Sociedade:
Anomia,
o caso Brasil
No Brasil, país da impunidade, do
jeitinho, da malandragem sempre houve certa anomia.
Por
Maria Lúcia Victor Barbosa*
De
Londrina-PR
27/01/2014
O sociólogo Emile Durkeim (1858-1917) viveu as turbulências
do início da sociedade industrial e isto influenciou sua preocupação com
a ordem e com novas ideias morais capazes de guiar o comportamento das
pessoas. Ele observou os conflitos resultantes das transformações
socioeconômicas nas sociedades europeias e concluiu que havia um estado
de anomia, ou seja, a ausência de leis, de normas, de regras de
comportamento claramente estabelecidas.
Na atualidade o rápido desenvolvimento dos meios de
transporte, de comunicação, da tecnologia, da ciência indica a transição
para um mundo mais complexo onde o conhecimento de hoje é rapidamente
ultrapassado amanhã. Nesse contexto valores são perdidos, instituições
se desagregam, percepções entre o certo e o errado desaparecem e o
indivíduo parece uma mosca tonta na janela de um trem-bala. Prevalece o
individualismo, o hedonismo, a vulgaridade, a mediocridade, a
imoralidade.
Como as sociedades são dinâmicas e não dá para permanecer
nesse estado indefinidamente aos poucos vai se construindo uma nova
ordem. Paralelamente começam a surgir novas representações coletivas,
outro conceito de Durkeim a significar experiências advindas da
influência grupal – família, partido político, religião, etc.- que
suprem os indivíduos com ideias e atitudes que ele aceita como se fossem
pessoais.
No Brasil, país da impunidade, do jeitinho, da malandragem
sempre houve certa anomia. Um salvo-conduto para o desfrute impune de
atos de corrupção. Uma largueza moral que encanta os estrangeiros que
aqui vêm usufruí-la sem jamais ousarem repeti-la em seu país.
Características essas culturais originadas historicamente e aprimoradas
ao longo do tempo.
Contudo, foi com a entrada do PT na presidência da
República que acentuou nossa anomia. Isso se deu através dos sucessivos
e impunes escândalos de corrupção do partido que se dizia o único ético,
o puro, aquele que vinha para mudar o que estava errado. No poder o PT
se tornou não um partido não igual aos outros, mas pior.
Por isso mesmo foi marcante o julgamento do mensalão
quando, pela primeira vez, poderosos e seus coadjuvantes foram parar na
cadeia por conta da coragem e da firmeza do ministro Joaquim Barbosa
auxiliado por alguns ministros do STF.
Lula da Silva sempre foi um homem de muita sorte ajudada
por sua verborragia. Herdou um país sem inflação, além de políticas
públicas as quais de certo modo imitou. No plano internacional reinava
calmaria econômica. No âmbito interno nenhuma oposição partidária ou
institucional. As performances escrachadas do “pobre operário” agradavam
a maioria e formou-se uma representação coletiva que aceitava todos os
desvios e desmandos do governo. Diante da roubalheira o povo dizia: “se
eu estivesse lá faria a mesma coisa”.
O todo-poderoso Lula da Silva se reelegeu e fez mais,
obteve um “terceiro mandato” sem precisar alterar a Constituição. Isso
porque elegeu uma subordinada que não dá passo sem ouvir suas ordens.
Contudo, no final do segundo mandato de Lula da Silva a
economia do Brasil paraíso começou a fazer água e os três anos da
sucessora tem sido um fiasco retumbante.
O álibi para o descalabro é a a crise internacional, mas,
na verdade foi a politica econômica incompetente e errática da
presidente e do Mr M autor das mágicas contábeis, ou seja, do Senhor
Mantega, que está nos conduzindo ao fracasso.
O governo do PT conseguiu nos transformar no país dos
pibinhos, no lanterninha dos BRICS. A inflação cresce, tivemos em 2013 o
maior déficit comercial de nossa história, com resultado negativo de US$
81,3 bilhões, a geração de emprego recuou 18,6% no ano passado, a
desvalorização cambial já é outro grave problema.
Existe, porém, algo mais que a economia. Lula da Silva se
aliou à escória governamental, a começar pela América Latina. Insuflou
ódios raciais. Jogou a Educação no nível mais baixo enquanto seu
ministro Haddad tentava insuflar amoralidade na formação das crianças. A
Saúde virou sinônimo de crueldade e não serão médicos cubanos,
ideologicamente trazidos para cá, que reporão a falta de estrutura de
hospitais e postos de saúde.
Agora está sendo colhido o que foi plantado com os votos no
PT. A manifestação pacífica de junho, em 2013, foi só um passo tolhido
pela entrada dos tais black blocs, politicamente inseridos ou não.
Entretanto, várias outras manifestações vêm se espalhando pelo país de
forma violenta com queima de ônibus, interdição de estradas,
depredações, saques. Enquanto isso aumenta a força da criminalidade
dando a nítida impressão de que um tenebroso Estado paralelo se sobrepõe
ao Estado de Direito.
A rotineira barbárie da prisão de Pedrinhas é a ilustração
mais perfeita da anomia brasileira a qual devemos agradecer aos nossos
governantes, especialmente, ao governo do PT.
* Maria Lucia
Victor Barbosa é socióloga.
mlucia@sercomtel.com.br
www.maluvibar.blogspot.com
* * *
O
poder do povo:
Vamos falar de Democracia
Discordar de pareceres, sejam políticos, religiosos ou
desportivos, em democracia, é direito inalienável;
por isso, cercear liberdade de expressão, a quem não
pensa como nós, é prepotência inaudita.
Por Humberto
Pinho da Silva*
Para
Via
Fanzine
12/12/2012
Anos há, ao ler crônica publicada on-line, reparei que no rodapé havia
enxurrada de comentários, que em regra, primavam pela ignorância e má
fé, para não dizer: falta de educação.
Apressei-me a escrever parecer sobre a liberdade de expressão, frisando
que o articulista, em democracia, tinha o direito e até o dever, de
exprimir livremente sua opinião. Cabia, todavia, ao leitor, opinar de
forma cortês, evitando palavras agressivas, carregadas de ódio,
demonstrativas de falta de maturidade e respeito.
Escusado será dizer que o comentário não foi publicado. Provavelmente
consideraram-no indesejável, por não perfilhar a opinião dominante.
Sempre lutei pela liberdade de expressão, pois sem ela, não pode haver
democracia plena. Mas esta só subsiste, se todos, mutuamente, se
respeitarem.
Insultos, remoques grosseiros, que se escutam na rua, em manifestações,
comícios e debates políticos, são demonstrações inequívocas da má
formação cívica; indicativo que quem assim age, não é democrata, mas
ditador camuflado ou em gestação.
Povo que não é educado, cedo ou tarde cairá em ditadura.
Recontava, meu pai, o que ouvira a sua avó Júlia, sempre que assistia a
debate político recheado de ataques ou valadas ofensas:
Estando o Dr. Pinheiro Torres, na Bélgica, ouvira dizer que ia haver
renhido “combate” entre conhecido conservador e convicto progressista.
Perante o espanto do jurista - habituado a confrontos de parlamentares
portugueses, na Primeira República, - o debate terminou com afetuoso
aperto de mão, e os intervenientes pareciam pedir perdão por
discordarem.
Concluía, meu pai, que sua santa avó, lamentava que o mesmo não
acontecesse em Portugal.
Discordar de pareceres, sejam políticos, religiosos ou desportivos, em
democracia, é direito inalienável; por isso, cercear liberdade de
expressão, a quem não pensa como nós, é prepotência inaudita.
Sempre que se intimida ou se humilha, em termos agressivos, v.g.:
mentiroso, aldrabão gatuno, chulo e quejando, dá-se machadadas
mortíferas, destruidoras da democracia.
O
regime democrático, não é perfeito – Karl R. Popper, na conferência que
proferida em Outubro de 1987,em Lisboa, disse: que Winston Churchill a
brincar, “que a Democracia é a pior forma de governo – com exceção de
todas as outras formas conhecidas”, - mas é o melhor que se conhece.
Infelizmente, quando o povo não tem educação, confirma o que bem disse
Jean Jacques Rousseau: Um governo tão perfeito, não convém aos homens,
mas a deuses. - “ Contrato Social”- Cap. lV.
É
bem verdade o que se costuma dizer: “Cada povo tem o governo que
merece.”
* Humberto Pinho da Silva é escritor e editor do blog Luso-Brasileiro
"PAZ".
http://solpaz.blogs.sapo.pt/
* * *
Viejos Tiempos
Por
Maria Lúcia Victor Barbosa*
De
Londrina-PR
28/04/2012
Em que pese os sinais de modernização havidos em alguns
países da América Latina, especialmente a partir dos anos 90, as marcas
da colonização que plasmaram a mentalidade dos seus povos nunca deixaram
de existir. São mantidos ou emergem como nos viejos tiempos:
instabilidade política, crises econômicas, incompetência governamental,
corrupção, populismo, nepotismo, patrimonialismo, autoritarismo,
impunidade, hipertrofia do Poder Executivo, ausência de cultura cívica.
Além disto, como afirmei em um dos meus livros, América
Latina, em busca do paraíso perdido, latino-americanos possuem uma
estranha mescla de altivez e sentimento de inferioridade. Para se
livrarem da síndrome do fracasso, das mazelas, das fraquezas, cujas
raízes se prendem ao passado colonial, descarregam sua frustração em
possíveis culpados, especialmente, nos Estados Unidos por conta do
insuportável progresso daquele país. Latino-americanos só se esquecem de
perguntar o que fizeram a si mesmos.
O recente ato de populismo desvairado e nacionalismo
irracional da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, ao expropriar
a YPF, maior empresa petrolífera do país adquirida pela Repsol espanhola
em 1999, relembra viejos tiempos da era Perón.
Adorado até hoje por muitos argentinos, cultuado como uma
espécie de deus, admirado como herói, Juan Domingo Perón tem também os
que o relembram como déspota odiado, causa de todos os males da
Argentina. De todo modo, cabe acentuar alguns elementos marcantes do
governo peronista, os quais contribuíram de forma decisiva para o
declínio do país que chegou a ser chamado de “Colosso do Sul”. Derivados
de toda uma evolução histórica, social e politica esses elementos
encontraram em Perón as condições ideais de expansão e foram justamente
eles que Cristina Kirchner ressuscitou: a falsa democracia, o
nacionalismo xenófobo, a demagogia exacerbada. Um filme que a Argentina
já viu várias vezes e que nunca teve um final feliz.
Recentemente, com o mesmo intuito de desviar as atenções
dos argentinos da situação econômica, na qual avulta uma inflação da
ordem de 25% e a fuga de bilhões, sendo que neste ano já deixaram o país
US$ 22,5 bilhões, a presidente Kirchner voltou aos viejos tiempos
do General Leopoldo Galtieri e simulou desencadear outra guerra das
Malvinas.
Naquela aventura ao mesmo tempo grotesca e trágica, o
General Galtieri chegou a afirmar: “Não cremos que a Grã-Bretanha se
mobilize pelas Malvinas”. Ao contrário, na Inglaterra houve imediato
sentimento de defesa dos kelpers que, segundo os britânicos tinham o
direito de decidir seu futuro e se livrar de um despotismo estrangeiro
arbitrário e brutal.
Na guerra que durou setenta e dois dias, levaram a pior os
mal preparados recrutas argentinos diante de um pequeno grupo de tropas
de elite enviado pelos britânicos às ilhas Falklands que incluía
marines, paraquedistas e mercenários ghurkas. O fracasso fez a
frustração popular se voltar contra o governo Galtieri e, ao contrário,
deu ao governo de Margaret Thatcher estrondosa vitória eleitoral.
Possivelmente essas recordações fizeram Kirchner desistir da
estapafúrdia ideia de invadir as Falklands passando, então, a fabricar
algo que contivesse também forte apelo nacionalista: a expropriação que
só faltou ter o mote: “o petróleo é nosso”.
Enquanto nos Estados Unidos e na Europa, a expropriação da
YPF foi duramente criticada, a presidente Dilma e o ministro de Minas e
Energia Edison Lobão, seguindo a arenga do ex-presidente Lula da Silva,
correram para acudir o governo argentino dizendo que o ato do país
vizinho é uma questão de soberania. Esqueceram que romper tratados não é
próprio da soberania, mas da selvageria, pois não é civilizado romper
acordos internacionais.
O ministro Lobão, disse crer que a Petrobrás não será
expropriada na Argentina. Já o foi, na província de Neuquén, em
princípio de abril. Também esqueceu ou ignora que a presidente Kirchner
tem mantidos congelados os preços dos combustíveis nos postos da
Petrobrás, apesar da inflação, talvez, um detalhe menor porque o Brasil
está fazendo o mesmo.
Como era de se esperar, na medida em que o governo
argentino não tem condição de bancar os investimentos que a Repsol
fazia, a presidente Kirchner enviou o ministro de Planejamento da
Argentina, Julio de Vido, para conversar com nosso ministro de Minas e
Energia. O primeiro propôs o aumento da participação da Petrobrás de 8%
para 15% do mercado de produção, processamento de petróleo e
distribuição. Lobão respondeu que fará de tudo para ajudar o país
vizinho. Já vimos um filme parecido na Bolívia. São viejos tiempos
que sempre voltam, aqui e em toda América Latina.
* Maria Lucia
Victor Barbosa é socióloga.
mlucia@sercomtel.com.br
www.maluvibar.blogspot.com
27/03/2011.
* * *
Dilma Rousseff nos EUA:
Soberania de porre
EUA reconhecem cachaça brasileira, mas querem mesmo é
tomar nosso pré-sal
Por Jorge Serrão
Para o Alerta Geral
10/04/2012
Dilma Rousseff matou seu ex Lula da Silva. De inveja! A Presidenta
ganhará o título distintivo de Melhor Amiga da Cachaça. Mesmo que não
tome um gole sequer ou se resolver tomar todas. Ela assinou ontem, em
Washington, com o Presidente Barack Obama, um acordo bilateral com os
EUA para o reconhecimento da cachaça como produto tipicamente
brasileiro. É a soberania do goró.
O Brasil produz cerca de 1,3 bilhão de litros de cachaça por ano. Mas só
exporta 1% da produção nacional. Os maiores compradores da nossa cachaça
prime são Alemanha e Inglaterra. As exportações para os EUA são
insignificantes. Até o acordo, nosso produto genuinamente nacional só
entrava lá classificado como “rum”. Uma injustiça com a cachaça de alta
qualidade produzida pelos 30 mil produtores tupiniquins – a maioria em
pequenos alambiques - que ostentam cerca de 5 mil marcas de caninha.
Cachaceiros do mundo, uni-vos para bebemorar! O governo petralha – que é
um porre – mostrou “Atitude” (famosa marca de cachaça mineira). Dilma
tomou uma correta “Providência” (outra marca mineira). Há cerca de 40
anos que o “Tratado da Cachaça” fazia parte de tentativas de acordos
entre Brasil e EUA.
Agora que os EUA nos abriram o mercado para a matéria-prima da
caipirinha, governo do Brasil fica à vontade para lhes dar uma
contrapartida justa. Tio Sam compra nosso líquido ouro branquinho, e nós
também facilitamos a exploração do ouro negro do pré-sal para as
petrolíferas deles. Funcionando como garoto propaganda da Oligarquia
Financeira Transnacional, que domina o setor de óleo & gás, Obama pediu
a Dilma mais facilidades para as petroleiras norte-americanas
trabalharem no Brasil.
Moral de um encontro sem maior importância prática: os norte-americanos
tomam a nossa cachaça e tomarão ainda mais o nosso petróleo. E a gente
vai tomando...
* * *
Sacolinhas:
Lei precisa de ajustes urgente
É importante defender o meio ambiente,
mas para isso
o
pobre não deveria ser punido com mais um ônus.
Por
José Aparecido Ribeiro*
De
Belo Horizonte – MG
26/12/2011
Quem não precisa, não imagina o tamanho do transtorno que é
a falta das sacolas plásticas para carregar compras. Espantosa também é
a passividade do povo em relação a imposição desta arbitrariedade,
enfiada guela abaixo, sem critérios, sem dó nem piedade. A oferta de
sacolas ecológicas para carregar mercadorias deveria ser obrigação dos
supermercados e não do povo. Onde já se viu pagar pelas embalagens de
compras se já compramos produtos caros e carregados de impostos?
Transferir a responsabilidade para quem é vítima do problema é uma
covardia e uma prova de incompetência dos nossos políticos cuja a tarefa
é defender os interesses dos menos favorecidos. Eles inclusive são
mestres em vota Leis, mas não acompanham a aplicações delas na prática.
É importante defender o meio ambiente, mas para isso o
pobre não deveria ser punido com mais um ônus. Os defensores do autor da
proposta (Vereador Arnaldo Godoy do PT) ainda não perceberam que a Lei
vai contra os interesses de quem não pode pagar por este capricho: O
POBRE que usa o transporte coletivo e não tem outra alternativa.
Esquecem que não saímos de casa com tudo programado como robôs. As vezes
saímos correndo e nem lembramos de sacolas para carregar compras no
final de um dia causticante de trabalho. Muitos nem sabem se terão
dinheiro para comprar o pão do café do dia seguinte, quiçá para comprar
sacolinhas ecológicas. Tal Lei beira o absurdo e fere o principio da
razoabilidade. Alem de injusta ela também é uma Lei desproporcional e
arbitrária.
Nas classes privilegiadas a compra costuma ser motivada por
impulsos de ocasião, mas esses podem pagar por embalagens e não sofrem
para carregar suas mercadorias no dia a dia. Já para os pobres que
ganham 540 reais, 0,20 é valor a ser considerado. Com efeito, ninguém
usa só uma sacolinha, mas várias. Como os autores da Lei não conhecem o
que é viajar em ônibus lotados, acham que está tudo certo e que a
população vai se adaptar. O que é um equívoco e uma prova de que vivem
longe da realidade. Enquanto isso, os caixas de supermercados e o povão
se descabela para encontrar meios e improvisar embalagens para as suas
compras, enquanto o correto seria os supermercados assumirem esse ônus,
que é da natureza do próprio negócio.
*
José Aparecido Ribeiro é consultor em Assuntos Urbanos.
* * *
Revisão:
Precatórios: erros materiais
O próprio STF já se manifestou há
bastante tempo sobre o tema, abrindo a possibilidade
de revisões de precatórios oriundas de
inexatidões materiais ou a retificação de erros de cálculos.
Por Sinval de Deus Vieira*
04/10/2011
Considerando minha
função de superintendente de cálculos da Advocacia Geral do Estado de
MG, há bastante tempo tenho acompanhado o trâmite do pagamento de
precatórios do Estado de Minas Gerais.
Tenho notado, até
com certa frequência, o desconhecimento por parte de vários advogados -
representantes dos credores do Estado - sobre a possibilidade de revisão
do valor do precatório. Assim, equivocadamente muitos consideram a
presunção absoluta (juris et de jure) que pela sua própria
característica intrínseca, não se pode alterar o valor do precatório.
Ledo engano. Tal premissa pode levar incautos a vários dissabores.
O próprio STF já
se manifestou há bastante tempo sobre o tema, abrindo a possibilidade de
revisões de precatórios oriundas de inexatidões materiais ou a
retificação de erros de cálculos, conceituando tais expressões, como
sendo:
"Diferenças
resultantes de erros materiais ou aritméticos ou de inexatidões dos
cálculos dos valores dos precatórios, não podendo alcançar o critério
adotado para a elaboração dos cálculos nem a adoção de índices de
atualização monetária diversos dos que foram utilizados na primeira
instância." (ADIN 1662/97).
Pode-se inferir,
portanto, que tudo aquilo que, involuntariamente, sem disputa entre as
partes e sem comando judicial, apresente-se divorciado da vontade da
sentença, pode ser retificado a qualquer tempo, já que não transita em
julgado. Assim, não somente o erro aritmético propriamente dito ("erro
de conta") pode ser corrigido, mas também outros erros de cálculo que,
por simples exame, são facilmente constatáveis, tais como: a inclusão de
parcelas indevidas ou omissão de parcelas devidas, base de cálculo
equivocada, duplicidade, apurações aquém ou além de períodos certos e
determinados, erros de conversão de moedas, anatocismo, etc.
Atualmente, com o
advento de calculadoras científicas e programas eletrônicos de
cálculos, disponibilizados no mercado, os “erros de conta” inseridos em
planilha de cálculos judiciais, tornaram-se raros. Porém, amiúde nos
deparamos com outras incorreções, que por serem classificadas como
ERRO MATERIAL, são perfeitamente sanáveis, não cabendo, nesse caso,
falar em preclusão.
Portanto, o juiz
da execução não está subordinado aos cálculos das partes, competindo-lhe
verificar se as contas oferecidas guardam conformidade com os limites
objetivos da coisa julgada exeqüenda, principalmente quando uma das
partes é ente público. Vale citar o processualista Ernani Fidelis dos
Santos:
“No direito
moderno, a tendência é de prevalecer sempre o interesse público sobre o
privado. E nesse caso, basta que o interesse público se revele com
predominância, para não se admitirem confissão, presunção de verdade e
efeito da revelia sobre fatos relativos ao direito.” (Manual de Direto
Processual Civil, Ed. Saraiva, 4ª Ed. – 1996, vol.l).
Considerando tais
premissas, por dever de ofício, já retificamos precatórios que de um
valor de face de milhões de reais, transformaram-se em alguns milhares,
levando a imensas frustrações para quem inocentemente ou mesmo
deliberadamente, possui um "mico", e não um valor imutável.
*
Sinval de Deus Vieira é professor da Universidade de Itaúna, mestrado
em Administração Pública, superintendente de Cálculos e Assistência
Técnica da Advocacia Geral do Estado de Minas Gerais.
* * *
O
Brasil á fora:
Será
que nossa política externa mudou?
Em 2009 Mahmoud Ahmadinejad foi convidado
a vir ao Brasil. Não veio e houve forte oposição a sua
vinda por grupos por ele
discriminados como judeus, perseguidos como mulheres e homossexuais.
Por
Maria Lúcia Victor Barbosa*
De
Londrina-PR
27/03/2011
Em 24 de março, a representação do Brasil no Conselho de
Direitos Humanos da ONU votou a favor da proposta dos Estados Unidos e
Europa que determina o envio de um relator independente ao Irã para
investigar a situação dos direitos humanos naquele país, coisa que
Ahmadinejad já avisou que não aceita.
Surpreendida, a diplomacia iraniana sentiu-se traída e
afirmou que o Brasil voltava a se comportar como “país pequeno”,
“curvando-se aos Estados Unidos”. Outros países islâmicos também
atacaram a posição brasileira.
Na verdade, o Irã esperava a continuidade da política do
governo anterior que poupou o regime iraniano de censura em fóruns
internacionais, além de apoiar direta ou indiretamente através de
abstenções, os piores ditadores mundiais que jamais souberam o
significado de direitos humanos. Foram oito anos de uma política externa
vergonhosa e repugnante, na qual não faltaram erros crassos e patacoadas
como no caso de Honduras cujo governo o Brasil não reconhece até hoje.
Em 2008 começaram a se estreitar ainda mais os laços do
Brasil com o Irã e o então chanceler, Celso Amorim, foi à Teerã
acompanhado de 30 empresários. “Negócios são negócios” disse o
pragmático Amorim e desrespeito total aos direitos humanos existe em
toda parte, como afirmou o chanceler de fato, Marco Aurélio Garcia,
quando acompanhou o ex-presidente Lula à Cuba. Na ocasião Lula comparou
os dissidentes cubanos que faziam greve de fome a criminosos comuns
enquanto o corpo martirizado de um deles, Orlando Zapata Tamayo,
esfriava no caixão.
Em 2009 Mahmoud Ahmadinejad foi convidado a vir ao Brasil.
Não veio e houve forte oposição a sua vinda por grupos por ele
discriminados como judeus, perseguidos como mulheres e homossexuais. As
esquerdas não se manifestaram em que pese terem ressuscitado o
ultrapassado “fora ianque” na forma de “fora Obama”, quando da recente
visita do presidente norte-americano ao Brasil. Naquele mesmo ano
Ahmadinejad se elegeu com fortes indícios de fraude. O ex-presidente
Lula qualificou os protestos que se seguiram e o massacre feitos por
Ahmadinejad aos opositores como “choro de perdedores” e “briga de
vascaínos e flamenguistas”. Mais um vexame internacional.
2010. Além da missão econômica que em abril partiu rumo ao
Irã, em maio Lula seguiu para lá como o primeiro presidente a visitar
aquelas terras. Ele fez mais: uniu-se à Turquia para mediar um acordo
internacional para que Teerã aceitasse discutir seu programa nuclear,
coisa que já tinha sido tentada em vão pelos Estados Unidos. A proposta,
como era de se esperar, foi rejeitada pela ONU, o que deixou o Brasil e
a Turquia falando sozinhos. No caso de iraniana Sakineh, condenada à
morte por apedrejamento, primeiro Lula disse que não se intrometia nas
leis de outros países. Depois mudou de ideia e resolveu colaborar com o
companheiro Ahmadinejad: “se a mulher está incomodando, mande-a para
cá”. Entretanto, na ONU o Brasil se recusou a apoiar a resolução que
condenava o apedrejamento, alegando que se trata de “questão cultural”.
Desse modo, é compreensível a fúria do governo iraniano
diante do voto brasileiro a favor da ida do relator. Por outro lado,
bastou tal voto para que grandes saudações, vivas e cumprimentos
nacionais e internacionais fossem dados euforicamente a presidente ou
presidenta, governante ou governanta, Dilma Rousseff. Está sendo dito
que ela mudou o rumo da política externa brasileira, que se distanciou
do seu padrinho político, que o Brasil agora tem princípios. Mas será
que mudou mesmo alguma ou apenas mudou a estratégia para obter o
obsessivamente desejado Assento no Conselho de Segurança da ONU?
Note-se que o Brasil, que votou a favor da fiscalização no
Irã, absteve-se de votar quando a Rússia, apoiada pela China e países
árabes, propôs subordinar a questão dos direitos humanos aos “valores e
tradições locais”.
Observe-se também, que no caso do Irã o Itamaraty demonstra
que continuará a apoiar seu programa nuclear que, certamente, ao
culminar na bomba, tratará de exterminar pacificamente Israel em
primeiro lugar.
Também Cuba poderá contar com o tradicional apoio
brasileiro, enquanto dissidentes “criminosos morrem em greve de fome em
nome da liberdade”.
Nossa diplomacia convive tão bem com o terrorismo que não
esboçou nenhuma reação quando cinco pessoas da família Fogel, o pai a
mãe, o bebê de três meses e mais dois meninos foram brutalmente
assassinados a facadas enquanto dormiam no assentamento de Itamar, na
Samaria. Talvez, isso faça parte dos “valores e tradições” do terrorismo
e devem ser respeitados. Nessa toada, se algum país resolvesse
institucionalizar o canibalismo o Brasil apoiaria, pois é questão
cultural.
Vamos ver se dessa vez o Brasil conquista seu grandioso
sonho: o Assento no Conselho de Segurança da ONU, mas que falta muito
para nossa politica externa mudar, isso lá falta.
* Maria Lucia
Victor Barbosa é socióloga.
mlucia@sercomtel.com.br
www.maluvibar.blogspot.com
27/03/2011.
* * *
Um
adeus:
Leléo, uma estrela que nasce
E lá em cima se fartam de rir com o
talento dos comediantes ou silenciosos
reverenciam as pausas, o clima e o
desenrolar de cada drama.
Por
Pedro Paulo Cava
De
Belo Horizonte-MG
Diz a lenda que quando morre um ator, no mesmo instante
surge uma nova estrela no céu bem acima do lugar onde a morte veio
roubar a vida. Isso acontece há milênios, desde Téspis, o primeiro ator
de que se tem notícia, até os dias de hoje.
É que os deuses do teatro, comandados por Dioniso, fizeram
um trato com Zeus para que as almas dos atores permanecessem vagando
pelo infinito. E já são milhares de estrelas de formas e tamanhos
variados que brilham sobre a cabeça dos mortais. Prateadas, brilhantes,
radiantes, podem ser vistas a olho nu apenas pelas pessoas de rara
sensibilidade. Formam elencos inteiros que, na madrugada, quando todos
vão dormir, declamam em todas as línguas trechos dos melhores textos
desde o indiano Shakuntala, do qual se lembram apenas de fragmentos, os
trágicos gregos, a comédia latina, os dramas de Shakespeare, o teatro
político de Brecht, as crueldades do absurdo até os mais modernos e
atuais.
E lá em cima se fartam de rir com o talento dos comediantes
ou silenciosos reverenciam as pausas, o clima e o desenrolar de cada
drama.
Contam ainda que quando um ator em seu ofício esquece um
texto em cena, são elas, as estrelas, que fazem soprar o vento da
memória nos ouvidos do atônito intérprete que perdera o chão por uma
fração de segundos.
A cada momento que aqui embaixo uma platéia se levanta e
aplaude o espetáculo daquela noite, um outro aplauso ensurdecedor se
ouve no firmamento, percorrendo constelações e reverenciando os atores
que brilharam naquele dia em mais um ato de generosidade e doação
completa.
Ontem uma dessas estrelas nasceu sobre o céu de Belo
Horizonte. Foi no instante mesmo em que Leonardo Scarpelli, o nosso
Leléo, se encantara assim de repente, sem sustos ou aflições. Morria um
ator jovem, carismático, talentoso, humilde e essencialmente generoso.
Pertencia ao seleto grupo dos artistas viscerais, aqueles que se jogam
ao mar sem rede de proteção e mergulham intensos doando seu precioso
material humano: voz, corpo e mente, para dar forma e vida a mais uma
efêmera personagem a cada noite.
Leléo, como todos o chamavam, era um animal teatral. Esses
são raros e suas estrelas na terra ou no céu são maiores e mais
brilhantes, porque especiais.
O teatro mineiro ontem ficou mais pobre, assustado e
comovido.
No Teatro Marília, palco de tantas lutas, histórias e
espetáculos, seu corpo chegou quase a meia-noite para uma última e fugaz
aparição. Por ele esperava a gente de teatro de todas as gerações e de
diferentes tribos; todos com a alma em frangalhos e os olhos marejados.
Numa inversão da lógica do espetáculo, sua entrada no teatro foi
aplaudida de pé e longamente.
Leléo, o Leonardo Scarpelli se foi assim, durante o sono,
suave e meigo. Estava em paz. Olhei para o céu e não havia uma nuvem
sequer. Sobre o recorte da Serra do Curral uma nova estrela de brilho
intenso parecia íntima e cúmplice de todos nós.
Naquele instante eu tive a certeza de que a lenda havia se
materializado sobre a Belo Horizonte que começava a adormecer.
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