Democracia:
Toda estória tem três lados
Porque o país está longe de se definir
como democrático, que respeita a vontade de seu povo;
suas instituições são submissas a valores
extrínsecos ao ordenamento jurídico.
Por Caio Britto*
Para
Via
Fanzine
Certa vez ouvi alguém
dizer que toda estória tem três lados: O lado de quem conta. O lado de
quem ouve e o lado da verdade.
No Brasil, há muito
vem se utilizando o termo democracia para referendar todo e qualquer
posicionamento político, social e jurídico.
Os discursos
inflamados à sociedade esbarram sempre na noção do que se definiu por
democracia.
Dizem que tudo faz
parte do processo democrático, que por sua vez, tem sido posto por
muitos como um processo já consolidado.
Para definir
democracia, necessário é estabelecer sua antítese, mais precisamente o
que se denominou por “totalitarismo”, regime político onde não existe
liberdade individual, ou seja, tudo fica subordinado à autoridade do
governo.
Democracia, ao
contrário, é o regime do povo, pelo povo e para o povo conforme ensinou
Abraham Lincoln, vale dizer, regime onde o povo manda.
Estabelecida esta
premissa, consolida-se um lado da estória, ou seja, de que o Brasil está
vivendo uma democracia, conforme diuturnamente vem sendo pregado por
seus comandantes, o que equivale a dizer que todas as aberrações e
acertos praticados pelo governo (leia-se três poderes) estariam sendo
praticadas conforme vontade popular, afinal, isso é democracia.
Esta conclusão
encontra respaldo na Constituição Federal, mais precisamente na primeira
parte do parágrafo único de seu artigo 1º, quando definiu que “todo o
poder emana do povo”.
Então, o que é de
fato o Poder ou o que deve ser o Poder?
A resposta para estes
questionamentos encontra respaldo no outro lado da estória.
A filosofia política
clássica nega que um poder apenas forte, independentemente do fato de
estar em condições de durar, possa ser justificado, vale dizer, nesta
situação não haveria como distinguir o poder político do poder de um
bando de ladrões.
Santo Agostinho já
dissera que “sem a justiça, o que seriam de fato os reinos senão bando
de ladrões? E o que são os bandos de ladrões senão pequenos reinos?”.
Relevante é a
passagem entre Alexandre e o pirata, onde, trocando farpas, o rei
indagou àquele o motivo pelo qual infestava o mar, o que lhe respondeu
com audaciosa liberdade: “Pelo mesmo motivo pelo qual infestas a terra;
mas como eu faço com um pequeno navio sou chamado de pirata, enquanto
tu, por fazê-lo com uma grande frota, és chamado de imperador” (De
civitate Dei, IV, 4, 1-15).
Com o advento da lei,
e este é o ponto que interessa neste lado da estória, a legitimidade do
poder ficou condicionada à constituição da autoridade, que por sua vez
estabelece a legitimidade do governo, capaz de impor um ordenamento
jurídico coercitivo, respeitado internacionalmente, tendo Norberto
Bobbio (Estado, Governo, Sociedade. Para uma teoria geral da política.
Ed. Paz e Terra, 16ª reimpressão) a definido como “um puro e simples
estado de fato”, consubstanciado na definição de Estado, “ordenamento
jurídico destinado a exercer o poder soberano sobre um dado território,
ao qual estão necessariamente subordinados os sujeitos a ele
pertencentes”.
Assim sendo, o
segundo lado da estória encontra sua verdade na segunda parte do
parágrafo único do artigo 1º da Constituição Federal, que legitima o
exercício do poder por meio de representantes eleitos, vale dizer, por
meio do voto, na simples definição de que a autoridade somente estará
legitimada a agir se autorizada pelo povo, através do voto, com valor
igual para todos. Nisso consiste um poder legítimo.
Doravante, o terceiro
lado da estória resulta da análise da interpretação dada pelo Supremo
Tribunal Federal acerca da vigência da Lei Complementar 135/10, também
conhecida como “Lei da Ficha Limpa”, onde, por necessidade de se
responder ao clamor público, contrariando totalmente as verdades
anteriormente expostas, “premissa vênia” definiu sem tempo a
vigência da referida lei, fixando-a em total desrespeito à vontade do
eleitor; onde, após a realização das últimas eleições, seria
imprescindível ver respeitada sua vontade, fazendo com que seus efeitos
irradiassem apenas para o futuro, ainda em respeito à segurança
jurídica, à soberania popular, em respeito ao verdadeiro detentor do
poder, em respeito ao povo.
O eleitor tinha o
direito de comparecer às urnas com a segurança jurídica de que seu voto
seria respeitado, que seu voto não seria considerado lixo. Toda e
qualquer decisão em sentido contrário deveria ter sido tomada antes das
eleições a fim de se legitimar a vontade do eleitor.
Segundo Norberto
Bobbio (ob. cit), “do ponto de vista de uma definição formal e
instrumental, condição necessária e suficiente para que exista um Estado
é que sobre um determinado território se tenha formado um poder em
condição de tomar decisões e emanar os comandos correspondentes,
vinculatórios para todos aqueles que vivem naquele território e
efetivamente cumpridos pela grande maioria dos destinatários na maior
parte dos casos em que a obediência é requisitada. Sejam quais forem as
decisões. Isto não quer dizer que o poder estatal não tenha limites.
Justamente Kelsen, além dos limites de validade espacial e pessoal que
redefinem em termos jurídicos os dois elementos constitutivos do
território e do povo, leva em consideração outras duas espécies de
limites: os limites da validade temporal, pelo qual uma norma qualquer
tem uma validade limitada no tempo que transcorre entre o momento da
emanação (salvo se a ela atribua efeito retroativo) e o momento da
ab-rogação, e os limites de validade material, na medida em que existem:
a) matérias não passíveis de serem submetidas a uma regulamentação
qualquer, donde o velho ditado de que o parlamento inglês pode fazer
tudo menos transformar o homem em mulher (um exemplo, para dizer a
verdade, hoje não mais apropriado), ou a afirmação de Spinoza (1670,
cap. VI) de que mesmo o soberano que tenha o direito de fazer tudo o que
queira não tem o poder de fazer com que uma mesa coma erva; b) matérias
que podem ser reconhecidas como indisponíveis pelo próprio ordenamento,
como acontece em todos aqueles ordenamentos em que está garantida a
proteção de alguns espaços de liberdade, representados pelos direitos
civis, nos quais o poder estatal não pode intervir, ao ponto de uma
norma que mesmo sendo validamente posta os violasse poder ser
considerada como ilegítima por um procedimento previsto pela própria
Constituição”.
Assim, tem-se que a
verdade encontra-se estampada neste terceiro lado da estória, mais
precisamente a de que o país está longe de se definir como democrático,
que respeita a vontade de seu povo; que suas instituições são submissas
a valores extrínsecos ao ordenamento jurídico e, sobretudo, de que nem
sempre “o povo tem o governo que merece”. Faltou senso neste lado da
estória. Se bom ou ruim, só o tempo irá dizer.
SMJ, esta verdade é a
que prevalece.
*
Caio Britto é juiz de Direito – Especialista em Direito Tributário pela
UFMG – Doutorando em Ciências Jurídicas e Sociais UMSA.
* * *
Saúde & Justiça:
Derinha se foi
E Hapvida descumpre decisão na Justiça
Alagoana.
Por
Luiz Alberto Machado
Derinha Rocha
A saúde no Brasil é uma lástima. É tratada com desumanidade
e desrespeito. Uma triste e decepcionante constatação.
Se a gente
depende do SUS, é de desenganar da vida. Se
depender de plano de saúde, a coisa não é diferente! Para eles, ser
humano e nada é a mesma coisa!
Quando penso em fazer uma reflexão acerca de como a saúde é
tratada por nossos governantes, gestores públicos, classe médica e
políticos profissionais, só encontro interesses escusos capitalistas,
malversações, despropósitos nas gestões, situações de descaso e muita
indignação dos que dela precisam com suas dores e enfermidades. E ainda
digo no cerne da minha incapacidade de ver toda dimensão da calamidade:
tudo isso ainda é muito pouco perto do real quadro catastrófico.
Tenho, portanto, a constatação de que a saúde brasileira
está pra lá de enferma, senão moribunda. Avalie de quem depende dos
serviços dela.
Indo direto pro assunto, um caso: Derinha Rocha (Valderes
de Barros Rocha, 49 anos), funcionária do Tribunal de Justiça de Alagoas
e portadora de um plano de saúde há mais de 10 anos: Plano de Saúde São
Lucas (leia-se: HapVida Saúde). Quando ela precisou do plano de verdade,
o plano não se pronunciou permitindo que ela, acometida de uma leucemia
mieloidal aguda, falecesse num hospital conveniado que não possuía a
mínima capacidade de tratar da doença, certidão dada por todos os
profissionais médicos que acompanharam o caso. Mais: omitiu-se de
transferi-la por mais de 10 dias para um hospital habilitado. E pior:
descumpriu uma decisão liminar da 6ª Vara Cível da Capital, proferida
pelo Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito, Edivaldo Bandeira Rios. E maior foi
a luta e sofrimento da família e da paciente todos os dias, no seu
sepultamento ocorrido no último domingo, dia 17/10/2010 e até o resto de
cada um dos dela e do vínculo de amizade. Indignação geral!
Crença*
É
preciso respeitar melhor a vida
no amor
que traz a paz que é tão bem vida.
Amar
para se ter além do passional
e o
coração valer o ser humano universal.
É
preciso respeitar as diferenças
e não se
equiparar ao que é hostil nas desavenças.
Lutar
contra a mantença desigual
que
forja o algoz na força do poder irracional.
Se
entregar agora, todo dia e a noite inteira,
testemunhar assim as coisas verdadeiras.
Colher a
lágrima do olhar mais desolado
para
irrigar a sede do carinho devastado.
É
preciso ter no olhar a flor da vida,
trazer a
luz do sol nas mãos amanhecidas.
E
perceber o amor no menor gesto natural
pra
valer o sonho mais presente mais real.
Se
entregar agora, todo dia e a noite inteira,
testemunhar assim as coisas verdadeiras.
Colher a
lágrima do olhar mais desolado
para
irrigar a sede do carinho devastado.
E afinal
poder sorrir
como
quem vai feliz viver,
a manter
a crença e o seu proceder na paz.
Semear a
vida no ideal de colher
o que
virá depois
pra ser
alegria imensa para um, mais dois, mais!
Viver a
vida pelo que foi e será, é e será!
* Composição de Luiz Alberto
Machado.
-
Clique aqui para assistir o clipe
http://www.youtube.com/user/luizalbertomachado )
- Visite o site do autor:
www.luizalbertomachado.com.br
* * *
O Estado e a mídia:
O
papel da Imprensa
O presidente, sim, seria derrotado se
tivéssemos um povo com maior discernimento
e capacidade de entendimento sobre os
problemas a serem enfrentados pelo país afora.
Por
Achel Tinoco*
de
Salvador-BA
Para
Via Fanzine
Embora o presidente Lula não tenha consciência exata, ou
finja não a ter, do seu papel como representante do Estado, seria bom
que soubesse que a impressa, há mais de duzentos anos, é livre para
fazer suas reflexões a respeito da sociedade, para denunciá-la e por que
não para vigiá-la, não é de jeito nenhum um partido político, por isso
mesmo não pode ser derrotada nas urnas, como deseja pretensiosamente
este mandatário.
O presidente, sim, seria derrotado se tivéssemos um povo
com maior discernimento e capacidade de entendimento sobre os problemas
a serem enfrentados pelo país afora, ou, simplesmente, pela salutar
disputa, ato saudável a qualquer democracia, e por cima disso, soubesse
que um governo não pode achatar a oposição de modo a não admitir as
críticas, tampouco exterminar partidos e abafar a voz daqueles que
discordam, sempre em busca de uma popularidade total, de um regime de
governo que deste modo beirará em breve o totalitarismo.
Logo ele tão afeito às criticas ferrenhas quando andava a
desfilar pela oposição, a tudo e a todos, sem nenhum critério que não
fosse o da retórica veemente e da falácia gananciosa de seus pares
vermelhos. Não é mais possível nem aceitável que a cada eleição ou
disputa política, fiquemos todos, pelo menos aqueles que consigam
atinar, a mercê dos achaques deste presidente que tão somente pensa na
faixa presidencial, quiçá no poder vitalício como querem seus colegas
venezuelano, cubano, norte-coreano, iraniano, e por ai além da simpatia.
Desse modo, concluo dizendo que a imprensa faz-se necessária,
irrevogavelmente, ainda que saibamos: também ela, a imprensa, comete
erros dos mais graves, mas não tão grave quanto o deste presidente que
pretende cerceá-la.
O voto é mesmo o mais belo armamento de que dispomos, mas
para usá-lo eficazmente, precisamos saber manuseá-lo, não como moeda de
barganha — um tijolo e duas telhas —, mas como instrumento de avaliação
inequívoca, de modo que ponhamos dentro da urna não apenas a opção
simplória de um candidato loquaz, mas a opção consciente e plena de que
naquele candidato estamos depositando as expectativas e a esperança de
todo um país e, consequentemente, nosso futuro também, sob pena de
passarmos à história como meros coadjuvantes de um Brasil eternamente
promissor.
Ah, se Gutemberg tivesse inventado também a Censura!
*
Achel Tinoco é escritor. Seu site é
www.achel.zip.net.
* * *
Chuvas:
Saídas para evitar soterramentos em 2011
As cidades é que deverão estar preparadas
para competentemente
enfrentá-los na defesa da vida e da
segurança de suas populações.
Por Álvaro Rodrigues dos Santos*
As águas de março não haviam ainda fechado o verão. Mais
uma tragédia geotécnica causa dezenas de mortes, centenas de feridos e
conturba radicalmente o cotidiano de milhões de cidadãos.
Dessa vez, a "bola cantada" foi a cidade do Rio de Janeiro
e seus municípios vizinhos. A curtíssimo prazo, somente a remoção
emergencial de moradores de áreas de alto risco poderá reduzir a
possibilidade de mais desgraças. Vamos, no entanto, mirar nossas
atenções para 2011. Se o queremos virtuosamente diferente, o trabalho
deverá começar já.
Autoridades públicas brasileiras, surpreendam-nos! Tomem,
desde já, ousada e corajosamente, as iniciativas que farão com que em
2011 tantos brasileiros não tenham que morrer de forma tão bruta e
inútil e que tantas pessoas não tenham que ser indelevelmente
traumatizadas pela dor da cruel perda de parentes e amigos.
Acreditem, isso é possível, o meio técnico brasileiro
produziu e dispõe dos conhecimentos e instrumentos técnicos para tanto
necessários. Parar de errar e corrigir o errado que já foi feito -essa é
a única diretriz sensata.
Permitam-me a insolência de lhes propor neste espaço as
medidas que reputo como indispensáveis para a bela surpresa, que
certamente marcaria época na história da administração pública
brasileira.
Devemos admitir definitivamente que as chuvas não são o
vilão inexorável da ocorrência dos deslizamentos.
Estatisticamente sempre será possível, e não haverá
ineditismo algum nisso, que de tempos em tempos tenhamos períodos
chuvosos mais intensos. As cidades é que deverão estar preparadas para
competentemente enfrentá-los na defesa da vida e da segurança de suas
populações.
Também de forma definitiva temos que entender que o fator
causal básico dos deslizamentos está, especialmente nas regiões de
relevos mais acidentados, na total incompatibilidade entre a forma de
ocupação e as características geológicas e geotécnicas desses terrenos.
E isso está a acontecer tanto em empreendimentos habitacionais de baixa
renda como em empreendimentos, muitas vezes turísticos, associados a
estratos sociais de alta renda.
Enfim, o que se revela claramente aos olhos de todos é a
total perda do controle técnico das expansões urbanas por parte das
autoridades públicas responsáveis.
Como providência contínua e imediata, deve-se desocupar
todas as áreas consideradas geotecnicamente de alto risco, para o que se
faz indispensável a produção de cartas de risco, reassentando seus
ocupantes em condições dignas e seguras em outras áreas. Se uma
administração municipal alega não dispor dessas outras áreas seguras,
coragem, é recurso público bem gasto, desapropriem áreas seguras por
interesse social.
A começar pelos municípios com conhecido potencial de
risco, o poder público precisa elaborar o instrumento indispensável para
um eficaz planejamento do crescimento urbano, a carta geotécnica. Esse
mapa do município mostrará as áreas que não poderão ser ocupadas de
forma alguma e as áreas que poderão ser ocupadas desde que adotados os
critérios técnicos adequados para tanto, explicitados na carta, que
deverá ter força de lei.
É preciso, ainda, conceber e implantar um firme sistema de
monitoramento e fiscalização, com participação ativa das comunidades,
para que áreas definidas como impróprias não sejam ocupadas ou
reocupadas.
Outra medida relevante é a implementação de programas
habitacionais capazes de prover moradias seguras para a população de
baixa renda, na mesma faixa orçamentária que hoje ela só encontra em
áreas de risco.
Por fim, deve-se convocar a ABGE (Associação Brasileira de
Geologia de Engenharia) e a ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos
Solos e Fundações) para auxiliar a administração pública na concepção
das medidas necessárias e na mobilização da melhor tecnologia brasileira
necessária para sua implementação.
* Álvaro Rodrigues dos Santos, geólogo, é
consultor em geologia de engenharia, geotecnia e meio ambiente. Foi
diretor de Planejamento e Gestão do IPT (Instituto de Pesquisas
Tecnológicas) e diretor da Divisão de Geologia. É autor, entre outras
obras, de "Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática
* * *
Na pauta da sociedade:
Homossexuais nas Forças Armadas?
Por Hiram Reis e Silva*
De Porto Alegre-RS
Para
Via Fanzine
"Senhor, umas casas existem, no vosso reino onde homens vivem em
comum, comendo do mesmo alimento, dormindo em leitos iguais. De manhã, a
um toque de corneta, se levantam para obedecer. De noite, a outro toque
de corneta, se deitam obedecendo. Da vontade fizeram renúncia como da
vida. Seu nome é sacrifício. Por ofício desprezam a morte e o sofrimento
físico. Seus pecados mesmo são generosos, facilmente esplêndidos. A
beleza de suas ações é tão grande que os poetas não se cansam de a
celebrar. Quando eles passam juntos, fazendo barulho, os corações mais
cansados sentem estremecer alguma coisa dentro de si. A gente conhece-os
por militares... Corações mesquinhos lançam-lhes em rosto o pão que
comem; como se os cobres do pré pudessem pagar a liberdade e a vida.
Publicistas de vista curta acham-nos caros demais, como se alguma coisa
houvesse mais cara que a servidão. Eles, porém, calados, continuam
guardando a Nação do estrangeiro e de si mesma. Pelo preço de sua
sujeição, eles compram a liberdade para todos e os defendem da invasão
estranha e do jugo das paixões. Se a força das coisas os impede agora de
fazer em rigor tudo isto, algum dia o fizeram, algum dia o farão. E,
desde hoje, é como se o fizessem. Porque, por definição, o homem da
guerra é nobre. E quando ele se põe em marcha, à sua esquerda vai
coragem, e à sua direita a disciplina". (Moniz Barreto - Carta a El-Rei
de Portugal, 1893).
A repercussão do pronunciamento do General Raymundo Nonato de
Cerqueira Filho ao Senado Federal merece algumas reflexões importantes.
Uma delas é de que a mídia companheira e nossas lideranças políticas não
querem, absolutamente, ouvir a opinião do sabatinado, mas sim verificar
se a sua opinião segue a cartilha do ParTido. A PaTrulha
Ideológica desconhece que a Profissão Militar se reveste de aspectos
singulares e como tal deve ser analisada e compreendida. Ao longo dos
tempos essas características especiais sempre foram levadas em conta,
por lideranças esclarecidas, quando da sua seleção, formação e emprego.
A atitude revanchista da mídia e dos ideólogos de plantão nos levam a
crer que eles desconhecem totalmente estas nuances. Destacamos, a
seguir, alguns tópicos, do Manual sobre a Profissão Militar editado pelo
Ministério da Defesa, que nos parecem importantes que sejam levantados
para apontar as diferenças que existem entre a nossa e as demais
profissões.
-
A Profissão Militar
(Fonte: Ministério da Defesa)
“A profissão militar tem revelado, ao longo da história,
aspectos de marcante singularidade, na razão em que os países sempre
perceberam em suas Forças Armadas o elemento final - a ultima ratio -
para a preservação de seus interesses vitais. A existência e o futuro
das nações dependem, fundamentalmente, da capacidade de suas Forças
Armadas sustentarem as decisões estratégicas do Estado, bem como de
atuarem contra ameaças à sua soberania e à sua integridade territorial,
ao patrimônio e aos interesses nacionais. Recursos humanos altamente
qualificados, treinados, motivados, bem equipados e integralmente
dedicados à atividade militar são o fundamento da capacitação de
qualquer Força Armada, refletindo o desejo da própria sociedade. Daí
decorrem as especificidades da profissão militar, universalmente
reconhecidas e, que no Brasil, impõem limitações ao exercício de
direitos usufruídos pelos outros trabalhadores’.
Características da Profissão Militar
Risco de Vida: ao longo da sua carreira, o militar
convive de perto com o risco. Seja nos treinamentos, na sua vida diária
ou na guerra, a possibilidade iminente de um dano físico ou da morte é
uma característica permanente da sua profissão. O exercício da atividade
militar, por sua natureza, exige o comprometimento da própria vida.
Sujeição a Preceitos Rígidos de Disciplina e Hierarquia:
ao ingressar nas Forças Armadas, o militar tem de obedecer a severas
normas disciplinares e a estritos princípios hierárquicos, que
condicionam toda a sua vida pessoal e profissional.
Restrições a Direitos Sociais:
o militar não usufrui alguns direitos sociais, de caráter universal, que
são assegurados aos demais trabalhadores, dentre os quais se incluem:
- remuneração do trabalho noturno superior a do trabalho diurno;
- jornada de trabalho diário limitada a oito horas;
- repouso semanal remunerado; e
- remuneração de serviço extraordinário, que extrapole as oito
horas diárias estabelecidas pela Constituição como limite ao trabalho
normal para as demais categorias.
A Formação Militar:
o ingresso na carreira militar ocorre mediante concurso público, do qual
participam milhares de jovens, sem qualquer tipo de distinção de raça,
credo, classe social ou convicção ideológica. As escolas de formação
militar organizam suas atividades de modo extremamente exigente:
formaturas, aulas, instruções técnicas e táticas, reuniões, manobras,
exercícios físicos e inspeções são uma constante. Uma programação que
começa, diariamente, às 06h00min da manhã com a ‘alvorada’ e termina às
22h00min com o ‘toque de silêncio’. Durante os exercícios de campo e nas
manobras (operações militares), as atividades se prolongam noite
adentro, continuamente, sem nenhuma forma de indenização pecuniária ou
compensação material. Não se trata de uma situação acadêmica comum, em
que, terminada a aula, ou mesmo antes, o aluno retira-se para sua casa
ou onde lhe aprouver. Durante todo o dia, estão presentes os encargos e
deveres, as condições de disciplina e a exposição aos riscos do
treinamento militar, em qualquer nível.”
O Desembargador Pinheiro Rodrigues, em artigo recente, concorda
com a visão do General Cerqueira Filho e aponta, com realismo e
conhecimento jurídico, a dificuldade da tropa vir a aceitar um
comandante militar que seja homossexual assumido.
- A valiosa sinceridade do General
Por Francisco César Pinheiro Rodrigues - Advogado, desembargador
aposentado e escritor. É membro do IASP Instituto dos Advogados de São
Paulo.
“Tendo em vista a repercussão, na mídia, contra uma opinião
manifestada pelo general de exército Raymundo Nonato de Cerqueira Filho
- em depoimento no Senado - só nos cabe concluir que, em nosso país, a
honestidade mental corre crescente perigo. Quem quiser ocupar posições
de maior relevo, assumindo novas responsabilidades deve - é a triste
realidade -, evitar, a todo custo, a sinceridade. É preciso treinar, em
casa, antes da audiência, a técnica de mentir, agir como um ator.
‘Curvar-se à direção dos ventos’. Do contrário, será ‘boicotado’ em suas
legítimas aspirações. Deve responder às perguntas, não conforme sua
opinião sincera - no caso acertada ou, no mínimo, muito sensata -, mas
de acordo com o ‘politicamente correto’. Essa expressão, todos sabem,
significa o oposto da verdadeira opinião.
Tudo isso vem a propósito da audiência, no Senado, em que o
referido general foi sabatinado, como é de rigor, antes de ocupar uma
vaga no STM – Superior Tribunal Militar.
Qual o suposto ‘absurdo’, proferido pelo referido general que
talvez o impeça de ocupar um cargo no STM? Disse apenas que os
homossexuais só deveriam ser aceitos pelas Forças Armadas ‘se
mantivessem a opção sexual em segredo’. Vejam bem: ele não veta o
ingresso, nas Forças Armadas, daquele homossexual discreto, que
considera sua opção matéria de foro íntimo, não precisando ser
espalhada. Não propõe que os interessados em servir na área das armas
sejam obrigados a se submeter a um detector de mentiras para que não
mintam sobre suas preferências sexuais. Nem pretende que, constatado que
um militar é homossexual, seja ele expulso da corporação, só por isso. O
ilustre oficial manifestou-se contrário à presença de homossexuais
declarados nas Forças Armadas porque, como tais, não conseguirão
comandar - subtende-se com a mesma aceitação -, a tropa. Essa é, porém,
sua opinião, provavelmente compartilhada por grande número de
experientes militares e mesmo por civis. Apenas um dado da realidade
social. Na controvertida declaração o ilustre general está preocupado é
com a disciplina nos quartéis; não ‘ataca’ os homossexuais por serem
tais.
Realisticamente, é preciso lembrar que o nível cultural da tropa
não é elevado. O preconceito popular ainda existe, é muito forte, e não
anulável em curto espaço de tempo. A baixa escolaridade prepondera entre
os soldados. É previsível um certo desrespeito do soldado,
principalmente se iniciante, com relação ao superior que, todos sabem,
sente atração pelo mesmo sexo. Isso não estimula a disciplina.
Principalmente se o homossexual revela, com trejeitos, sua orientação
sexual. Se, constatada uma infração disciplinar, o oficial gay deixou de
punir um ou dois subordinados, com quem mantém relações especialmente
cordiais, outros praças dirão - talvez injustamente -, que a
benevolência explica-se pelos laços afetivos íntimos que dificultam a
punição dos ‘queridinhos’.
A opinião do referido general não se reveste de
inconstitucionalidade. Todos têm o direito de expressar seu pensamento,
respondendo por eventuais abusos. No caso, depondo no Senado, o dever de
dizer a verdade é especialmente exigível. Só merece elogios quem não
mente em situação como essa, mesmo com o risco de não ser aprovado pela
comissão que o sabatina. Não se vê abuso na opinião em exame. É
apenas a visão franca, honesta, de um profissional que conhece, mais que
os parlamentares, a mentalidade da tropa. Ele não está preocupado,
na verdade, com a vida íntima dos soldados. Prevê e inquieta-se com a
perspectiva de relaxamento em uma atividade essencialmente máscula e
sóbria, que tem na hierarquia um dos seus pilares de sustentação.
No depoimento ele não se mostra hostil aos homossexuais, de modo
geral. Frisa que existem outras inúmeras profissões em que podem se
destacar. No mundo artístico, intelectual, empresarial, no jornalismo e
nas profissões liberais há espaço de sobra para a criatividade,
geralmente elevada, dos homossexuais. É questão apenas de colocar o
homem certo na atividade mais de acordo com sua natureza. Se, por mero
exemplo, analogicamente, um candidato à carreira diplomática tiver um
gênio excessivamente irascível, violento - com antecedentes de
esbofetear quem o contradiz - caso ele seja reprovado, por seu
temperamento, no concurso de ingresso na carreira diplomática, nem por
isso poderá alegar que foi negado o seu direito constitucional de acesso
aos cargos públicos. Outros existirão disponíveis. Não houve, no caso,
‘preconceito’. Houve apenas a preocupação de preenchimento de funções
conforme a compatibilidade da personalidade do candidato com o cargo
visado.
Quem já serviu o Exército presenciou que os locais para banho são
amplos, coletivos, sem compartimentos individuais. Como todos os praças
sabem que ali só há ‘homens’, na sua ‘orientação’ tradicional, não há
porque desconfiar do militar que está a seu lado, se ensaboando e,
ocasionalmente, olhou para ele de um modo mais demorado. Se houver,
porém, a certeza de que ao lado está um homossexual, surge o receio de
que aquele olhar pode ter um especial significado, desagradável para
quem foi criado num ambiente cultural em que os sexos devem ser
distintamente definidos. Esse clima de constante desconfiança não é bom
para a tropa. As piadas prosperam.
Quando a norma constitucional diz que todos devem ser tratados
igualmente - não permitindo preconceitos contra deficientes físicos,
raças e orientação sexual -, isso não quer dizer que todos,
absolutamente todos, possam ocupar toda e qualquer função pública, sem
restrições.
Já houve quem pensasse, por exemplo, que cegos poderiam ser
juízes. Ocorre que o juiz - principalmente o de primeira instância -,
precisa do sentido da visão. Precisa ler as petições; ler o que ele
mesmo, ou alguém por ele, escreveu como despacho ou decisão; analisar a
reação física da testemunha - que pode estar mentindo -; examinar a
planta de um imóvel, etc. E não pode também ser nem surdo nem mudo, por
razões óbvias. Para as petições e documentos serem vertidas para o
código Braile seria oneroso demais. Mesmo nos tribunais superiores seria
problemático admitir portadores de deficiências dos sentidos. É preciso
ler petições, falar e ouvir as sustentações orais e opiniões dos colegas
de julgamento. Assim, esse não-acesso de alguns à profissão de
magistrado tem razão de ser. Não por ‘preconceito’, mas porque a
natureza da função assim o exige. Cegos podem se tornar excelentes
juristas, professores e conferencistas. Quem já ouviu alguma palestra do
professor de direito Alberto do Amaral Júnior, que é cego, ficou
certamente impressionado com o invulgar rigor lógico da exposição e
profundidade de seus conhecimentos. Não podendo ler os livros, alguém
faz isso por ele, lendo em voz alta.
Se houver amplo acesso de homossexuais declarados às
Forças Armadas é previsível que a profissão militar seja especialmente
procurada por eles tendo em vista a carência afetiva dos homens que amam
homens, e não mulheres. E ninguém pode negar que fatores sexuais
influem nas opções profissionais. Um famoso ator inglês, Michael Caine,
tornou-se ator apenas porque estava enamorado de uma bonita moça que
estudava arte dramática em determinada escola. Ele mesmo é que disse
isso, em entrevista. Seguindo-a algumas vezes na rua, viu que ela
freqüentava aquela escola de atores. Para ter a oportunidade de, talvez,
beijá-la em algum ensaio, matriculou-se no curso e acabou tornando-se um
ator de sucesso. Igualmente, se houver um forte fluxo de homossexuais
querendo ingressar nas Forças Armadas, é natural e previsível que, com o
tempo, a proporção deles na carreira das armas seja muito maior que a
existente em outras profissões. Isso porque o militar heterossexual, com
freqüência - e por razões de serviço -, é obrigado a ficar longe da
família, ou namorada; ‘vazio’ sentimental que estimulará homossexuais a
ocupar esse espaço.
Analogicamente, pelo mesmo motivo, não parece ser
recomendável que lésbicas dêem preferência a trabalhar como carcereiras
em presídios femininos
Duas décadas atrás, perguntei a um experiente cirurgião por que
havia tão poucas mulheres exercendo essa especialidade. Ele me respondeu
que, em parte, isso ocorria por uma questão de mera tradição, que estava
desaparecendo aos poucos. Argumentou, porém, que, na sua opinião, as
médicas, por temperamento - por serem mais delicadas -, preferem cuidar
de problemas menos violentos, menos brutais, menos ‘sanguinolentos’.
Explicou-me que, por vezes, o paciente que está na mesa de operação tem
uma peculiaridade anatômica, uma artéria ‘fora do seu lugar’, isto é,
não conforme o que consta nos compêndios de anatomia. Se, por acidente,
a artéria é cortada pelo bisturi, o sangue inundando o campo operatório,
é preciso muita presença de espírito, ‘vocação’, para lidar com o súbito
problema. Nesse caso o cirurgião é obrigado a agir meio no escuro,
porque o sangue jorra e cobre tudo. Ele entendia que o homem - embora
nem todos - tem mais ‘sangue frio’ nessas situações. Enfim, se uma jovem
médica prefere clinicar em vez de operar, é seu ‘direito’ não ser
forçada a trabalhar, como empregada, amputando pernas, operando coração,
etc. Reciprocamente, a administração pública, no caso as Forças Armadas,
também têm o direito de prevenir o ingresso, em suas fileiras, de homens
que vão favorecer, mesmo involuntariamente, uma maior indisciplina na
tropa.
Se o ilustre general Cerqueira Filho for ‘reprovado’ na
sabatina, só porque não mentiu, porque deu sua opinião - equilibrada e
aceitável -, todos os futuros sabatinados ficarão doravante conscientes
de que no nosso país é imprescindível mentir para ocupar cargos mais
elevados.
Espera-se que não ocorra tal desmoralização.”
- Jair Bolsonaro: Contra gays nas Forças Armadas
Deputado federal (PP-RJ)
“O comandante é o espelho da tropa! Esta é a primeira lição
que se aprende no quartel. Um comandante gay assumido certamente
causaria constrangimento de seus subordinados perante os demais colegas
de farda. Da mesma forma, pastores e padres gays assumidos também
afastariam fiéis. É a realidade não demagógica. Não se trata de condenar
opção sexual, mas há de se considerar profissões ou ofício que não
combinam com determinadas condutas. Isto não é discriminação, apenas uma
constatação. Políticos ou ativistas que recriminam o general Cerqueira
são os que defendem reserva de cotas para ex-condenados, mas não os
empregam em seus gabinetes ou residências.
Ao entregar seu filho para o serviço militar, o pai tem a certeza
de que lá ele irá moldar seu caráter em valores morais e éticos. Não
quer vê-lo, receber ordens de alguém que poderá aliciá-lo para o
homossexualismo, como se isto fizesse parte da normalidade em nossa
sociedade.
Se passarmos a dar comandos a homossexuais, as Forças Armadas
sofrerão, rapidamente, processo de descrédito, com comprometimento do
seu dever constitucional já que se alicerça na hierarquia e disciplina.
Aos críticos, costumo dizer que gozamos de tantos privilégios que
nenhum deles têm um só filho na carreira das armas. A verdade para os
moralistas de plantão dói na alma. Vivem da mentira e da calúnia.
Um casal unido sob a benção de Deus, ao esperar um filho, nunca
diz que teria orgulho se o mesmo se revelasse gay no futuro. Que
hipocrisia é esta de passeatas de ‘orgulho’ gay?
Respeitemos a opção sexual dessa minoria, mas não podemos tolerar
quando estes querem que os aceitemos, no seio de nossa família, ou em
algumas profissões, como se isto fosse um padrão de vida para servir de
exemplo e orgulho para todos”.
* Hiram Reis e Silva, Coronel de Engenharia, Professor do
Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA), Presidente da Sociedade de
Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS), Acadêmico da Academia de
História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB), Membro do Instituto de
História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS), Colaborador Emérito
da Liga de Defesa Nacional.
Site:
http://www.amazoniaenossaselva.com.br
E-mail:
hiramrs@terra.com.br
*
* *
A imprensa
mineira e o Poder:
E Minas?
De como o grande jornal dos
mineiros não representa a grandeza das Gerais.
Por Ana Vargas*
Para
Via Fanzine
853 cidades e
quase 20 milhões de pessoas. Grandeza e diversidade são qualidades que
não faltam a Minas Gerais. Viajar por Minas é surpreender-se com a
variedade de paisagens - vales, rios e açudes – e, claro, com a
já famosa simpatia de seu povo (e isso não é propaganda enganosa).
Acrescente-se ao cenário natural a presença constante de belíssimas
montanhas que, dependendo da estação, adquirem tons lilases ou
cinzentos. No entanto, esta Minas, ao contrário do que possa
parecer, não é aquela dos cartões postais, dos pacotes de agências de
viagem que incluem a capital, cidades históricas ou o famoso circuito
das águas. Há outra Minas, muito além desta, que não aparece nos
folhetos turísticos. Tenho tantas belas imagens de Minas na memória,
tenho tanta poesia e prosa impregnando minhas lembranças; tanto de
Drummond ou Rosa! E muito tenho, das pessoas simples com as quais
convivi e felizmente, ainda convivo quando viajo para a região na qual
nasci: o centro-oeste mineiro.
Minas
são muitas (sim, isso foi propaganda de um governo nos anos 80; perdoem
o clichê). Minas é quase um país, na definição de tantas pessoas que já
escreveram, cantaram e falaram sobre ela. Mas, é incrível o quanto essa
diversidade, essa riqueza, esse modo de vida que encanta qualquer pessoa
que se disponha a atravessar um “Grande Sertão: Veredas”, por exemplo,
parece não entusiasmar aqueles que fazem a imprensa em Minas Gerais.
Vou citar apenas o
“grande jornal dos mineiros”, que é como se define o Estado de
Minas. De vez em quando, o jornal faz uma matéria interessante sobre
essa diversidade, mas isso é (infelizmente) raro. Na maioria das vezes o
que se vê é a cobertura turística (e superficial) de temas que, se
explorados com verdadeiro interesse, dariam matérias no mínimo,
saborosas.
É claro que há
honrosas exceções, mas é pouco, diante dessa Minas grandiosa. E onde há
grandeza e diversidade há certamente, problemas, inúmeros e antigos.
Problemas - tão gigantescos quanto o estado - que parecem não existir
quando se lê o grande jornal dos mineiros. As páginas do EM,
mostram uma Minas sempre perfeita e asséptica. Tudo parece funcionar
perfeitamente bem, não há miséria, não há agravos políticos, a economia
vai muito bem, não há corrupção... Não há melhor assessoria de imprensa
para o governo Aécio Neves do que o Estado de Minas (o grande jornal
do... governador de Minas).
Sim, qualquer
pessoa medianamente informada sabe que conchavos entre mídia e
governantes são corriqueiros, mas isso não deveria ser aceito com
normalidade. Isso é sim, revoltante e triste. Triste na medida em que
sabemos que a imprensa deveria ser “os olhos do povo”, mas quando a esse
povo é negado o direito da crítica, temos o cenário perfeito para a
imposição de meias verdades e o começo de uma verdadeira ditadura. E
isso está acontecendo em Minas. A constatação está no documentário feito
pelo mineiro Daniel Florêncio** (assunto que já foi notícia no
“Observatório da Imprensa”). Um documentário fundamental, aliás, não só
por demonstrar as relações mesquinhas entre mídia e poder, mas também
por expor um problema que significa para mim, a morte do (bom)
jornalismo. Coloque no Google Estado de Minas X Aécio: centenas de
notícias aparecerão, todas favoráveis ao governador e todas, publicadas
no EM.
Procurando por
Minas sob esse prisma, qualquer pessoa irá achar que se trata de um
reino de felicidade, não condizente, por exemplo, com o fato de que o
salário do professor em Minas é um dos menores do Brasil. Há algo de
errado aí. Vozes dissonantes são caladas e qualquer tentativa de se
analisar a coisa por outro ponto de vista é cerceada.
Eu, como mineira,
gostaria de ver o grande... sendo realmente “grande”, no sentido
de oferecer possibilidades para que todos os mineiros e toda Minas,
fossem representados em suas páginas. Gostaria que houvesse abertura
para o debate político saudável, gostaria que os inúmeros prefeitos
corruptos de Minas pagassem realmente pelo roubo (literal) que é
cometido nas cidadezinhas esquecidas, gostaria que esses tantos roubos
fossem investigados e averiguados por jornalistas que tenho certeza,
sentir-se-iam motivados a ir em busca desse tipo de notícia. Há gente
valorosa em Minas, entre eles, muitos jornalistas.
Mas esta gente
valorosa, anda sendo demitida. No grande jornal..., só se pode
falar da Minas cartão postal, a Minas que zerou o déficit, a
Minas cor de rosa... E se tudo é mesmo assim, e se aqueles que se
dispuserem a ler esse artigo, pensarem que estou sendo romântica demais,
que jornalismo é isso mesmo, que o jornal X ou Y desse ou daquele
estado, também é abertamente do lado deste ou daquele político...
Ora, não sou
ingênua, mas acredito ainda que tais coisas não devem ser aceitas com
naturalidade. Isso não é definitivamente, jornalismo. Enquanto a
situação persistir (até quando?) prefiro procurar a Minas verdadeira,
tão bela, pungente (e sim: problemática) em outros lugares. Lugares
reais e não nas páginas do EM. Pois o jornalismo que exclui toda a
diversidade (que significa também: estradas esburacadas, fome e miséria
no norte do estado; salários miseráveis dos professores, agressões
ambientais e etc.) dessa deslumbrante Minas Gerais e tenta (apenas
tenta, pois, como se vê, há descontentes cada vez mais
descontentes) criar um mundo terrivelmente bonitinho; sinceramente, me
assusta e entristece. Limpar apenas o alpendre (como dizemos em Minas)
para receber as visitas enquanto a casa inteira está suja; é algo que em
Minas soa como falta de hospitalidade no trato com os visitantes.
De certa forma, é
isso que o EM vem fazendo com os leitores.
E ai de
quem ousar reclamar.
* Ana Claudia Vargas é jornalista, mineira de
Dores do Indaiá. Seu e-mail de contato é
vargas.anac@gmail.com.
** O documentário de Daniel Florêncio –
que todo mineiro deveria assistir - chama-se Gagged in Brazil
(Censurados no Brasil).
- N.E.: Este texto foi originalmente
publicado pelo site Observatório da Imprensa.
* * *
Brasília:
Deputado do Castelo
se livra da masmorra
A Justiça que só
prende ladrão de galinha.
Por Pepe Chaves*
O Brasil tem sido um país exemplar no que tange à moral e a
integridade de nossos políticos. Cada vez mais, entre eles, é comum
embolsar verbas públicas “sem querer”, ou até “sem saber”. Da mesma
forma, é comum e natural, claro, não declarar patrimônios de alguns
milhõezinhos de reais, ato que lesa o fisco em valores substanciosos.
No Brasil, quanto mais irresponsável o político, mais
cresce o seu patrimônio pessoal e todo o leque de regalias aberto às
suas voltas. São tentáculos que enlaçam parentes, bens em nomes de
terceiros e tantas outras fontes de renda que, o político até
desconhece. Sem limites, não adianta mais mostrar a sujeira que salta de
determinados gabinetes, pois a própria moralidade parece se tornar
inimiga da “governabilidade”.
Para que, então, existe Ministério Público? Polícia
Federal? Judiciário? Ou todo e qualquer departamento, organismo, poder
ou entidade, cuja a finalidade é corrigir os desníveis, as injustiças e
os esquemas para lesar o erário público? A partir do instante em que tão
volumosas irregularidades se tornam fatos, imunes a qualquer tipo de
desculpa por parte de seus praticantes, o que resta fazer, efetivamente,
para reverter o mal feito? No mínimo deveria ser a retirada daqueles
que, por inúmeras vezes, mostraram que nada mais fizeram do que verter para
os seus bolsos, todo o proveito que possam retirar da vida pública.
Mas, o que vemos é que, ainda que descobertas tantas
falcatruas, tantos disparates e desmandos, seus autores ainda se julgam
dignos de pensar que nada mais fizeram, pois, eles mesmos acreditam que
muito mais já fizeram ao país - que agora desmoralizam a olhos vistos. O
que ocorre após os escândalos é que, os “escandalosos”,
escandalosamente, permanecem em seus cargos, como se tudo o que fizeram
contra o povo, não tivesse ocorrido. Permanecem em seus cargos e sequer
são punidos de alguma maneira, pois em torno destes, estão outros de
igual desenvoltura, cujos rabos-de-pavão já estão capturados por
diversas ratoeiras.
São presos os ladrões de galinhas, pés-de-chinelo, estes
sim, merecem ser castigados e encher nossas cadeias, com o custeio do
dinheiro do Estado. Aqueles que estão a mamar e a distribuir tetas públicas, a
ponto de vomitar o que mamou em excesso nos colos da opinião pública,
sempre saem imunes das injustiças, roubos e disparidades que promovem.
Já cansamos de ver este filme em todos e quaisquer governos.
Que pizza que nada, toda imoralidade acaba é em nada mesmo.
Que se lixe a opinião pública, que se lixem os honestos, lixe-se, até
sangrar, àquele
que patrocina toda esta farra da imoralidade administrativa: o cidadão
comum.
* Pepe Chaves é editor
do diário digital
Via Fanzine.
|