Produções nacionais buscam o mundo:
Um renascimento do cinema brasileiro
Novas produções buscam caminhos
alternativos para o cinema nacional.
Por
Pepe Chaves*
De
Contagem-MG
Via Fanzine
Ufologia e espiritualidade
No final da primeira década do milênio, uma onda temática
transcendental toma conta do cinema brasileiro. Um cinema que sempre
focou suas atenções nos meandros da vida urbana, na banalidade das
favelas, na violência, na exploração sexual, nos crimes e escândalos
sociais...
Tudo isso se transformou numa massa uniforme, desde o cinema
novo, as pornochanchadas, até as últimas e mais caras produções (com
raras exceções), se generalizando ao cinema nacional.
Mas, eis que, nos anos finais dessa primeira década do
milênio, surge um “novo cinema novo”, tal como um divisor de águas. Nascido como
se de um renascimento artístico nas grandes telas do Brasil, temáticas
distintas, mas de um campo não considerado popular passam a ser
exploradas. A tendência dessa
guinada para tais campos temáticos, antes, jamais explorados com a devida
profundidade, pode ser um sinal de que outras surpreendentes produções
podem entrar no prelo nestes próximos anos.
O mais interessante nestas últimas
produções é que todas elas, de conteúdo distinto entre si, se voltam à
abordagem de casos que se passam no Brasil. Ficção ou realidade, essas
novas produções, também caracterizadas pela associação a companhias
internacionais, trazem em comum o cenário brasileiro como pano de fundo,
mas de uma forma absolutamente inovadora diante do que já fora
produzido.
Inclusive, vale dizer que o Brasil jamais teve um filme que
poderia se encaixar na categoria “ufológica”, a mesma que remete a
produções hollywoodianas como “Contatos Imediatos de Terceiro Grau”,
“Fogo no Céu”, “Invasores”, entre outras. Desde as primeiras produções
ufológicas americanas, muitas décadas se passaram até que produtores
brasileiros se atentassem ao tema e toda a sua potencialidade. Estas
produções mostram, de seus respectivos pontos de vista, fragmentos de
registros dos fenômenos anômalos, seja reconstituindo situações, ou
criando outras, baseadas em casos.
A temática dos UFOs sempre passou longe das telas do cinema
brasileiro. Nunca foi feita pelo cinema nacional nenhuma abordagem, seja fictícia ou documental, acerca de tais fenômenos
ocorridos no país. Por
outro lado, a imprensa brasileira jamais abordou corretamente o fenômeno
e, na ânsia da busca pelo ibope fácil, atropelou informações e assim,
fatos, ocorrências, colaborando somente para maior mitificação do
fenômeno.
O mesmo ocorre com a temática da espiritualidade, da vida
após a morte, da reencarnação, sob o ponto de vista espírita. Salvo
raras exceções, tais temas jamais foram enfocados pelo cinema nacional.
Num país de Bezerra de Menezes, José Arigó, Chico Xavier e tantos outros
personagens tão atípicos, os filmes de temática espiritualista, em
verdade, vêm tarde, num fértil terreno de tão vastas inspirações, como é
o do Brasil.
Bezerra de Menezes
Carlos Vereza, o protagonista
A
precursora dessa série foi, até então, a solitária produção de “Bezerra de Menezes, o
diário de um espírito”, de 2008, sobre a vida de Bezerra de Menezes. A produção
teve direção de Glauber Santos Paiva Filho e Joe Pimentel. O elenco é
composto por Carlos Vereza, Caio Blat e Paulo Goulart Filho, com participação especial de Lúcio Mauro.
Baseado
em fatos reais, são mostrados detalhes da carreira do médico Adolfo
Bezerra de Menezes, nascido na antiga Freguesia do Riacho do Sangue
(hoje Jaguaretama), no Estado do Ceará, no dia 29 de agosto de 1831. Ele
também se destacou como militante na política e no espiritismo e, por
isso, sofreu muitas perseguições e teve uma vida incomum.
A
produção orçada em R$ 1,7 milhões esteve a cargo da Trio Filmes e
Estação da Luz, com locações no Ceará, Pernambuco, Distrito Federal e
Rio de Janeiro, tendo envolvido a mão-de-obra de uma equipe de 150 pessoas. O lançamento do filme
foi em 29 de agosto de 2008.
Chico Xavier
Chico Xavier: psicografia
Em 2010,
o médium mineiro Chico Xavier, no ano de seu centenário, tem a história
de sua vida exposta na telona. Ele é autor de mais de 400
livros, segundo atribuía, psicografados, ou seja, contendo mensagens
enviadas a ele por espíritos “desencarnados”.
“Chico
Xavier, o filme”, teve estreia nacional no dia 02/04, data do centenário
do médium. O filme de Daniel Filho é baseado no livro de Marcelo Solto,
“As vidas de Chico Xavier”. Nascido na cidade mineira de Pedro Leopoldo,
Chico Xavier afirmava que desde pequeno ouvia e via espíritos.
O elenco
do filme, que conta com 106 atores, tem nomes de peso, como Tony Ramos,
Christiane Torloni, Cássio Gabus Mendes, Giovanna Antonelli, Letícia
Sabatella, Giulia Gam, Paulo Goulart, Pedro Paulo Rangel e ainda Ângelo
Antônio e Matheus da Costa, de 11 anos. Nelson Xavier interpreta Chico
Xavier adulto; Ângelo Antônio interpreta Chico quando jovem e Matheus
relembra os momentos difíceis da infância, quando o médium apanhava da
madrinha e mantinha supostas conversas com a mãe já falecida.
Nosso Lar
Cena de 'Nosso Lar'
Exatos
cinco meses depois, chegou
nos cinemas nacionais, em 03/09, a super produção nacional “Nosso
Lar”, (Our Home: The Astral City),
orçada em substanciais R$ 20 milhões. O longa metragem vem
consolidar a recente tendência do cinema nacional de abordar o tema da
espiritualidade. A produção é baseada no livro homônimo que teria sido ditado pelo
espírito de André Luiz, psicografado pelo médium mineiro Chico Xavier.
Dirigido e roteirizado por Wagner de Assis, o filme mostra
personagens e paisagens a partir da convenção espiritual, descrevendo
locais e condições em que se dirigem os espíritos desencarnados,
expiando situações e sentimentos inerentes à suas vidas outrora passadas
na Terra.
“Nosso
Lar” marca enfaticamente o cinema nacional ao se
tornar a primeira produção a usar de forma coesa e sob medida, efeitos
gráficos de última geração em grande parte das filmagens. Os cenários foram criados com tecnologia
digital, a partir de informações da médium Heigorina Cunha, mostrando
arquiteturas e efeitos visuais jamais utilizados antes nas produções nacionais.
Área Q
Isiah
Washington e Murilo Rosa
Estamos
prestes a assistir o lançamento da primeira produção ufológica
brasileira. Finalizando sua produção, “Área
Q”, é um longa metragem de ficção científica, numa co-produção
EUA/Brasil, através da Reef Pictures Inc., ATC Entretenimentos e Estação Luz
Filmes.
Filmado no Estado do Ceará, Brasil, a cidade de
Quixeramobim se torna o palco para um enredo fantástico envolvendo
ufologia e paranormalidade. Esta cidade é conhecida em todo o mundo por
registros e relatos de aparecimentos de OVNIs, daí o nome “Área Q” – em
menção a Quixeramobim e também a Quixadá.
A produção promove uma inédita parceria com a Panavision,
que se associou ao projeto, cedendo temporariamente um dos mais
avançados equipamentos de câmeras de alta definição do mundo, o Gênesis
– utilizado nas últimas grandes produções cinematográficas.
Área Q
tem roteiro e produção de Halder Gomes, com direção de Gerson Sanginitto.
Gomes e Sanginitto dirigiram juntos o terror “Cadáveres 2”, numa
produção norte-americana. Halder revelou que o filme contará histórias
de avistamentos e abduções no interior do Ceará que escuta desde que era
criança.
Glauber
Filho será o produtor executivo da ficção científica. Os efeitos
especiais em computação gráfica serão dirigidos por Márcio Ramos. No
elenco, destaque para Isiah Washington, Murilo Rosa e Tânia Khalil.
Ficção e realidade
Esta nova fase do cinema no Brasil é marcada por um
amadurecimento dos diretores, cada vez mais antenados em grandes produções,
muito bem informados e sempre à
procura de novos recursos tecnológicos. A aceitação no país tem sido
acima das expectativas e, espera-se, que as portas também se abram para
os brasileiros nas salas de cinema
do exterior.
Marcada pela ousadia, esta é a fase em que o cinema brasileiro investiu
em tecnologias de ponta para recursos audiovisuais, bem como, soube
fazer o acertado emprego de tais tecnologias nessas novas produções.
Estamos vivendo uma fase nobre, onde, além dos excelentes recursos em
mãos, há toda uma preparação do elenco, habitando-o em suas respectivas
funções, através de laboratórios com a devida intensidade e exposição às
situações criadas. Também, transparece o demasiado investimento em
pesquisas e toda uma gama de informações a favor da produção, que se
traduz na solidez aos rumos seguidos pelas respectivas tramas e em
detalhes essenciais,
impensados em produções de outrora.
Contudo, unir a simplicidade brasileira à tecnologia de ponta
torna-se uma tarefa de
muita sensibilidade, cuja mão que a desempenha, deve saber o peso exato
de todas as medidas. Para tanto, não existe melhor recurso que o faça,
senão somente o coração humano. E assim, nos trazendo ficção ou realidade, fato é que o
cinema nacional vem se enriquecendo com suas últimas tendências,
colocando tão originais produções, ao nível de outras bastante
expressivas e de orçamentos
bem superiores.
Se persistir as produções sob o ponto de vista destas curiosas temáticas, é
provável que uma nova identidade seja criada e assim,
o sinal deverá estar verde, para que as produções cinematográficas brasileiras possam ser tratadas com o devido respeito e
busquem a merecida penetração no mercado global.
Por
Pepe Chaves é editor do diário digital
Via Fanzine.
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Fotos: divulgação.
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- Produção: Pepe Chaves
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