Voos privados
Falcon Heavy: O foguete que transportou o futuro SpaceX realiza teste com sucesso e leva carro para o espaço, mesmo perdendo o seu propulsor central que, após uma falha, se perdeu no mar.
Por Fábio Bettinassi* De Araxá-MG Para Via Fanzine BH-07/02/2018
Imagem mostra o piloto Starman dentro do automóvel Tesla, tendo a Terra ao fundo. Leia também: Dragon se atracou à Estação Espacial Voos comerciais ganham corpo na agenda da NASA Imagem histórica: Bolden, Musk e o Dragão NASA e SpaceX comemoram feito histórico
Nesta terça-feira, 06/02/2018, foi dado um passo importante para a exploração humana no cosmo. A SpaceX, empresa de propriedade do bilionário inventor Elon Musk (da Tesla Motors), lançou o foguete Falcon Heavy, com três propulsores a jato (cada qual com nove motores), carregando uma carga inusitada, um automóvel Tesla Roadster de cor cereja que foi enviado aos confins do espaço escuro.
O carro pilotado por um robô astronauta denominado de Spaceman saiu de dentro do foguete ao som do sucesso “Life on Mars” do músico inglês David Bowie. O veículo terrestre seguirá até a órbita de Marte e depois deverá seguir rumo ao cinturão de asteroides. E de acordo com a SpaceX em sua transmissão ao vivo, há uma carga bastante original dentro desse automóvel Tesla: um sistema de armazenamento "Arch" resistente à radiação cósmica, contendo a “Trilogia da Fundação”, do escritor israelense Isaac Asimov.
O sistema “Arch” foi construído pela Fundação Arch Mission e consiste em um dispositivo 5D de armazenamento em quartzo óptico a laser, capaz de sobreviver até mesmo às condições mais drásticas do espaço. O objetivo da fundação é preservar bibliotecas de conhecimento humano para viagens interestelares (e proteger informações em caso de calamidade na própria Terra). Esse objetivo foi inspirado nas novelas de Asimov, que mostram a humanidade trabalhando para escrever uma "Enciclopédia Galáctica" visando proteger seus patrimônios comuns da era das trevas.
Segundo a Spacex, o principal objetivo dessa missão foi preparar a tecnologia de foguetes para em breve levar o homem ao planeta Marte e a carga, um teste real para volumes maiores que os já lançados pelos foguetes menores utilizados pela empresa, o Falcon 1 e o Falcon 9.
Aproximadamente às 18h40 (horário de Brasília) o foguete Falcon Heavy da empresa SpaceX foi lançado com sucesso ao espaço, decolando e depois realizando o retorno e pouso simultâneo dos dois propulsores laterais.
Os dois foguetes laterais retornaram com sucesso às suas bases.
Entretanto, o propulsor central do Falcon Heavy que deveria pousar em uma barcaça no mar sofreu um problema. Aparentemente, um dos três foguetes dele demorou um pouco mais para ser acionado e fez o conjunto acelerar e se desviar da barcaça, caindo no mar, a 100 metros de distância e a 300 milhas por hora. Esta notícia foi confirmada pelo próprio Elon Musk, em uma entrevista coletiva prestada nessa mesma data.
O foguete Falcon Heavy é hoje o maior foguete espacial disponível no mundo. Possui 70 metros de altura, pesa 1.400 toneladas e produz mais de 2,5 milhões de quilos de empuxo dinâmico, o equivalente à potência de 17 Boeings 747 em potência máxima.
Seus três motores principais são capazes de levá-lo ao espaço em apenas seis minutos e retornam a Terra, pousando suavemente em suas bases. Esta foi uma maneira encontrada para que possam ser reutilizados em uma próxima missão, reduzindo consideravelmente o custo de cada lançamento espacial.
Para termos uma ideia dos custos, através do sistema de foguetes usados pela Nasa nos ônibus espaciais, um lançamento custava entre US$ 450 milhões e US$ 1 bilhão. Através dos foguetes Falcon 1 e 9 da SpaceX, esse custo caiu para US$ 60 milhões, enquanto no Falcon Heavy esse valor chega a US$ 90 milhões, permitindo assim, uma economia bastante considerável.
Elon Musk informou sobre a perda do propulsor central em entrevista coletiva.
A SpaceX juntamente com outros órgãos científicos dos Estados Unidos, planejam terraformar Marte, ou seja, transformar Marte para que possa se tornar um ambiente adequado para abrigar vida humana, tornando-o parecido com a Terra.
O projeto que pode levar centenas de anos consiste basicamente em criar uma atmosfera ao redor do planeta, com gases capazes de aquecer Marte - que é bastante frio - e assim, concentrar umidade. Com o tempo, mares e nuvens se formariam e o planeta seria fértil e adaptável à vida.
Portanto, o que vimos com este lançamento simbólico de um automóvel ao espaço foi um grande feito tanto no campo da ciência espacial como nas artes. Nunca se viu nada parecido com essa mescla de teste científico, performance artística e marketing, proporcionados pela empresa SpaceX. Ao lançar um carro no espaço, espera-se que este vá orbitar a Terra e o Sol durante um bilhão de anos e, quiçá, um dia a surpresa de ser encontrado por civilizações alienígenas, ou até mesmo, pelos seres humanos terráqueos em um distante futuro.
Tudo isso nos mostra que empresas espaciais estatais como a Nasa, eternamente condicionadas à vontade do Congresso americano, e enfrentando imensos cortes de verbas, se tornaram engessadas devido à administração política e não são mais capazes de acompanhar o avanço exigido pela ciência atual.
A SpaceX, a maior empresa espacial privada tem mostrado dinamismo e fôlego nas pesquisas, agilidade, baixo custo e soluções inovadoras, capazes de revolucionar o mercado. Toda a sua tecnologia foi desenvolvida em pouco tempo e se encontra livre da burocracia e da imensa hierarquia exigida nas empresas públicas do ramo espacial. Esse modelo privado de pesquisa espacial mostra que tudo isso realmente veio para ficar.
O dia 06/02/2018 foi histórico e vai ficar registrado no futuro da humanidade, quando esta estiver habitando outros planetas. E para comemorar, vamos todos ouvir a música “Life on Mars”.
* Fábio Bettinassi é publicitário e pesquisador aeroespacial. É consultor para os portais Via Fanzine e UFOVIA.
- Colaborou: José Ildefonso P. de Souza.
- Imagens: SpaceX/reprodução.
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