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 Entrevista

 

 

 

Entrevista com Rubens Junqueira Villela

Meteorologista e professor

 

Por Pepe Chaves*

Para ASTROVIA

15/06/2011

 

Nesta segunda entrevista concedida ao diário Via Fanzine, o professor Rubens Junqueira Villela

 nos fala de climatologia e do comentado aquecimento Global. Ele é meteorologista e professor,

 natural e residente em São Paulo-SP, possui graduação em B.S in Meteorology pela Florida State

 University (1957) e mestrado em Meteorologia pela Universidade de São Paulo (1985), atuando

 principalmente nos seguintes temas: meteorologia aeronáutica, climatologia, meteorologia aplicada,

 projeto de aeroportos. Foi docente na Universidade de São Paulo (USP), onde se aposentou como

 professor. Como cientista, participou em nove expedições do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR)

 e esteve presente na inauguração da Base Brasileira "Comandante Ferraz", em 1984, no continente

 Antártico. Rubens Junqueira Villela também presta consultoria meteorológica a empreendimentos

nacionais e internacionais. Nessa entrevista, ele nos transmite um pouco de seus conhecimentos

e explana sobre alguns dos fenômenos climáticos e telúricos mais comentados na atualidade,

e que podem alterar num futuro breve, diversos aspectos do planeta Terra.

 

VF – Prezado professor Rubens Junqueira Villela, sabemos que o planeta está vivo e se remexendo constantemente. Temos as reações telúricas, como terremotos, maremotos etc., ou atmosféricas, com o próprio clima, envolvendo furacões, tornados e afins. Estes fenômenos têm causado muitas centenas de milhares de mortes ao longo dos tempos. O homem da Terra está correndo perigo o tempo todo?

Rubens Junqueira Villela – Bem, o planeta está “vivo” não no sentido orgânico ou fisiológico, o que poderia levar a séria confusão mental, mas no sentido de passar por contínuas transformações físicas naturais, como qualquer corpo celeste. Quanto ao clima (estado médio atmosférico), tem variado muito na escala geológica, e do ponto de vista humano é péssimo, na maioria das vezes. Melhorou nos últimos 11 mil anos, “coincidindo” com o surgimento da agricultura, base da civilização. Tivemos repetidas eras glaciais, uma delas em que a Terra virou uma “bola de neve”, outras eras quentes e secas demais. Em períodos menores, passamos pela “Pequena Era Glacial” (anos 1600) quando se podia patinar no rio Tâmisa em Londres e as colônias viking na Groenlândia (“Terra Verde”) pereceram. Variações mais breves são chamadas de “flutuações” em climatologia e podem explicar episódicos históricos da civilização como derrocadas de impérios, crises econômicas, etc. É evidente que a nossa espécie de vida corre perigo o tempo todo, mas também é evidente que é bastante adaptável; resiste bem mais que peixes a variações de temperaturas ambientes, por exemplo. 

 

VF – Muitas pessoas acreditam que nos últimos anos tem ocorrido certo aumento dos  fenômenos de ordem telúrica, bem como atmosféricos. Isso realmente é fato ou sempre foi assim?

RJV – Vamos separar a escala telúrica, senão caímos novamente em confusão mental. Terremotos, tsunamis, erupções vulcânicas são fenômenos de outra ordem de natureza que os atmosféricos, embora possa haver alguma relação física, como cinzas vulcânicas que podem abaixar a temperatura da atmosfera. O que realmente tem havido nos últimos anos, especialmente últimos 30 anos, é um aumento da temperatura global e aumento da intensidade e frequência de fenômenos atmosféricos adversos em velocidade acelerada, sem registro nos 600 anos anteriores. E isso não é questão de crença e sim fato comprovado cientificamente, apesar da pretensa polêmica em torno do assunto, muito em função da facilidade com que a boataria se espalha nos dias de hoje.

 

VF – Sabendo que o Sol jamais se esfriou ou se aqueceu além de sua evolução normal, como devemos entender os fenômenos chamados de “eras do gelo” ocorridas ao longo de incontáveis milênios na Terra? Ou seja, estas eras, em que o planeta voltou a se esfriar foram causadas por algum fenômeno atmosférico do planeta?

RJV – De fato o comportamento energético do Sol vem se mantendo relativamente constante. O valor da “constante solar”, isto é, a quantidade de energia recebida no topo da atmosfera terrestre, tem variado muito pouco em torno de 1360 watts por metro quadrado na média. Na verdade, varia no decorrer do ano em cerca de 7%, porque a Terra fica mais perto do Sol em janeiro do que em junho, isto devido a excentricidade da órbita terrestre, de forma elíptica. Quanto às causas das Eras Glaciais, hoje valoriza-se mais a teoria de Milankovitch, quanto aos fatores astronômicos, isto é, ligados a variações (mesmo não muito grandes), da citada excentricidade e da inclinação do eixo de rotação do planeta. Determinadas combinações destes parâmetros, calculáveis matematicamente, mostram ciclos compatíveis com glaciações pretéritas. Fatores geográficos, como distribuição de mares e continentes, também influem.

 

'É certo que a elevação do nível do mar associada ao aquecimento global,

da ordem de 17 centímetros nos últimos 100 anos, contribui para

a maior invasão do mar nos litorais durante as ressacas'

 

VF – Constatações científicas apontam que, através dos milênios, os continentes separados pelo Atlântico estão se distanciando, enquanto os separados pelo Pacífico estão se juntando. Quais as influências desse processo no leito oceânico?

RJV – É um processo lento, mas que inelutavelmente mudará o mapa-mundi daqui a milênios. O leito oceânico se renova, dorsais ou cordilheiras submarinas se elevam enquanto outras partes afundam ou se estendem, conforme indica a teoria das placas tectônicas.

 

VF – Outro assunto da ordem do dia tem sido o chamado aquecimento global. Em diversas regiões litorâneas do mundo, incluindo o Brasil, já estão ocorrendo ressacas jamais registradas nas últimas décadas. Para muitos, estes fenômenos estariam associados ao avanço do mar e seriam causados pelo derretimento do gelo polar, por conta do aquecimento atmosférico. O senhor entende dessa maneira?

RJV – As ressacas são primariamente consequência de grandes tempestades ciclônicas ocorridas no oceano e muitas vezes bem longe do local atingido. Desde 1993, eu trabalho fazendo previsão do tempo e do estado do mar para obras costeiras no Brasil (emissários submarinos). Para prever ondas na Barra da Tijuca, Praia Grande, Rio das Ostras ou Salvador, eu precisei fazer uma análise das condições meteorológicas no Atlântico Sul inteiro. Valeu-me a experiência (pouco confortável) de navegação em 12 expedições antárticas, outros cruzeiros oceanográficos e a grande aventura no veleiro “Rapa Nui”, a serviço de Amyr Klink, em que com mais três companheiros capotamos, mas nos safamos de temporal ciclônico com ondas de 10 metros em pleno estreito de Drake, em 11/2/1991. É certo que a elevação do nível do mar associada ao aquecimento global, da ordem de 17 centímetros nos últimos 100 anos, contribui para a maior invasão do mar nos litorais durante as ressacas. Uma parte da elevação é devida à dilatação da água pelo calor, outra parte ao derretimento das geleiras.

 

VF – O comportamento do Sol vem sendo monitorado pelos cientistas de maneira cada vez mais detalhada. Para o senhor, o Sol tem se comportado de maneira regular, sobretudo, nesses últimos anos?

RJV – Não inteiramente regular, tem havido surpresas como períodos quietos prolongados (variações no ciclo de 11 anos), mas na verdade não sabemos perfeitamente como funciona a fornalha nuclear da nossa estrela, basicamente pela fusão de hidrogênio em hélio. Sem dúvida, está sujeita a variações e não apenas cíclicas.

 

'O buraco de ozônio não é o maior responsável pelo derretimento do gelo polar,

e sim, de longe, o aquecimento global da atmosfera e oceano'

 

VF – Alguns cientistas já levantaram a possibilidade de que o Sol possa emitir uma enorme protuberância que poderia provocar um "apagão" eletromagnético no planeta inteiro. Dessa maneira, além das interferências causadas pelas auroras boreais ou austrais, alguma perturbação poderia ser esperada por conta das emissões solares?

RJV – Parece que estamos mais vulneráveis à atividade solar devido nossa dependência atual da tecnologia de satélites, para comunicação, navegação, previsão do tempo, etc. Por isso a NASA criou um serviço de previsão do “tempo espacial”, inclusive para prevenir astronautas. Até hoje não houve eventos catastróficos, na Terra ou no espaço, mas pode acontecer. Radiotelescópios e satélites monitoram as emissões eletromagnéticas solares há muitos anos, em diversos comprimentos de onda, e difundem boletins com dados sobre os vários índices de atividade. Alguns meteorologistas procuram relacionar estes índices com a evolução do tempo, sem muito êxito.

 

VF – Além do gás CO2 do CFC (usado em spray até bem pouco tempo) é cogitado um aumento na produção de metano (CH4), também apontado como elemento perturbador da camada de ozônio. Além disso, a cultura crescente do arroz e fezes dos rebanhos bovinos e outros têm sido “os vilões” desse tipo de poluição atmosférica. O que o senhor pensa dessa questão?

RJV – Felizmente um movimento mundial conseguiu deter a produção dos clofluorcarbonetos (CFCs, freons, etc.), inertes na baixa atmosfera, mas que alcançando a estratosfera, reagiam e liberavam o cloro que atacava vorazmente o ozônio a 25 quilômetros de altura, quase destruindo nossa capa protetora contra a radiação ultravioleta do Sol. Como a “meia vida” dos CFCs, que são os piores  contaminantes neste sentido, é de 70 anos, vai demorar para que desapareçam de uma vez. O metano é poderoso gás de efeito estufa, mas não é tão prejudicial quanto o CO2, devido à sua menor quantidade e concentração, além de menor atuação na estratosfera.

 

VF – Por que os buracos na camada de ozônio estão localizados mais próximos ao Pólo Sul, enquanto, ao contrário, o derretimento polar se mostra mais evidente no Pólo Norte?

RJV – O buraco de ozônio não é o maior responsável pelo derretimento do gelo polar, e sim, de longe, o aquecimento global da atmosfera e oceano. O buraco (perda relativa) dura cerca de três meses do ano (primavera) e é bem mais grave na Antártida que no Ártico. A quantidade de gelo no Ártico é muito menor, apenas uma crosta flutuante de uns 3 metros pela qual passa parte do calor do oceano, enquanto a calota antártica chega a 4,8 km de espessura.

 

'Um planeta em que caem quatro milhões de

relâmpagos por dia só pode ser um planeta perigoso'

 

VF – Após os abalos sísmicos que danificaram usinas nucleares no Japão, a Alemanha resolveu não mais investir na tecnologia nuclear. Além do já comprovado risco dos terremotos que ameaçam a segurança das usinas nucleares, haveria algum outro fenômeno climático ou telúrico que, igualmente, poderia gerar algum risco de segurança?

RJV – A análise de risco na construção de sítios nucleares costuma ser rigorosa, calcula-se até probabilidade de impacto de aeronaves, como feito para Iperó, serviço em que participei como consultor de meteorologia. Porém, a mudança climática pode dificultar a análise de risco. Por exemplo, antes a probabilidade do metrô de Nova York ser alagado era de 1 em 100, agora, passou a 1 em 3:  isto é, em vez do evento acontecer uma vez em 100 anos, pode acontecer em 3 anos, com a subida do nível do mar. Nos cálculos de barragens hidroelétricas, os chamados “períodos de retorno” também precisarão ser encurtados, pois a “chuva de 100 anos” pode vir no ano seguinte, do jeito que a coisa vai...

 

VF – Agradecemos imensamente pela entrevista e pedimos para nos deixar suas considerações finais.

RJV – Com todos seus perigos, a Terra deve ser um planeta privilegiado, comparado com outros desvendados pela ciência atual. E, permitam-me acrescentar, assim descrito pelos visitantes extraplanetários, cuja presença a ciência oficial continua negando, apesar das evidências, como bem sabem muitos cientistas mesmo, ufólogos entre eles, ou agentes dos governos e serviços secretos, etc. Tripulantes de uma dessas naves visitantes, segundo concenciosa pesquisa, pareciam invejar a Terra, pois o planeta deles só tinha três tipos de árvores... Por outro lado, deve ser assustador para muitos desses visitantes passar por tempestades de raios e trovões (os CBs) comuns na Terra,  que matam quase 200 brasileiros por ano sem causarem grande pânico entre nós, terráqueos. Um planeta em que caem quatro milhões de relâmpagos por dia só pode ser um planeta perigoso!

 

* Pepe Chaves é editor do diário digital Via Fanzine e da Rede VF (Brasil).

 

- Foto: Cortesia do autor/Fotomontagem VF.

 

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- Produção: Pepe Chaves

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