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 Sol 

 

 

Confusão solar:

Não há ‘nave-mãe’ perto do Sol

Erro de interpretação de imagens somado à ignorância

e ‘teorias próprias’ causam novas confusões na internet.

 

Por Pepe Chaves*

De Belo Horizonte-MG

Para ASTROvia

13/12/2011

 

O objeto acima foi erroneamente interpretado como sendo uma nave espacial de tamanho

aproximado ao do planeta Mercúrio (ao lado); quando, na verdade, se trata daquele planeta.

Vídeo com a falsa notícia de uma nave próxima ao Sol

 

Teorias confusas

 

O projeto da Nasa chamado de Sun Earth Connection Coronal and Heliospheric Investigation (SECCHI) mantém voltadas para o Sol, as câmeras HI1 e HI2 que têm por função observar as ejeções de massa coronal (CMEs) que se deslocam da coroa solar e se dirigem à Terra. Após o SECCHI divulgar algumas recentes imagens mostrando uma CMO próxima a Mercúrio, teorias infundadas foram largamente difundidas, apontando uma “nave extraterrestre” nas cercanias solares.

 

Estas câmeras integram um conjunto de cinco telescópios científicos mantidos pelo SECCHI, cujo objetivo é observar constantemente a coroa solar e heliosfera interior da superfície solar, até a órbita da Terra. Estas observações únicas feitas por imagens em estéreo são geradas pelo Solar Terrestial Relations Observatory STEREO, da Nasa.

 

Em 02/12, a Stereo Camera HI1 Ahead disponibilizou uma sequência de imagens mostrando algo brilhante se destacando em movimento ao lado do planeta Mercúrio, logo após uma CME. A partir daí, rapidamente foi criada uma notícia e propagada rapidamente no meio da ufologia e outros, dando conta que manobras de naves extraterrestres teriam sido detectadas pela câmera HI1.

 

Antes mesmo de uma análise mais acirrada das imagens, muitos ditos investigadores tomaram posse das “provas irrefutáveis” oferecidas pela câmera da Nasa​​ e fizeram difundir teorias sobre a presença de naves alienígenas na vizinhança do nosso planeta.

 

Em pelo menos três sites que pesquisamos, inclusive, da língua inglesa, há teorias distintas que foram propostas ao suposto fenômeno. Alguns crentes chegaram a afirmar que a CME teria causado a “queda de seu escudo de camuflagem invisível” e por isso, a “espaçonave extraterrestre” pôde ser revelada nas imagens. Outros, mais precavidos, acreditaram se tratar de uma "estrutura imensa" desconhecida. O fato de se tratar de uma imagem gerada pela Nasa não deixava dúvidas de que, no mínimo, "algo enorme estava lá". Mas, não era bem assim.

 

SECCHI esclarece

 

Ocorre que, muitos desconhecem, mas a sequência que remonta o vídeo onde avistaram uma “nave” não foi tomada de maneira cronológica, como sugerem as imagens e supuseram alguns pesquisadores.

 

Na verdade, o conjunto em movimento é composto por imagens aleatórias, capturadas em diferentes oportunidades e situações de luz/sombra, conforme informou o SECCHI em seu site (http://secchi.nrl.navy.mil/).

 

Estes quadros foram colocados numa sequência que visa mostrar aquela CME, gerando assim, a imagem animada por alguns segundos e o efeito que ocorre durante a passagem dos quadros - quando a situação de uma imagem colhida se difere completamente da outra. Essa diferença de tons e contrastes se dá pelos distintos horários em que foi feita cada uma dessas imagens e com isso, os tons de sombra e luz que cada imagem apresenta.

 

E, justamente, essa diferenciação foi o que causou a confusão, criando - por conta dos distintos contrastes e outras diferenciações em cada imagem - a ilusão do “deslizamento” de uma suposta estrutura nas proximidades de Mercúrio, imediatamente associada pelos observadores mais afoitos a uma nave extraterrestre. Se existisse, seria mesmo uma “nave-mãe” gigantesca, conforme alegaram alguns.

 

Destarte, a diferenciação das imagens mostradas em sequência cria um efeito no próprio planeta Mercúrio mostrado pelas imagens, fazendo com que esse, em determinado momento, se aparentasse a alegada “nave” em movimento.

 

Como o principal objetivo das câmeras HI1 e HI2 é registrar as CMEs ejetadas do Sol em direção à Terra, suas imagens necessitam de um alto processamento para destacar certos detalhes, contrapondo o brilho solar ao fundo.

 

Ocorre que, para tanto, é necessário eliminar o brilho e, posteriormente, aumentá-lo ao fundo para equilibrar. Esta “máscara” é criada pela combinação de todas as imagens do dia anterior associando-as de maneira matemática. Depois, esta imagem já processada é passada para o negativo, para então gerar a imagem original.

 

Desta maneira, as partes escuras vão positivar as brilhantes, buscando corresponder à imagem do dia anterior. Já a imagem do dia atual vai aparecer escura no processo final. Por isso, surge uma área preta à direita de Mercúrio e depois uma área brilhante (a chamada “nave-mãe”) que está se tornando maior à medida que o dia avança, até atingir a primeira imagem do dia seguinte.  Aquilo é também Mercúrio, porém, fora de sua posição nas outras imagens de diferentes datas, pois tal sequencia, não se visa o planeta, mas sim, o registro da ejeção coronal, à direita na imagem.

 

Portanto, quando se vê o planeta Mercúrio passando em trânsito rápido na frente da câmera, ali foram inseridas numa mesma sequência, as seguintes imagens: de Mercúrio no dia anterior; de Mercúrio para o dia atual, além da interpolação para subtrair a imagem atual (negativo). Assim, ao contrário do que pensaram alguns pesquisadores, as imagens não integram uma mesma sequência cronológica imediata.

 

Retratações raras

 

Ao perceberem o erro de interpretação dessas imagens, alguns sites que estavam divulgando a notícia de uma nave próxima ao Sol se limitaram a apenas retirar rapidamente o assunto de destaque, sem prestar mais explicações ou se retratar aos seus leitores. Em outros portais, o assunto ainda continua no ar, mesmo após as explicações do SECCHI, lfazendo ainda pessoas acreditar que uma nave-mãe de tamanho aproximado ao do planeta Mercúrio esteve recentemente rondando as cercanias do Sol.

 

Com a facilidade de se propagar notícias duvidosas na internet, o assunto repercutiu rapidamente e, salvo raras exceções, quem divulgou em primeira-mão sobre “os voos da irrefutável nave-mãe”, não deverá retificar esta falsa notícia ou informar seus leitores da veracidade dos fatos no mesmo patamar em que colaboraram para propagá-la.

 

Outros erros de interpretação

 

Desde que a Nasa passou a divulgar algumas das imagens de suas missões espaciais ao público, através de seu site, milhões de pessoas puderam observar as novas paragens do sistema solar. Com isso, surgiram também diversas interpretações errôneas e até bizarras, buscando coisas como, por exemplo, formas de objetos conhecidos ou forma de vida no solo de Marte, em imagens registradas pelos robôs Spirit e Opportunity ou supostas naves ao redor da Terra, em imagens cedidas pela Estação Espacial Internacional.

 

Porém, bem antes disso, também as sondas orbitais marcianas levantaram polêmicas ao mostrar estruturas geológicas que foram associadas por alguns "pesquisadores" à pirâmides e construções na superfície do planeta vermelho.

 

Outras imagens de câmeras de monitoramento da Nasa também foram destacadas ao mostrarem supostos objetos em movimento na órbita terrestre ou determinados detalhes "irrefutáveis" que a agência espacial americana deixara de comentar, segundo alguns analistas.

 

Esses erros na interpretação de imagens espaciais ou mesmo geradas aqui na Terra ocorrem das mais variadas maneiras, sejam por causas como distorções no processamento das imagens digitais, erro de processamento do obturador (que controla entrada de luz), deslocamento ou falhas de pixels, entre tantos outros desacertos.

 

Dessa maneira, com a maioria das pessoas desconhecendo estas possibilidades de erros na configuração das imagens e o livre acesso do público às imagens oficiais de missões espaciais da Nasa, passaram a surgir inúmeras teorias para lançar ideias infundadas, como essa da gigantesca nave próxima ao Sol ou acerca de outros absurdos astronômicos já expostos na rede. Além disso, por conta da divulgação de suas imagens oficiais, diversos pesquisadores pelo mundo afora também acusam a Nasa de estar omitindo informações do público e estar divulgando somente aquilo o que seja de seu interesse.

 

Esta linha equivocada de pensamento, geralmente, também acusa a agência espacial americana de ocultar informações sobre a existência da vida inteligente fora da Terra, ou até mesmo, sobre uma suposta catástrofe, por conta de um "astro errante" previsto se chocar com a Terra em breve, segundo alegam. Inclusive, diversos meteoritos e cometas que passaram nas proximidades da Terra sem causar nenhuma influência nesses últimos anos "teriam sido", para os autores dessas ideias, o astro errante que destruiria a Terra, sob o silêncio da Nasa...

 

Todas essas informações (e muito mais) têm sido divulgadas largamente em meios não científicos, sobretudo, junto aos públicos ufológico e esotérico da internet, sem que haja a menor precisão ou responsabilidade, seja por ignorância ou má fé.

  

* Pepe Chaves é editor do diário digital Via Fanzine e da Rede VF.

   - Com informações do SECCHI (http://secchi.nrl.navy.mil/).

 

- Imagens: SECCHI/Nasa.

 

- Colaborou: J. Ildefonso P. de Souza.

 

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- Extra:

  Vídeo com a falsa notícia de uma nave próxima ao Sol

 

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