Estilo:
Itaúna já foi uma cidade Rock 'n Roll
Bandas itaunenses criaram canções que se
tornaram conhecidas pelo público local.
Por Pepe Chaves*
de Belo Horizonte
para
Via
Fanzine
13/07/2012
O Presença faz
apresentação numa varanda em Santanense:
Dinho, Frajola,
Reginaldo, Tatá e Di Charllis.
Podemos dizer que
Itaúna sempre teve uma inclinação ao Rock ‘n Roll e isso, vem desde as
tradicionais big bands que a cidade manteve a partir dos anos 40. Na
década de 1960, diversos grupos musicais se formaram, mas poucos
desenvolviam trabalhos autorais.
Contratados para
tocar em bailes, a maioria desses grupos se restringia a reproduzir
canções de variados estilos e já consagradas em todo o mundo. Entre
estes grupos estava o prodigioso Os Penetras, cuja maioria dos músicos
morreu num fatídico acidente na MG-050, quando se dirigiam para
apresentar noutra cidade no início da década de 1970.
Os Penetras reunia
músicos natos e altamente habilidosos.
A música autoral,
seja popular ou rock, viria surgir com mais força em Itaúna a partir de
meados da década de 1970, quando viria à tona o legendário grupo Mágicos de
Nós, reunindo entre seus músicos, alguns dos principais compositores na
história da música local, como Maurício Lima, Graysson Amaral, Robson
Matos, Abelardo Matos, Anatoli (Lôra), André Lima, entre outros.
Os mágicos
compuseram dezenas de canções entre meados da década de 1970 até 1984,
quando encerraram suas atividades.
Nesta mesma época
surgiu o que deveria ser o primeiro grupo punk de Itaúna, o Juracy
Antúrio, que também se apresentou com o nome de Asas e reuniu em
suas apresentações os músicos, Dimas Santos, João Newton, Rogério
Macedo, Frederico, José Clécio, Popó, Walter Ferreira, João Newton,
Romilson (falecido), Toninho e Gerson (Gé de Sabará).
Na virada da década de 1970,
surgia o grupo Janela do Tempo, com os músicos Bodinho, Gango, Carmelo e Reinaldo
Piolho.
Ruddy Souza, Mércio e
Tarciso em apresentação da área externa do Espaço Cultural.
No início da
década de 1980 surgiram com mais evidência, outras bandas de rock que
apresentavam composições próprias, como o Presença, que trazia entre os
músicos o saudoso Di Chally, Reginaldo, Dinho e Frajola, Tatá, entre
outros. Nessa mesma
época surgia o Ha, com Fernando Chaves, Giovani Mendes e Humberto
Campos. Também era criado o Túmulo de Ferro, banda de Heavy Metal,
apresentando os músicos Ruddy, Túlio e Roberto.
Jarbas, Bráulio e
Roberto Antunes: formação do Deadliness em 2001.
Mais tarde, após
dissolvido o Túmulo de Ferro, seus remanescentes criaram outras duas bandas autorais, o Calvary Death e o Deadliness, lideradas respectivamente pelo saudoso
Ruddy Souza e o guitarrista/vocalista Roberto Antunes, trazendo nestas,
outros grandes músicos e
compositores locais, como Tarciso, Túlio, Mércio, Bráulio, Jarbas, entre
outros. No final da década de 90, apareceria o Sunrise, que anos depois
virou o Cauac, trazendo o guitarrista Wendell e Marcial Fernando nos vocais, assinando a
maioria das composições.
Em 1987, eu tive o
prazer de participar de uma dessas bandas autorais, o Elfos, fundada por
eu, Fernando Chaves e Adilson Rodrigues e que contou também com a
participação de outros músicos convidados durante os cerca de cinco anos
em
atividades. No Elfos compusemos muitas dezenas de canções, que hoje
podem ser consideradas (ao lado de tantas de outros autores) verdadeiras
pérolas da música itaunense. Algumas destas foram
digitalizadas em tempos recentes e outras permanecem guardadas ou perdidas para
sempre.
Wendell e Marcial
Fernandes em apresentação do Cauc no Espaço Cultural.
Atualmente, a música feita em Itaúna está
sendo ouvida em diversas localidades do globo. Sobretudo, através dos
recursos da internet que perpetuaram muitos desses significativos
trabalhos. Porém, antes da era digital, o Calvary Death assinou contrato
com a gravadora Cogumelo Records, de Belo Horizonte, e teve seu álbum de
death metal "Jesus intense weeping" distribuído na Europa e outros
países.
Também vale dizer que, entre todas estas
bandas citadas aqui, a única que ainda se encontra em atividade é a
Deadliness, atravessando décadas, se refinando e ainda detonando toda a
sua originalidade musical.
Tive também o prazer de conhecer quase
todos os músicos que integraram estas bandas e ainda mantenho profundos
laços de amizade com muitos deles. Conhecendo estas pessoas, posso dizer
que o Rock para elas, não figura somente um segmento musical, o qual
elegeram para reinar em seus toca discos e depois aparelhos de CDs.
Creio, para estes músicos, o que se chama Rock era também comportamento,
ia além da música e se tornava uma verdadeira postura social, um estilo
de vida ou uma forma de contestação ou protesto em épocas onde a censura
e a vigilância ainda faziam marcação cerrada a todos àqueles que
pensavam por si próprios.
Elfos com participação
de Roberto Antunes em sua última apresentação,
comemorando os 100 anos
de Itaúna, em 2001.
Ainda que seja
pouco conhecido no estado e no país, em verdade, Itaúna detém um forte
arsenal de composições próprias, de alta originalidade, sobretudo,
composto em tempos passados. E, isso, não somente no tocante ao estilo
Rock'n Roll, mas em todos os demais.
A dedicação dos músicos
locais - citados ou não aqui - se
tornou a mais evidente prova da legítima e tradicional cultura musical
itaunense. Muitos desses trabalhos, certamente, permanecerão
desconhecidos do grande público, por isso, felizes foram aqueles poucos
que puderam conhecer as produções de alguma das bandas citadas nesse
artigo.
* Pepe Chaves é editor
do diário digital
Via
Fanzine e da
Rede VF.
- Fotos: Arquivo VF.
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