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Protestos no Brasil

 

Rio de Janeiro:

Confrontos no entorno do Maracanã

Domingo de confrontos violentos marcam a final da Copa das Confederações.*

 

Por Antônio Siqueira*

Do Rio de Janeiro-RJ

Para Via Fanzine

BH-1º/07/2013

 

Manifestantes pedem cancelamento da parceria com iniciativa privada para administrar o Maracanã.

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“Foi bonita a festa pá, fiquei contente, ainda guardo renitente um velho cravo para mim”. Os versos da saudosa canção de Chico Buarque demonstram bem como foi o domingo de protestos e confrontos no entorno do Maracanã. O local era palco da final da Copa das Confederações que teve o Brasil como campeão. O Brasil jogou como há anos não jogava, dando um nó tático no time de Vicente Del Bosque e goleando o atual time bicampeão europeu e campeão do mundo por 3 a 0. Um espetáculo maravilhoso para quem gosta do bom futebol.

 

Entretanto, o povo, apesar da sua paixão pelo futebol e, em especial, pela Seleção Brasileira, não se alienou diante do que era o grande ópio das massas até então. Os protestos que já duram quase um mês prosseguiram no entorno do estádio com mais de 10 mil pessoas.

 

Até mesmo dentro da própria cerimônia de encerramento, dois dançarinos da festa de encerramento da Copa das Confederações roubaram a cena no começo da noite deste domingo, no Maracanã. Um homem e uma mulher estenderam uma faixa pedindo a “imediata anulação da privatização do Maracanã”. Fantasiados de bola de futebol, os figurantes foram instantaneamente repreendidos pela segurança e orientados a se retirarem do gramado. A Fifa, conservadora e autoritária, é contrária aos protestos, inclusive, nas arquibancadas. Em outro ponto do gramado, um figurante levantou uma faixa nas cores do arco-íris com os dizeres “Ser gay é Maria. Aberração é o preconceito”.

 

Mas, do lado de fora do Estádio, o famigerado “Caveirão”, veículo blindado usado pela PM do Rio e pelo BOPE como base de apoio tático para operações de invasão a favelas, ente outras, era o ponto turístico daqueles que gostam de serem fotografados ao lado de “equipamentos oficiais”. A Polícia Militar (PM) colocou o Caveirão na esquina da Avenida Maracanã com a rua Professor Eurico Rabelo, defronte ao estádio e chamou atenção dos torcedores que chegavam para assistir à partida.

 

Pela manhã, uma passeata pautada pelo bom humor reuniu cerca de cinco mil pessoas com algumas máscaras e bandeiras de partido e, sem serem hostilizadas, faziam as suas reivindicações eram claras. Estas eram bem claras: contra a privatização do estádio, pela reabertura do Parque Aquático Maria Lenk e pela reconstrução da pista de atletismo do Célio de Barros, destruída na reforma do Maracanã para a Copa.

 

Confronto deixou manifestantes e policiais feridos.

 

No fim da tarde, o clima era outro: não havia bandeiras de partidos, muitos estavam encapuzados, vestidos de preto, e havia animosidade contra a imprensa. Pouco antes do início do jogo entre Brasil e Espanha, um grupo jogou pedras, garrafas e coquetéis molotov contra a PM, provocando um confronto, do qual, pelo menos dois policiais e seis manifestantes ficaram feridos. A manifestação marcada para a tarde de domingo reuniu 2,5 mil pessoas e também seguia pacífica, com apoio dos moradores da cidade, que balançavam bandeiras pelas janelas.

 

Acompanhada por forte policiamento, o grupo deveria caminhar para a Praça Afonso Pena, onde ficaria a mais de dois quilômetros do Maracanã. Subitamente, os manifestantes entraram na rua São Francisco Xavier, um dos principais acessos ao estádio, causando corre-corre entre a PM, que formava o cordão de isolamento na frente da passeata. A estação do metrô local foi fechada. Situados a 400 metros do Maracanã, os manifestantes foram impedidos de avançar por forte barreira policial. E, quando faltavam 26 minutos para o início do jogo, um grupo começou a atacar os policiais, utilizando pedras e garrafas. Um homem lançou coquetel molotov que chegou a incendiar a calça de um policial.

 

No momento do confronto, policiais que formavam a barreira juntamente com repórteres que faziam a cobertura se refugiaram em um posto de gasolina. Grupos de vândalos continuaram a lançar bombas caseiras e advertiam, “Sai daí ou vai morrer todo mundo”, gritavam para os refugiados no posto. Policiais do Batalhão de Choque e o Caveirão seguiram para o ponto do confronto. Os manifestantes foram dispersos com tiros de bala de borracha, bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo.

 

Quando a polícia avançou, os vândalos se dividiram em três grupos. Parte seguiu pela Avenida Maracanã em direção à Praça Varnhagen, colocando fogo em barricadas na Avenida Maracanã. Outros dois grupos fugiram em direções opostas da Rua São Francisco Xavier e 28 de Setembro, em Vila Isabel. A polícia passou a caçar os manifestantes pelas ruas da Tijuca, Vila Isabel e Maracanã. Alguns conseguiram abrigo em prédios. Na Rua Paula Britto, policiais apreenderam 17 coquetéis molotov.

 

Em meio ao cenário de guerra, com estrondos de bombas e muita fumaça, fazendo policiais e manifestantes passarem mal, foi possível ouvir o grito da torcida em comemoração ao gol de Fred, antes do segundo minuto de jogo. Na entrada da área VIP do Maracanã, os convidados e autoridades se queixavam que chegaram a sentir o cheiro das bombas de gás lacrimogêneo, numa distância de aproximadamente um quilômetro do estádio.

 

Pelas redes sociais, o grupo Anonymous Rio pedia que moradores filmassem a ação policial e liberassem o sinal do Wi-Fi, para que manifestantes pudessem compartilhar imagens na internet. A manifestação também foi acompanhada por representantes da OAB e da Defensoria Pública, a convite da PM. Segundo o Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria Pública, a confusão partiu dos próprios manifestantes, com a mensagem transmitida no Twitter do Comando de Operações Especiais (COE) da PM.

 

*Antônio Siqueira é articulista e correspondente de Via Fanzine no Rio de Janeiro-RJ.

 

- Foto: Uol Notícias.

 

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Produção: Pepe Chaves.

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