Economia e
a Terra:
Como ter saúde em um Planeta doente?
“A Terra está agonizando… a sua doença é
causada,
sobretudo, pelos maus-tratos dados pela
humanidade”.
(James Lovelock)
Por
Marcus E. de Oliveira*
De
São Paulo-SP
Para
Via
Fanzine
04/11/2011
Nos dias de hoje, a pergunta que mais preocupa todos
aqueles que desejam obter qualidade de vida é: como ter saúde em um
planeta doente?
Mas, como foi que o planeta ficou “doente”? Pelo menos
desde o Neolítico (12.000 anos a.C.) as sociedades têm consumido num
ritmo voraz e de forma crescente tudo aquilo que conhecemos por recursos
da natureza. Acontece que esse consumo, desde então, tem sido agressivo,
nada amistoso. Nesse ritmo avassalador, busca-se a todo e qualquer custo
crescimento econômico, pois isso é erroneamente entendido como sendo
sinônimo de progresso. Para obter isso, derrubam-se árvores, queimam-se
florestas, polui-se o ar, a água e destroem-se os ecossistemas.
Não há margem à dúvida que a atividade econômica tem sido
extremamente agressiva no que tange a extrair recursos, levar ao
processo produtivo e, pós-consumo final, soltar resíduos, comprometendo,
grosso modo, a capacidade do planeta Terra em lidar com essa situação.
Em outras palavras, isso pode ser traduzido como sendo a era da
“economia destrutiva”.
Em nome então do propagado crescimento econômico – como se
não houvesse limites – o mundo moderno fecha os olhos a uma questão
primordial: não leva em conta que a biosfera é finita, limitada e
hermeticamente fechada. Qualquer tentativa de extrapolar isso gera
pesados passivos ambientais.
Conquanto, do outro lado da moeda, o mercado pressiona e
exige crescimento num mundo que está cada vez mais insustentável
criando, dessa forma, um conflito irresponsável que põe a vida de todos
em perigo.
'Os rios estão ficando às mínguas. O
principal rio dos Estados Unidos (o Colorado) mal chega ao mar.
O Nilo já apresenta enorme dificuldade em
atingir o Mediterrâneo'
É a necessidade de crescimento econômico versus a
capacidade da Terra em oferecer condições suportáveis para isso. É no
meio desse conflito que nos encontramos e, a cada dia, mais e mais gente
vai chegando. Descontadas as mortes, temos a cada dia 200 mil novas
almas chegando ao mundo. Ao ano, são mais de 70 milhões de novos
habitantes no planeta Terra que, cabe reiterar, não aumentará de
tamanho. Em 1900, havia 1,5 bilhão de pessoas no mundo. Hoje, dividimos
o MESMO espaço no planeta Terra com 6,7 bilhões de pessoas. E o consumo?
Ah, esse não pára. Atualmente, apenas 20% da população mais rica do
mundo utilizam ¾ dos recursos naturais, numa situação em que metade da
população (3,3 bilhões) está na pobreza vegetando nos limites da
sobrevivência, numa desigualdade sem precedentes, sem acesso à água
potável e à alimentação adequada. É o consumo exagerado de um lado e, do
outro, a escassez de bens que permite a manutenção da vida. Nesse
conflito, os recursos se exaurem, o planeta adoece e a vida se degrada.
Na Era da Economia Destrutiva, Lester Brown (em
Eco-Economia: Construindo uma economia para a Terra) nos relata que “na
China os lençóis freáticos diminuem 1,5 metros ao ano. No mundo, as
florestas estão encolhendo mais de 9 milhões de hectares ao ano. O gelo
do Mar Ártico, apenas nos últimos 40 anos, reduziu-se em mais de 40%”.
O caso da água potável, para ficarmos nesse exemplo, é
gritante. É sabido que a quantidade de água doce disponível na Terra é
de apenas 0,5% do total das águas, incluindo as calotas polares geladas.
Devido à urbanização intensa, os desmatamentos e a contaminação por
atividades industriais e agrícolas (bases do crescimento econômico sem
limites), mesmo esta pequena quantidade de água está diminuindo,
causando a desertificação progressiva da superfície da terra. O consumo
de água, em consequência da urbanização, dobra a cada 20 anos.
'Um pote de iogurte
de morango produzido nesse país acumula 5 mil quilômetros de transporte.
O leite vem do Norte
da Alemanha, o morango vem da Áustria, o pote é francês e o rótulo vem
da Polônia'
Se centenas de milhões de pessoas carecem de acesso à água
potável, por outro lado, continua o consumo de desperdício desse
precioso líquido por parte dos mais afortunados que podem pagar pelo
serviço. Vejamos que: enquanto regiões imensas na África, Ásia e América
Latina carecem de recursos hídricos mínimos, nas regiões
“desenvolvidas”, além do excesso de consumo, aumenta a poluição de rios,
lagoas e lençóis freáticos e aqüíferos subterrâneos; tudo isso em nome
do suposto crescimento econômico que parece, de fato, não encontrar
freios à sua expansão. Enquanto lençóis freáticos caem assustadoramente
de um lado, principalmente nas três maiores áreas produtoras de
alimentos (China, Índia e EUA), do outro se queima florestas,
expandem-se desertos e aumentam-se consideravelmente os níveis de
dióxido de carbono. Os rios estão ficando às mínguas. O principal rio
dos Estados Unidos (o Colorado) mal chega ao mar. O Nilo já apresenta
enorme dificuldade em atingir o Mediterrâneo. Não obstante a isso, a
economia continua sua sanha exploratória queimando petróleo, gás e
carvão, derrubando e queimando florestas, contribuindo para o
aquecimento global. Parece que o “sistema econômico” desconhece que
esquentando o planeta, esquentam os mares e aumenta a evaporação das
águas. Conclusão: O gelo dos polos vai derreter elevando o nível dos
mares, alterando as correntes marítimas. O nome disso? Desastre
ecológico!
A economia suicida
Alguns anos atrás, num esclarecedor e aterrorizante artigo
intitulado “O Programa Suicida da Economia”, o ensaísta alemão Robert
Kurtz alerta que as condições elementares da vida, como a água, o ar e a
terra, estão expostos a um crescente processo de envenenamento. A camada
protetora de ozônio na atmosfera é corroída. Diz Kurtz que “no Sul da
Argentina e na Austrália, uma infinidade de ovelhas já pasta com cancros
à mostra. Os desertos avançam dia a dia, e há prognósticos de que a
guerra do século 21 terá como estopim o controle de mananciais
hídricos”.
Derretimento de
calotas polares e savanização da Amazônia
São as mudanças climáticas, manuseadas por mãos humanas,
que faz adoecer gravemente o Planeta. Se tomarmos nota dos últimos dados
apontados no Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança
Climática (IPCC) localizaremos, ao menos, três danos em decorrência das
mudanças climáticas. Vejamos na íntegra:
*Derretimento das geleiras eternas do topo de montes como
Fuji, no Japão, e Kilimanjaro, na Tanzânia: os rios dos vales no entorno
dos picos são alimentados pelo degelo da neve no verão. E seu volume
está diminuindo, prejudicando a irrigação de culturas agrícolas e a
produção industrial que depende da água.
*Derretimento das calotas polares no sul e no norte:
pedaços de gelo de água doce alteram a salinidade do mar, causando
mudanças no clima e na cadeia alimentar. O urso polar, por exemplo, já
tem dificuldade para achar comida.
*Savanização da Amazônia: se a devastação continuar, por
causa da pecuária, das fazendas de soja e da extração de madeira, e o
clima esquentar, a floresta vai virar um cerrado (terreno plano, com
trechos de seca). Com isso, várias espécies locais vão acabar. E, sem a
força do “pulmão do planeta”, a emissão de gases poluentes ganhará
força, prejudicando a Terra.
Os custos do
transporte e a emissão de poluentes
Catastrófico e preocupante também é o fato de que essa
mudança climática acontece com voracidade no momento em que o processo
de globalização se traduz (ao menos para seus defensores) como política
capaz de levar progresso a todos. Na essência dos fatos, no entanto, não
é isso (o progresso?) que vemos acontecer. Atentemos ao seguinte: Para
abastecer as geladeiras do mundo moderno, fere-se a atmosfera numa
escala crescente.
Os exorbitantes custos do transporte de carros, caminhões,
navios e aviões nesse “intercâmbio produtivo” para levar diversos
produtos às geladeiras mais distantes não “se dá” conta de que é
altamente emissor de poluentes. A título de exemplo temos que apenas nos
Estados Unidos circulam 80 veículos para cada 100 habitantes
(aproximadamente 250 milhões); na Alemanha são 55 por 100 habitantes e
índices semelhantes são encontrados em outros países desenvolvidos
somando quase um bilhão de veículos a motor, hoje alimentados por
petróleo cujos preços oscilam ao doce sabor das vontades dos chefões da
OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).
'As batatas Pringles, fabricadas pela Procter & Gamble,
atualmente são
vendidas em mais de 180 países,
apesar de serem
fabricadas apenas em alguns poucos lugares'
Quanto às “viagens” dos produtos de um lugar para outro, em
nome dessa globalização que pretende estreitar fronteiras, fiquemos com
o exemplo de um frango congelado nos Estados Unidos que viaja, em média,
3.000 milhas antes de ser consumido. Na Alemanha, estudos realizados
apontam que um pote de iogurte de morango produzido nesse país acumula 5
mil quilômetros de transporte. O leite vem do Norte da Alemanha, o
morango vem da Áustria, o pote é francês e o rótulo vem da Polônia. A
Noruega manda bacalhau para a China. As ervilhas consumidas na Europa
são cultivadas e embaladas no Quênia. O kiwi, uma fruta natural da Nova
Zelândia encontra mercado nos Estados Unidos que, por sua vez, a compram
da Itália. Essa fruta nas mãos da empresa Sanifrutta, exportadora
italiana, viaja por mar em contêineres refrigerados: 18 dias até os
Estados Unidos, 28 dias até a África do Sul e mais de um mês para chegar
de volta à Nova Zelândia. O Reino Unido vende anualmente 20 toneladas de
água engarrafada para a Austrália. Esse mesmo Reino Unido consome uvas
vindas da África do Sul, a erva-doce vem da Espanha e a abóbora, da
Itália. As batatas Pringles, fabricadas pela Procter & Gamble, por
exemplo, atualmente são vendidas em mais de 180 países, apesar de serem
fabricadas apenas em alguns poucos lugares.
Isso é simplesmente a “orgia do desperdício e do custo” em
termos de poluição, especialmente o dióxido de carbono. Esse aparente
“custo invisível” se “esconde” nas sombras dos menores custos produtivos
e dos salários baixos, não importando a localidade para onde vai. O que
conta nesse caso são os ganhos monetários em detrimento da própria
sustentabilidade ambiental. É o planeta Terra que se ferra!
Em nome do “progresso econômico” a poluição dá as caras e
vai aos poucos ceifando vidas. Se tomarmos apenas os custos advindos da
poluição notaremos que esses, apenas fora das fronteiras de uma cidade
como São Paulo, conforme estudos do Laboratório de Poluição da USP
(Universidade de São Paulo), consome a importância de R$ 14 por segundo
(R$ 459,2 milhões anuais) para tratar sequelas respiratórias e
cardiovasculares de vítimas do excesso de partícula fina – poluente da
fumaça do óleo diesel. Esse valor é dispensado por unidades de saúde
públicas e privadas de seis regiões metropolitanas do país. O caso
específico da cidade de São Paulo merece maior atenção. Todos os dias,
8,2 toneladas de poluentes são despejadas sobre a cidade. São mais de 3
milhões de toneladas/ano, 90% delas provenientes de veículos
automotores. A pior parte vem dos motores movidos a diesel.
Nas seis regiões metropolitanas do país, esse quase meio
milhão de reais gastos serve apenas para tratar de questões relativas à
poluição advindas, em especial, do intenso trânsito (leia-se:
congestionamento) nas grandes cidades que diariamente nos “brindam” com
emissões de poluentes diversos e seus resultantes: Monóxido de Carbono (CO),
que causa tonturas e dores de cabeça; Hidrocarbonetos (HC) que contribui
para a irritação nos olhos, nariz, pele e parte do sistema respiratório;
Óxido de Nitrogênio (NOx) com irritação e contrição das vias
respiratórias e, Materiais Particulados (MP). Dito isso, prevalece a
pergunta que dá título a esse artigo: Como ter saúde em um planeta
doente?
*
Marcus Eduardo de Oliveira é Economista, com especialização em Política
Internacional (USP). Professor da UNIFIEO e da FAC-FITO (São Paulo).
- Foto: divulgação.
- Produção: Pepe Chaves
© Copyright 2004-2011, Pepe Arte Viva
Ltda.
* * *
Ceará:
Iluminação pública
com energia eólica e solar
Empresário cearense
desenvolve o primeiro poste de
iluminação pública
100% alimentado por energia eólica e solar*
Por Gevan Oliveira*
Projeção em computação
gráfica da avenida Washington Soares, em Fortaleza, utilizando o poste
híbrido.
Não tem mais volta
As tecnologias limpas – aquelas que não queimam combustível
fóssil – serão o futuro do planeta quando o assunto for geração de
energia elétrica. E, nessa onda, a produção eólica e solar sai na
frente, representando importantes fatias na matriz energética de vários
países europeus, como Espanha, Alemanha e Portugal, além dos Estados
Unidos. Também está na dianteira quem conseguiu vislumbrar essa
realidade, quando havia apenas teorias, e preparou-se para produzir
energia sem agredir o meio ambiente. No Ceará, um dos locais no mundo
com maior potencial energético (limpo), um ‘cabeça chata’ pretende
mostrar que o estado, além de abençoado pela natureza, é capaz de
desenvolver tecnologia de ponta.
O professor Pardal cearense é o engenheiro mecânico
Fernandes Ximenes, proprietário da Gram-Eollic, empresa que lançou no
mercado o primeiro poste de iluminação pública 100% alimentado por
energias eólica e solar. Com modelos de 12 e 18 metros de altura (feitos
em aço), o que mais chama a atenção no invento, tecnicamente denominado
de Produtor Independente de Energia (PIE), é a presença de um avião no
topo do poste.
Feito em fibra de carbono e alumínio especial – mesmo
material usado em aeronaves comerciais –, a peça tem três metros de
comprimento e, na realidade, é a peça-chave do poste híbrido. Ximenes
diz que o formato de avião não foi escolhido por acaso. A escolha se
deve à sua aerodinâmica, que facilita a captura de raios solares e de
vento. "Além disso, em forma de avião, o poste fica mais seguro. São
duas fontes de energia alimentando-se ao mesmo tempo, podendo ser
instalado em qualquer região e localidade do Brasil e do mundo",
esclarece.
Tecnicamente, as asas do avião abrigam células solares que
captam raios ultravioletas e infravermelhos por meio do silício
(elemento químico que é o principal componente do vidro, cimento,
cerâmica, da maioria dos componentes semicondutores e dos silicones),
transformando-os em energia elétrica (até 400 watts), que é armazenada
em uma bateria afixada alguns metros abaixo. Cumprindo a mesma tarefa de
gerar energia, estão as hélices do avião. Assim como as naceles (pás)
dos grandes cata-ventos espalhados pelo litoral cearense, a energia (até
1.000 watts) é gerada a partir do giro dessas pás.
Cada poste é capaz de abastecer outros três ao mesmo o
tempo. Ou seja, um poste com um "avião" – na verdade um gerador – é
capaz de produzir energia para outros dois sem gerador e com seis
lâmpadas LEDs (mais eficientes e mais ecológicas, uma vez que não
utilizam mercúrio, como as fluorescentes compactas) de 50.000 horas de
vida útil dia e noite (cerca de 50 vezes mais que as lâmpadas em
operação atualmente; quanto à luminosidade, as LEDs são oito vezes mais
potentes que as convencionais). A captação (da luz e do vento) pelo
avião é feita em um eixo com giro de 360 graus, de acordo com a direção
do vento.
O avião no alto do
poste é o catalisador da energia eólica e solar.
Uma bateria armazena energia
e a distribui para até outros dois postes.
À prova de apagão
Por meio dessas duas fontes, funcionando paralelamente, o
poste tem autonomia de até sete dias, ou seja, é à prova de apagão.
Ximenes brinca dizendo que sua tecnologia é mais resistente que o homem:
"As baterias do poste híbrido têm autonomia para 70 horas, ou seja, se
faltarem vento e sol por 70 horas, ou sete noites seguidas, as lâmpadas
continuarão ligadas, enquanto a humanidade seria extinta porque não se
consegue viver sete dias sem a luz solar".
O inventor explica que a idéia nasceu em 2001, durante o
apagão. Naquela época, suas pesquisas mostraram que era possível
oferecer alternativas ao caos energético. Ele conta que a caminhada foi
difícil, em função da falta de incentivo – o trabalho foi desenvolvido
com recursos próprios. Além disso, teve que superar o pessimismo de quem
não acreditava que fosse possível desenvolver o invento. "Algumas
pessoas acham que só copiamos e adaptamos descobertas de outros. Nossa
tecnologia, no entanto, prova que esse pensamento está errado. Somos,
sim, capazes de planejar, executar e levar ao mercado um produto feito
100% no Ceará. Precisamos, na verdade, é de pessoas que acreditem em
nosso potencial", diz.
Mas esse não parece ser um problema para o inventor. Ele
até arranjou um padrinho forte, que apostou na idéia: o governo do
estado. O projeto, gestado durante sete anos, pode ser visto no Palácio
Iracema, onde passa por testes. De acordo com Ximenes, nos próximos
meses deve haver um entendimento entre as partes. Sua intenção é colocar
a descoberta em praças, avenidas e rodovias.
O empresário garante que só há benefícios econômicos para o
(possível) investidor. Mesmo não divulgando o valor necessário à
instalação do equipamento, Ximenes afirma que a economia é de cerca de
R$ 21.000 por quilômetro/mês, considerando-se a fatura cheia da energia
elétrica. Além disso, o custo de instalação de cada poste é cerca de 10%
menor que o convencional, isso porque economiza transmissão, subestação
e cabeamento. A alternativa teria, também, um forte impacto no consumo
da iluminação pública, que atualmente representa 7% da energia no
estado. "Com os novos postes, esse consumo passaria para próximo de 3%",
garante, ressaltando que, além das vantagens econômicas, existe ainda o
apelo ambiental. "Uma vez que não haverá contaminação do solo, nem
refugo de materiais radioativos, não há impacto ambiental", finaliza
Fernandes Ximenes.
Ximenes, o
inventor: 'Somos, sim, capazes de planejar,
executar e levar ao
mercado um produto feito 100% no Ceará'.
Vento e
sol
Com a inauguração, em agosto de 2009, do parque eólico
Praias de Parajuru, em Beberibe, o Ceará passou a ser o estado
brasileiro com maior capacidade instalada em geração de energia elétrica
por meio dos ventos, com mais de 150 megawatts (MW). Instalada em uma
área de 325 hectares, localizada a pouco mais de cem quilômetros de
Fortaleza, a nova usina passou a funcionar com 19 aerogeradores, capazes
de gerar 28,8 MW.
O empreendimento é resultado de uma parceria entre a
Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e a empresa Impsa,
fabricante de aerogeradores. Além dessa, a parceria prevê a construção
de dois outros parques eólicos – Praia do Morgado, com uma capacidade
também de 28,8 MW, e Volta do Rio, com 28 aerogeradores produzindo, em
conjunto, 42 MW de eletricidade.
Os dois parques serão instalados no município de Acaraú, a
240 quilômetros de Fortaleza. Se no litoral cearense não falta vento, no
interior o que tem muito são raios solares. O calor, que racha a terra e
enche de apreensão o agricultor em tempos de estiagem, traz como consolo
a possibilidade de criação de emprego e renda a partir da geração de
energia elétrica.
Na região dos Inhamuns, por exemplo, onde há a maior
radiação solar de todo o país, o potencial é que sejam produzidos,
durante o dia, até 16 megajoules (MJ – unidade de medida da energia
obtida pelo calor) por metro quadrado.
Essa característica levou investidores a escolher a região,
especificamente o município de Tauá, para abrigar a primeira usina solar
brasileira. O projeto está pronto e o empreendimento contará com aporte
do Fundo de Investimento em Energia Solar (FIES), iniciativa que dá
benefícios fiscais para viabilizar a produção e comercialização desse
tipo de energia, cujo custo ainda é elevado em relação a outras fontes,
como hidrelétricas, térmicas e eólicas.
A usina de Tauá será construída pela MPX – empresa do grupo
EBX, de Eike Batista – e inicialmente foi anunciada com uma capacidade
de produção de 50 MW, o que demandaria investimentos superiores a US$
400 milhões. Dessa forma, seria a segunda maior do mundo, perdendo
apenas para um projeto em Portugal. No entanto, os novos planos da
empresa apontam para uma produção inicial de apenas 1 MW, para em
seguida ser ampliada, até alcançar os 5 MW já autorizados pela Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Os equipamentos foram fornecidos
pela empresa chinesa Yingli.
Segundo o presidente da Agência de Desenvolvimento do
Estado do Ceará (Adece), Antônio Balhmann, essa ampliação dependerá da
capacidade de financiamento do FIES. Aprovado em 2009 e pioneiro no
Brasil, o fundo pagaria ao investidor a diferença entre a tarifa de
referência normal e a da solar, ainda mais cara. "A energia solar hoje é
inviável financeiramente, e só se torna possível agora por meio desse
instrumento", esclarece. Ao todo, estima-se que o Ceará tem potencial de
geração fotovoltaica de até 60.000 MW.
Também aproveitando o potencial do estado para a energia
solar, uma empresa espanhola realiza estudos para definir a instalação
de duas térmicas movidas a esse tipo de energia. Caso se confirme o
interesse espanhol, as terras cearenses abrigariam as primeiras
termossolares do Brasil. A dimensão e a capacidade de geração do
investimento ainda não estão definidas, mas se acredita que as unidades
poderão começar com capacidade entre 2 MW a 5 MW.
Parque eólico Praias de
Parajuru, no Ceará.
Bola da vez
De fato, em todas as partes do mundo, há esforços cada vez
maiores e mais rápidos para transformar as energias limpas na bola da
vez. E, nesse sentido, números positivos não faltam para alimentar tal
expectativa. Organismos internacionais apontam que o mundo precisará de
37 milhões de profissionais para atuar no setor de energia renovável até
2030, e boa parte deles deverá estar presente no Brasil. Isso se o país
souber aproveitar seu gigantesco potencial, especialmente para gerar
energias eólica e solar.
Segundo o Estudo Prospectivo para Energia Fotovoltaica,
desenvolvido pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), o
dever de casa no país passa, em termos de energia solar, por exemplo,
pela modernização de laboratórios, integração de centros de referência e
investimento em desenvolvimento de tecnologia para obter energia
fotovoltaica a baixo custo. Também precisará estabelecer um programa de
distribuição de energia com sistemas que conectem casas, empresas,
indústria e prédios públicos.
"Um dos objetivos do estudo, em fase de conclusão, é
identificar as oportunidades e desafios para a participação brasileira
no mercado doméstico e internacional de energia solar fotovoltaica", diz
o assessor técnico do CGEE, Elyas Ferreira de Medeiros. Por intermédio
desse trabalho, será possível construir e recomendar ações estratégicas
aos órgãos de governo, universidades e empresas, sempre articuladas com
a sociedade, para inserir o país nesse segmento. Ele explica que as
vantagens da energia solar são muitas e os números astronômicos. Elyas
cita um exemplo: em um ano, a Terra recebe pelos raios solares o
equivalente a 10 mil vezes o consumo mundial de energia no mesmo
período.
O CGEE destaca, em seu trabalho, a necessidade de que sejam
instituídas políticas de desenvolvimento tecnológico, com investimentos
em pesquisa sobre o silício e sistemas fotovoltaicos. Há a necessidade
de fomentar o desenvolvimento de uma indústria nacional de equipamentos
de sistemas produtivos com alta integração, além de incentivar a
implantação de um programa de desenvolvimento industrial e a necessidade
de formação de profissionais para instalar, operar e manter os sistemas
fotovoltaicos.
* Informações de
Gevan Oliveira/Revista Fiec (Federação das Indústrias do Estado do
Ceará).
- Fotos: Fiec.
- Colaborou: Cyro
de Freitas (BH).
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