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 Árvores

 

 

Curitiba:

Um exemplo de cidadania:

cidadão acorrenta-se em árvore

Muitos dirão que este é um protesto "inútil", pois, ao mesmo tempo em que milhões de árvores

são mortas na Floresta Amazônica, por exemplo, pra quê tentar salvar um mero exemplar urbano?

 

Gabriel Bertran

Para Treesforever

27/02/2012

 

Carlos Eduardo Andersen

 

Acompanhamos durante esta semana o protesto solitário do empresário Carlos Eduardo Andersen, que se acorrentou a uma antiga árvore da espécie paineira, aqui na cidade de Curitiba, tentando impedir o seu corte criminoso e injustificado, pela prefeitura da cidade.

 

Muitos dirão que este é um protesto "inútil", pois, ao mesmo tempo em que milhões de árvores são mortas na Floresta Amazônica, por exemplo, pra quê tentar salvar um mero exemplar urbano? Acho válido todo tipo de luta pela preservação ambiental e tenho consciência de que a situação da Amazônia é seriíssima e precisa ser abraçada por todos nós. Mas digo, também, que este protesto urbano e solitário é extremamente necessário e parabenizo o cidadão por seu exemplo.

 

É necessário porque esta árvore simboliza, sim, outros milhões de árvores urbanas que estão desaparecendo silenciosamente em todo o Brasil, não só em Curitiba. A impressão que dá é que elas, infelizmente, "saíram de moda", como eu bem ressaltei em outro artigo.

 

As pessoas não se preocupam em preservar as árvores de suas calçadas e casas. Quando constroem ou reformam uma casa tratam logo de retirar todo o verde existente ali, nesta aparente "moda" vigente, que dita uma arquitetura "limpa" (sic), geralmente utilizada por pessoas que parecem querer ostentar, ao mesmo tempo, baixo nível de cultura e alto nível de renda em suas edificações, com estilos pra lá de discutíveis. As construtoras não deixam exemplares remanescentes ao construir prédios ou condomínios. O máximo que plantam são palmeiras secas importadas, que sombra nenhuma fazem diante deste calor infernal que vivenciamos.

 

A prefeitura de Curitiba, que se vangloria de administrar uma "capital ecológica", parece ter decretado sentença de morte às árvores que antes faziam desta cidade um local mais agradável e civilizado que outros do Brasil. Silenciosamente (ou não) as motos serras da administração pública colocam abaixo antigas e belas árvores, como a da foto, motivo do protesto do Carlos Eduardo. Árvores que testemunharam o crescimento da cidade estavam nos locais antes da grande expansão urbana.

 

Os moradores vêm com argumentos injustificáveis, como o da vizinha à arvore motivo de protesto, que afirma que seu portão não fecha direito devido às raízes. Ora, se a cidadã fará uma reforma no portão de qualquer jeito, que adapte-o às raízes da árvore, pois esta estava ali muito antes da moradora construir a casa! Outros reclamam das folhas e flores (que tanto ornamentam as ruas e nos protegem do calor e das chuvas) que caem no chão. Mas reclamar da quantidade de garrafas plásticas, papéis, latas, cigarros, etc. que os humanos jogam no chão, aí, ninguém reclama. Isso sim é lixo, que entope bueiros e galerias pluviais, não as folhas, as quais fertilizam a terra, alimentam pássaros, etc. São verdadeiras bênçãos de Deus as folhas e flores das árvores! E os mesmos que reclamam delas são, muitas vezes, os porcos que sujam as ruas com lixo humano, químico e perigoso. Talvez prefiram viver em um deserto cheio de lixo ao invés de um lindo bosque florido.

 

Estas são as contradições de uma humanidade que cada vez mais se afasta da natureza e nem se dá conta que o desconforto provocado por chuvas mais fortes do que o normal, calor e seca prolongados e outros fenômenos são consequência direta da ampla destruição ambiental que os próprios humanos vêm causando!

 

Voltando à prefeitura de Curitiba, vê-se uma quantidade imensa de aprovação de obras que destroem as árvores nativas existentes nos terrenos. Até araucárias (árvore símbolo de Curitiba e do Paraná, protegida por Lei) estão sendo cortadas injustificadamente. Laudos claramente contraditórios, que afirmam que as árvores estão "doentes" (quando visivelmente não estão - elas apenas estão no local onde os proprietários querem construir, ocupando todo o terreno) são expedidos pela municipalidade para a instalação de grandes concessionárias de veículos, como foi o caso de uma na rua Mateus Leme (leiam a reportagem completa clicando aqui).

 

E outras grandes lojas de veículos que mantinham araucárias anteriores a elas estão matando-as e depois derrubando criminosamente, como visto em uma unidade na Av. Pres. Kennedy e outra na Mário Tourinho. Quem teve a oportunidade de ver as araucárias vistosas definhando aos poucos em meio aos carros sabe do que eu estou falando. Isso fora diversos prédios em construção que derrubam-nas amparados nestes "laudos", sem preservar nada. A lista é imensa e não cabe neste espaço.

 

A verdade é que estes agentes da destruição em nome do "desenvolvimento" acham que ninguém está vendo. Mas algumas poucas pessoas como eu ou o cidadão da foto acima vêem sim. Percebemos que há algo anormal, que antes não era assim, pois a cidade cuidava melhor de suas árvores. É só observar os edifícios construídos nas décadas de 70, 80, até 90. Preservava-se as árvores de grande porte em jardins ou áreas comuns. Parece que naquela "época áurea" da Curitiba ecológica (quando as inovações que fizeram a cidade ficar famosa mundialmente foram implementadas), havia um cuidado com a preservação do verde. Hoje está vigente um "liberou geral" discreto, mas que aumenta a cada dia. E ninguém fala nada.

 

As poucas árvores plantadas pela prefeitura nas ruas não possuem a mínima proteção (sem cercas e com tutores muito frágeis) e são frequentemente destruídas por vândalos. Porque isso aumenta também muito na "capital civilizada". Hoje não sobra quase nenhum orelhão, nenhuma árvore recém plantada, sem depredações. Isso sem falar de outros atentados ao patrimônio público e privado. Consequências do grande crescimento das últimas décadas? Pode ser. Mas o que se vê é a falta de educação generalizada dos brasileiros, em conluio com o poder público conivente.

 

Falta de educação ambiental, falta de educação e cidadania em geral. Ao mesmo tempo a propaganda oficial diz que o país está crescendo (até mais que os países desenvolvidos), mas só crescemos quantitativamente. A qualidade de nosso povo, reflexo da falta de educação que o governo deveria ajudar a provê, não cresce nada. Este povo que decepa as árvores em frente a suas casas e depois reclama do calor. Este povo que não usa transporte público ou não sai a pé em pequenas distâncias e depois vêm reclamar do trânsito. Este povo que reclama do rio que transborda e inunda suas casas, mas joga todo tipo de lixo ali. Como mudar essa triste realidade?

 

Por isso os poucos que protestam e tentam chamar a atenção da população e das autoridades precisam ser valorizados. Como o cidadão citado no início deste artigo. Que tenhamos mais "Carlos Eduardos" pelas nossas cidades!

 

Foto: Gazeta do Povo, em 06/03/2012.

 

 

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