Pernambuco:
Vazamento de óleo e as praias do litoral?
Segundo estudo realizado pela Academia de Ciências dos Estados Unidas
(USA) as atividades
navais são responsáveis por 33% dos vazamentos de petróleo no ambiente
marino, acidentes
com
petroleiros 12%, nas instalações terrestres e descargas urbanas 37%, e
outras atividades 18%.
Por
Heitor Scalambrini Costa*
De
Recife-PE
Para
Via
Fanzine
22/12/2011
O título deste artigo pode parecer mau agouro,
anúncio precipitado, previsão pessimista, seja lá como se pode
interpretar. Todavia temos assistido, com certa recorrência, anúncios de
vazamento de óleo no mar, e os impactos desses acidentes na costa do
país, que nos levam a imaginar a possibilidade de semelhantes desastres
ocorrerem no litoral pernambucano.
Isto porque o complexo industrial portuário de
Suape abriga e planeja para futuro próximo, um conjunto de instalações
industriais poluidoras e de alto risco, que aumentará assim
substancialmente a probabilidade de ocorrências de desastres com
vazamentos e, derramamentos de petróleo e derivados. São classificadas
como indústrias sujas, estaleiros navais (dois planejados e dois já em
funcionamento), termelétrica a gás natural (já em funcionamento) e a
óleo combustível (Termelétricas Suape II e Suape III), a Refinaria de
Abreu e Lima, que terá sua própria termelétrica, e o projeto do parque
de tancagem para armazenar 200.000 toneladas de óleo combustível para
atender a anunciada maior termelétrica do mundo, Suape III.
Não se pode continuar fingindo não saber que o
uso de combustíveis fósseis (gás natural e petróleo/derivados) na
geração elétrica e em outras atividades, da produção ao transporte, é a
principal causa do aquecimento global, com conseqüências diretas nas
mudanças climáticas e assim na intensificação de fenômenos como
inundações, estiagens, extinção de espécies, entre outros. Logo,
consumir derivados de petróleo significa devolver para a atmosfera, sob
a forma de gases e particulados, uma massa enorme de carbono e outros
elementos como enxofre e nitrogênio, que foram retirados desse meio há
milhões de anos. Essa massa de petróleo consumida no mundo (em torno de
100 milhões de barris/dia) e gás (aproximadamente 15 bilhões de m3/dia)
é quase toda queimada, transformada basicamente em gás carbônico. É uma
massa de carbono sem precedentes na história, jogado artificialmente na
atmosfera, constituindo-se em um dos fatores de agressão à natureza
promovida pela indústria do Petróleo. As agressões ocorrem em todas as
etapas dessa indústria.
Segundo estudo realizado pela Academia de
Ciências dos Estados Unidas (USA) as atividades navais são responsáveis
por 33% dos vazamentos de petróleo no ambiente marino, acidentes
com petroleiros 12%, nas instalações terrestres e descargas urbanas 37%,
e outras atividades 18%.
Em particular, quando o petróleo chega em uma refinaria se inicia
uma nova etapa que se caracteriza por elevados riscos à saúde e de
agressão à natureza: a indústria do refino é das mais intensivas na
utilização de dois insumos caros à humanidade: água e energia. E a água
que utiliza, ao menos no Brasil, ainda é descartada contendo grande
quantidade de óleo, além de outras matérias orgânicas e metais. Por
serem grandes consumidoras de energia, e em geral serem auto-suficientes
neste insumo, as refinarias são grandes consumidoras de petróleo e seus
derivados, constituindo-se, portanto, em grande agressora da atmosfera.
Todo o receio de um desastre com derramamento de petróleo e
derivados em Suape é justificável. E o alerta é necessário visto que tal
acidente afetaria o ecossistema marítimo, colocando em xeque o futuro de
comunidades costeiras onde milhares de famílias vivem da pesca, além de
afetar as atividades econômicas do turismo na região. Há menos de 10 km
do balneário de Porto de Galinhas e de outras lindas praias do litoral
Sul, um vazamento de óleo poderia afetar drasticamente toda aquela
região.
Daí urge repensarmos este projeto de crescimento predatório
em curso no Estado, e discutirmos democraticamente alternativas que
utilizem fontes de energia, menos agressoras ao meio ambiente e a saúde
publica, e como resolver os problemas básicos que efetivamente afetam
aquelas populações como: educação, saúde, transporte, saneamento,
moradia, segurança, entre outros.
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Heitor Scalambrini Costa é professor da Universidade Federal de
Pernambuco.
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Tópico relacionado:
'O governo
da poluição'
- Heitor Scalabrini
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