Árvore milenar:
Julia Butterfly Hill: 738 dias em cima de
uma sequoia
Esta história ainda não passou para as
telonas, apesar de algumas tentativas
e intenções de algumas figuras em
Hollywood. Dizem que, em tempos de crise,
a história de uma heroína e ativista
proambiental não vende.
Por
Ricardo Taipa*
De
Łódź/Polônia
Para Via
Fanzine
03/0/2012
Julia Hill se refugiou
durante dois anos no alto de uma árvore milenar,
impedindo que ela fosse
cortada por uma empresa particular.
A imagem acima é um
detalhe da capa do livro O Legado de Luna (The Legacy of Luna).
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Diz que tinha 6 anos e fazia uma caminhada com os seus pais
quando uma borboleta pousou num dos dedos da sua mão ficando com ela por
algum tempo, o suficiente para que, a partir de então, começou a ser
chamada de butterfly (borboleta).
Os Hill são daquelas famílias que, por vezes, vemos no
cinema. Viviam numa grande autocaravana e o seu pai pregava o evangelho
de cidade em cidade. Foi neste ambiente que cresceu Julia, uma ativista
americana que ficou conhecida pela sua determinação em salvar uma árvore
sequoia (com 1000 anos) das serras dos madeireiros da Califórnia.
Capa do livro O
Legado de Luna (The Legacy of Luna)
Esta história ainda não passou para as telonas, apesar de
algumas tentativas e intenções de algumas figuras em Hollywood. Dizem
que, em tempos de crise, a história de uma heroína e ativista
proambiental não vende. Foi adiado e esperam que algum mecenas possa
disponibilizar os fundos necessários para o filme sobre Julia e a
sequoia gigante, que foi batizada de Luna.
Tudo começou, na realidade, com um grave acidente
automobilístico em agosto de 1996, quando tinha Julia 22 anos. Sendo a
única pessoa sóbria num grupo de amigos, Julia conduzia tranquilamente,
quando um condutor alcoolizado embateu violentamente na traseira do seu
veículo. O volante partiu com o impacto da sua cabeça e perfurou-lhe o
crânio. Somente após um ano de recuperação e terapia, ela pôde voltar a
poder falar, caminhar e expressar-se naturalmente.
Este acontecimento foi o catalisador para a maior mudança
da sua vida. Ela afirma em entrevista que, "Enquanto recuperava, percebi
que toda a minha vida tinha estado fora de equilíbrio. Finalizei o
ensino secundário aos 16 anos estando a trabalhando sem parar desde
então, primeiramente, como empregada de mesa, depois como gerente de
restaurante. Eu estava obcecada pela minha carreira, sucesso e coisas
materiais. O acidente despertou-me para a importância do momento
fazendo, o que podia para ter um impacto positivo no futuro. (...) O
volante na minha cabeça foi, figurativa e literalmente, o que me
conduziu numa nova direção da minha vida".
Foi então que Julia encetou uma road trip para a
Califórnia interessando-se por um grupo proambientalista ligado à musica
reggae. Protestavam contra o crime ambiental dos madeireiros
californianos e do gigante das madeiras, a empresa Pacific Lumber Co.,
de propriedade de um magnata texano.
Os protestos dos ambientalistas subiram de tom e culminaram
em armas de fogo e uma tragédia onde a vida de um jovem de 20 anos foi
interrompida. A descoberta de Luna foi por acaso e deu-se quando alguém
notou a marca a tinta azul que significava "árvore para abate".
A partir daí, o grupo montou, prontamente, uma pequena
plataforma de 1.80x1.80 metros na árvore, a cerca de 55 metros de altura
(o equivalente a 14 andares) e foi rodando entre si. Cada um ficava um
ou dois dias, mas a ideia era que um voluntário permanecesse por pelo
menos uma semana, para que o impacto na mídia fosse mais visível. Julia
subiu a sequoia e, em vez de uma semana, ela ficou dois anos seguidos.
Esta queda de braço entre a Pacific Lumber Co., os
madeireiros e os ambientalistas se tornou um recorde. Julia viveu
embrulhada em sacos de dormir durante o inverno, tendo apenas uma tenda
que a cobria de maneira precária.
A sua determinação chamou gradualmente a atenção à
necessidade de proteger as florestas antigas que outrora abundavam na
América, mas que pela ganância das grandes corporações e dos lobbies dos
madeireiros foram dizimadas.
Durante esses dois anos a árvore foi sacudida por ventos
fortíssimos movidos pelo El Nino e pelas pás dos helicópteros da Pacific
Lumber Co. Julia ainda teve a sua integridade física ameaçada por
madeireiros, que também ameaçarem o corte de Luna, caso ela não descesse
da árvore.
Durante dez dias uma empresa de segurança, a mando dos
madeireiros, isolou Julia impedindo que lhe fizessem chegar provisões.
Num documentário sobre a história de Julia (Adventures on Treesitting) a
heroína se refere às condições duras durante o inverno, com chuva
gelada, vento e o isolamento ao estar confinada a um quadrado com menos
de apenas dois metros. Um pequeno kit de camping e um celular a bateria
solar foram dos poucos confortos que Julia levou para a gigantesca
sequoia.
Julia Hill se acomodou
num abrigo de dois metros para proteger à árvore.
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Finalmente, em 1999, quando já era visível no rosto e no
corpo de Julia as consequências da sua longa jornada no topo da sequóia,
a Pacific Lumber Co. decidiu chegar a um acordo.
Uma área-tampão (buffer zone) de cerca de 200 pés
(60 metros) foi cedida pela empresa, a troco de US$ 50 mil, angariados
por diversas associações ambientalistas. O dinheiro foi posteriormente
revertido para o estudo de florestas sustentáveis. Julia desceu da Luna
e não evitou o choro ao separar-se da sua milenar companheira de dois
anos. Dizia não entender o que se passa pela cabeça de alguém para
cortar uma árvore como aquela. Nascia uma das maiores ativistas para a
proteção das florestas.
Luna, ficando isolada em terreno da Pacific Lumber Co.,
pouco depois, sofreu um ataque. Em 2000 descobriram um profundo corte no
seu tronco. Um puro ato de vandalismo que, felizmente, foi curado com
aplicação de ervas na "ferida" aberta por gente sem escrúpulos e
brutalizada.
Cabos de aço e um colar em volta do tronco previnem que os
ventos fortes derrubem Luna. A árvore se recuperou e apesar de nunca se
ter encontrado o(s) culpados(s), este acontecimento marca o fim de uma
luta de 15 anos para se preservar a floresta de Headwaters, agora um
parque nacional que atrai milhares de turistas e que reconstitui apenas
3% do seu ecossistema original! [1]
Julia Butterfly Hill continua a sua luta. Foi presa e
deportada do Equador quando tentava proteger uma floresta milenar da
depredação causada pela construção de um pipeline. Ela se tornou uma das
vozes ativas contra o sistema de taxação fiscal dos EUA conhecido como
IRS. A sua história foi inspirou músicas, livros, documentários e,
sobretudo, muitos outros ambientalistas.
*
Ricardo
Taipa é cronista português e editor dos blogs
Um português na
Polônia e
http://ricardotaipa.blogspot.com.br/.
-
Referências: Wikipédia e site da autora.
- Fotos: Divulgação.
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Extras:
Vídeo sobre a ativista Julia Butterfly Hill
Mais
sobre Julia no seu site oficial: Julia Butterfly Hill
http://www.circleoflife.org/inspiration/luna/
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