MOX:
O combustível nuclear que ameaça o Japão
A verdade por trás do acidente na usina
de Fukushima: entenda o que
os governos nucleares ocultam por ser
mais grave do que aparenta.
Por Fábio Bettinassi*
De
Araxá-MG
Para
Via Fanzine
"Não ao MOX": em
março de 2011, no Japão, ativistas protestaram contra o uso
do Mixed-Oxide Fuel (MOX), o mais letal material nuclear criado pelo
homem.
Vantagens econômicas
No mundo obscuro do bilionário mercado da energia nuclear
existe um lobby mundial praticado em todas as nações nuclearizadas que
controlam a mídia e dita as regras para desinformar a população. Isso
permite que tecnologias de alto poder letal sejam implementadas com o
patrocínio do dinheiro público.
Um dos tabus da energia atômica é o MOX (Mixed-Oxide
Fuel), um combustível nuclear constituído por uma massa cerâmica de
Urânio e Plutônio extraída de combustível antigo usado em reatores de
usinas nucleares. Em poucas palavras, o MOX é lixo radioativo reciclado
já fissionado por anos a fio e que recombinado através de uma complexa
tecnologia, pode ser novamente aplicado como combustível em reatores.
O MOX chega a ser dois milhões de vezes mais tóxico e
destruidor que o Urânio e o Plutônio e, além disso, o seu
desenvolvimento é considerado por muitas linhas do pensamento
científico, como desnecessário e absolutamente capaz de colocar em risco
todas as cadeias da vida na Terra. Em sua composição existe alta
concentração de Urânio, Estrôncio, Césio, Plutônio e Iodínio e outros
elementos, cujo poder de envenenamento está entre os mais altos que
existem.
Para se ter uma idéia, imagine que você acenda uma
churrasqueira a carvão e quando a brasa estiver intensa, um carvão pula
de sua churrasqueira e cai sobre o chão; se este carvão fosse uma
pastilha de MOX ele iria se manter em brasa por milhares de anos,
fundindo, perfurando e contaminando tudo o que estiver ao seu redor.
Em termos práticos: quando um reator movido a MOX se rompe,
deixando expostos os bastões danificados usados para abrigar as
pastilhas de MOX, imensas quantidades de moléculas deste perigoso
combustível, são lançadas na atmosfera. No organismo humano, esta
molécula se instala nos pulmões, irradiando calor nuclear e
radioatividade a todo o organismo, levando a pessoa à morte. Mesmo após
a decomposição cadavérica, esta partícula continua ativa e irradiando
energia no subsolo por milênios de anos, como se fosse uma pequena usina
nuclear autônoma.
Físicos especializados em reatores nucleares de usinas são
categóricos em afirmar que o uso do MOX acelera muito rapidamente a
decomposição do núcleo do reator, bem como os demais componentes
envolvidos nos sistemas de refrigeração, proteção e monitoramento de
dados. Produz uma extrema fadiga de material, aumentando
consideravelmente o nível de periculosidade nas atividades de manutenção
e gerenciamento dos reatores.
Um
reator nuclear com seus milhares de componentes do complexo sistema
agregado de apoio e monitoramento.
Todas estas partes devem atuar em perfeita harmonia, mas, com o uso do
MOX, a maioria das peças se
degrada rapidamente, produzindo um funcionamento anômalo e imprevisível,
de acordo com os especialistas.
MOX, a alternativa arriscada
Com o enfraquecimento de toda a estrutura do reator, ele se
torna mais susceptível a falhas, principalmente em caso de desastres
naturais, como esse mais recente na usina de Fukushima, no Japão.
Naquela usina, cinco, dos seus seis reatores são movidos a MOX. Isso nos
leva a deduzir que a amplitude real da catástrofe, infelizmente, poderá
ser bem mais ampla do que o anunciado. O verdadeiro resultado desse
desastre nuclear, só vamos saber nos próximos meses ou anos.
O uso do MOX, além de reduzir a vida útil do reator, produz
um comportamento anormal na física interna dos componentes, tornado seu
comportamento instável e gerando partículas praticamente desconhecidas.
Estas são resultantes da interação das dezenas de diferentes materiais
altamente enriquecidos, coexistindo em estado de extrema atividade
energética em um ambiente de enorme pressão, calor e radioatividade.
Cabe aqui citar que o desastre de Chernobyl, na Ucrânia
(parte da antiga URSS), em 1986, levou a morte mais de 500 mil pessoas
ao longo de 25 anos. Somente na contenção da massa radioativa
incandescente que se formou na base do reator explodido, cerca de 70 mil
homens morreram ao longo de um ano de trabalho ‘voluntário’.
O que agrava a situação é que pelo custo mais baixo do MOX,
muitas usinas estão adotando este combustível em reatores construídos
exclusivamente para uso de Urânio ou Plutônio, o que aumenta
exponencialmente o risco de acidentes. Tudo isso é resultado de um
complô envolvendo governos, centros de pesquisa, cientistas, fabricantes
e uma extensa lista de pessoas sem consciência, que atuam em centro
acadêmicos e, vez ou outra, recebem prêmios e aplausos do público,
sempre “embebedado”.
A
origem do mal
O MOX foi criado por um consórcio entre empresas francesas
e norte-americanas (Cogema e Areva) gigantes do ramo de combustível
nuclear. Para mascarar suas atividades que, na realidade são
extremamente agressivas ao meio ambiente, substituíram o termo ‘nuclear’
que é sinônimo de risco e contaminação, para o termo açucarado de ‘baixo
carbono’, associado ao “sustentável e limpo”.
A indústria do MOX tem sido alvo de acusações por
ambientalistas. Eles afirmam que o transporte marítimo e terrestre do
produto coloca populações inteiras em risco, além de ser um alvo fácil
para o terrorismo. Analisando os números crescentes divulgados pelos
fabricantes, podemos constatar, com certo temor, que esse mercado veio
para se consolidar.
Para se ter uma ideia da periculosidade do produto, um
navio cargueiro é construído exclusivamente para o transporte de um
único cartucho do perigoso MOX. Nele, o combustível é constantemente
resfriado por um sistema de grandes refrigeradores, usado em usinas
nucleares. Assim, o navio se torna, em verdade, uma imensa usina nuclear
flutuante, elevando os riscos de acidentes por onde estiver trafegando.
O cenário fica mais preocupante quando seu uso está sendo
amplamente fomentado pelo marketing nuclear. Porque muitas usinas estão
optando por construir novos reatores tocados a MOX ou propensas à
conversão dos tradicionais de Urânio ou Plutônio. Isso levaria a uma
expansão da produção e do processamento deste perigoso combustível,
gerando ainda, mais um perigoso rejeito industrial e aumentando as
chances de novos desastres ambientais.
No Japão, um terço de seus 53 reatores são movidos a MOX.
Na França e na Alemanha, grande parte dos reatores utiliza esse produto
e na China, o programa de expansão da energia nuclear prevê sua
aplicação na maior parte das centenas de reatores planejados para os
próximos anos.
No Brasil o MOX é considerado uma das opções de combustível
para as futuras usinas nucleares que estão sendo projetadas no país.
Conforme disse um ministro do governo Lula, num delírio de megalomania
esquerdista: ‘nosso objetivo são 50 usinas em 50 anos’.
Quatro delas já estão em fase de projeto, serão construídas
no Nordeste e no Sudeste do Brasil. Esses empreendimentos podem colocar
nosso país na lista de locais potencialmente susceptíveis a catástrofes
nucleares, expondo a população e a biodiversidade brasileira à um alto
risco, na realidade, desnecessário.
Navio projetado exclusivamente para o transporte da carga de extrema
periculosidade pelos mares.
Confluência de tecnologias incertas
Para uma usina nuclear operar é necessário que ela esteja
conectada à rede elétrica pública, pois o mecanismo de refrigeração e
circulação de água do reator, bem como os condensadores de vapor são
todos movidos por motores e equipamentos elétricos.
Quando acaba a energia elétrica, um sistema de backup,
composto por tradicionais geradores a diesel alimenta a refrigeração do
reator. Na usina de Fukushima, o terremoto e o tsunami destruíram os
geradores de energia elétrica a diesel, além de danificaram a rede de
distribuição elétrica pública, cortando assim, a energia que mantinha
resfriado o gerador.
Para facilitar o entendimento, o que ocorreu foi o mesmo
que desligar a ventoinha do radiador de um carro. Dessa maneira, a água
vai parar de refrigerar o motor à combustão que vai acabar se fundindo
pelo excesso de calor. Em um reator nuclear, mesmo quando cessa a
circulação de água, o núcleo continua a operar, porque mesmo depois do
dano, o combustível atômico continua gerando imensa quantidade de calor
e radioatividade por muito tempo. E, em um reator nuclear não existe uma
chave liga/desliga.
A próxima geração de usinas nucleares vai operar com o
chamado ‘reator de ciclo autossustentável’, o que significa que todos os
seus sistemas elétricos agregados serão alimentados por sua própria
energia produzida, gerando assim uma espécie de sistema moto-perpétuo do
apocalipse.
Tabela mostra as
quantidades de cartuchos de MOX enviadas da França para o Japão.
Cada cartucho contém 700 toneladasde combustível altamente
enriquecido.
Outros 1850 cartuchos foram enviados pelo Reino Unido.
Para termos a idéia de que essa tecnologia é mais uma
manobra insensata da indústria nuclear, basta lembrar que o acidente de
Chernobyl, foi causado exatamente por um experimento desta natureza. Na
ocasião, o Conselho de Energia Nuclear soviético ordenou que a energia
externa do sistema de refrigeração fosse desligada da rede pública e
fosse conectada ao próprio gerador elétrico que era alimentado
diretamente pelo reator nuclear. O resultado foi que, rapidamente, a
atividade do sistema de refrigeração caiu, promovendo o aquecimento
exponencial do núcleo do reator que explodiu violentamente, lançando na
atmosfera uma quantidade de radioatividade equivalente a 25 mil bombas
de Hiroshima.
Para a execução de tal experimento em Chernobyl, muitas
travas de segurança, físicas e de software, foram forçadamente
desligadas a contra gosto de um grupo de físicos e técnicos da usina.
Eles o fizeram sob ameaças de prisão perpétua, por crime de
insubordinação e crime contra o Estado Comunista, pois quando falamos de
usinas nucleares, a política e o poder exercem mais pressão que o
próprio núcleo do reator.
Unir uma tecnologia incerta e duvidosa como esta do reator
de ciclo autossustentável com um combustível como o MOX, seria criar um
dispositivo para destruição em massa, pintado em cores suaves. Por isso,
grupos de pessoas preocupadas com o futuro da vida na Terra têm
promovido debates e protestos em muitos países. E, por serem
manifestações ainda de pequeno impacto, geralmente, a grande mídia não
os enfoca ou prefere não noticiar nada a respeito por razões de ordem
publicitária. E assim, esta problemática tão grave, em consonância com
os interesses dos empreendedores nucleares autônomos aliados à omissão
de algumas autoridades governamentais, se mantém afastada da opinião
pública.
Transporte de MOX pelos oceanos: riscos incluem inúmeros países
litorâneos.
O que fazer para evitar a proliferação do MOX
A indústria nuclear vive da construção de usinas e da
fabricação, reciclagem, transporte e armazenamento de combustíveis e
insumos usados em instalações nucleares. Para que ela cresça é
fundamental que países comprem seus produtos e serviços.
Essa indústria investe pesado em lobbies de todos os tipos
para que políticos fiquem fascinados pela energia nuclear, teoricamente
barata, abundante e com ‘baixo índice de carbono’. Tais esforços vão
desde o uso de um imenso aparato compostos por documentários bem
produzidos, depoimentos de cientistas e celebridades da opinião pública,
até a injeção de propina ou patrocínio às campanhas de candidatos ‘nuclearizados’.
Para a indústria apocalíptica parar de crescer é importante
que nas eleições, não sejam eleitos candidatos que possuem propostas
para a expansão da energia nuclear ou favoráveis a essas aplicações.
Procuremos apoiar os simpatizantes dos meios sustentáveis e alternativos
de produção de energia, para evitar que aconteça conosco o que estamos
vendo no Japão e vimos em Chernobyl e em Three Mile Island, no estado da
Pensilvânia (EUA). Esses acidentes de grande devastação levaram milhares
de vidas à morte, produzindo ainda, graves sequelas em milhões de
pessoas, além de tornar regiões ricas e antes habitadas, em verdadeiros
desertos.
Devemos observar que pautas envolvendo matrizes
energéticas, em especial o uso da energia nuclear, não são debatidas
entre a população e a classe política. Simplesmente um funcionário
qualquer do governo aparece na televisão dizendo que serão construídas
algumas usinas nucleares e todos devem aceitar calados, sem
questionamentos ou dúvidas. Isso não é democracia, na realidade revela o
quanto os magnatas da energia nuclear se tornaram mafiosos em escala
mundial e estão controlando os governos.
Se no Brasil existe recurso público abundante para a
realização de plebiscitos em prol do desarmamento da sociedade ou
construção de estádios faraônicos para a Copa do Mundo de futebol,
deveria haver recursos para informar e depois ouvir a população sobre
uma questão de tamanha envergadura. Inclusive, assunto esse, que coloca
em jogo a preservação ou o aniquilamento de todo uma sociedade, podendo
ainda colocar em risco a integridade de países inteiros juntamente com
suas economias.
Diante de tantas incertezas e riscos, fica a pergunta: até
onde estamos dispostos a destruir o planeta e correr riscos elevados
para que possamos gerar recursos tecnológicos em abundância, em
consonância à cultura do consumismo desenfreado?
* Fábio
Bettinassi é
publicitário, pesquisador e colaborador do jornal Via
Fanzine. Seu e-mail é fabio.araxa@uol.com.br.
- Imagens: Arquivo do autor.
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