saques

 irreversíveis de sua cultura e território, os poucos departamentos onde vigoram governos

opositores fariam triunfar seus planos opressores e subordinados ao capitalismo neoliberal.

 

Por Bruno Peron Loureiro*

De São Paulo-SP

Para Via Fanzine

 

A Bolívia tem sido construída por um povo merecedor e perseverante. Constroem-se nações modernas em entrelaçamento com o tradicional na América Latina. O reconhecimento deste processo se deve a que há muito mais que o termo "modernidade" esconde na história destes países, como as cosmovisões de centenas de etnias indígenas.

 

Infelizmente os detratores do presidente boliviano Evo Morales são muitos, mas logo o projeto plurinacional reitera o compromisso com a diversidade cultural no país. Por isso o argumento de vizinhos não vai além, por exemplo, do ressentimento pela nacionalização da Petróleo Brasileiro S/A (Petrobrás) na Bolívia.

 

Ainda que a intenção oficial seja a de resgatar a dívida histórica mal paga - e impossível de quitar completamente devido ao nível de truculência - aos indígenas, há enormes resistências de detentores de porções amplas de terras e meios de comunicação.

 

O grande plano de governo de Evo Morales destoa dos ideais liberais e modernos - dogmáticos diga-se de passagem - porque sua ambição é a batalha pelos princípios da participação e a soberania populares, e a equidade de gênero, para mencionar alguns.

 

A Bolívia assiste ao recrudescimento de um modelo de "democracia intercultural", que transcende o da democracia representativa e o fetiche do voto e dos partidos diz-que representantes do interesse popular. Nem mesmo o uso de urnas eletrônicas, que se poderia confundir com avanço da democracia, é capaz de provar o fervor político de uma nação.

 

Três formas complementares de democracia desenvolvem-se na Bolívia: a direta e participativa; a representativa; e a comunitária. As impressões essenciais do governo de Morales são o reconhecimento das organizações políticas e do povo indígena na intermediação política.

 

Não fosse a valentia das comunidades indígenas bolivianas, que sofreram saques irreversíveis de sua cultura e território, os poucos departamentos onde vigoram governos opositores fariam triunfar seus planos opressores e subordinados ao capitalismo neoliberal.

 

O referendo nacional de janeiro de 2009 na Bolívia, que aprovou uma nova Constituição Política de Estado, concretizou a suspeita de que o país tivesse eleito um estadista efetivamente preocupado com as causas populares e indígenas. A nação dispôs-se a mudanças.

 

A transição à democracia, cujo processo foi vivido por vários outros países latino-americanos maculados por regimes autoritários, não é o último desafio histórico da Bolívia, que se prepara para um novo salto. As políticas reformistas prepararam sua própria tumba.

 

Desta vez, a Bolívia caminha para uma "democracia intercultural", melhor qualidade da representação política, maior reconhecimento de direitos cidadãos, e consolidação de uma instituição eleitoral independente.

 

A Lei do Órgão Eleitoral Plurinacional, de Regime Eleitoral, do Órgão Judicial, do Tribunal Constitucional Plurinacional e a de Marco de Autonomias e Descentralização são cinco leis orgânicas que têm o prazo de 180 dias para aprovação ou até 22 de julho de 2010.

 

Cogita-se a transformação do Órgão Eleitoral Plurinacional no quarto poder do Estado ao lado do Executivo, Legislativo e Judiciário. O projeto de lei do OEP visa a normatizar o sistema eleitoral.

 

Entre outras prerrogativas, o projeto confere maior poder ao OEP, que poderia, entre outras atribuições, regular os espaços e tempos de propaganda partidária nos meios de comunicação. Existe ainda a previsão de mudança da Corte Nacional Eleitoral pelo Tribunal Supremo Eleitoral, e de estabelecimento dos Tribunais Eleitorais Departamentais.

 

O cenário político ebule na Bolívia, enquanto evapora o plano de retomada de poder por grupos oligárquicos, que exibem táticas cada vez mais descabidas. É a vez das camadas populares. Já se previa que um povo digno não cederia à farra ocidental modernizante.

 

Afinal, há os que se entregam com facilidade a qualquer ideia elegante mas impostora, enquanto outros não cedem com facilidade tudo aquilo que eles mesmos e seus ancestrais consquistaram com muito suor, como os costumes.

 

A lição do estadista Evo Morales é de que um povo heroico trace um objetivo com base no que tiver de mais valioso. A crença em si mesmo é ponto de partida. A luta é condição necessária. A realização é consequência natural.

 

* Bruno Peron Loureiro é articulista. Seu site é http://www.brunoperon.com.br.

 

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Che Guevara:

O 'Porco Fedorento' de Dilma

"El odio como factor de lucha; el odio intransigente al enemigo, que impulsa más allá de las limitaciones naturales

 del ser humano y lo convierte en una efectiva, violenta, selectiva y fría máquina de matar. Nuestros soldados

tienen que ser así; un pueblo sin odio no puede triunfar sobre un enemigo brutal. Hay que llevar la guerra hasta

donde el enemigo la lleve: a su casa, a sus lugares de diversión; hacerla total.”

(Ernesto Guevara de la Serna)

 

Por Hiram Reis e Silva*

De Porto Alegre-RS

Para Via Fanzine

 

 

Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 26 de abril de 2010.

 

A notícia vinculada pelo jornalista Reinaldo Azevedo da Revista Veja mostra qual o exemplo de liderança que pauta o compromisso de campanha da candidata do PT à presidência da República. Alguma surpresa? O que esperar de uma cruel terrorista que participou do assassinato do capitão americano Charles Rodney Chandler, do assalto ao 4º RI, ao Banco Mercantil AS e à casa da amante do ex-governador Adhemar de Barros que rendeu à guerrilheira US$ 2,4 milhões.

 

- Campanha de Dilma

 

Reinaldo Azevedo - 25 de abril de 2010

 

“Campanha de Dilma convoca os jovens na internet em nome deste herói. Pais protejam seus filhos!”

 

“O PT decidiu usar a imagem do assassino Che Guevara para, segundo consta, atrair os jovens eleitores para a campanha de Dilma Rousseff. O Porco Fedorento é apresentado como sinônimo de idealismo. Então tá bom…”.

 

Che, evidentemente, é co-responsável pelos milhares de mortes da ‘revolução’ cubana: 17 mil execuções e mais de 80 mil tentando fugir da ilha. Mas Há aqueles que ele matou pessoalmente, puxando mesmo o gatilho, e também os que foram executados sob a sua ordem direta. O Porco Fedorento sabia ainda ser um poeta da morte. A campanha de Dilma Rousseff está convidando os jovens brasileiros a participar dessa metafísica moral! Leiam:

 

“Acabei com o problema dando-lhe um tiro com uma pistola calibre 32 no lado direito do crânio, com o orifício de saída no (lobo) temporal direito. Ele arquejou um pouco e estava morto. Ao tratar de retirar seus pertences, não consegui soltar o relógio”.

 

É trecho do diário de Che! Que estilo! Que graça narrativa! Que assassinato ético! Que execução pudorosa! Séculos de humanismo resumidos num único tiro! Que sensibilidade! Quanta graça para ‘acabar com um problema’! Um verdadeiro herói! E ainda roubava o morto!!! Que precisão técnica tinha o quase-médico ao descrever a trajetória da bala que ele mesmo fizera perfurar o crânio do outro! A vítima ‘arquejou um pouco’. O porco só conseguia tratar homens como porcos”.

 

- O Porco Che Guevara

 

Ernesto Guevara Lynch de la Serna, filho de Ernesto Guevara Lynch e Célia de la Serna, conhecido por Che Guevara ou El Che, nasceu em Rosário, Argentina, no dia 14 de maio de 1928, embora em sua certidão esteja registrado como 14 de junho.

 

Em 1955, juntou-se aos revolucionários liderados por Fidel Castro, no México, onde foi adestrado nas técnicas de guerrilha. No ano seguinte, participou do contingente de revolucionários que desembarcou em Cuba. El Che chegou a Havana em 1959 já como um mito. Fidel, imediatamente, o designou para chefiar “La Cabaña”.

 

 - El carnicero de La Cabaña

 

Jamais se saberá, exatamente, o número de execuções levadas a cabo durante o período revolucionário. María Werlau, Diretora Executiva do Arquivo Cubano, afirmou: “No lo sé, cien mil... doscientos mil ...”. Como procurador-geral, El Che comandou a “Prisão Fortaleza de San Carlos de La Cabaña”, onde, somente nos primeiros meses da revolução, ocorreram 120 fuzilamentos. Che considerava que: “As execuções são uma necessidade para o Povo de Cuba, e um dever imposto por esse mesmo Povo”.

 

“El Che nunca trató de ocultar su crueldad, por el contrario, entre más se le pedía compasión más él se mostraba cruel. El estaba completamente dedicado a su utopía. La revolución le exigía que hubiera muertos, él mataba; ella le pedía que mintiera, él mentía. En La Cabaña, cuando las familias iban a visitar a sus parientes, Guevara, en el colmo del sadismo, llegaba a exigirles que pasaran delante del paredón manchado de sangre fresca”.

(Padre Javier Arzuaga, Ex-Capelão da Cabaña)

 

El Che comandava os fuzilamentos no “paredão”, sendo conhecido, por isso, pelo codinome de “el carnicero de la cabaña”. Dirigiu pessoalmente os processos contra os representantes do regime deposto, condenando à morte mais de 4.000 pessoas. Na “Cabaña”, havia inimigos políticos e inocentes, mas Che mandava executar a todos. Seu lema era: “Ante la duda, mata”, lema que chegou a aplicar, inclusive, a antigos companheiros de armas.

 

- Guanahacabibes: campo de trabalhos forçados

 

Che foi o idealizador do primeiro acampamento de trabalhos forçados, em Guanahacabibes, Cuba ocidental, em 1960. Che dizia: “à Guanahacabibes são mandadas as pessoas que não devem ir para a prisão. As pessoas que tenham cometido faltas à moral revolucionária. É um trabalho duro, não um trabalho bestial".

 

Guanahacabibes foi o precursor do confinamento sistemático, a partir de 1965 na província de Camagüey, de dissidentes, homossexuais, católicos, testemunhas de Jeová e outras ‘escórias’, como eram considerados pelos revolucionários. Os ‘desadaptados’ eram transportados para os campos de concentração que tinham como modelo Guanahacabibes onde, via de regra, eram mortos, violentados ou mutilados.

 

- As faces de CHE

 

Alberto Korda imortalizou em 5 de março de 1960, na sua foto mais famosa, o rosto de Che. Sua aparência, de 1956 a 1964, mudou tanto quanto seu nome. Foi conhecido como Ernestito, Teté, Pelao, Chancho, Fuser, Furibundo, Serna, Martín Fierro, Franco-atirador e outros tantos que adotou antes de chegar à Guatemala, onde o cubano Antonio Ñico López o batizou de “Che”.

 

Fidel Castro enviou Luis García Gutiérrez “Fisín” a Praga, onde Che se encontrava, e o dentista alterou o rosto de Che fazendo uso de próteses dentárias. As mudanças fisionômicas foram tais que nem mesmo os homens que tinham lutado com Guevara em Cuba e seus filhos, então muito pequenos, o reconheceram. Che usava lentes, ligeiramente obeso, cabeça raspada, uma figura diversa do Guevara que conheciam. Os registros de seu diário de 12 de novembro de 1966 afirmam: “Meu cabelo está crescendo, apesar de muito ralo, e as mechas que se tornaram loiras, começam a desaparecer; me nasce a barba. Dentro de poucos meses, voltarei a ser eu”.

 

- Con su muerte, murió el hombre y nació la farsa

 

“Se evoca siempre su trágico final, asesinado cuando ya se había rendido, después de fracasar en un intento guerrillero que lo llevó hasta las selvas bolivianas al frente de un puñado de hombres”.

 

Sob o comando de Guevara, 49 jovens inexperientes recrutas, que haviam sido mobilizados para expulsar os invasores cubanos, foram emboscados e mortos.

 

“Não disparem. Sou Che. Valho mais vivo do que morto”, gritou um guerrilheiro maltrapilho e imundo nos confins da Bolívia no dia 8 de outubro de 1967. Frase que seus admiradores e biógrafos fazem questão de esquecer, pois o covarde pedido de misericórdia não combinava com a imagem por eles forjada. Che foi executado pelos militares bolivianos em La Higuera em 9 de Outubro de 1967. A partir de sua morte, sua imagem foi lapidada apresentando-o como um mártir, idealista, cheio de virtudes, defensor dos fracos e oprimidos.

 

Seus companheiros o chamavam de “el chancho”, o porco, porque não gostava de banho e “tinha cheiro de rim fervido”.

 

* Hiram Reis e Silva é coronel de Engenharia, professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA), acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB) e presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS).

Seu site é www.amazoniaenossaselva.com.br.

Contato: hiramrs@terra.com.br

 

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Santo Daime:

Alucinógenos ou Psicoativos?

Os trágicos acontecimentos da primeira quinzena de março de 2010, envolvendo

o assassinato do cartunista Glauco, devoto do Santo Daime, fundador da igreja Céu de Maria,

sediada em sua própria casa, por um dos frequentadores, levaram-me a produzir o presente artigo.

 

Por Hiram Reis e Silva*

De Porto Alegre-RS

Para Via Fanzine

 

 

A Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul (PUCRS) vem promovendo, já há alguns anos, o diálogo, o estudo e o aprofundamento sobre a realidade da cultura indígena no Estado e no País através de uma série de palestras que fazem parte do evento chamado ‘Círculo de Cultura Indígena’, coordenado pelo Departamento de Direito Público da Faculdade de Direito e Núcleo de Estudos e Pesquisa em Cultura Indígena. Durante minhas exposições sempre fui interpelado pelos líderes indígenas no sentido de não me referir aos narcóticos que utilizam nos seus rituais como psicotrópicos e sim psicoativos.

 

A proliferação de seitas que usam nos seus rituais plantas, chamadas eufemisticamente, pelos seus simpatizantes de ‘psicoativas’ mas que na realidade nada mais são do que drogas que provocam ou estimulam surtos psicóticos deveriam receber uma atenção maior por parte de nossas autoridades. Há que se diferenciar uso da droga pelos povos nativos, atendendo a rituais ancestrais, e seu uso pelos ‘civilizados’ em busca de novas experiências ou modismos ‘pseudo-religiosos’ que nada tem a ver com nossa história e nossos costumes. Essas pseudo-doutrinas só prosperaram tendo em vista a ignorância e a falta de conhecimento científico a respeito dos malefícios que o uso da droga pode acarretar. Quantos outros casos semelhantes, ao do cartunista Glauco, deixaram de ser repercutidos pela mídia só porque as vítimas eram cidadãos comuns.

 

Modismos recorrentes levam a humanidade, volta e meia, buscar nos procedimentos primitivos a cura para suas mazelas. Há necessidade de se identificar se o emprego de determinadas substâncias pelos ‘pajés’ tem algum poder curativo ou não. Diversas dessas plantas ditas ‘medicinais’ foram pesquisadas e nenhum princípio ativo foi identificado, que justificasse seu emprego como remédio. As últimas pesquisas apontam que apenas 12% das plantas utilizadas pelos aborígines têm algum efeito real sobre o individuo.

 

Achar que o conhecimento nativo sobre a flora e a fauna não necessitam de uma visão mais científica é desprezar todo o conhecimento da humanidade ao longo de milhares de anos. Tive a oportunidade, na minha carreira militar, como oficial de engenharia, de conviver por dois anos com os Waimiris-Atroaris (WA). Os WA atribuíam a um pequeno inseto uma picada mortal para o ser humano e se o pequeno e exótico animal picasse uma árvore ela perderia todas as folhas e secaria em vinte e quatro horas. Na verdade o animal era totalmente inofensivo, mas seu abdômen lembrava a cabeça de um jacaré e isso era suficiente para que os nativos lhe atribuíssem poderes especiais.

 

- Drogas psicotrópicas ou psicoativas

 

‘Psico’ vem de psique = mente; ‘Trópico’ vem de tropismo = ação de aproximar. Isso já informa que a sua ação se dá no cérebro.

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1981, definiu estas substâncias como aquelas que “agem no Sistema Nervoso Central (SNC) produzindo alterações de comportamento, humor e cognição, possuindo grande propriedade reforçadora sendo, portanto, passíveis de auto-administração”. Essas alterações podem ser proporcionadas para fins: recreacionais (alteração proposital da consciência), rituais ou espirituais (uso de enteógenos), científicos (funcionamento da mente) ou médico-farmacológicos (como medicação).

 

A ética em relação ao uso dessas drogas é objeto de contínuo debate filosófico. Muitos governos têm imposto restrições sobre a produção e a venda dessas substâncias na tentativa de diminuir o abuso de drogas.

 

- Ayahuasca

Por Ana Cecília Marques e Hamer Nastasy Palhares

 

“A Ayahuasca é conhecida em diferentes culturas pelos seguintes nomes: yajé, caapi, natema, pindé, kahi, mihi, dápa, bejuco de oro, vine of gold, vine of the spirits, vine of the soul e a transliteração para a língua portuguesa resultou em hoasca. Também é conhecida amplamente no Brasil como ‘Chá do Santo Daime’ ou ‘Vegetal’. Na linguagem Quechua, aya significa espírito ou ancestral, e huasca significa vinho ou chá. Este nome, tanto se aplica à bebida preparada por meio da mistura da Banisteriopsis caapi e da Psichotria viridis, quanto à primeira das plantas. (...)

 

As diversas preparações geralmente contêm talos socados da Banisteriopsis caapi ou espécies correlatas mais as folhas da Psichotria viridis. As plantas adicionadas à Ayahuasca ajudam a maximizar as experiências de estimulação visual e as sensações de contato com forças e locais sobrenaturais e divinos. Os métodos de preparo variam conforme o grupo, como um chá quente ou amassando-se junto à água fria, deixando-se em descanso por aproximadamente 24 horas. (...)

História

 

As origens do uso da Ayahuasca na bacia Amazônica remontam à Pré-história. Não é possível afirmar quando tal prática teve origem, no entanto, há evidências arqueológicas através de potes, desenhos que levam a crer que o uso de plantas alucinógenas ocorra desde 2.000 a.C.

 

(...) A história moderna da Ayahuasca começa em 1851 quando o botânico inglês Richard Spruce noticia o uso de bebidas que intoxicam entre os índios Tucanos, no Brasil. Estes convidaram-no a participar de uma cerimônia que incluía a infusão que eles chamavam ‘caapi’. Spruce apenas tomou uma pequena quantidade daquela ‘nauseous beverage’, mas não se deu conta dos profundos efeitos que ela teve sobre seus amigos. Os Tucanos mostraram a Spruce a planta da qual caapi derivava, e ele coletou espécies da planta e das flores. Spruce chamou-a de Banisteria caapi, e estudo posteriores levaram-no a concluir que caapi, yage e ayahuasca eram nomes indígenas para a mesma poção feita daquela videira. A Banisteria caapi de Spruce foi reclassificada como Banisteriopsis caapi pelo taxonomista Morton em 1931. (...)

 

Apesar da coleta e identificação da Ayahuasca datar de 1851, os alcalóides já eram conhecidos desde a primeira metade do século XIX, o que se deve à facilidade de extração dos mesmos, bem como aos possíveis usos clínicos: logo, a Harmalina foi isolada da Peganum harmala em 1840. Sete anos depois, a Harmina foi identificada. A ‘telepatina’ - harmina - foi identificada na ‘yajé’ em 1905. (...)

 

Antropologia e uso da Ayahuasca

 

Plantas com propriedades alucinógenas vem sendo utilizadas com finalidades místicas e religiosas em diferentes culturas primitivas. Há relatos do uso das poções em toda a Amazônia, chegando à costa do Pacífico no Peru, Colômbia e Equador, bem como na costa do Panamá, sendo que foi reconhecida em pelo menos 72 tribos indígenas, com pelo menos 40 diferentes nomes. Entre as diversas tribos da bacia Amazônica, a Ayahuasca é percebida como uma poção mágica inebriante, de origem divina, que ‘facilita o desprendimento da alma de seu confinamento corpóreo’, voltando ao mesmo conforme a vontade e carregada de conhecimentos sagrados. Entre os nativos é usada para propósitos de cura, religião e para fornecer visões que são importantes no planejamento de caçadas, prevenção contra espíritos malévolos, bem como contra ataques de feras da floresta. (...)

 

Ayahuasca e religião

 

No século passado, além do consumo da mistura entre as populações indígenas, várias igrejas adotaram o uso da ayashuasca em rituais sincréticos, especialmente no Brasil, onde os efeitos psicoativos são acoplados a conceitos das doutrinas Judaica, Cristã, Africana entre outras. As principais religiões deste módulo incluem a UDV (União do Vegetal), CEFLURIS (Santo Daime), Barquinha e o Alto Santo.

O uso da hoasca dentro de tais contextos religiosos foi oficialmente reconhecido e protegido pela lei no Brasil em 1987. Tais seitas incluíram a Ayahuasca em seus rituais de comunhão como um simbolismo comparável ao ‘pão e vinho’. Estas igrejas argumentam que a poção ajuda a promover concentração pronunciada e contato direto com o plano espiritual. (...)

 

Ayauhuasca e a expansão do consumo

 

(...) O crescente número de indivíduos que vem experimentando a Ayahuasca de maneira descontextualizada, visitas a seitas com o único intuito de conhecer a bebida, e a atual possibilidade de se usar a Pharmahuasca: combinação sintética dos ingredientes psicoativos da Ayahuasca.

 

- Chá do Santo Daime (Ayahuasca)

 

Efeitos

 

O chá de Santo Daime é um alucinógeno. Tal propriedade se deve à presença nas folhas da chacrona de uma substância alucinógena denominada N,N-dimetiltriptamina (DMT). O DMT é destruído pelo organismo por meio da enzima monoaminaoxidase (MAO). No entanto, o caapi possui uma substância capaz de bloquear os efeitos da MAO: a harmalina. Desse modo, o DMT tem sua ação alucinógena intensificada e prolongada. (...)

Riscos à saúde

 

Pode haver sensação de medo e perda do controle, levando a reações de pânico. O consumo do chá pode desencadear quadros psicóticos permanentes em pessoas predispostas a essas doenças ou desencadear novas crises em indivíduos portadores de doenças psiquiátricas (transtorno bipolar, esquizofrenia).”

- Santo Daime

 

O Santo Daime é uma manifestação religiosa exótica que surgiu, no estado do Acre, nas primeiras décadas do século XX. Seus membros fazem uso de uma bebida enteógena (droga alucinógena), o ayahuasca, que, segundo eles, serviria para catalisar processos espirituais visando à cura e bem estar do indivíduo.

 

Após fazer uso da beberagem Irineu Serra, seu fundador, imaginou ter tido uma visão de entidades superiores que lhe ordenaram propagar o Santo Daime. Irineu concebeu apenas, muito genericamente, uma doutrina que mescla diversas tradições religiosas antigas e contemporâneas cujo pano de fundo serve apenas para justificar o uso da ayahuasca pelos seus discípulos.

 

- Richard Spruce

 

Richard Spruce, em novembro de 1852, navegando pelo Rio Negro chegou à aldeia de Ipanoré, maloca de Urubucoará onde assistiu a cerimônia do culto Jurupari, em que os Tucanos usavam uma bebida chamada ‘kapi’ (erroneamente grafada ‘caapi’, palavra tupi-guarani que designa gramíneas), preparada a partir de uma espécie de cipó. Spruce relata que: ‘os brancos que tomaram caapi na forma apropriada coincidem em seus relatos sobre as sensações obtidas sob seu efeito. A vista se altera e diante dos olhos passam rapidamente visões onde parecem combinar-se tudo o que viram ou leram sobre o esplêndido e o magnífico’. Spruce embriagou-se com ‘caxiri’ (bebida fermentada à base de macaxeira) e não chegou a provar a bebida sagrada, mas, já no dia seguinte começou a pesquisar o seu principal componente, o cipó que denominou Banistera caapi (depois Banisteriopsis caapi).

 

- Relato de antanho - Spruce (1853)

 

“Nos relatos dos viajantes a propósito das cerimônias realizadas pelas tribos sul-americanas e das invocações executadas pelos seus pajés. Há frequentes menções a poderosas drogas empregadas para provocar intoxicação ou mesmo delírio temporário. Varia o modo de administrar e ingerir esses narcóticos, que ora são reduzidos a fumaça e tragados, ora a vapor e inalados, ora ingeridos sob forma líquida. Aliás, são poucas as plantas utilizadas pelos indígenas como matéria prima de artigos de consumo, podendo-se citar apenas o fumo e as que produzem bebidas fermentadas, especialmente o milho, a banana, a mandioca e mais umas poucas. Como tive a sorte de assistir ao uso dos dois narcóticos mais famosos, e de obter espécimes das plantas que os produzem (perfeitos o suficiente para serem determinados botanicamente), transcrevo a seguir as observações a seu respeito que anotei ‘in loco’. (...)

 

É a parte inferior do caule que se utiliza para produzir o narcótico. Uma certa quantidade dela é imersa em água e pilada num almofariz. Eventualmente é acrescentada uma pequena porção de raízes delgadas da planta conhecida como ‘caapipinima. ’ Depois de pilado e triturado, o ‘caapi’ é peneirado e escoimado das fibras lenhosas, e, em seguida, diluído numa quantidade de água suficiente para transformá-lo em bebida. Depois de pronto, adquire uma coloração verde amarronzada, e seu sabor é amargo e desagradável. (...)

 

Uso e efeito do Caapi

 

Em novembro de 1851 fui convocado a comparecer a um ‘dabacuri’ - ou seja, a uma ‘festa dos presentes’ - realizado numa maloca (residência coletiva) conhecida como Urubuquara e situada acima das primeiras corredeiras do Uaupés. (...)

 

Durante toda a noite, o caapi foi servido cinco ou seis vezes para os jovens, durante os intervalos das danças, sendo contemplados poucos usuários a cada rodada, e sendo poucos aqueles que, terminada a festa, chegaram a tomar mais de uma dose. O ‘garçom’ - sempre do sexo masculino, já que o uso do caapi é vedado às mulheres - inicia a cerimônia de servir com uma curta corrida, vindo do lado de trás da casa, trazendo em cada mão uma cuia contendo uma porção correspondente a uma xícara de chá. Chegando diante dos que o esperam, murmura algo assim como ‘Mo-mo-mo-mo-mo’ e se encurva pouco a pouco, até quase encostar o queixo no joelho, momento em que estende uma das cuias para o usuário, que sorve um gole. Depois vai fazendo o mesmo com os demais, até que as duas cuias se tenham esvaziado.

 

Passado menos de dois minutos, começam a se fazer notar os efeitos do caapi. O índio que o tomou adquire uma palidez mortal, suas pernas começam a tremer e sua fisionomia aparenta um sentimento de horror. Súbito os sintomas invertem e ele começa a suar copiosamente, parecendo estar tomado por uma fúria insopitável, ocasião em que apanha a primeira ara que encontra - tanto faz que seja um murucu (lança), arco, flecha ou facão, - sai da maloca e aplica violentos golpes no chão ou nos beirais da porta, gritando coisa como: ‘É assim que vou fazer com meu inimigo Fulano, se ele aparecer por aqui!’ Passados uns dez minutos, cessa o efeito e o índio recobra a calma, dando mostras de estar exausto. Se estivesse em sua casa, certamente iria cair na rede e dormir até se recuperar completamente, mas aqui na festa o que tem a fazer é sacudir a sonolência e voltar a dançar. (...)

 

Os brancos que já tomaram caapi de maneira mais racional e relataram suas experiências foram concordes na descrição de seus efeitos, caracterizados por uma alternância de ondas de frio e calor, de medo e coragem. A visão fica turva e diante dos olhos do usuário passa a desfilar uma sucessão de imagens deslumbrantes e magníficas, lembrando cenas vistas ou lidas no passado. Subitamente, a temática se inverte, e as cenas visualizadas passam a ser horrendas e esquisitíssimas.

 

Foram também esses os sintomas gerais a mim relatados por mercadores civilizados do alto Rio Negro, do Uaupés e do Orinoco que tiveram tal experiência, dando-se o desconto de uma ou outra variação de caráter pessoal. Um amigo brasileiro me disse que, de certa feita, depois de ter tomado uma dose completa de caapi enxergou a sua frente as maravilhas exóticas que lera nas ‘Mil e uma noites’, como se num cenário animado, mas as derradeiras cenas daquele desfile fantástico se transformaram numa sequência de imagens pavorosas dignas dos contos de horror.

 

Na festa de Urubuquara fiquei sabendo que a planta do caapi era cultivada de maneira suplementar numa roça situada poucas horas rio abaixo. Fui lá um dia, com a intenção de colher alguns espécimes e adquirir uma quantidade razoável de talos já cortados e enfeixados, para poder enviá-los à Inglaterra, a fim de ser ali analisados. (...)

 

O caapi é utilizado pelos índios de todas as tribos assentadas ao longo do Uaupés, algumas das quais falam línguas totalmente diferentes entre si, além de terem costumes também inteiramente diversos. Já no Rio Negro, se ele algum dia foi usado, caiu em completo desuso, e também não me consta que seja empregada pelas tribos da nação Caribe - Bares, Baniuas, Mandauacas, etc. - com a solitária exceção dos Tarianas, que se introduziram ligeiramente no Uaupés, onde provavelmente aprenderam seu uso com seus vizinhos da tribo Tucano.

 

Quando estive nas cataratas do Orinoco, em junho de 1854, reencontrei, o caapi, com esse mesmo nome, num acampamento de Guaíbos selvagens, nas savanas de Maypures. Esses índios não só bebiam a infusão da planta, preparada da mesma maneira empregada pelos índios do Uaupés, como mascavam o talo seco, como se costuma fazer com o fumo. Aprendi com eles que todos os moradores nativos dos rios Meta, Vichada, Guaviare, Sipapo e dos riachos intercalados entre esses rios conhecem o caapi e o usam precisamente do mesmo modo. (...) Em maio de 1857, nas aldeias peruanas de Canelos e Puçá-Yacu, voltei a ver plantações de caapi, da mesma espécie do Uaupés, mas ali denominava-se ‘aya-huasca’, palavra inca que significa ‘videira-de-defunto’, e usado igualmente como narcótico estimulante pelos índios das tribos Zaparo, Angutero e Mazane. A bebida é também usada pelos feiticeiros quando estes são solicitados a resolver pendências, responder consultas, revelar os planos do inimigo, dizer se os estrangeiros visitantes seriam ou não confiáveis, se as esposas são fiéis, quem teria deitado mau-olhado sobre fulano que adoeceu de repente, etc. (...) Os jovens não tem permissão de usar o ‘aya-huasca’ enquanto não atingirem a puberdade, sendo seu uso inteiramente vedado às mulheres, exatamente como no Uaupés. (...)

 

Eis o que posso dizer acerca do caapi ou ‘aya-huasca’. Lamento não ser capaz de precisar qual seria o princípio ativo narcótico que produz seus efeitos (harmina). Suas substâncias análogas mais óbvias são o ópio e o haxixe, mas o caapiu parece operr no sistema nervoso de maneira mais rápida e violenta do que ambos.” (SPRUCE).

 

* Hiram Reis e Silva é coronel de Engenharia, professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA), acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB) e presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS).

Seu site é www.amazoniaenossaselva.com.br.

Contato: hiramrs@terra.com.br

 

*  *  *

 

Natal:

Um convite lá de Nazaré
 

Por Jacinto Guerra*

De Brasília-DF

Para Via Fanzine

 

Brasília, capital da Esperança, dezembro de 1992. Um pequeno presépio na sala. Na geladeira, cachos de uvas e uma garrafa de vinho. Fomos à Missa na Igrejinha de  Fátima. É véspera de Natal. Diz a Bíblia que Jesus nasceu em Belém. No entanto, Ele viveu a sua infância e juventude em Nazaré. No Brasil, em Belém do Pará, o Círio de Nazaré é uma grande festa do povo.


Natural de Jerusalém, Maria é moça muito bonita, filha do senhor Joaquim e de dona Ana. Ela casou-se com José, um carpinteiro lá de Nazaré. Quem contou o amor de José e Maria foi a escritora norte americana Marjorie Holmes, em seu romance Os amantes da Galileia.


Nazaré fica situada numa colina, a sudoeste do lago de Tiberíades. É uma cidade pitoresca, a mais importante da Galileia, hoje território de Israel, criado em 1948 para repatriar os judeus espalhados pelo mundo. Nazaré significa “jardim florido”.

 

A cidade é dividida em bairros grego, muçulmano, latino e judeu. No seu lado norte, encontram-se as ruínas da sinagoga onde Jesus pregava, o lugar da carpintaria de São José – e a Fonte da Virgem Maria, onde as nazarenas iam diariamente com seus potes e bilhas, buscar água. A tradição afirma que a casa da Sagrada Família foi milagrosamente transportada de Nazaré para  Loreto, na Itália.  Por esta razão, N.Sra.de Loreto é padroeira da aviação e dos aeronautas.

 

Com essa correria de dezembro e esse tempo de chuva, não conseguimos nem rezar a Novena de Natal. No entanto, não vamos perder a Missa do Galo. Um conto imperdível de Machado de Assis tem este nome: Missa do Galo.

 

Lá na terra de São José, o Menino Jesus aprendeu o ofício de carpinteiro e iniciou sua vida pública. Um dia, José e Maria foram a Jerusalém, levando Jesus, que era ainda criança. Deram falta d`Ele, que ficara no templo, falando aos doutores admirados com a Sua sabedoria.  Muitos séculos depois, os brasileiros fundaram vilas e cidades  em homenagem ao lugar viveu a Sagrada Família: Nazaré, na Bahia; Nazaré da Mata, em Pernambuco. E mais:Nazaré do Piauí e Nazaré Paulista, além de Nazário, em Goiás, e Nazareno, Minas Gerais. Em Portugal, existe a pitoresca vila de Nazaré,  situada à beira-mar, com seus pescadores e suas raparigas com vistosos trajes típicos.


Voltando aos tempos bíblicos, Jesus tinha pouco mais de vinte e oito anos, quando saiu de Nazaré para fazer o seu primeiro milagre, na vizinha cidade de Caná. Durante uma festa de casamento, Jesus transformou seis grandes jarras de água em saboroso vinho.


Em razão desses acontecimentos memoráveis, a cidade de Nazaré pretende comemorar os dois mil anos do nascimento de Cristo com um evento nacional do governo israelense. O prefeito Taufic Ziad prepara-se para uma grande comemoração diante da Basílica da Anunciação, que fica perto da casa, onde – segundo a tradição –  o Anjo Gabriel  anunciou a Maria o nascimento de Jesus. Nazaré espera receber um milhão de peregrinos e visitantes  do mundo inteiro.


Paro, durante algum tempo, a escritura de minha crônica. Pequenos sinos tocam lá embaixo no gramado, entre as árvores. É a Serenata de Natal, um coro de trezentas vozes que, todos os anos, encantam as noites de dezembro em Brasília, anunciando a chegada do Menino Jesus. Gostei muito de ler o conto Rapaz Jesus, do escritor português Mário Zambujal.


Em Nazaré, o prefeito Ziad
pretende inaugurar um monumento a Jesus Cristo. Do alto do Corcovado, no Rio de Janeiro, o Cristo Redentor, de braços abertos, abençoa o Brasil inteiro. Conheço outros monumentos a Jesus de Nazaré: em Juiz de Fora, Pará de Minas e Araxá, Minas Gerais  – e  em Rio Verde, Goiás. Avistei, de longe, o Cristo Redentor da cidade de Almada, à margem do Tejo, frente a Lisboa.

 

A Prefeitura de Nazaré vai restaurou a Fonte de Maria, que nos faz lembrar a Biquinha, em Bom Despacho, onde as mulheres de antigamente iam buscar água como as nazarenas faziam. Temos notícia que, em minha terra natal, foi inaugurado, na Praça da Senhora do Sol, o Cristo de Bom Despacho, obra do escultor Roberto Rangel, construído num bairro chamado Babilônia, por iniciativa do empresário Antônio Eustáquio de Araújo.

 

Por falar nisto, Bom Despacho é a cidade da Senhora do Sol,  porque a mãe do Menino Jesus, padroeira do lugar, era assim conhecida no Minho, em Portugal, de onde vieram os colonizadores de vasta região de Minas Gerais, onde se localiza aquela cidade amiga de Vila Verde, especialmente de suas aldeias de Cervães e de Aboim da Nóbrega.

  

Curioso é que o prefeito de Nazaré é comunista, marxista ortodoxo, mas deseja dar sua contribuição à glória de Cristo. Nazaré não teme a concorrência de Belém, pois Jesus é até conhecido como Nazareno. Como católico, apostólico, romano, gostei das ideias do prefeito,  que merecem apoio até do Papa João Paulo II. Interessante é que para as solenidades de Nazaré, o prefeito pretende convidar as autoridades de todos os municípios do mundo que têm o nome de Nazaré.


Desde já sou candidato a secretário municipal de Cultura em Nazaré da Mata, Pernambuco, ou  –  quem sabe? –  em Galileia, Vale do Rio Doce, Minas Gerais. É a minha oportunidade de viajar para Jerusalém e outros lugares santos, com uma escala em Roma e outra no Egito, onde também estiveram Jesus, Maria e José.

 

* Jacinto Guerra é colaborador do Via Fanzine,  é professor e escritor. Esta crônica de sua autoria foi publicada primeiramente em seu livro O gato de Curitiba (Thesaurus, Brasília, 1ª edição, 1993); depois foi revista e ampliada pelo autor, em 2009, e enviada, como Mensagem de Natal, para 10 mil leitores de diversos países,  por iniciativa do editor luso-brasileiro Victor Alegria.

 

*  *  *

 

Carlos Lamarca:

Justiça seja feita

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça,

de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude,

a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”. (Rui Barbosa)

 

Por Hiram Reis e Silva*

De Porto Alegre-RS

Para Via Fanzine

 

 

Mais uma vez, Reinaldo Azevedo, faz colocações audaciosas, a respeito do facínora Lamarca, que poucos jornalistas teriam coragem de fazer, com medo do patrulhamento ideológico presente em todos os canais de comunicação de nosso país. Parabéns à juíza Claudia Maria Pereira Bastos Neiva pela decisão que coloca um freio nos desmandos patrocinados por Tarso Genro, Ministro da ‘(In)Justiça’.

 

- De terrorista assassino a mártir

Por Reinaldo Azevedo - do blog do autor

 

‘Troquemos falsos mártires esquerdistas por crianças pobres'

 

“A Justiça Federal concedeu nesta sexta-feira, 5, uma liminar para suspender a anistia ao ex-guerrilheiro comunista Carlos Lamarca. Autor da ação, o Clube Militar do Rio pediu a anulação da portaria do ministro da Justiça, Tarso Genro, que concedeu anistia política post-mortem ao capitão Carlos Lamarca - com promoção ao posto de coronel e proventos de general-de-brigada, além de reparação econômica no valor de R$ 902.715,97, em favor de sua viúva, Maria Pavan Lamarca.

 

Em julho, a comissão de anistia do Ministério da Justiça havia concedido indenização de R$ 300 mil à viúva e aos filhos de Lamarca pelos dez anos em que estiveram exilado em Cuba. Com a promoção post-mortem, a viúva Maria Pavan Lamarca passaria a receber do Ministério da Defesa uma pensão de R$ 12 mil, correspondente ao montante pago para um general de brigada do Exército. 

 

A juíza Claudia Maria Pereira Bastos Neiva acatou a alegação do Clube Militar, de que Lamarca não poderia ser beneficiado pela lei de anistia porque desertou do Exército para entrar na luta armada contra o regime militar. Além disso, em seu despacho, a juíza considerou "altamente questionável a opção política de alocação de receitas para pagamento de valores incompatíveis com a realidade nacional, em uma sociedade carente de saúde pública em padrões dignos, deficiente na educação publica, bem como nos investimentos para saneamento básico, moradia popular e segurança". 

 

A liminar suspende os pagamentos e os benefícios indiretos, inclusive a promoção a general-de-brigada, até o julgamento do mérito da ação, ainda sem data definida. Os autores argumentam que, conforme o Decreto 3.998 , de 5 de novembro de 2001, só será promovido post-mortem o oficial que, "ao falecer, satisfazia as condições de acesso e integrava a faixa dos oficiais que concorriam à promoção pelos critérios de antiguidade ou de merecimento".

 

Sustentam, assim, que o Conselho de Anistia não pode fazer a promoção, mesmo com o referendo do ministro da Justiça.  Lamarca, que servia num quartel de Quitaúna, em Osasco, quando desertou do Exército para entrar na luta armada, foi comandante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), da Var-Palmares e do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), pelos quais combateu no Vale do Ribeira (SP) e no sertão da Bahia, onde foi emboscado e morto por tropas do Exército, em setembro de 1971. Nascido no Rio, em 27 de outubro de 1937, casou-se em 1959 com Maria Pavan, com quem teve dois filhos - César e Cláudia. 

 

Justiça seja feita. Ainda há juízes em Berlim?

 

No que diz respeito a anistias e reparações - um verdadeiro coquetel de imoralidades e ilegalidades -, raramente vi um caso tão escandaloso como este, de Lamarca.  A promoção - e, conseqüentemente, parte do valor da indenização - é flagrantemente ilegal.

 

É ilegal porque o Decreto 3.998 diz que só será promovido post-mortem o oficial que, "ao falecer, satisfazia as condições de acesso e integrava a faixa dos oficiais que concorriam à promoção pelos critérios de antiguidade ou de merecimento". E o que se pode afirmar de um desertor, que optou pela luta armada e pelo terrorismo??? Sim: ainda que eu considere ambas as práticas condenáveis, não são a mesma coisa. Ele era também um terrorista, não apenas um soldado do comunismo. 

 

A indenização é também imoral. Lamarca conhecia os riscos da luta e não teria tido, com aqueles que o mataram, mais complacência do que tiveram com ele. Aliás, teve a chance de demonstrá-lo: e optou pela morte cruel de um prisioneiro. Isso é história, não ideologia. 

 

Vamos ver que desculpa dará o Ministério da Justiça para ter optado pela promoção ao arrepio do que diz o decreto 3.998. E notem bem: a justificativa de que ele tinha direito à rebelião porque havia uma ditadura no Brasil é estúpida, inverídica. Ele também queria uma ditadura, só que outra, a comunista. Mais ainda: se estava descontente com a orientação do Exército, que pedisse baixa, abandonasse a carreira. Ele escolheu o contrário: voltou as suas armas contra a Força à qual pertencera. E, agora, se pede a esta mesma Força que o promova? 

 

E há um aspecto irônico em tudo isso. A família Lamarca está sendo indenizada também pelos anos passados em Cuba. Ora, por quê? Não dizem os comunistas, até hoje, que lá se realizava e se realiza o sonho do socialismo? Por que dar compensações a alguém que viveu a antecipação do paraíso que o próprio Lamarca queria ver reproduzido no Brasil. 

 

Guerrilha não é caderneta de poupança. Terrorismo não é investimento em bolsa de valores. Esquerdismo não é aposta no mercado de futuros. A se dar crédito aos valentes, não se dedicaram à causa para enriquecer ou para tornar ricos os descendentes.  A juíza está certa: troquemos nossos falsos mártires esquerdistas por crianças pobres!”.

  

* Hiram Reis e Silva é coronel de Engenharia, professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA), acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB) e presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS).

Seu site é www.amazoniaenossaselva.com.br.

Contato: hiramrs@terra.com.br

 

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Globo x Record:

Guerra das tevês: ou dá ou desce

A Igreja Universal fatura alto há quase 30 anos apostando na fé do seu rebanho.

 

Por Antonio Siqueira*

 

Não bastasse a baixaria diária protagonizada pelos “nobres” senadores da República, que não legislam, depreciam a classe política e consomem anualmente 4 bilhões de reais do orçamento nacional, agora a população está sendo obrigada também a suportar a divulgação das “qualidades” dos dirigentes de duas das principais redes de TV do País. Estão lavando roupa suja em rede internacional.

 

A Globo acusa Edir Macedo de estar se apossando de doações de milhões de crédulos evangélicos para aumentar seu patrimônio pessoal. É dono de inúmeros canais de TV, emissoras de rádio, casas e apartamentos de luxo e de aeronaves com capacidade de vôo intercontinental.

 

A TV Record defende-se, repetindo que a TV Globo cresceu à sombra da ditadura e que, com mão de ferro e com apoio de organismos federais, manteve-se líder de audiência e de faturamento às custas do definhamento da concorrência. Prestigiou os ditadores e foi  por eles agraciada. (Está tudo no livro “O outro lado do Poder”, do general Hugo de Abreu, Chefe da Casa Militar de Geisel, e que dava ordens aos que se submetiam a recebê-las).

 

Nada de novo nas velhas e requentadas acusações tanto de um como de outro lado. As duas redes têm telhado de vidro.

 

Na guerra, a TV  Record tomou a iniciativa  de trazer à discussão o caso da compra da Rádio Televisão Paulista S/A (hoje TV Globo de São Paulo) por Roberto Marinho com recibos, procurações e substabelecimentos anacrônicos e falsos e que foram considerados válidos pelo DENTEL, em janeiro de 1977, quando pela Portaria 430. O governo “revolucionário” buscou dar validade e ares de legalidade a uma transação inexistente e irreversivelmente contaminada.

 

O Ministério Público Federal está aguardando o julgamento do recurso especial que tramita no Superior Tribunal de Justiça, no qual se sustenta a inexistência de contrato de venda do citado canal entre as famílias Ortiz Monteiro e Roberto Marinho, para, então,  decidir se propõe ou não  ação anulatória da transferência da concessão para os seus atuais controladores. Essa concessão acaba de ser renovada por mais 15 anos pelo governo federal, ato esse que pode ser judicialmente contestado e declarado sem efeito.

 

Dízimo significa a décima parte de algo, paga voluntariamente ou através de taxa ou imposto, normalmente para ajudar organizações religiosas judaicas ou cristãs. A primeira menção de dízimo na Bíblia está registrado no livro Gênesis, capítulo 14, referindo-se à uma atitude voluntariosa de Abraão, ora Abrão, quando depois de uma guerra, ele "deu o dízimo de tudo" a um sacerdote de quem pouco se sabe, chamado Melquisedeque.

 

É uma prática legal, embora a legislação sagrada dos judeus impusesse a Israel a prática do dízimo, entre os cristãos dos primeiros séculos prevalecia a consciência de que o Evangelho havia levado à consumação as obrigações rituais e disciplinares da Lei de Moisés. Válido sim, porém, o que encontramos nos templos da Igreja Universal extrapola o bom senso.

 

Em 2001, vazou para todas as mídias um vídeo que mostrava o Bispo Edir Macedo numa tarde de futebol e lazer com seus pastores. Macedo improvisava uma "palestra" que tinha como "tema", tirar dinheiro do fiel, custe o que custar. Um festival de horrores! Edir Macedo ensina outros pastores como extorquir dinheiro dos fiéis depois de uma animada pelada. Uma hora o tal bispo diz que “ou dá ou desce”, quem não quiser dar que saia.  Macedo era figura carimbada nos principais pontos de jogatina da zona norte do Rio de Janeiro. Vendia bilhetes de loteria e conhecia bem a malandragem carioca, além de ter sido ex-tudo de ruim, testemunho dele mesmo. A Globo teve acesso "espírita" a esse material em vídeo e publicou, deste ponto, começou uma guerra que já dura uns bons 10 anos.

 

A programação das tevês abertas é de um mau gosto everéstico e nestes períodos de "elogios e afagos mútuos" de seus principais líderes de audiência, da programação de ambas as partes, costuma mergulhar num lameiro fétido. Preparem vossos estômagos. O atoleiro ideológico acena e não existem santos. Os demônios lutam entre si, sem fazerem muita questão de vestirem-se de carneirinhos.

 

* Antônio Siqueira é cronista e colaborador de Via Fanzine. Sua página é www.viafanzine.jor.br/express.htm.

   Seu blog é http://arte.vital.zip.net .

 

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Brasília:

Para Lula, senadores são 'bons pizzaiolos'

O presidente está de jejum no país das pizzas.

 

Por Pepe Chaves

editor

Via Fanzine

 

O presidente Lula participou da posse do presidente da Embrapa, na quarta-feira (15/07), em Brasília. Ele causou mal-estar no Senado, após uma declaração à imprensa sobre a CPI da Petrobras, cuja presidência e relatoria estão a cargo do principal aliado petista, o PMDB.

 

Um jornalista perguntou ao presidente, se ele acreditava que a CPI da Petrobras poderia terminar em pizza. Lula respondeu que, “Todos eles são bons pizzaiolos”, referindo-se aos senadores. A declaração do presidente desagradou praticamente todo o Senado.

 

Em plenário, Lula foi questionado moralmente, por diversos senadores, inclusive, por aliados do PMDB, devido a sua declaração. A maioria dos senadores negou o rótulo de “pizzaiolo” colocado pelo presidente e reagiu ao que foi chamado por alguns de “falta de respeito”.

 

Dizer que os senadores são “pizzaiolos”, é afirmar que "cada um ali, sabe se virar muito bem com as suas pizzas". Na gíria política brasileira, isso quer dizer que todos os senadores já estariam com suas panças cheias, não de pizza, mas da impunidade que impera diante notórios disparates, cometidos por determinadas figuras políticas do país. Para trocar em miúdos, nesta declaração, a palavra "pizzaiolo" também poderia ter sido trocada pelo presidente por outra igualmente ao seu estilo, como por exemplo, "cobra-criada".

 

Por outro lado, é incrível constatar que, quando "tudo começa em pizza", aquilo que não é novidade para ninguém, às vezes machuca, sobretudo, quando é dito em público por um presidente. Lula só faltou dizer que ele próprio é um péssimo pizzaiolo. Mas, para declarar o que declarou, nosso mandatário deve estar de jejum, especialmente, de suas pizzas presidenciais.

 

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Quando a mediocridade vence

Por Roldo Goi Júnior*

 

No ambiente de trabalho, assim como na vida comum, a mediocridade é maioria: a maioria das pessoas não arrisca, não inova, não se compromete, se preocupa o tempo todo em armar a própria defesa e nunca se expõe. Passa o tempo atirando pedras sobre aquelas que inovam, que arriscam, que se expõem. Para sorte dos medíocres, os inovadores correm riscos. Às vezes esses riscos se transformam em perda, os inovadores se vão, e os medíocres ficam.

 

A mediocridade é, também, muito conveniente: não questiona, não ameaça, não põe à prova. Convive facilmente com qualquer situação, e participa de qualquer jogo de poder. Por isso, essas pessoas ficam, e ficam também porque sabem que, se forem embora, não vão mais conseguir uma situação semelhante.

 

A mediocridade está presente em todos os níveis de cada sociedade ou organização. Mantém presença intensa mesmo onde a criatividade onde a criação são elementos básicos como, por exemplo, nas artes.

 

Na verdade, ser medíocre é o mais fácil. Como o mato, que cresce onde nada mais nobre foi plantado. E uma vez crescido, impede o nascimento de qualquer coisa. Precisa ser removido por um trabalho externo para dar lugar à plantação mais produtiva. Com as pessoas não é diferente, mas esse trabalho externo de remoção é muito penoso, combatido, porque a mediocridade, ao contrário do mato, reage. E reage a seu modo, trançando teias de amarração por debaixo do pano, minando as ações, lançando as pequenas armadilhas, criando obstáculos, e tudo muito nebuloso, pardacento, para que não tenha de ser assumido. E acaba dando certo, porque é pouco frequente que haja vontade política suficiente para fazer essas remoções a qualquer custo. Eis porque a mediocridade vence. Não é uma vitória justa, bonita. Mas é real, na prática.

 

Percorra-se todas as empresas comerciais, de serviços industriais, artísticas, etc., e na grande maioria se vai encontrar a mesma situação: a mediocridade plantada, entrincheirada, e histórias de profissionais que tentaram isso ou aquilo e passaram. E não faltará um sorriso irônico na boca de um ou outro medíocre, como a dizer “nós é que sabemos o que é bom ou ruim para esta empresa”. São esses que iniciam imediata destruição de tudo o que os inovadores fizeram, tão logo conseguem afastá-los de seus territórios. As exceções são empresas em que a inovação encontrou espaço próprio, domesticou a mediocridade, e a utiliza onde não pode ser mais daninha. Essas empresas são, invariavelmente, bem sucedidas e se caracterizam também por não fazer alarde disso.

 

Medíocres e inovadores são como água e azeite: nunca se misturam. Mas diferentemente desses dois elementos, não se ignoram: os inovadores se obrigam sempre a incluir a participação com os atos dos medíocres em seus planos de ação, e os medíocres estão sempre atentos aos passos dos inovadores para encontrar a chance de colocar cascas de banana no caminho. Medíocres se aliam a medíocres e inovadores a inovadores. As ligações dos medíocres, entretanto, são mais perigosas, porque são baseadas em ameaças veladas, do tipo “fica comigo porque senão jogo cascas de banana no seu caminho também”. Para um medíocre, uma casca representa risco maior que para o inovador, porque não tem energia para se levantar e prosseguir, sem dano moral.

 

O preço que o medíocre paga é nunca se destacar positivamente. Isso não chega a ser um problema, porque o medíocre não quer destaque. Ao contrário, quanto menos notado, melhor. Às vezes, acontece o acidente inverso: o medíocre é pilhado onde seria necessário inovar. Aí é um vexame, mas acontece pouco e não chega a afetar a maioria.

 

Não há nenhuma categoria intermediária entre inovadores e medíocres: ou se é inovador, ou se é medíocre. Dentro desses dois grupos existe a divisão em grupos com diferentes graus de honestidade, energia, carisma, inteligência, etc., mas permanecem as atitudes básicas.

 

Não é só em nosso país que existe essa realidade, mas também no dito Primeiro Mundo. Variam as razões de disputa, e os cacifes dos envolvidos, mas as situações se repetem. E como somos dependentes econômicos de um sem número de multinacionais, importamos mediocridade também. Recebemos dirigentes, funcionários e decisões tão medíocres que levamos algum tempo para acreditar que é aquilo mesmo, e que não há mais nada a entender.

 

Qual o destino dos inovadores? Em geral, num primeiro momento, a marginalidade profissional. Depois, os que tiverem sorte, acabam encontrando um nicho de trabalho onde a mediocridade está controlada. Outros, com tenacidade, iniciam nichos desse tipo. O restante permanece na marginalidade, ou se bandeia para atuar disfarçado dentro da mediocridade. Essa realidade é perversa, mas é realidade, e é necessário conviver com ela. Inovadores do mundo, uni-vos! Os medíocres não sabem, mas já estão automaticamente unidos pela própria mediocridade. Cabe aos inovadores realizar esforços para mudar essa condição. Este artigo irá provavelmente trazer algum estímulo aos inovadores. Quanto aos medíocres, não irão se ver neste espelho. Mais ainda, irão considerar o artigo vago e inconsistente: “não sei do que o autor está falando”.

 

* Roldo Goi Júnior é engenheiro mecânico, formado pela Escola Politécnica da USP.

 

- Publicado originalmente em O Estado de São Paulo em 19/08/1994.

 

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Unificação ortográfica:

Reformas ortográficas na língua portuguesa: até quando?

 “Quosque tandem, Catilina, abutere patientia nostra?” (Cícero-Catilinárias)*

Honestamente não sei o que pensar de mais uma mudança na ortografia do português.

Para uma pessoa de minha geração é de enlouquecer, especialmente nos pontos que perdi

em provas de português, por não ter colocado acentos que agora serão eliminados.

Eu era danado para esquecer do acento em pára, do verbo parar...

 

Por Alberto F. do Carmo*

De Brasília-DF

Para Via Fanzine

www.viafanzine.jor.br

Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

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Na minha infância (tenho 65 anos) fui alfabetizado na grafia dita moderna, que substituíra a etimológica, aquela em que Niterói era simplesmente Nictheroy (nunca entendi o porquê desta grafia absurda de antanho); Suíça era Suissa e ia-se por aí.

 

Acontece que as bibliotecas estavam e ainda estão cheias de livros na grafia etimológica. Sim, mesmo hoje ao pesquisarmos livros antigos, temos de saber “lê-la”. A isto, e aí não sei bem como, ainda ficou um negócio mal feito, na grafia dita moderna, mas dúvidas surgiam a todo momento.. Nos antigos números da revista Seleções do Reader’s Digest – que era impressa nos EUA - vi muito “dansar” em lugar de dançar. E no meu Catecismo de Primeira Comunhão, editado em 1950, o modelo de exame de consciência que havia nele para facilitar o tal exame incluía lembretes, como quanto ao sexto mandamento (não pecar contra a castidade) coisas como “tenho ouvido, pensado ou feito coisas deshonestas?” e “Jesús” (com acento no u) tinha de montão.

 

Aí a gente ia para a escola e as professoras nos ensinavam a escrever “desonestas”, “Jesus” e (éramos crianças) ficávamos em dúvida. E veio a queda do acento diferencial, e também aquela regra pela qual palavra proparoxítona que virava advérbio, tinha o acento invertido. De grava para agudo. Tôda e toda (ó aberto, árvore acho que da Índia) ficaram sem acento. E ninguém se lembrou mais da árvore indiana, pobrezinha. Primário que virava primàriamente, ficou sem acento nenhum. De novo a má lembrança dos pontos perdidos em prova por não ter colocado acento em “toda” ou invertido o sentido do acento.

 

O fato (ou facto?) é que em Portugal onde ainda se usa facto, e não fato, pois fato para portugueses é roupa, haverá confusões.Na verdade, o que observo, e que tenho observado - principalmente depois de ter TV por assinatura -, algo que pouca gente tem notado: a pronúncia do português de Portugal está cada vez mais difícil de entender. Vogais átonas estão praticamente tornando o português luso quase que uma língua aglutinante: q’ ao invés de “que”, p’rfaição em lugar de perfeição, isto é o “ei” está luso está se tornando cada vez “ai” como no alemão (Eisenberg, que se pronuncia Aisemberg, por exemplo), além dos caminhos contrários quanto ao gerúndio: em Portugal ele praticamente desapareceu (“estou a cantar” e não  “estou cantando”, por exemplo) ao passo em que no Brasil o gerúndio não só se manteve, mas virou muleta para conjugar qualquer verbo: “vou estar fazendo” em lugar de vou fazer, ou simplesmente o “farei”.

 

Mas há outros fatos (outra vez o facto x fato) que mostram que o português do Portugal tende a se afastar do português falado no Brasil. Em Portugal, os ditongos nasais estão se desanasalando. Eles estão a falar "cançau" em lugar de canção, por exemplo. E há o caso do "sc", que eles pronunciam como os italianos "sc=ch". Então, disciplina, eles falam "dichiplina" e "fascina" como "faxina". Portanto, um apaixonado português que diga a uma brasileira mal informada que "sua boca me faxina", pode ser entendido como se sentisse que a moça estava lhe dando um banho de língua. Ele só queria dizer "sua boca me fascina".

 

Mas tem mais. Segundo meu amigo e bibliotecário do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, brasileiro, pessoa cultíssima e obviamente bem informada, soube que há entre os portugueses uma surda resistência a palavras e expressões não genuinamente lusas, isto é de fora de Portugal. Segundo ele, depois de ler o rascunho deste meu texto observou: “Também percebi que o português falado está de fato cada vez mais complicado de entender. E em contrapartida, soube que em Lisboa há um movimento silencioso combatendo a invasão do português falado aqui no Brasil. Isso porque os jovens adoram os programas e música brasileira, por isso, ainda, esses mesmos, estão perdendo as nuances lingüísticas típicas lusitanas. E isso, para os puristas da língua, certamente não é bem visto. Também acho muito interessante muitas palavras faladas em Angola e/ou Cabo Verde, pois lembram muito o português quinhentista”.

 

'Em Portugal, os ditongos nasais estão se desanasalando.

Eles estão a falar "cançau" em lugar de canção, por exemplo'

 

Há ex-colônias de Portugal onde há dialetação visível, como em Cabo Verde e Macau. Nesta última uma das pérolas é “papiaçam”, que vem de “papo” e que é sinônimo de “conversa”. Mas há outra pérola negra, pois vem de Moçambique. Lá, ônibus é conhecido como “machimbombo”. Soube isto por um ex-aluno angolano. Muitos anos depois é que percebi que nisto havia uma bela ironia africana. É que localizei no Brasil regiões onde aqueles ferros de passar roupa antigos, aquecidos por brasas por dentro, e que tinham uns buraquinhos para circular o ar e manter as brasas acesas, eram chamados de “machambombas”. Possivelmente os moçambicanos podem ter apelidados seus ônibus deste jeito, por serem apertados e calorentos e velhos, lembrando, portanto, os velhos ferros de passar roupa a carvão em brasa.

 

Sendo docemente pornográficos, conforme recomendou Carlos Drummond de Andrade, também da África veio a palavra “bunda”, que em Portugal é simplesmente (no sentido chulo)  aquele monossílabo idêntico ao símbolo químico do cobre... Se você quiser se referir a esse porno-detalhe em Portugal, terá de dizer “olho do...”

 

Afora isto há vários clássicos lusitanos como “rabo da bicha” (fim da fila) ou “paneleiro” (bicha), ou “rés do chão” – abreviadamente R/C nas cartas de Portugal, que é “andar térreo”, provavelmente influência francesa do res de chaussée; além de “combóio” (trem);”frigorífico” (geladeira); “pequeno almoço “ que  também deve vir do francês “petit dejeuner” ,qual seja, café da manhã. E em Portugal jamais ofereça uma bala a alguém, pois pensarão que você é um assassino ameaçador. Bala é “rebuçado”.

 

Então, na minha opinião pessoal, é que se torna cada vez mais utópico pensar em unificar o português escrito, quando em termos mundiais, talvez devido a um certo desleixo quanto à integração maior dos povos ditos de língua portuguesa, a língua portuguesa está ameaçada de se fragmentar. Eu não duvidaria nada se daqui a 50 e 100 anos, viesse a surgir um ou vários movimentos de independência lingüística, mais ou menos no estilo do que aconteceu com a África do Sul, quando ali se proclamou a independência do holandês, e se oficializou o “africâner”.

 

Certamente, este processo só será impedido se os povos de língua portuguesa passarem a se conhecer melhor, um sabendo do que se passa no país do outro. A descoberta de Angola, por exemplo, levou Chico Buarque a se encantar com o costume local de levar-se um chocalho na canela e aí surgiu “Morena de Angola”. E houve um belo documentário, cujo nome não me lembro, sobre povos de língua portuguesa (pelo menos do que restou dela em certos lugares) mas é pouco.Os papéis de certificação dele passaram pela minha mão quando trabalhei na Secretaria de Audiovisual do MinC.

 

Os estudantes de língua inglesa, francesa, espanhola, acho que todas as línguas da Europa,da China, do Japão nunca tiveram este problema.Na região do Mediterrâneo a última reforma radical foi a romanização do turco,ao que sei. Mas foi nos anos 30, acredito, obra do famoso déspota esclarecido, Kemal Ataturk.

 

Enquanto isto, no mundo inteiro, estudantes de português ou estudantes de países que falem o português terão de se virar para entender o português em umas quatro maneiras de se escrever, afora os textos arcaicos e os regionalismos que não são poucos.

 

 “Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência?” No caso, até quando os acadêmicos luso-brasileiros, além dos africanos e outros abusarão de nossas paciências?

 

* Alberto Francisco do Carmo é técnico em Assuntos Educacionais do Iphan-Instituto do Patrimônio Histórico Nacional e colaborador do jornal Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br).

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