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Fonte Magna:

A herança dos sumérios ao Novo Mundo

O copo foi descoberto na Bolívia em 1960 por um camponês em um território privado que dizem,

 era de propriedade da família Manjon, situado em Chúa, mais ou menos

a 80 km de La Paz, nas proximidades do lago Titicaca.

 

Por Yuri Leveratto*

De Bogotá/Colômbia

Para ARQUEOLOVIA 

22/05/2012 

 

O antigo copo traz inscrições de diferentes origens no seu interior e exterior.

 

Um dos achados arqueológicos mais controvertidos de toda a América reporta-se ao que se conhece como Fonte Magna, também denominada de Vaso Fuente (Copo Fonte), um grande copo de pedra, parecido com um recipiente para realizar libações, batismos ou cerimônias purificadoras.

 

O copo foi descoberto na Bolívia em 1960 por um camponês em um território privado que dizem, era de propriedade da família Manjon, situado em Chúa, mais ou menos a 80 km de La Paz, nas proximidades do lago Titicaca.

 

Na sua parte externa o dito copo contém alguns baixo-relevos zoomorfos (de origem tihuanacoide), enquanto que na parte interna, além de uma figura zoomorfa ou antropomorfa (a depender da interpretação), registra dois tipos de escrituras diferentes, um alfabeto antigo, proto-sumério, e o quellca, idioma da antiga Pukara, civilização precursora dos Tiwanaku.

 

Em 1960, o arqueólogo boliviano Max Portugal Zamora realizou pequenos trabalhos de restauração no copo de pedra e tentou decifrar, sem êxito, a misteriosa escritura que se avista na parte interior.

 

Um membro da família Manjon entregou o copo ao município de La Paz em 1960. Em troca, a família Manjon recebeu um terreno em uma zona adjacente à capital. O objeto permaneceu no sótão do Museu dos Metais Preciosos durante 40 anos.

Até os idos do século XX, ninguém sabia, em realidade, a origem da Fonte Magna e ninguém podia imaginar a extraordinária e fascinante história que a envolve.

 

No ano 2000, dois investigadores de La Paz, o argentino Bernardo Biados e o boliviano Freddy Arce, viajaram a Chúa, localidade ao norte do lago Titicaca, e pediram informação aos nativos de língua aymara sobre o achado da Fonte Magna em 1960.

 

Inicialmente, ninguém sabia informar nada sobre o tal Copo Fonte, nem sobre a família Manjon, que parecia ter, simplesmente, escafedido. Depois, encontraram um senhor de 92 anos chamado Maximiliano que, depois de analisar a foto da Fonte Magna, reconheceu e a denominou de “o prato do porco”.

 

Maximiliano disse que o copo foi encontrado muitos anos antes, nas proximidades do povoado e que não deram nenhuma importância, até que alguns homens carregaram (talvez pagando alguma coisa), para entregá-lo ao município de La Paz.

 

'De acordo com os textos antigos, nos tempos dos sumérios,

Ni-ash (Nammu ou Nía) era a deusa que deu à luz ao Céu e à Terra'

 

Por tal contexto, é válido destacar a ironia referente ao fato de que: um dos objetos mais importantes de toda a história humana era utilizado por um camponês como recipiente para dar de comer aos porcos.

 

Bernardo Biados e Freddy Arce fotografaram e estudaram a fundo o célebre copo, chegando à conclusão de que era utilizado na antiguidade para cerimônias religiosas purificadoras. Os dois investigadores enviaram fotos das inscrições ao epigrafista americano Clyde Ahmed Winters, que decifrou os enigmas protosumérios gravados no interior da Fonte Magna.

 

Em seguida, registro a tradução da moldura central onde constam os caracteres cuneiformes:

 

“Aproxima-se no futuro, uma pessoa dotada de grande proteção em nome da grande Nía. Este oráculo serve para as pessoas que desejam alcançar a pureza e reforçar seu caráter. A divina Nía difundirá pureza, serenidade, caráter. Utilize este talismã [a Fonte Magna], para fazer germinar a sabedoria e a serenidade. Utilizando o santuário adequado, o santo curativo, o sábio, jura empreender o caminho indicado para alcançar a pureza e o caráter. Oh, sacerdote, encontre a luz única para todos os que desejam uma vida nobre”.

 

De acordo com os textos antigos, nos tempos dos sumérios, Ni-ash (Nammu ou Nía) era a deusa que deu à luz ao Céu e à Terra. O baixo relevo que existe na parte interior do copo, pode evocar uma rã (símbolo da fertilidade), segundo alguns investigadores, é justamente a representação de Nía, a deusa dos Sumérios.

 

Os outros símbolos que se encontram nas laterais do baixo-relevo e na parte adjacente às incisões protosumérias, foram interpretados como de origem quellca, idioma escrito da civilização Pukara, porém não foram decifrados.

 

Na parte externa do copo existem alguns baixos relevos zoomorfos que lembram a cultura de Tiwanaku: peixe e serpente. É muito provável que a Fonte Magna tenha sido utilizada como copo sagrado para cerimônias esotéricas que cultivavam a fertilidade e a busca da pureza.

 

Aqui surge a seguinte pergunta: como é possível que haja inscrições protosumérias em um copo encontrado perto do Titicaca, a aproximadamente uns 3800 metros de altura acima do nível do mar e distante por dezenas de quilômetros do local de expansão da civilização suméria?

 

Em minha opinião, a Fonte Magna é autêntica e é um dos objetos antigos mais importantes do mundo atual, por meio do qual, se pode conhecer o passado longínquo da humanidade, assim como suas viagens interoceânicas.

 

Devemos lembrar que a existência do Novo Mundo era perfeitamente conhecida pelos Fenícios e Cartagineses que navegavam na África no primeiro milênio antes de Cristo, mas, seus conhecimentos provinham dos sumérios, povo que sempre se associa, equivocadamente, “com o nascimento da civilização”.

 

'Alguns sumérios voltaram ao Velho Mundo, levando a coca,

que foi encontrada também, nas múmias de alguns faraós egípcios'

 

Sabe-se que os sumérios navegavam em suas embarcações pelos canais do Tigre e do Eufrades com o objetivo de exercer o comércio. Contudo, pouco se sabe sobre a navegação dos sumérios, que tinham como base a atual ilha de Bahréin, onde recentes escavações demonstram a existência de um porto comercial que estava em atividade no terceiro milênio antes de Cristo. Nos textos sumérios, o atual Bahréin se chamada Dilmoun, e dalí, as frotas sumérias partiam para trocar tecidos, ouro, incensos e cobre. As embarcações sumérias eram grandes, com capacidade de transportar até 36 toneladas.

 

Segundo Bernardo Biados, os sumérios navegavam a África já no terceiro milênio antes de Cristo, contudo, quando chegaram às ilhas de Cabo Verde, encontraram a passagem bloqueada por ventos contrários que sopravam incessantemente em direção ao sudeste. Portanto, viram-se obrigados a fazer a rota em direção ao oeste em busca de ventos favoráveis. Foi assim que chegaram, por causalidade, ao Brasil, às costas do atual Estado do Piauí ou mesmo no Maranhão. Desses pontos exploraram o continente remontando os afluentes do Rio Amazonas; em particular, o Rio Madeira e o Rio Beni.

 

Dessa maneira, chegaram à meseta andina que, provavelmente, em 3000 a.C. não tinha um clima tão frio. Eles se misturaram à população Pukara que, por sua vez, eram originárias da Amazônia (expansão dos Arawak), e com os povos Colla (cujos descendentes hoje falam a língua aimara). A cultura suméria influenciou os povos da meseta, não apenas em fatores religiosos, como também no tocante ao léxico. Com efeito, vários linguistas encontraram muitas semelhanças entre o protosumério e o aymara.

 

Alguns sumérios voltaram ao Velho Mundo, levando a coca, que foi encontrada também, nas múmias de alguns faraós egípcios.

 

Há pouco, Bernardo Biados e Freddy Arce analisaram e estudaram a fundo o monólito de Pokotia, que contém interessantes inscrições na parte posterior (dorsal), as quais podem relacionar-se também com viagens entre oceanos ocorridas antes do terceiro milênio a.C.

 

Somente com um estudo comparado de genética, arqueologia, linguística e ciências epigráficas seria possível alcançar, em um futuro, a verdadeira compreensão sobre as relações entre os antigos povos do mundo, com a finalidade de traçar um mapa detalhado de toda a evolução humana.

 

* Yuri Leveratto é italiano e atualmente reside na Colômbia. É pesquisador arqueológico e de antigas culturas.

- Seu portal oficial é http://www.yurileveratto.com/po/

 

- Imagem: Arquivo Y. Leveratto©.

 

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