A música pra pular
brasileira:
Rock in (urrrrrrgh) Rio?
Agora na 4ª edição e tendo sido até exportado (!) chamaram
cantoras de axé, funqueiros e até o coitado do Milton
Nascimento!
Parece que o Samuel Rosa falou a seguinte pérola “tem
muita porcaria no rock”: será que ele lembrou de se incluir?
Quem sou eu: sou um escritor anônimo que possui um olho
parecido com o das moscas e isso permite que eu veja o mundo pós-moderno
com bastante propriedade. Sou formado em ‘nada’ com especialização em
futilidades (algo bem parecido com cultura pop) e odeio (não
necessariamente nessa ordem): a nova MPB – com suas cópias ruins de
cantoras dos anos 1970 - o rock brasileiro dos anos 1980 (tirando, e
olha lá, o Camisa de Vênus ), a onda do politicamente correto, o
Facebook, a esquerda e a direita, bairrismos e patriotismos. Tenho o
grandioso defeito de gostar somente daquelas bandas de rock dos 60 e 70
e acho, pobre de mim, que o melhor do rock já passou. Hoje eu pretendo
destilar todo o meu veneno contra a gororoba atual que alguns ousam
chamar (arghhhhh!) de rock! E pra começar em bom estilo, nada melhor do
que descer a lenha nesse evento picareta chamado ‘Rock in Rio’! Você
também está com muita revolta entalada na garganta depois que viu a
Beyoncé rebolando um funk que faria o James Brown se contorcer (de
raiva)? Então: és muito bem vindo! Ah, mas eu não pretendo falar só de
música não... Me aguarde!
Roquinho domesticado
Amados leitores, sejam muito bem vindos: hoje o assunto é o bom,
velho e pisoteado rock’ n roll! As más e as boas línguas dizem que o
rock nasceu da junção do blues com ritmos como o boogie woogie, o
jazz, a folk music, o rockabilly , o gospel e outros. Todos esses
estilos eram tocados em violões melancólicos por gente revoltada da
beirada do Mississipi, ali naquele país que se acha: os States. E isso
era feito por gente que estava de saco cheio de ser explorada. Gente
que vivia lá embaixo, na base da base da pirâmide social. Gente cheia de
rancor contra o sistema e tão carente de mudanças sociais que se
encontrava pra espairecer depois das colheitas e das lidas diárias e
nisso (imagino) alguém sempre olhava pro céu (como a pedir alento) e
tirava do fundo da alma aquelas músicas sofridas e tristes e tão
bonitas... Foram assim, emocionantes, os primórdios do rock’n roll,
crianças!
Mas eis que o tempo passou – e passou e passou – e vieram os ainda
certinhos anos 1950, os psicodélicos 1960 e os loucos ao máximo, 1970! E
em cada década o rock foi sofrendo mutações, algumas terríveis, outras
aceitáveis, até se transformar no que é hoje.
E o que o rock é hoje, heinnnnnnnnnnnnnn, meninos e meninas?!
É isso aí que estamos vendo no tar ‘rock in Rio’, aliás, quando
inventaram isso de Rock in Rio, lá em 1985, eu que era um
pré-aborrecente pensei “Mas o Rio é o túmulo do rock, como puderam
criar um troço desse lá”? Mas como deve imaginar, irmão, eu estava bem
por fora da indústria (felizmente) e o tal festival do rock criado pelo
tal do Medina, virou esse megavento aí, essa aberração pós-moderna e
midiática que é patrocinada por bancos, refrigerecos, chicletes, empresa
de celulares, carros (!!) e quem mais tiver grana pra investir!
Agora na 4ª edição e tendo sido até exportado (!) chamaram
cantoras de axé, funqueiros e até o coitado do Milton Nascimento! Ou
seja: um baita festival do ‘nada a ver’, uma coisa tão absurda que só dá
pra analisar pela lente do surreal! Piedade senhor, eles não sabem o
que fazem!
E quem quiser arrumar o cabelo (como assim?!) antes do show, pode,
porque tem salões de beleza na ‘cidade do rock’ (?!) e quem quiser tirar
fotos com as vestimentas típicas do povo do rock (jaquetas de couro,
óculos a La Lennon e etc.) também pode! Isso não é tudo de bom,
garotada?! Se você não sabe nem que foi o Led Zeppelin, não tem
importância: coloque um colete e vista uma calça boca de sino para se
parecer com o Plant que tá tudo bem!
Sim, isso é ótimo! Vai render bastante grana pro tal do Medina, pra
todos os patrocinadores, pra rede ‘grobo’ e etc. Mas eu cá fico é
pensando em como o rock tem, de uns tempos pra cá, se transformado em
coisa que é tudo e qualquer coisa, menos rock, digo o rock, aquele que
cheirava a rebeldia, revolta, furor contra os sistemas opressores e
coisas parecidas.
Domesticaram o rock, o trancaram numa jaula inodora e dão de comer
pra ele em pratinhos limpos, uma comida artificial e requentada, e o
rock parece estar gostando; ele se empanturra e começa a vomitar
dinheiro, muito dinheiro; e essa grana toda alimenta a publicidade e
aliena a moçada que toda ingênua, toda sorrisos pra câmera da ‘grobo’,
compra o ingresso e arruma o cabelo e se veste à caráter pra ir naquilo
que ousam chamar ‘cidade do rock’.
Que grande palhaçada é esse Rock ‘n Rio!
Ah, mas tem o Metallica e o Iron: sei... essas bandas viraram
empresas de rock e deviam parar enquanto resta alguma dignidade! Aposto
que andam até tendo que bater cartão!
Só mês resta dizer: que saudade do Led e do The Who e dos Ramones e
do Clash e de todo aquele sujo e revoltado rock’n roll! (Isso sem falar
nos pais desse povo: os blueseiros cansados da colheita, mas com o
talento transbordante que inventaram a coisa toda!).
Pra terminar: parece que o Samuel Rosa falou a seguinte pérola “tem
muita porcaria no rock”: será que ele lembrou de se incluir? E o Jota
Quest? Banda com nome de desenho animado e com som de festa infantil.
Ah, mas peraí; eles sim, são a cara do rock medíocre orquestrado pelo
rock ‘in (arghhhhhh) Rio!
25/09/2013
- Imagem: Guitar Hero/Divulgação.
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