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Acidentes
Paraty: Observações sobre um desastre aéreo A queda do avião que matou o ministro Teori Zavascki ainda está sendo esclarecida e alguns pontos importantes foram mencionados pelo pesquisador Fábio Bettinassi a Via Fanzine.
Por Pepe Chaves* De Belo Horizonte-MG Para Via Fanzine 23/01/2017
Muita consternação e pouco esclarecimento
A morte do ministro do STF Teori Zavascki em um desastre da aviação no dia 19/01/2017 deixou muitos brasileiros consternados. Zavascki era o relator da Lava Jato para o STF e deveria homologar nos próximos dias algumas delações que poderiam comprometer profundamente vários políticos brasileiros na ativa.
O desastre com a aeronave King Air C90 ocorrido em Paraty, litoral do Rio de Janeiro, em que outras pessoas também faleceram, como o empresário Carlos Alberto Filgueiras, dono do avião, além de Maira Ilda, 23 anos, que era massoterapeuta, e sua mãe Maria Ilda, 55 anos, professora da rede infantil de ensino e o piloto, Osmar Rodrigues.
O assunto foi largamente comentado nas redes sociais, sites e blogs da internet. Algo em comum unia todos praticamente os comentários: uma forte desconfiança de que o ministro não teria sido vítima de um acidente, mas sim de assassinato.
Instantaneamente esta desconfiança foi expressa, sobretudo, por cidadãos brasileiros de várias regiões do país, trazendo à tona outros casos de acidentes semelhantes insolúveis, como os que mataram os políticos Ulisses Guimarães e Eduardo Campos, entre outros.
Algumas pessoas puderam ver o avião em queda e estas asseguram que este soltava fumaça durante a queda, sugerindo que tivesse sofrido algum tipo de pane antes de atingir o leito do mar.
Inúmeras visualizações de foto antes da queda
Entre as informações que veicularam na imprensa após a queda da aeronave, algumas, realmente, nos chamam a atenção. Uma delas foi destacada pelo portal IG: “Dezesseis dias antes do acidente que matou o ministro Teori Zavascki, do STF a foto do avião que caiu na quinta-feira em Paraty, no Rio de Janeiro, foi consultada 1.885 vezes no site JetPhotos, que reúne grande banco de imagens de aeronaves de todo o planeta. O que poderia explicar esse número alto de busca? Isso ainda terá que ser investigado”.
Não se sabe quem ou o que levou diversas pessoas a visualizar por inúmeras vezes a fotografia de um avião que acidentaria nos próximos dias. Ainda de acordo com a reportagem, “(...) o que chama atenção, porém, é a comparação com os dias anteriores: entre os dias 20 de dezembro do ano passado e 2 de janeiro deste ano, a procura foi significativamente inferior – somente cinco acessos. No dia 3 de janeiro, um inexplicável ‘boom’: 1.885 consultas. De 4 de janeiro até ontem, nenhum acesso”.
Nota da FAB desmente
Outra informação veiculada nas redes sociais foi desmentida imediatamente pela Força Aérea Brasileira (FAB) no último domingo. A informação dava conta que o piloto, Osmar Rodrigues teria sido orientado pela torre de controle localizada no Rio de forma equivocada, de modo que a aeronave caísse, matando o ministro. Um tal “sargento Marcondes” - que não existe, segundo a FAB - teria sido o responsável pela instrução que teria levado à queda da aeronave. Esta informação foi atribuída a “uma fonte anônima da Aeronáutica”.
Em seu portal oficial, a FAB publicou a seguinte nota: “Com relação ao boato que circula nas redes sociais sobre a influência de um tal sargento Marcondes no acidente com a aeronave que transportava o ministro do STF Teori Zavascki e outros passageiros, no dia 19/01/2017, informamos que NÃO É VERDADE. Não existe militar com esse nome na equipe de serviço responsável por aquela área de controle, nem havia qualquer comunicação com o piloto da aeronave matrícula PR-SOM durante a aproximação para o pouso em Paraty, porque o aeródromo não possui órgão de controle de tráfego aéreo. Ressaltamos que todos os procedimentos realizados pelos órgãos de controle durante o voo estiveram de acordo com as legislações vigentes, inerentes aos serviços de controle de tráfego aéreo”.
Família desconfia
É sabido que o ministro examinaria em fevereiro os depoimentos prestados por delatores da Odebrecht que citam dezenas de políticos de grande relevância, ligados ao governo ou à oposição.
Parece que a desconfiança também paira sobre membros da família de Zavascki. Após ser confirmada a morte, seu filho Francisco Zavascki declarou à imprensa que “Seria muito ruim para o Brasil ter um ministro do STF assassinado”. Vale lembrar que em maio de 2016, Francisco publicou no Facebook que sua família estaria recebendo ameaças.
Interessantes observações
Consultor em assuntos aeroespaciais para Via Fanzine, Fábio Bettinassi, empresário com formação em tecnologia nuclear, astrofísica e contraterrorismo, aceitou falar conosco sobre o desastre, abordando alguns pontos técnicos e não políticos do ocorrido.
De acordo com Bettinassi, “Em 2013 fiz um curso sobre análise de terrorismo e contra medidas, no qual meu renomado professor da Universidade de Leiden, autoridade mundial do assunto, nos questionou: vocês sabem por que existe muito atentado terrorista e queima de arquivo através da derrubada de aviões? É porque é fácil’, respondeu ele”.
Segundo ele, “De fato derrubar um avião não é uma tarefa complexa e se torna atraente para o terrorista, organizações criminosas e toda a sorte de bandidos operando à frente e atrás do poder, quando querem eliminar ameaças que possam lesar seus esquemas de corrupção. Isso se deve porque depois da aeronave destruída, fica difícil extrair elementos conclusivos, visto que ela própria acaba se convertendo em ‘a arma do crime’”, afirmou o pesquisador.
É certo que nos últimos anos vimos como um misto de indignação e surpresa, diversos acidentes aéreos suspeitos no Brasil que vitimaram personalidades envolvidas com a investigação de casos notórios de grande expressividade política.
“Coincidência? Destino? Sucessão de falhas? Ou terrorismo deliberado? A resposta na maioria dos casos, não veio, ou se veio, ajudou a aumentar as dúvidas, pois a culpa foi rapidamente atribuída simplesmente à falha do piloto ou pane mecânica, como se isso explicasse alguma coisa. Mas onde estão as evidências concretas que levaram a essa conclusão? Quais os fatores preponderantes que culminaram na falha do piloto ou na pane mecânica? Onde está a ‘Análise de Sucessão dos Fatos’, a timeline da tragédia? Até hoje não sabemos”, afirmou Bettinassi.
O acidente aéreo que matou Teori Zavascki ocorrido com a aeronave bimotor de prefixo PR-SOM tem todos os elementos para compor mais uma trama de conspirações e suspeitas.
Autoridades inativas às investigações
Bettinassi também observa que, “Até o momento em que escrevo estas linhas (22/01 às 18h) o avião ainda se encontra no mar, em baixa profundidade, próximo à praia de Paraty, exibindo restos da fuselagem que aos poucos está sendo fragmentada e seus pedaços, espalhados aleatoriamente pelo oceano nunca mais serão encontrados. Pedaços estes que são pequenas peças de fundamental importância para a investigação e que unidas contariam a história do que realmente aconteceu” afirmou o pesquisador a Via Fanzine.
Para ele, “Um fato que nos toca é que a averiguação do acidentes será realizada pelo CENIPA, órgão brasileiro militar que também investigou a morte do político Eduardo Campos e até hoje ninguém ficou sabendo de nada e nenhuma informação relevante foi divulgada. Com tal comportamento, o governo brasileiro nos convida a suspeitar que estivesse abafando os fatos”.
“Na maior parte dos casos de acidentes aéreos, a tragédia é causada por uma sucessão de falhas técnicas, mecânicas ou de fator humano. Em muitas vezes, estas três variáveis agiram em perfeito sincronismo, levando o imenso aparelho voador, ao final trágico. Mas o que pensar de uma situação como esta, onde uma aeronave totalmente revisada, confiável e sem histórico de acidente, pilotada por um grande profissional, especialista em voar naquela região sob condições adversas, se acidentar de forma tão repentina?”, indaga o pesquisador.
Porém, ele observa que, “Ainda é cedo para lançar teorias, mas diante do quadro que temos até o momento, tudo colabora para tal. É difícil imaginar que a morte repentina e suspeita de um ministro do STF, expoente máximo da hierarquia jurídica brasileira, tenha sido tratada com tamanho descaso. Se tivesse ocorrido em um país sério, a aeronave já teria sido retirada da água e uma ampla operação investigativa correria célere. Mas o que vemos é o contrário disso. Por um lado observamos uma imprensa esquiva, arredia, que parece estar sob o comando de alguma força oculta poderosa capaz de tudo desinformar e esconder. Onde está o nosso jornalismo investigativo? Cadê os especialistas em informação, que vão atrás de dados e evidências? Nenhum sinal deles”, observou.
De fato, certa frieza parece ter tomado conta das autoridades nacionais, como observa Bettinassi, “Onde estava a Marinha brasileira para cercar o local do acidente evitando que provas sejam adulteradas e peças importantes do avião sejam retiradas ou até mesmo levadas pela correnteza? Para nossa surpresa, tanto a Marinha quanto a Força Aérea Brasileira, lavaram as mãos, transferiram toda a responsabilidade para os proprietários do avião”.
“É estranho e até revoltante, que hoje, terceiro dia do acidente, o avião se encontre no mesmo local, rodeado de pescadores e curiosos e vai saber que tipo de gente esteve por lá, tudo isso evidenciando um total desrespeito e total desinteresse das autoridades em tentar estudar o caso. O que estão tentando esconder?”, indagou.
Monitoramento da aeronave
Mas nem tudo parece descaso e abandono de responsabilidade. No momento do acidente diversos órgãos internacionais de inteligência estavam monitorando a aeronave, desde sua decolagem no Campo de Marte em São Paulo. Tais órgãos utilizaram o cruzamento de uma vasta rede de tecnologias baseadas em satélites militares, radares e até estações rádio base de uso da aviação, nos mostrando que havia interesse por parte de tais autoridades estrangeiras em monitorar o voo do pequeno bimotor.
Para o pesquisador, “Este monitoramento se deve porque a operação Lava Jato que vem investigando a maior roubalheira da história mundial, em torno da Petrobras é de interesse dos Estados Unidos. Naquele país esse assunto se tornou ‘uma questão de Estado’, porque de acordo com as leis americanas, quando um caso de corrupção entra no solo americano e se utiliza de dinheiro público ou manipula capital de fundações internas, este se torna automaticamente um assunto da Inteligência e passa a ser visto de perto pelas agências de informação. Por isso é natural que todos os envolvidos na Lava Jato estão e estavam sendo alvo de intensas e regulares observações e monitoramento remoto”.
Dados sobre os instrumentais
Na sexta feira por volta das 19h (horário de Brasília) o site FlightRadar24.com que monitora o tráfego aéreo em todo o mundo e recebe dados de fontes militares e secretas (entre outras), divulgou publicamente, os dados completos do voo da aeronave PR-SOM até o último segundo de transmissão de dados do avião.
Nele podemos observar fatos suspeitos e um comportamento anormal para uma aeronave que se encontrava em perfeito estado operacional. Vejamos o gráfico abaixo, que mostra a evolução da altitude percorrida pelo avião, através da linha azul. Na coluna da esquerda vemos os valores de altitude em pés (feet) e na linha horizontal abaixo, o horário dos acontecimentos registrados pela hora dos Estados Unidos, com um fuso de aproximadamente duas horas positivas.
Gráfico do site FlightRadar24.com monitorou a queda da aeronave King Air C90.
Bettinassi observa que, “Após a decolagem no Campo de Marte, cuja pista possui elevação de 722 metros ou aproximadamente 2.100 pés em relação ao nível do mar, o avião ganha altitude normalmente, como qualquer outra aeronave, depois quando a linha azul se torna horizontal, o avião atinge altitude de cruzeiro, próxima aos 16.000 pés, segue em frente em um voo normal e de repente começa a perder altitude com rapidez, momento este que a linha azul começa a descer. Note que a perda de altitude é muito acentuada, fato incomum para um voo comercial de passageiros. A situação se torna ainda mais estranha quando a linha azul, próxima aos 10.000 pés é repentinamente interrompida. Neste momento todos os sistemas de emissão de informações do avião, como telemetria, transponder e demais instrumentais aviônicos, param de transmitir, antes mesmo que o avião se chocasse com o mar. Ou seja, podemos concluir que quando o PR-SOM atingiu o mar, ele já se encontrava com os instrumentos de telemetria totalmente inoperantes, caso contrário iria transmitir até o último segundo de impacto, gerando uma leitura de altitude próxima à zero, nível do mar”.
O pesquisador também ressalta que, “Entre outros dados divulgados podemos ver uma lista de informações com diversos dados de voos, como velocidade, posição GPS e identificação do radar (radar ID). Nesta lista, alguns valores estão zerados, como velocidade, por exemplo. Isso se deve porque os dispositivos que capturaram estes dados eram diferentes daqueles que geraram a imagem plotada no gráfico da linha azul. Estes não possuíam rastreamento de altitude, pois neste caso o objetivo era captar a posição geográfica do voo e os identificadores de radar. Como podemos ver na última coluna Radar_ID, o avião estava sendo rastreado por pelo menos quatro estações diferentes de radar que tudo acompanhavam com atenção e algumas até podem ter ouvido o que aconteceu na cabine”, afirmou.
Desta forma, o voo que levava o ministro STF estaria sendo atentamente monitorado. “Através desta informação fica claro para nós da população, que havia intensa observação do voo, porém até agora nenhum controle aéreo brasileiro divulgou sequer alguma informação seja ela vocalizada (a conversa do piloto com a torre) ou informações numéricas e isso é muito estranho. Que tipo de sigilo isso está envolto? O que estão querendo esconder?”, indagou Bettinassi.
E finaliza o pesquisador com outra indagação: “Diante a todos estes fatos, muitos deles estranhos e até duvidosos, fica a pergunta que todos nós temos no momento: teria sido um atentado? Talvez esse seja um caso que nem o tempo poderá responder”.
Aeronave foi retirada do mar
Segundo informações da Agência Brasil (órgão do Governo Federal), a parte principal da aeronave King Air C90, de prefixo PR-SOM, que caiu no mar de Paraty foi retirada da água na noite do domingo 22/01 e seguiu para o município de Angra dos Reis, no sul fluminense. A carcaça da aeronave foi içada pela empresa AGS, contratada pela proprietária do avião, o grupo hoteleiro Emiliano, com o uso de um guindaste em uma balsa.
Segundo a assessoria de imprensa do Emiliano, a empresa continua buscando partes menores da aeronave que se espalharam pelo mar. Todo o material está sendo entregue à FAB, para que seja feita a investigação sobre o acidente.
* Pepe Chaves é editor de Via Fanzine e da ZINESFERA. - Com informações das agências nacionais.
- Imagens: FlightRadar24.com/Divulgação.
- Produção: Pepe Chaves. © Copyright 2004-2017, Pepe Arte Viva Ltda.
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