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Volta à Lua

Programa Artemis:

Volta à Lua tem atraso de um ano

Nasa atrasa seu retorno à Lua por um ano devido a problemas com naves privadas. Artemis II será uma missão tripulada à órbita lunar, marcada para setembro de 2025 e a Artemis III pousará com uma mulher no satélite terrestre em setembro de 2026*.

A espaçonave 'Orion' com a Terra e a Lua ao fundo, durante a missão Artemis I em 2022.

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A Lua terá que esperar. A Nasa, agência espacial americana, anunciou nesta terça-feira, 09/01, o adiamento de seu cronograma do projeto Artemis de voos tripulados ao satélite, programa que deve servir como primeiro passo para a chegada de humanos a Marte. Numa conferência de imprensa em Washington, o seu administrador, Bill Nelson, indicou que a missão Artemis II, que deveria levar astronautas à órbita lunar pela primeira vez em meio século em setembro deste ano, está adiada para setembro de 2025.

A missão Artemis III, que levaria os quatro astronautas selecionados para pousar no polo sul da Lua em 2025, está adiada para setembro de 2026. A missão Artemis IV mantém a data prevista de lançamento para 2028. A agência também revisa o cronograma de lançamento. O transporte de materiais e a construção da Gateway, base lunar que deveria começar a ser construída em 2025 e que servirá de ponto de partida para futuras missões a Marte.

“Para dar às equipes Artemis mais tempo para resolver os desafios que surgem pela primeira vez nas operações, desenvolvimento e integração (do projeto), vamos dedicar mais tempo às missões Artemis II e III”, anunciou Nelson. “Vamos regressar à Lua como nunca fizemos antes, e a segurança dos nossos astronautas é a principal prioridade nos nossos preparativos para futuras missões Artemis”, acrescentou.

A primeira missão, Artemis I, foi concluída com sucesso em dezembro de 2022. Em seguida, a cápsula Orion, lançada sem carga, orbitou a Lua e retornou à Terra no horário e da forma planejada. Cinco meses depois, a agência especial anunciou os astronautas selecionados para a primeira missão tripulada, Artemis II: o canadense Jeremy Hansen e os norte-americanos Reid Wiseman, Christina Koch e Victor Glover. Koch e Glover são, respectivamente, a primeira mulher e a primeira pessoa negra a participar de uma missão lunar.

“Aprendemos muito desde a Artemis I, e o sucesso destas primeiras missões depende das nossas parcerias comerciais e internacionais para expandir o nosso alcance e conhecimento do lugar dos humanos no nosso sistema solar. Artemis representa o que podemos alcançar como país e como coligação global. Quando juntos estabelecemos uma meta complicada, podemos alcançar algo grandioso”, disse o administrador.

A decisão anunciada por Nelson representa um golpe nas ilusões espaciais americanas, que contam com as missões Artemis para recuperar a épica espacial entre os cidadãos que se viveu há 50 anos e para estabelecer a liderança numa corrida para conquistar o infinito e mais além, cada vez mais disputada. Em apenas alguns anos, a China tornou-se num rival que luta pelo primeiro lugar e aspira a enviar uma missão tripulada à Lua até 2030.

Os astronautas da missão Artemis II, Reid Wiseman (comandante), Victor Glover (piloto) e os especialistas da missão Christina Hammock Koch e Jeremy Hansen.

Mas durante semanas o adiamento foi dado como certo. Em novembro, o inspetor-geral da agência espacial havia apontado uma série de problemas no programa que devem ser corrigidos para dar continuidade ao ambicioso e caríssimo projeto. Entre eles, o relatório indicava que no Artemis I a cobertura térmica que deveria proteger a cápsula Orion do calor e do atrito gerado pelo atrito com a atmosfera durante sua descida à superfície da Terra estava “desgastada mais do que o esperado”. Além disso, a imensa plataforma projetada para transportar, apoiar e lançar o colossal foguete SLS que deve tirar o Orion da órbita terrestre também sofreu mais danos do que o estimado para o lançamento de 2022.

Como apontaram esta terça-feira responsáveis da Nasa, os seus especialistas esperam concluir a investigação sobre as razões do desgaste da capa e da perda dos pequenos mosaicos que a compõem até esta primavera. “As equipes realizaram uma avaliação metódica para compreender o problema, incluindo um exame extensivo do envelope térmico, testes e revisão de dados de sensores e câmeras”, explicam. No caso específico da missão Artemis II, nos processos de testes da Orion, foram detectados problemas em uma bateria e em componentes de um circuito responsável por controlar a composição do ar no interior da cápsula.

Somando-se aos contratempos do calendário, o pouso na Lua baseado na nave estelar da SpaceX também não está pronto. A empresa de Elon Musk só lançou o seu foguete gigantesco duas vezes, e em ambas as ocasiões o projétil explodiu sobre o Golfo do México. Isto, por sua vez, provoca outros atrasos na cadeia de preparativos: os simuladores nos quais os astronautas devem treinar a viagem com o foguete SpaceX não estão prontos, nem os trajes espaciais especialmente adaptados para a Lua que a tripulação Artemis necessita para sua missão, e da qual são responsáveis as empresas Axiom Space e Collins Aerospace.

O último revés ocorreu esta semana. Nesta segunda-feira, o módulo Peregrino I já voava em direção à Lua, naquela que pretendia ser a primeira iniciativa privada a conseguir uma aterragem suave no satélite, quando surgiu uma “anomalia” que impediu os engenheiros de o direcionar ao Sol para alimentar sua energia. Embora tenha sido corrigido, a empresa responsável pelo protótipo, a Astrobotic, confirmou que é impossível realizar um pouso suave. O problema surgiu no sistema de propulsão, que deixou a nave sem combustível para pousar na Lua.

“Não vamos voar até estarmos prontos”, sublinhou Nelson na conferência de imprensa. O administrador e antigo senador pela Flórida descartou que o atraso no programa Artemis possa permitir à China avançar na corrida espacial e chegar mais cedo à Lua. “Eles gostariam de pousar na Lua antes de nós. Para eles seria um grande golpe de relações públicas, mas não conseguirão. É verdade que cada vez mais adiantam as suas datas. Mas setembro de 2026 – a nova data para Artemis III – será o primeiro pouso lunar”.

A viagem Artemis II está programada para durar cerca de dez dias. Após uma primeira inspeção na saída da atmosfera terrestre, para verificar se a decolagem não causou danos, a espaçonave tripulada seguirá em direção à Lua, onde orbitará e aproveitará a força gravitacional para chegar ao espaço além do satélite, onde ainda não houve presença humana, antes de retornar à Terra.

* Informações de Macarena Vidal Liy / El País, com tradução de Pepe Chaves para ASTROvia.

- Imagens: NASA / Joe Skipper (Reuters).

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