NIF:
A maravilhosa fábrica de estrelas
Projeto científico dos Estados Unidos
promete revolucionar a vida
na Terra com modelo energético do
interior das estrelas.
Por Fábio Bettinassi*
De
Araxá-MG
Para Via
Fanzine
Alquimistas do Século 21: Este enorme
cristal foi lapidado pelo laboratório de ciência
avançada Lawrence Livermore (EUA) e está
sendo empregado na busca pela
reprodução do mais viável modelo
energético já inventado.
Clique aqui para ver vídeo demonstrativo dos laser do NIF em
funcionamento.
Você já ouviu falar do NIF? Após você ler esta matéria, vai
ser difícil imaginar que um projeto de tamanha grandeza possa se resumir
em apenas três letras. Mas o que foi economizado em ortografia existe de
sobra em inovação.
NIF significa National Ignition Facility (Usina
Nacional de Ignição). Tal façanha é o suprasumo da física ótica e tem
por objetivo reproduzir o processo de geração de energia que ocorre no
interior das estrelas. Parece abstração, digna de devaneios de gênios da
ciência, mas não é, pois tudo indica que a pesquisa do NIF vai mudar
radicalmente o mundo e afetar positivamente todos os aspectos da
humanidade de uma forma como nunca se viu antes.
Construído pelo famoso laboratório de ciência avançada
Lawrence Livermore na Califórnia (EUA), o NIF em termos de custo e
complexidade rivaliza com outro grandioso projeto: o LHC (Large
Hidron Colisor) coordenado pelo CERN, na Suíça, que consiste no
maior acelerador de partículas do mundo. Os custos com pessoal e
equipamentos foram orçados inicialmente em US$ 6 bilhões, mas há rumores
que tal valor já ultrapassou a cifra dos US$ 20 bilhões.
O objetivo do NIF é tentar reproduzir em laboratório, a tão
especulada fusão a frio, ou implosão atômica, sem utilizar energia
nuclear ou produzir rejeitos radioativos de alto impacto na natureza. Ao
contrário de um tradicional reator nuclear, movido a Urânio ou Plutônio,
que se tornou, sem dúvida, na tecnologia mais letal e suja que o planeta
já viu, o NIF conta um reator limpo, dispondo de zero carbono e não
radioativo. Não emprega combustíveis tóxicos ou qualquer outro tipo de
“tecnologia apocalíptica”.
O caldeirão de
criar estrelas
O combustível do NIF não poderia ser mais limpo, pois é
usada apenas a luz intensa que, é produzida através de poderosos raios
laser. Usando um vasto aparato de lentes, refletores e amplificadores,
o reator do NIF, chamado de “Câmara do Alvo” mostra que é bem possível
produzir energia de forma limpa e eficiente, sem arriscar a vida de
milhões de pessoas e ameaçar países inteiros – conforme estamos
assistindo na catástrofe japonesa de Fukushima e no passado, em
Chernobyl (Ucrânia) e Three Mile Island (EUA).
Basicamente, o NIF pode ser explicado da seguinte forma:
uma central de comando produz um microscópico pulso de laser, cuja
energia é multiplicada por literais quatrilhões de vezes, através de uma
sequência de amplificadores de cristal. Estes raios lasers são
divididos em outros 192 feixes de luz que, ao longo do percurso, têm
sua geometria e potência ampliada, até atingir níveis inimagináveis de
energia.
Os 192 raios de potência extrema são conduzidos ao interior
da “Câmara Alvo”, que consiste numa grande esfera metálica de alta
resistência, para depois serem canalizados em dois grupos de 96 raios,
um grupo na parte superior e outro na parte inferior da Câmara. Estes
dois grupos convergem em apenas dois únicos raios, que são apontados
para o interior de uma minúscula cápsula preenchida com átomos de
hidrogênio.
A
Câmara Alvo onde toda a energia do laser será descarregada
de uma só vez, reproduzindo o que ocorre no interior de
uma estrela.
Os raios que são portadores de imensa quantidade de
energia criam muito calor, fazendo com que os átomos de hidrogênio
sejam aquecidos e espremidos com tal violência que acabam implodindo.
Esta implosão que ocorre em apenas 10 bilionésimos de segundo (1
bilionésimo de segundo é um segundo dividido por um bilhão), libera uma
quantidade de energia consideravelmente maior do que a utilizada para
criar os raios laser. É como se você colocasse 10 litros de combustível
no seu carro e rodasse sem reabastecer, durante dez milhões de anos.
Desta maneira, o NIF vai fazer reproduzir na Câmara Alvo,
exatamente o mesmo processo usado pelo Sol para produzir luz, calor e
energia. Em tais estrelas existe um núcleo de hidrogênio extremamente
comprimido, esta compressão faz com que os átomos de hidrogênio do
interior da estrela se choquem entre eles, gerando átomos de hélio, que
incendeiam, criando assim, a luz e o calor que sentimos na Terra.
O que o NIF vai fazer é exatamente isso, criar uma matriz
controlada e limpa, tal como o Sol vem fazendo desde a sua criação. A
energia usada no NIF é a força mais antiga do universo.
Além de gerar energia limpa e barata, o NIF pode ser usado
nos campos da ótica e da astrofísica, bem como proporcionar tecnologias
novas para a medicina e na geração de energia elétrica barata. Deverá,
também, inaugurar uma nova física baseada nos fótons de luz,
contribuindo para a melhor compreensão do Universo.
Com o passar do tempo e do desenvolvimento da tecnologia, é
bem possível que num futuro não muito distante, possamos encontrar
centenas e até milhares de usinas NIF em todo o mundo. Esta seria a
realização do sonho de produção energética sustentável e inesgotável com
custo baixo, sem gerar impacto ambiental ou qualquer tipo de risco ou
poluente.
Através da miniaturização da tecnologia, em breve, será bem
possível que tenhamos pequenos geradores domésticos de energia,
similares a uma caixa de fósforos, mas com capacidade para alimentar uma
residência média por 100 anos.
Poeticamente falando, o NIF aponta que o destino do homem
será a luz.
NIF: o laser empregado
como fonte geradora de energia farta e limpa.
Cristais gigantes
em forma de pirâmide
Toda a estrutura do NIF foi construída para que os raios de
luz percorram centenas de quilômetros de tubos para ser ‘modelados’ até
atingir a quantidade de energia necessária para implodir o átomo de
hidrogênio. Estes tubos devem ser perfeitamente polidos e tratados
através de procedimentos de precisão em escala microscópica. Para que a
luz não se perca em meio ao emaranhado de tubos, são necessárias grandes
lentes feitas de cristal de quartzo, de pureza absoluta, impossíveis de
serem encontradas na natureza.
Para solucionar tal problema, a equipe de físicos óticos do
laboratório Lawrence Livermore, decidiu criar seus próprios cristais,
utilizando uma tecnologia que parece ter saído da série Jornada nas
Estrelas, provando que a ficção de ontem já se consolidou com a
realidade de hoje [veja foto no topo da matéria].
O processo chamado de “crescimento de cristais” permite que
uma grande pirâmide de cristal pesando 300 quilos seja criada a partir
de um curioso processo, no qual, uma tonelada cúbica de elementos
químicos líquidos (como fosfato, hidrogênio e cálcio) seja submetida
durante alguns meses a um constante bombardeio de ondas sonoras e
eletromagnéticas oscilantes, emitidas através de uma estrutura metálica
giratória, parecida com uma gaiola de pássaros.
No final do período, este maravilhoso cristal piramidal
passa por polimento, sendo cortado em fatias que são tratadas por
complexos processos químicos até serem instaladas em seus devidos
lugares.
Para a construção de toda a estrutura do NIF, por onde
trafegam os raios laser, são necessários 600 destes imensos cristais
piramidais de 300 quilos cada um. Somente a criação destes cristais é
por si só uma obra de arte.
Vale dizer que a técnica de amplificar a luz usando
cristais, não é novidade, existem relatos de alquimistas da antiguidade
que estudavam estranhos fenômenos óticos usando a pedra vermelha Rubi.
Segundo estes, ao deixar um lado do rubi espelhado e na outra ponta se
projetar um foco de luz, imediatamente a luz retornaria com uma potência
muito superior, revelando uma curiosa capacidade de amplificação. Neste
caso a luz não estaria apenas convergindo para um único ponto focal,
como fazem as tradicionais lupas que usamos na infância para queimar
formigas em dias de sol.
Seria o NIF uma máquina do tempo?
Atualmente célebres cientistas teóricos estão a especular
que a viagem no tempo não é completamente impossível como se pensava.
Segundo eles, tempo e espaço formam uma ‘malha fina’ que permeia todo o
universo. Pelo que apontam estudos recentes, esta malha sofre influência
direta da gravidade.
Em locais do Universo onde existe extrema atração
gravitacional, como próximos a buracos negros ou ao lado de grandes
planetas como Júpiter, a noção de tempo/espaço é diferente daquela que
experimentamos na Terra, isso devido à força de distorção exercida pela
gravidade do corpo celeste. Essa distorção gravitacional também pode ser
obtida através de raios de luz intensa, seguindo a lógica de Einstein: a
energia altera a gravidade e luz é pura energia.
Assim sendo, se a gravidade altera o tempo e a luz produz
gravidade, então a luz altera o tempo.
Vejamos então pelo seguinte ponto de vista: se raios de
extrema energia são capazes de alterar o campo gravitacional ao redor
deles, então estes raios poderão produzir distorções nas relações do
espaço tempo, permitindo um suposto acesso a outras dimensões paralelas
em nosso universo, nas quais, teoricamente co-existiriam o presente, o
passado e o futuro.
Fica aí mais um campo que promete muitas revelações com o
desenvolvimento dos estudos e pesquisas aplicadas nos próximos anos,
quando o NIF será, sem dúvida, deverá ser parte integrante do futuro
dessa humanidade.
Para finalizar, deixamos a recomendação para que votemos sempre em
candidatos que apoiem a pesquisa científica e busquem o desenvolvimento
e o investimento na ciência acadêmica aberta. Um dos pontos fundamentais
que consolida uma civilização é a capacidade que ela tem em desenvolver
seu próprio conhecimento e assim, se tornar livre do ‘laço do
passarinheiro’, sobretudo, quando este conhecimento é destinado a
produzir a maior necessidade para o homem dos nossos tempos: energia
limpa.
* Fábio
Bettinassi é
publicitário, pesquisador e colaborador do jornal Via
Fanzine. Seu e-mail é fabio.araxa@uol.com.br.
- Imagens: Lawrence Livermore
Laboratories.
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