As verdadeiras
riquezas de Itaúna:
Mais duas muralhas
antigas são registradas
O programa “Matas
de Minas” vai mostrar mais duas antigas muralhas de pedras registradas
em Itaúna.
Uma delas se
encontra ameaçada por um loteamento irregular, recentemente embargado
pela Justiça local.
Por Pepe Chaves*
De Itaúna-MG
Para
TV
FANZINE
16/11/2011
Este antigo muro
foi encontrado de maneira inesperada por nós.
Incursão solitária
No último fim de semana fiz uma solitária expedição pelas
matas da periferia de Itaúna. Na verdade, eu buscava por um antigo muro
construído no alto de uma serra, o qual eu havia visitado faz mais de 10
anos e desejava abordá-lo no programa "Matas
de Minas" da
TV
FANZINE.
O local se situa entre os bairros Cidade Nova e Santa
Edwirges, por onde percorri inúmeras trilhas e matas fechadas. No sábado,
12/11, parti (sem GPS) por uma trilha rumo mata adentro e não consegui
atingir meu objetivo que era buscar a laje no alto da serra e o antigo
muro que ali deveria estar. Contudo, saí num local avesso, mas por muita
sorte, acabei encontrando um outro antigo muro.
Esta construção, com cerca de 150 metros de extensão [veja
acima], se encontra bastante destruída, escondida pela mata e demonstra
indícios de ser bastante antiga. Sua média
de altura é de 70 cm e suas pedras são de maioria arredondada, diferindo
bastante das construções similares que
filmamos
e catalogamos na Mata da Onça, uma serra situada do outro lado da
cidade.
Esta incursão naquela mata rendeu também interessantes imagens e
sons da fauna local, sobretudo, por parte de aves das mais variadas
espécies, que também mostraremos na mesma edição especial do programa. Se por um lado me senti frustrado por não encontrar a
construção que procurava naquele sábado, voltei feliz por registrar este
"novo" muro antigo, do qual não havia nenhuma informação a respeito, além de
realizar também pequenos flashes da latente natureza daquele lugar.
Detalhe do belo
muro que se encontra próximo a um loteamento irregular.
Encontrado o muro
Mas, como sou insistente, no dia seguinte, domingo, 13/11, levantei o ânimo e segui
novamente em busca do muro no alto da serra, do qual me lembrava somente que se
situava numa região alta de laje natural.
Tomado por dezenas de picadas de carrapatos (meu sangue
atrai) segui rumo à direção que suponha estar a velha muralha.
Eu me lancei numa mata bastante cerrada, como que guiado
pelo instinto, subi a imensa serra, carregando apenas a câmera e uma
garrafa com água. Mantive o senso de direção pretendido e segui em
frente. Sem facão ou qualquer equipamento,
cheguei a me emaranhar na mata, cheia de cipós, arbustos, espinhos e
outros empecilhos. Além disso, sem ter usado qualquer repelente, fui atacado por bandos de
mosquitos e carrapatos, até atingir uma bela clareira de gramíneas
rasteiras, aberta mo meio da floresta.
Isso, após muitos arranhões de espinhos, inúmeras picadas
dos insetos e quase duas horas de caminhada ininterrupta. Ali, naquela
clareira, eu senti que já estava próximo da laje, pois as plantas ralas
cresciam por sobre a pedra. E andando ao redor, me deparei, finalmente,
com o belo muro e pude ainda, registrar nas imagens este momento de
surpresa e emoção.
Trata-se de um belo muro com 170 metros de extensão e uma
altura média de 1,40 metros. O muro se inicia quando termina uma vala.
Ele
corta o alto da serra, que é uma laje natural, de rocha monazítica
negra. A construção segue até descer do outro lado. E, quando
termina o muro, começa uma nova vala que sobe (alinhada ao muro) novamente por outra serra
defronte esta da laje.
Devastação próxima
A preocupação ficou por conta de um bairro irregular,
embargado pela Justiça, que foi construído muito próximo a este muro. A
vala que continua após o término do muro é a linha divisória entre este
loteamento irregular (um verdadeiro crime ambiental) e um pasto que
existe numa fazenda ao lado.
Nas proximidades dos bairros que se
alastram, deve haver conscientização por parte das autoridades
administrativas, para que toda uma região possa colher frutos com o
turismo e suas ramificações, além da preservação dessas construções de
datações incertas.
É bom lembrar que estas construções estão
em Itaúna há muito mais tempo que toda sua população, e assim, se houver
o mínimo de educação da nossa parte, deverão permanecer ao longo dos
tempos. Como já perdemos recentemente (por pura ignorância) pelo
menos duas dessas muralhas de valores incalculáveis, deixamos aqui mais
um alerta sobre esta questão patrimonial. Até porque, entendemos que,
preservar estes monumentos é simplesmente uma obrigação dos itaunenses
da atualidade, independente de se situarem em terrenos particulares ou
não.
Nossa reportagem
registrou também imagens
e sons de diversas espécies da fauna local.
Crime ambiental
No local próximo a esta bela muralha, uma imensa área de
mata natural
foi devastada
e ali construídas diversas casas pré-fabricadas de cimento,
muito pequenas e coladas umas nas outras. Segundo informações
preliminares, o local que seria um novo bairro foi embargado por ter
adentrado uma área de preservação natural permanente. Estamos buscando
mais informações com a Promotoria do Meio Ambiente em Itaúna sobre mais
este crime ambiental na cidade, que devastou cerca de dois quilômetros
quadrados de uma bela área natural, lesando plantas e muitos animais daquela região.
Todos os dois muros que estamos agora catalogando estão
situados em terrenos de propriedade particular. Portanto, urge que as
autoridades orientem estes proprietários sobre a necessidade de
preservação dessas antigas construções. Isso, para não ocorrer como nos
bairros Belvedere e Veredas, cujas serras próximas tiveram seus muros
antigos com centenas de metros de extensão completamente destruídos
pelas pessoas que utilizaram de suas pedras para construir alicerces de
casas daqueles novos bairros.
Uma edição especial do programa “Matas
de Minas”, levado ao ar pela
TV
FANZINE, será exibida em dezembro, mostrando mais estas duas
muralhas antigas de Itaúna, a beleza da fauna e flora locais e também as
cenas bizarras do estrago irreversível causado pelo loteamento irregular
numa área que deveria ser de preservação ambiental permanente.
* Pepe Chaves é editor do diário
digital
Via
Fanzine e produtor da
TV
FANZINE.
- Fotos: Pepe Chaves.
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