Teogonia
Brasil Central: Mistério arqueológico em Goiás: Lajedo JK Segundo estudos científicos, inscrições estão espalhadas por cerca de 600 m2 na rocha, tipo arenito clássico, cuja formação pode remontar a 65 milhões de anos. Quanto às insculturas do lajedo estima-se que estejam relacionadas a um período também remoto, entre quatro a seis mil anos.
Por J. A. FONSECA* De Itaúna/MG maio - 2022
Enigmática figura insculpida na pedra.
A primeira vez que vi alguma coisa relacionada às inscrições do Lajedo JK, hoje Sítio Arqueológico do Bisnau, foi em 1978, numa publicação da revista Manchete que, entretanto, não identificava a região no interior do Brasil. Em 1979 por meio de uma edição do jornal ‘O Muro’ da Universidade de Brasília, vi uma reportagem sobre certas inscrições em uma região no interior de Goiás, chamada de Lajedo JK, onde algumas fotografias foram mostradas e que muito se pareciam com estas anteriores.
Somente em 1981, numa edição da revista Visão é que vim saber que as petrogravuras citadas acima se tratavam de um mesmo conjunto arqueológico, cujas características eram muito especiais. O artigo desta revista, com o título de “O Segredo da Pedra – ninguém decifra a pedra JK” mencionava elementos da reportagem do Jornal “O Muro” e fotografias que haviam sido publicadas nesse periódico e também na revista Manchete, mostrando as enigmáticas inscrições.
Assim meu interesse por esta região e suas figuras gravadas em pedra se tornou mais fortalecido, mesmo que nesta época eu não tivesse ainda despertado tão intensamente para os mistérios que envolvem as intrigantes inscrições rupestres do Brasile viesse pesquisá-las. Com o decorrer do tempo fiz muitas viagens pelo interior do Brasil, desde Roraima, Piauí, Paraíba, interiores de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, além de localidades na região sul de nosso país, mas somente em 2016, após algumas tentativas de visitar esta região é que consegui ir até lá e ver de perto as suas incompreensíveis figuras.
Antes de comentar minhas impressões sobre este misterioso complexo em Goiás quero mencionar algumas pesquisas que foram feitas neste Sítio Arqueológico e o que pensaram seus autores.
Um dos estudos mais aprofundados que teriam sido feitos nesta região foi organizado e executado pelos membros do IPP – Instituto de Pesquisas do Planalto Roberto Amaro de Lucena (presidente), Maria Helena Sant’Anna, Roberto Junior, Joades de Oliveira Alves e Itamar Silveira do Amaral, este último como guia.Por um longo tempo, entre os meses de jan/1982 a set/1984, eles desenvolveram inúmeras viagens até o local e registraram as inscrições em fotografias e desenhos. Foi este grupo que deu o nome de ‘letreiro do lajedo’ a este monumento lítico, localizando-o na serra do Bisnau, próximo do povoado chamado de JK.
Segundo os estudos feitos por eles as inscrições estão espalhadas por cerca de 600 m2 na rocha, tipo arenito clássico, cuja formação pode remontar a 65 milhões de anos. Quanto às insculturas do lajedo estima-se que estejam relacionadas a um período também remoto, entre quatro a seis mil anos, mesmo permanecendo as controvérsias sobre quem teriam sido esses povos dotados de elevada capacidade mental, que teriam aí vivido em épocas anteriores ao descobrimento do Brasil e as executado.
Figuras cosmogônicas interligadas entre si e sinais de inúmeras outras em avançado estado de desgaste.
Os estudos que foram feitos pelo grupo do IPP registraram que o letreiro do lajedo localiza-se numa encosta de arenito, com inclinação média de 30º e com algumas árvores de pequeno porte em torno, por tratar-se a região de uma área de serrado. Alguns blocos de pedra deslocados indicam que houve ocorrências de fraturas nas pedras e erosão produzidas por ação de águas de chuvas mais fortes e do sol nos locais de menor resistência das rochas. Desta forma a superfície do lajedo mostra uma série de fraturas superficiais que têm comprometido a preservação das inscrições no seu conjunto, havendo já, em nossas observações em data recente a constatação de ocorrências de comprometimento de algumas inscrições em caráter irreversível, enquanto que muitas outras teriam sido totalmente destruídas.
Supõe-se que as inscrições do lajedo possam ter sido feitas em épocas variadas, estendido este conceito por um período de cerca de 50 a 100 anos entre si. Sua posição foi localizada no sentido norte-sul e avaliou-se que as inscrições do lado oeste venham ser as mais antigas, pois há aí maior incidência de desgastes. Estimou-se que elas poderiam ter sido feitas por volta de 3150 anos atrás. As que são consideradas mais recentes se localizam na posição mais central e a leste do lajedo e podem ter uma idade entre 3060 e 3020 anos, segundo as pesquisas feitas pelo IPP.
Segundo estes estudos o lajedo das inscrições de JK assemelha-se a uma duna fóssil que teria se formado na região, um terreno desértico da época do cretáceo que veio sofrendo metamorfoses até atingir o seu estado atual. O grupo de pesquisadores do IPP detectou algumas manifestações não muito comuns nesta região quando aí estiveram fazendo suas pesquisas. Detectaram, por exemplo, por meio de aparelhos apropriados a incidência de uma elevada intensidade magnética nas figuras insculpidas, apesar de que, conforme analisaram, este tipo de rocha arenítica não emana regularmente qualquer tipo de magnetismo. Disseram que este magnetismo já havia sido sentido também por pessoas sensitivas que lá estiveram com eles durante a realização das pesquisas.
O IPP desenvolveu um criterioso trabalho no lajedo, fazendo um levantamento completo das inscrições por meio de fotografias em preto e branco, em cores e em slides, além de gravações em fitas cassete e desenhos. Nos seus trabalhos comparativos afirmaram ter encontrado alguns signos que também podem ser vistos no litoral do Brasil e mesmo no exterior. Concluíram ainda que o ‘letreiro do lajedo’ possui signos tipo alfabéticos semelhantes aos do alfabeto fenício, ao hebraico cursivo moderno e a um sinal cretense, encontrado na ilha de Creta, na cidade de Faisto.
Em um determinado local encontraram um conjunto no mínimo curioso: são como se fossem quatro pegadas de três dedos contornados por um retângulo, uma linha contínua, duas outras marcas como pegadas isoladas, quarenta pontos formando uma linha tortuosa, uma meia-lua e uma outra figura semelhante a um pequeno círculo com três traços expandindo-se do mesmo. Não se sabe se este conjunto está ligado a uma mesma ideia geral ou se se trata de uma linguagem específica. Sob o enfoque do pesquisador estes sinais determinantes se tratam mesmo de algo muito complexo e de difícil análise e compreensão, para não se dizer que estes carregam consigo, no mínimo, um elevado grau de estranheza e de forte indefinição.
O estranho conjunto do Lajedo mencionado pelos pesquisadores do IPP em fotografia deste autor com destaque nas figuras.
A jornalista e arqueóloga (Universidade de Sorbonne - Paris), Kenia de Aguiar Ribeiro disse que um primeiro registro das gravuras do Sítio Arqueológico do Bisnau foi encontrado em uma ficha no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) com data de 30/12/1899, mas sem maiores detalhes. Ela cita o trabalho desenvolvido pela pesquisadora Adriana Vanderlei em quatro sítios arqueológicos de Goiás, dentre os quais, o da Pedra do Bisnau. Em pesquisas feitas nos anos de 1996 e 1997 esta identificou nesta rocha de arenito 456 gravuras insculpidas em cerca de 600 m2 do lajedo e fez um inventario das figuras encontradas. Segundo seus dados ela identificou 375 sinalizações e definiu onze categorias de figuras, dentre as quais cerca de 99% tratam-se figuras geométricas. Assim, os círculos foram identificados 187 vezes e compreendem 43% do total das figuras, onde círculos sem preenchimento aparecem 49 vezes, dois círculos circunscritos 4 vezes, círculos com cúpula central que são mais numerosos 116 vezes, e círculos associados a traços aparecem 72 vezes.
Conforme suas informações este sítio fica a 918 m de altitude sobre uma grande estrutura rochosa que data do Pré-cambriano e corresponde ao tempo da formação da Terra no tempo geológico. Entretanto, segundo comenta, alguns pesquisadores pensam que as inscrições do Bisnau podem ser mais recentes, ao passo que a pesquisadora Adriana Vanderlei acredita que elas seriam bem mais antigas e que poderiam ter sido feitas por caçadores-coletores do Pleistoceno e também pelos horticultores do Holoceno.
Segundo seus estudos os instrumentos utilizados para as gravações poderiam ter sido um outro tipo de rocha, mais dura, para traçar as figuras com polimentos e alguns raros picoteamentos. A profundidade dos sulcos variam de 0,50 a 1,50 centímetros. É notório, comenta a autora, que a Pedra do Bisnau tem sofrido com a erosão, pois grande parte dela está fragmentada em blocos. Ela fica exposta à mercê do tempo, do sol e da chuva nesta região do Planalto Central do Brasil.
Marco G. M. Monteiro, em sua tese de mestrado na Universidade de Lisboa (2015) abordou o que chamou de relação imagética e iconográfica das insculturas existentes na Pedra do Bisnau, dizendo que “as populações pré-históricas da região centro oeste brasileira possuem um universo simbólico diverso supostamente ligado a representações dos astros e observação do céu.” E disse ainda que podemos até mesmo “relacionar a iconografia dos petróglifos da Pedra do Bisnau aos cultos cosmogônicos com representação das forças da natureza e do firmamento. Possíveis representações de corpos celestes são frequentes nos registros de toda a região, bem como a existência de linhas onduladas que parecem imitar o movimento das águas em representações.”
O estudo feito por Felipe Saads Pereira Martins em 2016 sobre esta região afirma que os motivos arqueológicos do Bisnau são pertencentes à tradição geométrica, baseado num dos poucos estudos acadêmicos que foram citados por ele, produzidos por Hugo Emanuel. Felipe Saads cita também André Prous que fala sobre as tradições geométricas em território brasileiro que diz que “na maioria de seus motivos, figuras geométricas, círculos, linhas, pontos, e em menor número, algumas figuras humanas e de animais pode aparecer.” Afirma que existem outras teorias sobre as gravuras rupestres do Bisnau que supõem que estas poderiam se tratar de um tipo de orientação astronômica, uma vez que podem ser observadas figuras semelhantes a estrelas. Para Felipe Saads o lajedo do Bisnau força-nos a imaginar coisas diversas diante das inúmeras figuras que se acham ali representadas em seus agrupamentos sofisticados.
Também em 2016 Gustavo Henrique Villa Fernandes esteve no Sítio Arqueológico do Bisnau e em seu trabalho procurou fazer um paralelo entre um grupo de inscrições deste sítio e de um outro, situado no sul do Texas (EUA), conhecimento como Sítio Arqueológico de Lewis, em face das dimensões destes painéis líticos e da relevância astronômica presente nas suas inscrições. Disse o pesquisador que “do ponto de vista simbólico podemos verificar em Bisnau representações isoladas do sol, da lua, cometas e estrelas. Aparentemente o sítio inteiro parece se tratar de um imenso registro de conhecimentos astronômicos e topográficos que obviamente apresentará um significado mais amplo quando compreendido em seu contexto total.”
Parte das inscrições em baixo relevo de Lewis Canyon, no Texas,em reprodução deste autor.
Gustavo Henrique desenvolve a tese de que pessoas de um tempo longínquo registraram nos lajedos dos Sítios Arqueológicos do Bisnau (Goiás) e de Lewis Canyon (Texas) o entorno do polo sul do céu, por meio de uma complicada representação simbólica para descrever o que viam, segundo suas perspectivas visuais e de entendimento. Disse ainda que “o Brasil oferece um campo vastíssimo para a arqueoastronomia uma vez que possui vestígios megalíticos nos extremos norte e sul e na região central de Minas Gerais que comprovadamente desenvolveram conhecimentos de astronomia.”
O lajedo JK ou da serra do Bisnau é mesmo impressionante. Apesar do tempo decorrido desde a sua feitura por povos desconhecidos e a sua impiedosa exposição ás intempéries naturais de uma região austera, seu conjunto de elementos simbólicos permanece ainda vivo e extrapola em muito o senso comum, desafiando a argúcia dos pesquisadores. Quem delas se aproxima, em caráter de pesquisa, questiona a compreensão de seu significado e a magnificência de sua produção e métodos utilizados pelos seus idealizadores e executores. Tentamos refletir como deveriam ter sido as mesmas quando ainda estavam recém moldadas na pedra, considerando-se que hoje, mesmo distante desse tempo antigo, elas continuam surpreendentes, causando perplexidade e mostrando uma grande harmonia em muitos de seus conjuntos litográficos, beleza e mistério quanto ao seu real objetivo e conteúdo, caracteristicamente místico.
Os sulcos que contornam as figuras são, em geral, muito bem delineados e profundos, destacando o seu elevado grau de qualidade, mas ressaltamos algumas exceções em torno e outras que já se acham quase imperceptíveis, além de símbolos importantes que já teriam sido destruídos pela erosão da rocha. Ressalvamos também algumas poucas inscrições, cujos traços são menos profundos e parecem terem sido produzidas por um outro grupo, posterior aos mais antigos, os quais possuem um melhor acabamento e seus agrupamentos têm um grau mais elevado de complexidade.
Ao ocuparem uma área tão vasta, de cerca de 600 m2, conforme estudos e levantamentos já feitos e citados anteriormente, as figuras que formam o conjunto são constituídas por círculos, meias-luas, semicírculos e muitos objetos desconhecidos, além de caracteres semelhantes a letras de alfabetos antigos. Tem-se a impressão de que tais manifestações líticas querem mostrar certa preocupação por parte de seus executores em preservar algo ou transmitir uma mensagem, a qual teria chegado até nós, envolta pelo mistério e pelo seu forte apelo de significado transcendental, extremamente complexo e até mesmo carregando lampejos de caráter astronômico, ideológico ou religioso.
Algumas figuras que formam conjuntos de difícil compreensão.
Apesar de perceptível uma forte deterioração fortemente progressiva no lajedo e em toda a sua proximidade, ainda assim seu conjunto pétreo inspira elevado grau da relevância em todo o seu contexto e pela intensidade de seus registros, conduzindo-nos a pensar na existência de algo maior por trás de sua perturbadora realidade, que suscita uma possibilidade não perceptível para muitos nós que o visitamos, em relação à sua execução extraordinária a céu aberto, suas figuras misteriosas e transcendentes, e o seu objetivo final. Pode-se ver que muitas das figuras do lajedo formam conjuntos enigmáticos, nada muito comuns diante dos conhecimentos e referências que temos hoje à nossa disposição para analisá-los.
Porém, acreditamos que seriam perfeitamente compreensíveis para aqueles que os executaram e que junto deles deverá existir uma espécie de ‘chave perdida’ que poderia dar-lhes sentido e explicação, e até mesmo justificar certas ligações entre muitos dos símbolos insculpidos e sua relação com os demais.
Quando lá estive em meados de 2016 com minha esposa e meu filho não nos deparamos com nenhum fenômeno aparente, conforme os que foram descritos pelos pesquisadores do IPP, mas encontramos um novo e grande mistério a céu aberto a ser desvendado no interior do Brasil. O painel das inscrições do lajedo é inequivocamente extravagante e indica evidências notáveis de que se trata de trabalho de elevada envergadura, como se fora uma mensagem desconhecida gravada magnificamente em pedra por homens desconhecidos de nós, mas que pretenderam deixar preservada a memória de algo por demais relevante para eles, levando-se em conta o excepcional conjunto da obra e os seus componentes simbólicos.
Diante daquele esplêndido trabalho lítico de outrora não nos era possível pensar em homens primitivos, bárbaros e ociosos trabalhando ali com pedras em punho, aleatoriamente, como seus autores, porque a grandeza do que estávamos vendo, apesar dos desgastes naturais do tempo, se achava, a nosso ver, muito além de tal possibilidade. O conteúdo daquele imenso painel era complexo demais e elaborado com esmero e critério lógico, e estava recheado de signos desconhecidos, figuras estranhas, traços interligando as figuras em conjuntos colossais, alguns mais agrupados e outros mais espaçados, como um compêndio de fórmulas e elementos descritivos, escrito por especialistas com direcionamento específico. Não nos parecia estar diante de algaravias desconexas gravadas aleatoriamente por pessoas que não sabiam o que estavam fazendo e isto pode ser notado unicamente pela grandeza e extensão do ‘trabalho’ gravado na pedra e pela quantidade e qualidade dos caracteres e figuras insculpidos com cuidado e critério.
Um outro fato que foi anotado pelos pesquisadores do IPP e que também constatamos em nossa visita é a existência de um muro de pedra de grande extensão que corta o caminho que leva ao sitio arqueológico e segue subindo a serra ao lado. O muro localiza-se não muito distante do lajedo e os pesquisadores do IPP avaliaram que possivelmente este tenha sido construído pelos escravos que teriam vivido naquelas imediações no século XIX. Mas, esta informação não foi definitivamente concluída.
Um conjunto de figuras e sua complexa interligação.
O Sítio Arqueológico do Bisnau é um dos mais famosos do Planalto Central. Localiza-se na fazenda Taquari, na região do povoado de JK, como já dissemos e, ao contrário do que acontece com outros locais com inscrições rupestres no Brasil, muitos dos quais se acham completamente abandonados, as do Lajedo foram, pelo menos, amplamente documentadas, mapeadas e fotografadas nas inúmeras viagens realizadas pelos pesquisadores do IPP e por outros estudiosos.
Alguns pesquisadores afirmam que os primeiros moradores da região teriam sido os paleoíndios (índios mais velhos ou ancestrais dos índios modernos) e que seriam estes os responsáveis pelas inscrições em pedra que existem em toda a região, dentre às quais, as do Sítio Arqueológico do Bisnau, cuja idade foi estimada por alguns em cerca de 4500 a 11000 anos. Por volta de três séculos atrás eram moradores desta região os índios da etnia Crixá, segundo os relatos feitos pela expedição de Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, no ano de 1682. Posteriormente, em 1722, seu filho de mesmo nome, o Anhanguera II, também esteve nesta localidade de Formosa, junto aos índios Crixás, após ter passado muitos anos nas lavras de Minas Gerais.
O clima predominante na região é o tropical, com chuvas intensas no verão. A vegetação que marca o seu solo árido é o serrado, com matas mais concentradas apenas nos vales dos rios, especialmente o Paranã. O relevo é constituído de extensos chapadões com pequenas elevações.
A região do Bisnau trata-se de um povoado espalhado a cerca de 42 km da cidade de Formosa, às margens da BR 020, que segue na direção do estado da Bahia. Este nome corresponde ao mesmo de um rio de pequeno porte que corre por aquelas paragens. O lajedo que contém as figuras gravadas na rocha localiza-se a 5 km da estrada. Suas inscrições em baixo relevo são variadas e é constituído de figuras conhecidas e desconhecidas, formando grupos não identificados ou de difícil identificação e símbolos complexos, conforme já vimos.
O economista e historiador Paulo Bertran, falecido recentemente, também fez citações do Sítio da serra do Bisnau, na fazenda Taquari e disse que as inscrições ali gravadas poderiam ser datadas em cerca de 11000 anos AP (até o presente). Diz que há quem perceba nelas orientações astronômicas. Segundo ele, as inscrições ‘talhadas’ no lajedo não devem ser observadas isoladamente para que se possa alcançar alguma forma de compreensão das mesmas e que com um pouco de imaginação, pode-se perceber neste meticuloso trabalho dos ‘astrônomos’ do Planalto Central Brasileiro a representação de constelações, por causa dos traços que parecem interligar ‘astros’ maiores e menores.
A natureza muitas vezes tem concorrido para a destruição das inscrições do Bisnau. Como elas se encontram gravadas em sentido inclinado, com elevado grau de declive, as chuvas torrenciais da região provocam fortes enxurradas que descem por ele e deslocam finas camadas na rocha e permitem até mesmo o acúmulo de detritos em determinados pontos. Podem-se ver ainda algumas plantas que crescem no local destes montículos que acabam por esconder e, por consequência, danificar, muitas das magníficas inscrições ali existentes.
Poderia se dizer que se tratariam estes de símbolos aleatórios gravados na pedra?
Como já mencionamos, ao compararmos imagens de fotografias mais antigas com o que vimos no local, nós mesmos constatamos que em alguns pontos observados pode-se notar a ausência de determinados conjuntos litográficos anteriormente existentes. Comparando uma certa inscrição contida em uma fotografia publicada nas revistas Manchete (1978) e Visão (1981) com a sua provável localização no lajedo, não a conseguimos encontrar.
Os conjuntos que parecem relacionar-se a determinado conteúdo, conduzem-nos a pensar que estes símbolos possam estar ligados aos demais outros que se acham em torno e, a nosso ver, podem mesmo estar interligados entre si por associação ou extensão dos temas correlatos que ali teriam sido abordados. Esta percepção não tem a pretensão de formar um posicionamento definitivo sobre do seu conteúdo e origem, mas a assombrosa quantidade de registros existentes e as inúmeras interrogações que surgem em nossa mente, diante de uma obra com esta, inegavelmente singular, não nos deixa margem de especular em muitas direções. Para termos uma ideia do que este conjunto poderia representar, basta-nos olhá-la simplesmente, sem julgamento, atendo-nos aos seus conjuntos litográficos e ao seu todo, ou seja, naquilo que teria sobrado da mesma, após tantos milênios decorridos. E esta ideia seria, no mínimo, perscrutadora e de perplexidade, mesmo que estejamos neste momento abordando o seu painel lítico de uma maneira incompleta, considerando-se que não temos diante de nós o registro integral de suas insculturas no tempo em que elas foram concebidas.
Em nosso trabalho procuramos delimitar como poderia ter sido o painel com seu conjunto de insculturas com base na forma que podemos vê-lo hoje, considerando-se os desgastes já existentes e o desaparecimento de figuras diversas, fatos estes ocorridos mais especialmente por vias naturais e pelo decorrer do tempo. Assim, sustentados nos registros e observações que fizemos dos conjuntos mais agrupados do Lajedo e das figuras isoladas, fomos ajustando-os o mais próximo de uma realidade possível e elaboramos um desenho comportando todo o agrupamento de insculturas, numa visão, tipo espacial, de como ele estaria hoje. Conseguimos desta forma, salvo possíveis desajustes de percepção e localização, montar a situação do painel na sua situação atual, o que causou-nos surpresa ao vê-lo assim representado, de forma mais coesa e abrangente. Tivemos assim uma visão formidável do painel naquilo que dele conseguimos perceber e agrupar, e estas nos mostraram, sem subterfúgios, que forçosamente ele teria de ter tido alguma forma de planejamento prévio para que somente depois fosse dado início a todo aquele trabalho de execução fenomenal.
Diante das imagens concluídas, não nos pareceu tratarem-se de operações executadas isoladamente ou aleatórias, isto é, sem uma orientação específica ou mesmo destituída de uma espécie de objetivo previamente estabelecido para ser realizado. Uma coisa é encontrarmos desenhos simples gravados em lajedos e cavernas, como riscos, mãos carimbadas, animais e figuras humanas, e outra é estarmos diante de um conjunto de figuras enigmáticas interligadas ou não, compondo a sua vasta representação simbólica, como é o caso do Sítio do Bisnau.
Neste sentido, temos, no entanto uma observação a fazer. O IPP Instituto de Pesquisas do Planalto levantou a hipótese de que estas inscrições teriam sido feitas em épocas diferentes e avaliaram que as que se acham do lado oeste sejam as mais antigas. Sob nossa percepção, achamos que realmente existem algumas figuras afastadas dos grandes grupos que sugerem não pertencerem originalmente aos conjuntos mais coesos e mais bem elaborados. Algumas delas não se mostram tão bem produzidas como as demais e outras, apesar de mostrarem signos complexos, são mais rasas e estreitas nos seus traçados e sem um acabamento maisprimoroso,que é visto na sua grande maioria. Nas ilustrações que mostramos no quadro abaixo, exemplificamos estas nossas avaliações sobre o que acima foi dito.
* J. A. Fonseca é economista, aposentado, espiritualista, conferencista, pesquisador e escritor, e tem-se aprofundado no estudo da arqueologia brasileira e realizado incursões em diversas regiões do Brasil. É articulista do jornal eletrônico Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br) e membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA. E-mail jafonseca1@hotmail.com
- F otografias e ilustrações: J. A. Fonseca
- Clique aqui para saber mais ou adquirir livros de J.A. Fonseca
Leia também:
Do Acervo J.A. Fonseca: As inexplicáveis 'construções' de Paraúna (GO) As incríveis inscrições rupestres de Coronel Ponce (MT) Inexplicável presente no Centro-Oeste do Brasil Grandes questões não respondidas sobre a Arqueologia Brasileira Mistérios arqueológicos escondidos em Poxoréo Mais um enigma brasileiro: Sete Cidades - Piauí Desvendado o mistério da Pedra do Ingá Estranhos signos na arte rupestre do Brasil
- Produção: Pepe Chaves © Copyright 2004-2022, Pepe Arte Viva Ltda.
Esta matéria foi composta com exclusividade para Via Fanzine©.
Leia mais J.A. Fonseca:
|
PÁGINA INICIAL
|
|
|
HOME | ZINESFERA| BLOG ZINE| EDITORIAL| ESPORTES| ENTREVISTAS| ITAÚNA| J.A. FONSECA| PEPE MUSIC| UFOVIA| AEROVIA| ASTROVIA
© Copyright 2004-2022, Pepe Arte Viva Ltda.